
Lili Caneças fotografada por Luiz Carvalho ( clique na foto)
Pois. Lembro-me de ouvir o Luíz a defender com unha e dentes o fotojornalismo como uma coisa onde se está de corpo e alma e de sentido apurado constante sem deixar disponibilidade mental para outras coisas... como o vídeo.Isto a propósito do profissional da fotografia já estar a ser “obrigado” a fazer também a reportagem em video (ou pelo menos a pensar que afinal já não tem outra solução senão rapidamente pode ser dispensado, sim porque a qualidade fotográfica isso fica para segundo plano, como se soube recentemente como por vezes se fez e quem fez a edição fotográfica do “Público” por exemplo).Bem o tempo passa e as pessoas podem mudar de opinião. E ainda bem.Por mim mantenho-me agregado apenas à fotografia, sempre que tenho de fazer algum trabalho de reportagem.Mas que as fotografias publicadas na revista me parecem fotogramas retirados do video, lá isso parece-me. Parece tudo muito igual. Ao ver o vídeo ou ver as fotos, vê-se que é a mesma coisa. Tá tudo muito colado. E eu penso que a fotografia e o vídeo têm linguagens diferentes. Eu não conseguiria fazer as fotos e dizer à pessoa (neste caso), repita lá esses movimentos para poder filmar agora em vídeo. Mas claro que eu sou “verde” nestas lides e só pratico fotojornalismo light.Acredito que se houvesse um profissional a fazer fotografia e outro a fazer o vídeo que o trabalho sairia muito mais rico.E essa coisa do tipo da imagem poder fazer tudo (video, foto, som em stereo, etc) é uma realidade que o poderio económico nos quer fazer passar como sendo a melhor coisa que nos poderia ter acontecido.A nós, claro e a eles muito mais. Assim poupam milhares e vêm os seus largos bolsos a encherem-se cada vez mais. E aqui andamos nós todos contentinhos com esta possibilidade que a técnica nos dá que é poder fazer tudo sozinho. One man show.(É confusão minha ou há uma figura da TV que diz na reportagem “não tinha mais máquinas para trazer?”)Quanto à Lili, acho que toda a gente pode ser tratada jornalisticamente em qualquer órgão de comunicação social desde que de forma digna e profissional. Quem lê a reportagem que tire as suas conclusões.AbraçoPaulo Sousa
Não respondo por princípio aos comentários. Mas não resisto a fazê-lo tendo em conta o comentário de cima ser do Paulo Sousa, meu ex-aluno num curso de
fotojornalismo do Observatório de Imprensa. O Paulo é um fotógrafo aplicado e de qualidade acima da média, uma pessoa séria e que gosta do que faz.
Gostava de dizer o seguinte, embora me esteja a repetir:
A minha posição sobre o
fotojornalismo e o exercício do mesmo não mudou. Contínuo a achar que devemos tudo fazer de corpo e alma. O
fotojornalismo exige também essa disciplina. Mas essa postura de princípio não pode ser dissociada da nossa realidade. Trabalhamos para os leitores, para o patrão e nada faz sentido se não entendermos que as nossas fotografias de nada valem se não forem capazes de contar histórias e de surpreenderem.
Hoje não trabalhamos para um jornal. Trabalhamos para uma marca que distribui notícias em formatos diferentes, suportes vários e em tempos diferentes. A marca Expresso (por exemplo) tem um semanário, um
on-
line, mensagens nos
telemóveis, um canal de TV ( o grupo onde pertence) e emissões
in-
door. Poderá ter um dia uma rádio e um diário. Portanto, o trabalho de um jornalista tradicional nem sempre se coaduna com uma redacção multimédia.
Os tempos mudaram. As ferramentas digitais permitem de uma maneira espantosa a convergência da fotografia, com o vídeo, o
audio.
A
Magnum foi a primeira agência de
fotojornalistas (ortodoxos!) a perceber que a forma de mostrar fotografias mudou. O site
inmotion é um bom exemplo de como o
fotojornalismo manterá a sua essência ( linguagem, técnica, olhar e atitude) mas a forma de mostrar as fotografias passou a ter também outros formatos.
Nunca ninguém me obrigou a fotografar, a filmar e a escrever ( e a
conduzir!)ao mesmo tempo. Esta ideia já a pratico há mais de vinte anos. E não se trata de fazer melhor ou pior uma coisa, trata-se de eu gostar de usar vários meios para me
expressar (decerto o farei melhor em fotografia porque é aí que
concentro mais o meu trabalho).
A ideia de que um "
repó
rter de imagem" faria melhor ao meu lado é errado. Tenho feito algumas reportagens nesse registo e posso dizer que uma equipa de reportagem de TV só atrapalha e, aí sim, é que o trabalho do fotógrafo é perturbado.
Claro que há trabalhos em que não é possível convergir as plataformas. Há outros, quando os tempos se podem desmultiplicar e não são simultâneos em que se pode filmar,
fotografar, escrever e...namorar!!!
O meu vídeo da Lili é um material diferente das fotografias. primeiro: foi editado por mim, filmado e escrito por mim. Tem uma intenção clara, tem declarações que não aparecem nas fotos. É outro olhar e até diferente das
fotos, embora sejam planos semelhantes, porque sendo eu que ali estava era natural que fossem aqueles os ângulos. Nas fotos não há
travellings, panorâmicas, fades, dissolves, é uma linguagem diferente. Nas fotos haverá charme e ironia, no vídeo há um lado
voyeurista e
felliniano totalmente diferente.
O Paulo fica pela ramagem e não vê a floresta. E sobretudo está cheio de preconceitos: tem uma ideia sindicalista (fotógrafo dispara, operador filma, redactor escreve) e uma postura corporativa: os fotógrafos são uma classe à parte.
Ora um dos males dos fotógrafos de imprensa é que ao acharem que só devem saber fotografar acabam por ficar reduzidos a meros bate-chapas. Conheço fotógrafos que se recusam a escrever legendas, editar fotos no
photoshop, não sabem escrever o
curriculum e têm raiva a
câmaras de vídeo, telemóveis,
net e afins. Vivem no passado.
Repito: não defendo os faz-tudo e até reconheço que há uns
espertalhaços (parece que está a acontecer na Lusa) que acham que os fotógrafos são umas mulheres da limpeza para varrerem tudo a fotos e vídeo. Mas isso são os
mediocráticos. Temos de lutar contra a mediocridade mas devemos estar abertos a entendermos os novos meios que temos à disposição para melhor nos expressarmos.
Por vezes uso a
Leica, outras
reflex, outras grandes
teleobjectivas outra
câmaras de vídeo, outras escrevo...não devemos estar formatados. mas respeito quem só quer e sabe fotografar e o faça com pica.
Mas também acho que tal como não é possível a um bom arquitecto projectar sem ter noções avançadas de
engenharia e outras disciplinas, também acho que fotografar engloba um conhecimento amplo do jornalismo. Acaba por andar tudo ligado.
O fotógrafo que não sabe de nada e é um jeitoso das fotos parece-me ridículo, e inútil, nos dias de hoje.
É um debate que não vai ter fim....
Luiz Carvalho
PS: A Nikon anunciou hoje uma reflex profissional que também filma em HD