Páginas

domingo, janeiro 31, 2010

Cem anos de República em Oitocentos de Nação

Não sei se repararam mas está a haver, desde o início do debate sobre o orçamento, menos crispação na sociedade portuguesa. Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas conseguiram ser críticos sem serem derrotistas. E Sócrates está a aproveitar a aberta para também ele dar um tom menos arrogante e crispado. Vejam o que aconteceu hoje no Porto. O Primeiro estava incomodado por ter ali o Cavaco ao lado, mexia no nariz, sentava-se e volta a mexer-se na cadeira, mas veio falar junto dos manifestantes do BPP e explicou em tom mavioso que os depositantes espoliados, iam ver os seus depósitos livres até 250 mil euros. Quem tiver mais fica com a massa em participações.

Há ali uma resposta e um compromisso. Cavaco fugiu dos manifestantes que lhe imploravam para os ajudar a resolver a situação. Ele acabou por voltar atrás e fez um gesto de força juntando os dois punhos numa atitude de " estou convosco". O que até me impressionou, ver o PR reagir com alguma emoção. Afinal, ele até é humano e sabe o que é perder ou ganhar em acções do BPP ou mesmo do BPN.

Marcelo na RTP também foi menos ácido do que o habitual. Parece que todos agora querem ganhar tempo, reorganizar as tropas e atacarem com determinação lá para o Verão quando forem os dias maiores.

Alegre já está na estrada, e está a ser alvo de um tique das televisões. Hoje na SIC-N o lead no discurso do Porto era a presença de um tipo do BE que dizia apoiá-lo. Logo o pivot de serviço retomou a lenga-lenga de que o BE era o único partido que até agora o apoiava. Estas meias-verdades repetidas até à exaustão vão acabar por conotar a candidatura de Alegre aos bloquistas e os seus adversários sabem que essa imagem será demolidora para a sua vitória.

Cavaco entrou em pré-campanha. Melhorou o estilo das gravatas, dos fatos, anda com determinação e passou a colocar melhor a voz. Convoca o Conselho de Estado para dar uma de dialogante e para espanto geral foi dizer no discurso do centenário da República que os portugueses se deviam revoltar como os trauliteiros republicanos do século passado.

Não sei se Cavaco estava indirectamente a apoiar as manifestações dos carroçeiros, a revolta dos enfermeiros, o regresso dos professores às avenidas de Lisboa ou a hipóteses dos guardas republicanos se tornarem em molhados. Não percebi se Cavaco estava a pedir aos manifestantes do buzinão para voltarem ao tabuleiro da Ponte, ou se finalmente pedia desculpa pela carga policial que mandou assanhar contra os vidreiros desempregados da Marinha Grande. Ou se estava a falar para os adultos que há 15 anos foram sovados pela polícia comandada pelo seu ministro-familiar contra os jovens estudantes que contestavam a política da Azeda o Leite.

Cavaco acabou por dizer no Porto, o que Soares disse quando era PR. Soares falou no direito à indignação, Cavaco quer mesmo acção. Contra quem ? Contra o seu arqui-rival Sócrates.

Tinha sido bonito que o PR tivesse evocado a Família Real destroçada, vilipendiada e humilhada e que o Rei D.Carlos pudesse ter sido lembrado, não com saudosismo pois isso seria despropositado mas como um assassinato político que a República deveria condenar e pedir desculpa. Mas isso eram outros quinhentos, muita areia para uma camioneta de baixo PB.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

iPad, a segunda revoluçaõ digital.

O que se vai poder fazer com o iPad vai mudar ainda mais os nossos hábitos e muito as nossas vidas. É a continuação da revolução digital que muitos fingem ignorar, ou porque não lhes dá jeito nenhum, porque vai por em causa Poder, ou porque já não têm idade nem pachorra para mudanças.

Imaginem ligarem o iPad entrarem na Amazon e passados segundos um livro que há muito procuravam está ali disponível. Por um preço muito mais acessível e na hora. Depois pensem que esta edição online pode ter extras como vídeos, sons, links para temas semelhantes.

Pensem como podem ler um jornal confortavelmente, numa edição que pode estar a ser actualizada ao minuto, com um conceito editorial multimédia. Não um jornal em papel transposto para a internet com uns videozecos ou umas fotogalerias para entreter, mas um jornal concebido com a linguagem e as ferramentas da internet: links, infografias multimédia, vídeos de qualidade superior, fotojornalismo onde as imagens informem e sejam de qualidade fantástica, com boa impressão e vistas num tamanho quase A4! Um sonho.

Quem vai querer ler depois um jornal em papel, enfadonho, palavroso, com fotos borradas, escolhidas à lei da coluna, quando pode ter no iPad tudo em bom, sem sacrificar a qualidade dos textos de fundo, das crónicas, das reportagens ? Só quem for casmurro e não estiver interessado em usar as novas ferramentas. Quem pode resistir a um objecto amigo que dá música, filmes, está ligado ao Google Maps, tem mail, internet e serve de placa para aquecer o almoço? (esta última parte é a brincar, claro. Mas lá iremos!).

Não sei se vamos ser mais felizes. Mas que estamos a entrar num mundo novo que ninguém duvide. E os velhinhos modernos, que acham ter garantido o posto só porque mandam mas bocas no Twitter ou no Facebook é bom para eles que percebam que a conversa já é outra. Nada incompatível com os clássicos, mas incompatível com a velharia.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

IPAD

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Diaporama das fotos do III WORKSHOP DE FOTOGRAFIA

PORTFOLIO DO III WORKSHOP DE FOTOGRAFIA from Luiz Carvalho on Vimeo.

As fotos dos alunos do III Workshop de fotografia

Clique na imagem e veja as fotografias brilhantes dos alunos do III WORKSHOP DE FOTOGRAFIA de Luiz Carvalho.

Sábado arranca o nivel 2. Últimas inscrições: 965101612.

domingo, janeiro 24, 2010

Passos Coelho à frente de um grande elenco!

foto LC/Expresso
Há uma direita portuguesa que anda triste, tresmalhada, sem eira nem beira. Esta direita não se revê em Paulo Portas, tem vergonha de ser do PS e sabe que Ferreira Leite não tem queda para apoiar boys.

Muitos destes angustiados pertenceram ao casting cavaquista no tempo do buzinão, das cargas de pancada sobre os estudantes e trabalhadores, como foi na Marinha Grande, e perderam protagonismo político com o guterrismo. Depois não tiveram tempo de reocupar os tachos no curto reinado de Durão e na opereta santanista.

Quando Pedro Passos Coelho decidiu avançar para a conquista do PSD estes figurões começaram a dar corda aos sapatos. Não que eles estejam no batalhão dos 600 mil desempregados do país, que muitas das fábricas de patrões obsoletos lançaram no desemprego. Calma!.. Os rapazes têm empresas pujantes, vivem de cargos pagos a preço de ouro em empresas geridas pelo centrão, todos se safam muito bem no mundo empresarial. Só que não têm aquilo que perderam e que para eles é o sal da vida: o Poder.

Viram em Passos Coelho, o obscuro PPD sem curriculum nem experiência de governação, um óptimo actor para desempenhar o papel do líder que eles anseiam: novo, bem-falante, giro para as tias, uma figura que tem todas as condições para agora o PSD também poder ter o seu Sócrates.

Fartos do fanfarronismo de Santana e Meneses, encavacados pela imagem retro de Ferreira Leite que evoca o mais piadético das tias de Vasco Santana, irritados por Cavaco insistir em mandar no PSD por entreposta líder, estes bétinhos uniram-se em torno do sócio de Ângelo Correia e de Relvas numa empresa próspera, e estão convencidos que voltarão ao Poder. O pior é que irão voltar. Não sabemos é quando!!!

Claro que em democracia o poder é rotativo, e é lógico que a seguir a Sócrates venha um Sócrates com sabor laranja, assim como será inevitável que a seguir a um Presidente que inventa inventonas em modo de e-mail (a novidade é que já não é em forma de fax!), que comenta com tom de pai iniciativas que são do âmbito do governo, é inevitável que depois de 14 anos de política de cara de pau, venha alguém com dimensão cultural, sentido do Estado Social e que possa ser a voz dos portugueses que mais sofreram as consequências do liberalismo iniciado com Cavaco nos anos oitenta.

Agora o que não é muito razoável é que apaniguados do Senhor dos Passos, como é o caso do maléfico Pedro Marques Lopes, venham defender que se tem de malhar naqueles que estão a sofrer os efeitos de uma política desastrada e aventureira da direita-liberal, e que sejam eles a pagar. Isto é: os desempregados, os pré-reformados, os enjeitados, devem ser os que devem pagar os crimes do BPN, do BPP, dos patrões que despedem por antecipação ( caso de AAmorim). Os fracos que se aguentem, não chorem. Pode ser que daqui a três anos já haja almoço. "Tenha paciência! A vida está má para todos!"- este seria um bom slogan para Passos Coelho.

O que Passos quer é a privatização da saúde, da segurança social, da RTP, da educação, porventura de Portugal total, para que os patrões munidos das suas bombas de alta gama (como estavam na passada 5ª feira frente à Estação da Rocha de Conde de Óbidos, na altura do lançamento do livro Mudar) continuem a sua marcha rumo ao século XIX!

Quando Passos Coelho põe na primeira fila um casting com Fernando Ruas, Luis Todo-Bom, Martins da Cruz, o patrão da Mota-Engil, Mira Amaral e outros canastrões da política, quer com este elenco reconstruir o país? Isto é para rir, chorar, ou para nos agarrarmos às calças de Sócrates e pedirmos para ele ficar, que a gente perdoa?

Por acaso não vi nenhum dos 600 mil desempregados por lá. Deviam estar a jogar damas ou à malha nalgum jardim do país. Mas vi sede de poder por todo lado. Aliás, o Gin tónico Gordons estava óptimo.

Dennis Stock, morreu o Mestre que eternizou James Dean


Dennis Stock durante a conferência e abraçando o final um admirador. Fotos Luiz Carvalho

Recordo o post que escrevi há dois anos sobre Dennis Stock:

Na vida poucas vezes nos confrontamos com os nossos mestres. Passámos anos a admirar uma obra, vi-mo-la de trás para a frente, sabemos pormenores dela, devoramos os escritos do autor, imaginá-mo-lo fisicamente e há um dia em que ele nos aparece pela frente, tocamos-lhe e na hora do aperto de mão, a voz embarga-se, baixamos os olhos e resumimos a admiração a uma frase idiota que o mestre nem ouviu. "Obrigado Dennis !"- ele ainda se virou para trás, acenou a toda a gente em volta e atirou-me um:" Adeus homem da GAP!" - referindo-se ao meu boné.

Era de manhã no Palácio dos Congressos de Perpignan onde decorrem os debates do Visa Pour L`Image e era o dia de Dennis Stock, o decano da Magnum aparecer para falar. Começou por fazer uma apresentação das suas fotografias projectadas, com pequenos comentários e acrescentando histórias de vida.

Começou a ser notado como fotógrafo pelo Robert Capa, nos anos 50, depois de uma reportagem sobre as entradas nas fronteiras dos Estados Unidos. Entrou logo para a Magnum, muito jovem, a sua vida atravessou a história contemporânea dos últimos cinquenta anos.

As suas fotografias do movimento Hippye, de Miles Davis, Amstrong, de Marylin Monroe...são um trabalho dos mais profundos e testemunhais. A amizade por James Dean começou no dia em que o actor o meteu atrás na sua Harley e voaram até ao alto de Los Angeles onde durante horas o puto-
" era uma criança!"-lhe contou a sua história de vida, como se Dennis fosse um pai.
Dali nasceu uma grande amizade e uma cumplicidade que permitiu fotografias tão marcantes como aquela do actor a atravessar Times Square, uma foto feita à pressa porque começara a chover e para a qual Dennis Stock utilizou apenas 5 fotogramas para escolher 1.

Hoje o mestre fotografa flores e no saber dos seus anos gosta de olhar ainda o Mundo através da sua Leica.
Está muito empenhado na internet, onde ele acha que os fotógrafos devem fazer sites onde a fotografia se destaque pela grande qualidade. "As fotografias depois de nascerem são do público e a internet é o lugar mais democrático para isso acontecer" - diz ele. Para Dennis os fotógrafos têm de ter imaginação e procurarem quem lhes possa pagar as reportagens. " Os homens ricos estão por todo o lado, só há que procurá-los e convencê-los do valor das fotografias".

Politicamente é um artista de esquerda e, como todo o bom americano, detesta Bush e pensa que o capitalismo de hoje devorou tudo e que a vida das pessoas se tornou tão desinteressante que agora só querem saber da vida dos outros, daí o sucesso das fotografias de paparazzis.

Alguém dizia por perto que é uma dádiva podermos encontrar num só fotógrafo tantas qualidades: Personalidade, carácter, rigor de enquadramentos, visão histórica e social, cultura e uma enorme generosidade.
Não fui só eu que me emocionei com a presença do mestre, e que, sinceramente, não consigo descrever neste post. Um jovem , no final da sessão, arriscou fazer uma pergunta mas a voz tremeu, o sentido das palavras tornou-se confuso. Quando Dennis pediu para repetir a pergunta o jovem teve uma branca e criou-se um eterno silêncio na sala. " Eu só queria dizer que gosto mesmo muito do seu trabalho e é uma honra enorme poder falar consigo!"- Dennis combinou com ele um abraço no final da sessão.

O dia de hoje ficará inesquecível para mim. Tal como aqueles em que estive com André Kertesz em Paris, com Koudelka e Salgado em Fátima. Mas hoje foi mais rico: as palavras e as fotos do mestre disseram-me numa voz calma e sábia que afinal o fotojornalismo, mais do que uma profissão é um acto de fé, uma vocação. Fiquei mais crente e vou fugir um destes dias com a minha Leica.

Obrigado mestre.

Também em www.expresso.pt ( Luiz Carvalho, enviado do Expresso a Perpignan)

sábado, janeiro 23, 2010

O verdadeiro jogo da pobreza de espírito

Segunda-feira o Estádio da Luz vai ter um jogo contra a pobreza. Mas o verdadeiro jogo da pobreza de espírito já foi feito, e visto naquelas imagens, ontem divulgadas, que mostram bem a hospitalidade do Benfica quando recebe o Porto. São imagens gravadas pelas câmaras de segurança da Catedral Iluminada e que mostram a selvajaria a que chegou o nosso futebol.

Se pegarmos nesses planos sequência e os colarmos aos vídeos que estão no YouTube, em que ouvimos incrédulos, e com grandes barrigadas de riso pelo nível artístico e literário a que chegou o nosso mundo futeboleiro, então a realdade supera a ficção.

Não percebo como é possível Pinto da Costa poder continuar à frente de um clube desportivo depois daquelas cenas chocantes e promiscuas entre árbitros, presidentes de clubes e afins com pratadas de sobremesa no fim, regadas a café com leite. Biéque!!!

É um futebódo total. E das duas uma: ou não levamos aquilo a sério e fazemos do futebol uma palhaçada total ou levamos o futebol a sério, como desporto e negócio, e tudo aquilo é demasiado grave para a polícia não actuar e os doutores juízes não mandarem para trás das grades estes pândegos.

Também a porrada que é praticada nos balneários do Sporting não é de menosprezar. Um clube que joga como uma equipa de casados e solteiros e tem um jogador que se arma em espertalhaço e provoca um director e agora é trazido ao colo....não dá para acreditar.

Mas tudo passou a ser possível. O futebol é o outro lado do espelho deste país que gosta de porrada, teatro e salvadores. E por falar em salvadores: hoje lá apareceu o PR de lenço de seda à volta do pescoço a dizer que as negociações sobre o orçamento são sempre difíceis. Já o eram no seu tempo. E lá tivémos que levar com mais uma prédica sobre as virtudes da concertação partidária.

Já não bastava a Dra. Leite andar a fazer de secretária de Cavaco, ainda temos de levar com intervenções feitas na rua por parte do PR, com publicidade a Vale do Lobo por detrás, a dizer banalidades com sorriso plastificado.

Negociações no seu tempo? Ahahahahaahah!!!

O que é que isto tem a ver com o jogo da pobreza? Nada.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

Até já os banqueiros opinam sobre o futuro

Começo a ficar farto de comentadores económicos. Torna-se deprimente ouvir à noite no remanso da digestão do jantar, uma série infindável de espertos que tratam de nos desassossegar o sono com previsões haitianos sobre o futuro próximo da Nação.

Ainda por cima, a grande maioria destes comentadores não são isentos, são parte interessada no conteúdo que emitem. Ou são professores universitarios a estagiarem para ministros, ou ex-directores de jornais desempregados, ou engraxadores crónicos, ou empregados de luxo de grandes grupos económicos. Hoje havia mesmo um banqueiro a debitar sobre o que se devia fazer ou não no caso do Orçamento, como se a condição de banqueiro lhe desse uma superior autoridade académica e moral para emitir banalidades em tom emproado!

Já todos estamos carecas de saber que o deficit vai a subir mais do que o balão da outra, e que a dívida externa está a fazer de nós uns perdulários sem juízo. Parece que esta crise de vários rostos não tem rosto: isto é, não há nenhum político com curriculum nesta matéria para se preparar para o cadafalso. Pelo contrário, Cavaco nunca governou, Guterres é protegido pelo Padre Melícias, Durão foi uma miragem, Santana acaba de ser condecorado pelo Chefe Cavaco e Sócrates é porreiro porque o maralhal lhe voltou a dar a tal maioria legítimo para mandar.

Como o país não tem estruturas para aguentar uma economia rolante, podemos poupar, podemos auto-flagelarmos, que a coisa não vai melhorar.

Portugal em termos de economia está como o Haiti na vertente betoneira. Mesmo que venha outra réplica de sismo a coisa cai mas pouco mais cai. Portugal tem o seu tecido económico como o tecido urbano do Haiti fotografado pela Google há dois dias. E não há betoneiras que possam remendar esta coisa.

Estes arautos da desgraça, as novas carpideiras à hora do jantar, não resolvem nada. Uns têm bancos que engordaram à custa do crédito pérfido para o imobiliário e não para as empresas, outros estão a mando de capitalistas que sonham com o século 19, outros arregimentam jornalistas com o soldo de uma sopeira ucraniana, outros apelam à redução dos salários mas aos 76 anos aceitam cargos de gestão em empresas com capital maioritário do Estado. Os mesmos que defendem a reforma aos 65 e que promoveram o descrédito profissional dos que aos 50 anos estavam no auge da sua capacidade.

Uma geração de velhadas e agoirentos sem vergonha. A geração que governou (?) o país nos últimos 30 anos, lava as mãos e faz da análise um exercício de narcisismo e lobby para interesses não declarados.

Vou deixar de ver televisão à noite. Já tinha deixado de ver às outras horas.

Cavaco dá uma cruz de Cristo a Santana


Afinal o Presidente Cavaco não se preocupa só com "os graves problemas do país". Sócrates deu um direito aos gays, Cavaco uma medalha ao Menino Guerreiro.

Entre um despacho e um período para matutar nos tais graves problemas da Nação, que dão a volta à cabeça de um simples professor de economia, o PR distribui ao fim da tarde umas faixas por uns ilustres que "deixaram cargos importantes da vida pública e que já nem deputados são".

Por mera rotina, burocracia política, ou para tornar útil aquela comissão que medalha que se farta no Dia da Raça, Cavaco Silva levou Santana Lopes ao beija-mão numa cena das mais crueis e cínicas como há muito se não via. O ex-secretário de estado da cultura do Cavaquismo e magnifico ex-Primeiro-Ministro, podia até ter sido condecorado com alguma dignidade num 10 de Junho ao lado de outras iminências pardas, mas não: Cavaco quis dar-lhe a "Grã-Ordem de Cristo", envenenada, pondo-o ao lado de uns apagados Silvas, olhando sempre para a fotografia com um sorriso que não deixaria escapar nenhuma migalha do bolo-rei da vingança política.

Santana saiu a correr do Palácio de Belém, o casarão que só o recebe para lhe dar desgostos, humilhações, e que deixa à sua passagem uma risota total. Safa que se faz tarde! E nem uma palavra aos abelhudos jornalistas!

O gesto político de Cavaco é de um grande mau gosto, e o que é lamentável é que ele não consegue ter fair-play para fazer uma destas encenações sem deixar cair o seu gesto mais profundo: o enterro da má moeda.

Como quem diz a Santana:"Vá transporta a Cruz como Cristo a aguentou!", Cavaco deve ter tido um dos dias mais reconfortantes do seu mandato.

Só faltava vir a seguir Barroso e deitar uma pazada final de terra para o caixão do Acabado Lopes. Malvado Cavaquismo. Heheheeh!!!

segunda-feira, janeiro 18, 2010

ROMA por LUIZ CARVALHO

As minhas fotografias de Roma feitas em 2002 e que acabo de encontrar num cd tresmalhado.
Terão sido as últimas fotografias feitas com a minha Leica M6. Cliquem na foto para verem o diaporama.

Daniela Ruah por Luiz Carvalho

Photosession de Luiz Carvalho para a Única/Expresso. Clique na foto para ver diaporama.

domingo, janeiro 17, 2010

A lição do Haiti

O Haiti é uma enorme tragédia e com ela a convicção de que o Mundo não é nada seguro. Vivemos pendentes de pinças. Todos. Estamos sujeitos à precariedade do petróleo e sua distribuição mundial, estamos reféns da economia e da finança capitalista, estamos vigiados pela China e pelos grandes mercados que despertam no Oriente. As nossas vidas não estão assim tão seguras em caso de um cataclismo, como sucedeu no Haiti.

A comunidade internacional preocupou-se em se organizar para a guerra mas não pensou na solidariedade em tempos de paz. Há brigadas de intervenção rápida em caso de ataque nuclear para defesa do Ocidente, mas em caso de tragédia...há que fazer tudo de improviso.

Claro que no Haiti todos os países quase sem excepção têm dado sinais práticos de ajuda e esta está a chegar. Só que sem aeroportos, portos, vias, combustível, electricidade, sem as infra-estruturas minimas é quase impossível uma ajuda eficaz em tempo. A ajuda chega porque sem uma estrutura de socorro preparada por uma ONU para acudir a países em catástrofe é impossível fazê-lo a tempo e horas.

Já tinha acontecido o mesmo com o Tsunami na Ásia. A ajuda internacional chegou mas tarde. Sem um organismo mundial que possa estar preparado para acudir a populações em perigo qualquer acontecimento destes está condenado a fracassar em termos humanitários.

Num Mundo avançado, que esbanja milhões em defesa militar, que faz do CO2 uma mobilização à escala total, como não pensou ainda numa organização para funcionar nestes casos? Esse organismo vai aparecer quando alguém descobrir nisso uma causa com lucros globais, como sucedeu com a demagogia do ambiente. Vão ver se não vai ser assim.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

NIVEL 2 do WORKSHOP DE FOTOGRAFIA

Clique na imagem, entre no site

Inscrições abertas, algumas já feitas. O Nível 2 destina-se a fotógrafos que tenham alguma técnica e desejem praticar e evoluir no terreno fotográfico. Prioridade aos alunos que frequentaram os I, II e III Workshops, nível básico.

terça-feira, janeiro 12, 2010

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Pedintes groumet

Um repórter apanha de tudo na rua. Na passada semana andei pelas ruas da amargura em busca de famintos aos caixotes. Acompanhava uma colega que ia escrever sobre o tema. Eu na pele de fotógrafo observo e não faço perguntas. Mal falo com os protagonistas. Prefiro ver e calar.

Fiquei consternado com uma mulher ainda jovem, magra, com tiques de quem tinha nascido numa família burguesa. Notava-se na atitude, nas palavras bem usadas com a sua voz rouca, rufia. Abraçava um cachorro que a não largava e às malas de rodas que transportava com comida para o cão e roupas para proteger do frio. Uma figura simpática, terna, que apetecia ajudar.

Mas não era disto que eu queria falar. O que me impressionou foi o personagem de um homem novo, ar saudável, também com evidente educação escolar, que vivia de andar aos restos que lhe eram dados numa praça de Lisboa. A razão para aquela vida era justificada como uma forma de protestar contra o consumismo, o CO2 daí inerente e a sociedade cruel capitalista (era este o sentido das suas palavras).

Depois protestava contra o facto de em Portugal, ao contrário dos países nórdicos por onde já tinha mendigado, não haver ainda uma espécie de ecoponto da comida, onde os pedintes pudessem escolher entre caixotes para peixe, outros para carne e outros para legumes. Uma desorganização em forma de esmola!

A verdade é que a distribuição dos alimentos que sobram ao fim de um dia é complicada. Se os supermercados deitam fora a comida é porque ela vai deixar de estar fresca para consumir, ou porque os novos stocks terão de ser postos à venda para não se entrar num ciclo de estragos. Abrir os sacos e deixar toda a gente levar à borla criaria um caos e é impossível as instituições sociais poderem distribuir alimentos à beira do prazo.

Há lojas e mercados que regam com lixívia a comida que sobra, noutros dias fazem-se esquecidos e os pedintes pontuais acabam por levar para casa peixe e carne ainda razoáveis em qualidade para serem consumidos.

Agora que há uma multidão de mendigos profissionais, jovens, de saúde, e que não querem trabalhar que ninguém duvide. Nem toda a pobreza se traduz no folclore dos sem-abrigo que optaram por viver na rua entre bebedeiras e total desregramento de vida. É verdade que isto já se poderá considerar uma doença e casos sociais graves. Mas pelo que vi, aquela gente não quer trabalhar, vive à custa de expedientes e este intelectual da pedínchisse até já queria caixotes com produtos separados. Só faltou reivindicar frigoríficos públicos para conservar os restos da comida.

FOTOS DO III WORKSHOP DE FOTOGRAFIA

Clique na foto e entre no diaporama das primeiras imagens dos alunos (não editadas)

domingo, janeiro 10, 2010

Sócrates faz-se à estrada

Sócrates adianta-se a Cavaco e retoma a estrada em grande actividade. Hoje é a Zona Centro, aquela que mais indústria activa comporta, para falar da importância das exportações. Antes foi o lançamento de duas novas estradas no valor de 1700 milhões de euros. Investimento público, embora em alcatrão, mais próximo das populações do interior. Exportar e dar infra-estruturas parece-me bem.

Cavaco que está a aquecer os motores para uma presidência aberta, porventura naquele seu estilo de primeiro-ministro que já era, bem pode preparar-se para a antecipação de Sócrates e da sua bem oleada máquina de comunicação.

E hoje Sócrates ainda oferece 400 creches. Se for verdade é muito bom. As tais creches que Cavaco no seu tempo dizia não serem necessárias porque as amas resolviam o problema. Incrível mas verdade.

PS: isto está um bocado pró-Sócrates, ou é impressão minha? Ou será influência da Clara Ferreira Alves?

sexta-feira, janeiro 08, 2010

O dia do orgulho de Sócrates

Manifestação hoje frente à AR. foto:LC
Amanhã a AR estará agitada por causa da aprovação que permitirá o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Volto a afirmar que sou absolutamente contra o casamento gay mas completamente a favor pelo reconhecimento dos direitos civis vários em uniões entre duas pessoas do mesmo sexo. O Estado não tem que se meter em questões de sexo entre cidadãos e o casamento é um contrato e não tem nada a ver com sentimentos. Para amar nunca foi preciso casar, bem pelo contrário.

Portanto, o que está em causa não é o não reconhecimento de direitos, o que está em causa é que nem tudo cabe no mesmo saco, nem ser diferente é por si um direito para aceder a determinados estatutos. Não me parece que por se ser lésbica isso dê direito automático a ser sócia do sindicato dos camionistas::))

Países avançados democraticamente não optaram pela permissividade do casamento gay mas garantem todos os direitos aos casais homossexuais.

Sócrates quis anular a onda bloquista e deu um passo mais longo do que a perna.
Esta lei vai virar muita gente contra os homossexuais o que é lamentável. Há na opinião pública uma onda de ironia, anedotas e crispação contra a lei, o que só prejudica a aceitação do homossexualismo. Basta andar na rua e ouvir.

Os homossexuais que sempre tiveram o sentido da transgressão, da independência, da coragem e da intimidade, acabaram por ser os arautos de uma lei burguesa e que põe o Estado a meter-se onde não é chamado. Mas Sócrates prometeu, Sócrates cumpriu. Haja uma vez.

quinta-feira, janeiro 07, 2010

Deixar de ser médico e fugir com a amante

O meu amigo António Pedro Ferreira inaugura amanhã a sua exposição "Segunda Escolha" na sede da Kameraphoto em Lisboa. Tive a honra de lhe escrever o texto de apresentação que se segue.

Todos amanhã às 18,30 ver as suas fotografias sobre os emigrantes portugueses em Paris na década de oitenta.

O que leva um médico recém-nascido a abandonar o berço da Pátria e a refugiar-se em Paris na Casa de Portugal? A desilusão de um país adiado, o engano na escolha do canudo, ou a coragem de finalmente poder fugir com a amante? Está ultima hipóteses é a mais considerada em círculos próximos e amigos do António Pedro Ferreira, o Tó-Pê.

Esta fuga reporta a 1982 e estende-se até 84, o período sabático que esse jovem médico com a cabeça na fotografia permaneceu em Paris, atrás de emigrantes portugueses à procura de um conjunto de imagens que pudesse testemunhar e entender socialmente os seus conterrâneos. A aventura foi possível graças a uma parca bolsa da Secretaria de Estado da Cultura, ao apoio de amigos que então estudavam em Paris e, sobretudo, a um impulso próprio dos apaixonados, uma urgência em pegar na Leica M4 e ir em busca de uma história, de um testemunho.

Foram meses intensos. A Agência Magnum fazia a supervisão do trabalho para apresentar ao promotor da bolsa e era o ciumento Jimmy Fox que recebia o Tó-Pê todos os meses e o aconselhava no ensaio fotográfico. Nunca um fotógrafo português tinha tido esta possibilidade de poder estagiar na mais mítica agência de fotojornalismo.

Depois das idas à Magnum, com todo o ritual que isso representa (imagine-se o que representa para um fotógrafo como o António Pedro Ferreira poder ver o Henri Cartier-Bresson mesmo que ao longe!) os dias eram longos e dedicados. Milhares de fotografias em bairros como St. Denis ou Gentilly em festas, casamentos, momentos de ócio, trabalho. Contactos, amizades, íntimismo, cumplicidades.

As noites eram para o laboratório de fotografia improvisado, uma arrecadação com água corrente na residência universitária onde pernoitava.

O que é notável nestas fotografias do António Pedro é que elas marcam o início de uma nova atitude no fotojornalismo português. Estávamos perante um jovem que queria intervir na sociedade, testemunhando, convergindo com uma preocupação inabalável de produzir fotografias com referências. Fotografia pura e dura. Daí a Magnum e o aval de qualidade que sempre atestou.

Se o poema de Manuel Alegre sobre a emigração em França nos comove, o filme O Salto nos envolve, ou se as cantigas de José Mário Branco nos embalam para um tempo a preto-e-branco, as fotografias do António Pedro são o somatório de tudo isto na síntese perfeita do instante decisivo.

Tive a felicidade de ter podido compartilhar com o meu amigo alguns dias nesse distante ano de 1983. Lembro-me de um baile em St. Germain-dés-Prés e de um jantar festivo numa colectividade nos arredores de Paris. Eram tempos simples, austeros, mas de uma esperança infinita que nos foi traída.

Luiz Carvalho

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Call Girl, poucas palavras e boas acções


Vi ontem o "Call Girl" na TVI, no esplendor de um plasma, e adorei o filme. Calma! Nem sequer vou falar do desempenho e da presença da Soraia Chaves. Só dizer este nome provoca logo as piadas mais bacocas por parte dos homens, e a chacota invejosa da maioria das mulheres.

O que gostei no filme foi da sua competência narrativa para contar uma história portuguesa, muito actual, com personagens bem construídas. Um texto escrito a pensar em cinema, ritmado, natural, fluente. Uma fotografia luminosa, vibrante, realista. Uma câmara nervosa, atenta e sempre com o enquadramento certo, no sítio certo, com a focal correcta.
Uma edição com ritmo. Bom som e excelente banda sonora, fazendo lembrar por vezes a de alguns filmes de Hitchcok.

Meus caros: não é fácil chegar aquele apuro. Temos bons técnicos de cinema, excelentes actores e realizadores que sabem da poda. E António Pedro de Vasconcelos, decerto muito inspirado pela bela Chaves mostrou o que é podar filme.

A ideia que eu tinha, era que o filme não passava de uma porno-chachada chique, um pretexto para o nosso APV poder filmar Soraia no esplendor do decadente Fuji Film, e assim poder encher os cinemas dos arredores com alarves que habitualmente não subscreveram o canal Playboy no cabo de casa. Nada disso. O filme podia ser americano, filmado em Los Angeles, e até a Kim podia substituir Soraia. Mas não era a mesma coisa...

Agora, fico sem perceber porque teve tantos anti-corpos o filme junto das ratas de cinemateca, que povoam as parcas colunas que os jornais dão à critica de cinema. Os nossos críticos têm medo de dizer bem do cinema português, quando este mostra vocação de poder vencer a indiferença dos viciados em telenovela. Preferem sempre aqueles realizadores que filmam em mini-Dv planos longos como as cassetes que os suportam, com drogados da Brandoa ou outros desgraçados. Ou então refugiam-se nos clássicos entre o Oliveira e o João Botelho, um benfiquista com sentido gráfico mas chato para caramba. Sendo que eu adoro Oliveira, embora adormeça.

O que é de lamentar é termos um homem como o APV que tem de ir fazer comentários estarolas para a RTPN sobre futebol, quando devia era estar atrás da máquina a gritar acção.

Menos palavras e mais acção, oh António Pedro!

domingo, janeiro 03, 2010

O sangue dos anéis e os diamantes amigos

Jornalismo televisivo do melhor, como sempre no 60 minutos. Hoje uma reportagem no Congo sobre a exploração do ouro, o tráfico pelo Uganda, a indiferença dos ourives mundiais em saberem de onde vem o material. Isto é: teremos sangue nas nossas alianças ? O sangue das crianças que trabalham no garimpo, a dor das mulheres violadas pelo regime sustentado pelo comércio do ouro,
até onde se pode responsabilizar o mundo rico por uma das maiores misérias humanas, a horas de nós?

O que se aplica a este ouro pode aplicar-se ao preço humanitário que representa o capital dos diamantes angolanos? Ou vamos fazer que é tudo uma espécie de democracia? E que o Diabo são os outros?

sábado, janeiro 02, 2010

Cavaco: um discurso velho de ano-novo

Espremido e condensado o discurso de Ano-Novo de Cavaco veio dizer isto: o governo tem é que governar, abrandar o déficit, apoiar as 95 por cento das empresas pequenas e médias que empregam os portugueses, deixar-se de esbanjar em obras públicas e já agora que respeite as tradições da família em vez de andar a promover o casório Gay.

Não foi um discurso de ano novo, foi um texto de análise política básico, dito em tom de récita liceal dos anos setenta, com um cenário pavoroso onde se evidenciava uma janela com um vidro e uma irritante maçaneta. Não era a marquise da década, era o remanso do Palácio de Belém.

Claro que quem aterrasse na Pátria e não tivesse tido a felicidade de ter por aqui andado a fazer pela vida nos últimos anos acharia este discurso empolgante, patriótico e digno de fazer história. Mas nós que andamos há vinte anos, aliás 24 anos a ouvir os discursos cavaquistas estamos fartos de tanta lição de economia para os Tonecas desta vida. O governo é aquilo que a gente sabe, e Sócrates o artista que topamos, mas termos de levar com discursos paternalistas de quem está sempre pronto a puxar as orelhas mas a nada fazer de concreto...incomoda imenso. Chateia mesmo.

O cavaquismo é uma espécie de reserva moral para direitistas falhados, aqueles que tiveram o país na mão no tempo da abundância e que esbanjaram em alcatrão, novo-riquismo, desprezaram o ensino e a cultura e promoveram os yuppies vestidos de fatos à la Maconde, esses que fizeram das empresas casinos e dos trabalhadores máquinas descartáveis. Se há coisa que devemos ao cavaquismo é essa geração de trogloditas de gel no cabelo que hoje estão ricos e foragidos ou à espera que a Justiça enferrujada um dia os ilibe por prescrição.

Cavaco está isolado e já ninguém o escuta.

BOM ANO PARA TODOS OS SEGUIDORES FATAIS

Embora com algumas horas de atraso queria desejar aos meus visitors um Bom Ano-Novo. Todos nós precisamos de um novo tempo. Com mais excelência,ânimo, trabalho e cultura. Obrigado a todos e ao meu special-comentador Mr. PP.

Luiz Carvalho