A entrevista de uma hora a Francisco Pinto Balsemão (FPB) ontem na SIC à meia-noite e feita pela Conceição Lino (com dois câmaras que muito prezo, o Luís Pinto e o Paulo Cepa) mostrou o lado mais pessoal do meu patrão. Diria: o lado que todos os que trabalham com ele, há muito tempo, melhor conhecem e muito prezam. O que acaba por ser um grande motivo de orgulho: poder ter-se assim alguém que nos dirige.
Em FPB o que desde logo motiva é o prazer em viver e trabalhar. E a forma como concilia as duas vertentes. Depois a experiência como jornalista, um percurso consolidado e coerente. O seu projecto jornalístico é uma vida: a concretização de um jornalismo independente, sempre moderno e avançado no tempo, atento às tecnologias e às mudanças do público e da sociedade. Foi assim o Expresso desde o início e foi assim também a SIC: inovadores, independentes, irreverentes, sérios e de referência. O lado do homem que gosta da vida, o prazer pelo golfe ou pelo seu antigo Porsche, a confissão que prefere falar com mulheres pelo jogo da sedução e do charme, mas também o anti-novo rico para quem as coisas devem ter um limite para se poder gastar dinheiro.
Não foram revelações novas, mas o conjunto da entrevista deixou a agradável e feliz sensação de podermos conviver com alguém com grande sentido da vida e do jornalismo, da comunicação. Também da política.
O seu entusiasmo pelas nova tecnologias multimédia é contagiante. Quando me sugeriu para editor multimédia no Expresso e me desafiou para uma revolução digital no jornal pude constatar do empenho que pôs no projecto e sei como me apoiou até ao fim. Ainda me lembro, do primeiro sábado em que lançámos o serviço Sound-bite, dele a discar o número no telemóvel e a ouvir a frase. Comentou:"o som podia estar melhor, mas é uma grande ideia!".
O mesmo entusiasmo e apoio que deu em 1989 quando se constituiu a equipa de fotojornalistas: sempre defendeu a fotografia no Expresso, uma fotografia de impacto, informativa, de autor, surpreendente, fotoreportagem.
A sua atenção para com os que o rodeiam no trabalho é rara num patrão. Estava a SIC a arrancar e tive de lá ir fazer uma fotografia a alguém. No dia seguinte, no elevador do Expresso na Duque de Palmela, diz-me:" Luís você é o meu herói!"- porquê "sôtor"? pergunto eu." Vi-o ontem chegar à SIC na sua BMW vestido de fato e gravata. Era o que eu gostava de poder fazer!".
Porque escrevi este post? Porque não resisti, embora possa parecer um exercício de engraxatório. Estou-me nas tintas. Num tempo em que a mediania é a bitola na grande maioria dos empresários e homens públicos, haver alguém com esta dimensão cultural, empresarial e política, é uma boa razão para ainda acreditarmos naquilo que nos move: um conceito de vida onde não nos levemos muito a sério, mas onde sejamos sérios, amemos o nosso trabalho, contra os arrivistas e os novos-ricos do jornalismo, e não só.
E não nos esqueçamos que foi no seu governo que os militares do 25 de Abril começaram a ser devolvidos à caserna. Mas isso é outra vertente histórica.