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domingo, agosto 24, 2008

O inferno do Chiado foi há 20 anos


Já passaria da meia-noite do dia 25 de Agosto de 1988 quando eu desci o Chiado com uma amiga depois de um jantar no Bairro Alto. Desci a pé a caminho da minha casa na zona do Intendente. Passadas horas era acordado pela rádio a anunciar um grande incêndio que devorava já os armazéns do Chiado. Meti-me a correr na minha mota, cheguei ao Rossio, estacionei frente à livraria do DN. Vi logo o António Pedro Ferreira e o Fernando Peres Rodrigues que já tinham começado a fotografar.
Subi a Rua Garrett, sem saber para onde me virar, sem saber o que fotografar. Tudo ardia. Estava com uma Leica M3 e uma 21 mm, uma Leica M4 e uma 35mm e com uma Nikon FM com uma 85 mm. Todas tinham filme negativo cor, penso que a Nikon estava com slide. A confusão era total.
À minha frente via arder um património que sempre foi a minha referência lisboeta. Onde passei anos a estudar a caminho das belas-Artes e a conviver com amigos.
As patetices de Krus Abecassis em querer transformar uma rua movimentada com gente e carros num passeio público com bancos, já então essa teoria idiota de que as ruas das cidades devem ser passeios e não artérias de circulação, contribuíram também para o desastre. E depois a ideia de convidar Siza Vieira para fazer o projecto (uma garantia que a esquerda ia ficar satisfeita) foi outro grande erro.
A reportagem da RTP foi miserável. Os directos só começaram à tarde e com uma câmera colocada perto da Brasileira, muito longe do centro do incêndio. Na altura para a RTP fazer um directo eram precisos meios pesados, a RTP era uma estação desactualizada sem meios rápidos e ágeis para fazer directos. Ainda era possível à imprensa trabalhar à vontade, sempre em cima do acontecimento, sem ser chateada pela polícia.
O Chiado esteve paralisado mais de 10 anos, entaipado, adiado. Só há pouco tempo renasceu e com pujança. Embora o projecto de Siza seja um absurdo que não contemplou estacionamentos para os novos habitantes, nem zonas de comércio, nem escolas. Fez um projecto cinzento, triste, que tem proporcionado zonas cegas e inúteis, propícias ao vandalismo e permitiu crescer um tipo de construção em condomínio que levou para a zona uma população elitista sem contributos para a vida social do bairro.
Com todas as limitações o Chiado, graças aos parques de estacionamento mandados fazer por João Soares, é hoje uma zona acessível, cara, mas de um fascínio urbano único.
É a das zonas do Mundo que mais gosto. E a Casa Havaneza fica ali a matar atrás do Pessoa.

3 comentários:

  1. Só agora é que vi a Única. Muito boas as fotos do incêndio do Chiado. Reparei também que não tinha nenhuma sua...

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  2. Não tenho fotos minhas do incêndio do Chiado no Expresso. Ainda não trabalhava lá e perdi, de resto, os negativos dessa reportagem... LC

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  3. lol

    adorei o comentário do anónimo, mas ainda gostei mais do facto de ter direito de resposta!

    onde é que você tem o seu e-mail, Luiz? é que eu já o perdi

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