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segunda-feira, agosto 04, 2008

Mil palavras pela fotografia, diz Joaquim Vieira

Na sua coluna no Público como provedor do leitor, Joaquim Vieira (JV) falava ontem sobre os problemas da fotografia do jornal. "É duvidoso que o Público resolva os seus problemas com imagens sem uma linha editorial clara"- escrevia JV.
Os leitores não são parvos nem cegos e vários escreveram a fazer queixas da forma como as fotografias são escolhidas para editar, o critério da escolha, e a forma desastrada como são postas em página.
Havia uma fotografia da Ministra da Saúde que saiu três vezes numa semana, e num mesmo número duas vezes. Ainda por cima tratava-se de um retrato psicológico em que ela aparecia a olhar de lado, dando um ar de desconfiada, mas que serviu para as mais diferentes circunstâncias em que ela era citada. Depois havia um artigo sobre explosões na Sibéria com uma foto feita num deserto americano, sem legenda. Outra foto mostrava uma empena do edifício da Procuradoria sobre um tema que muito dificilmente encaixava na foto.
O Público no seu livro de estilo atribui à fotografia uma importância fundamental na definição do estilo informativo e gráfico do jornal mas na prática será que se verifica uma " relação dinâmica, permanente e intensa entre fotografia e texto?"-pergunta JV.
A política editorial do tapa-buracos é uma rotina infeliz em todos os jornais, nuns mais do que noutros, e a falta de uma edição fotográfica controlada por um editor com poder efectivo, ou uma equipa de editores, acaba por dar aos jornais um ar de folhas da paróquia onde as fotografias não são objectos informativos, ilustrativos ou motivadores para o mergulhar nos textos, mas apenas lixo visual.
Para José Manuel Fernandes, o director do Público, essas falhas são reconhecidas e promete emendar mão, nomeadamente na forma de colocar as legendas certas nas imagens certas de forma a dar um sentido informativo às fotografias. Mas é o próprio director que reconhece que nem sempre a edição fotográfica cabe ao editor e que qualquer redactor ou mesmo gráfico que tenham acesso ao arquivo digital pode importar uma imagem e editá-la em página usando o seu critério e gosto. E até avança com a ideia de poder haver mais gente envolvida a escolher fotografias...o que pode mesmo ser o grande regabofe. Por esta ordem de ideias até as secretárias ou os estafetas poderão dar uma ajudinha na edição fotográfica (digo eu!). Tudo é possível quando se trata de manusear fotografias.
A fotografia tem este karma: todos se acham fotógrafos e ultimamente esses artolas subiram de nível e também se acham aptos a editar fotografias. A fotografia banalizou-se e a função de editor também. Pode parecer que neste jogo o nível passou a avançado mas na verdade desceu ao analfabetismo. Para simplificarmos: era como se o engenheiro Sócrates se achasse com direito a projectar o novo Parque Mayer porque fez projectos de autor nos tempos em que usava poupa e acreditava nas virtudes da construção civil!
Devo dizer que esta bandalheira não se passa na imprensa estrangeira de referência, nem nas agências de informação que fornecem serviços fotográficos como a AP ou a Reuters. Há um amadorismo insuportável na nossa imprensa ( já não estou a falar do Público nem de nenhum jornal em concreto) e que contamina o resultado final e acaba por perder credibilidade junto do público leitor.
Este desprezo pelo fotojornalismo está a tornar-se moda. Há um lobbie na imprensa por parte dos jornalistas da escrita que nunca aceitou nada bem o protagonismo e a importância do fotojornalismo. É histórico. Sempre olharam os fotógrafos com paternalismo, depois quando o nível cultural de muitos fotógrafos e mesmo a notoriedade os superou começaram uma luta silenciosa pela aniquilamento da fotografia. Passaram a querer dar-lhe um estatuto subalterno, não jornalístico, como se um fotojornalista não tivesse carteira profissional e fosse um produtor de bonecada!
Muito bom o artigo do Joaquim Vieira. Devo dizer que trabalhei muitos anos com ele, sou seu amigo, já nos temos encontrado em cursos de jornalismo, ele já foi meu convidado em aulas minhas, e posso dizer que é dos jornalistas com mais cultura e saber sobre a função da fotografia na imprensa. Se tivesse um dia de escolher um editor de fotografia escolhia-o a ele.

3 comentários:

  1. Amigo Luiz:
    Pode explicar por que motivo no texto anterior sobre o Dr.Frncisco P.Balsemão, personagem que muito prezo, não há a possibilidade de fazer comentários?
    Gostava de saber!

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  2. Como diria o outro, porque raio um médico ou um advogado podem exercer "jornalismo" ou neste caso "foto... jornalismo?...) e um jornalista ou fotojornalista não pode exercer medicina ou advocacia?

    Post muito interessante quer pelas palavras do Joaquim Vieira, quer pelo comentário do Luíz.

    E vindo do "público", o jornal que mais reclamava a eficiência e utilização da fotografia para a "informação", o que será, por exemplo da nossa imprensa regional?

    Paulo Sousa

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  3. Luis, infelizmente caminhamos para o fim...pior do que redactores e gráficos a escolher fotos, é ter editores fotográficos broncos, básicos e lambe cus. Os yes man do meio. Esses gajos deviam ser linchados em praça publica. Talvez um dia...

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