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quarta-feira, janeiro 31, 2007

Com gente desta a votar "Não" ainda voto "Sim"

Confesso que tenho bastante reserva em falar sobre o tema do aborto. A discussão exige recato, bom senso, flexibilidade, respeito pelos outros, intimidade e pudor e uma grande dose de consciência pessoal.

Ninguém gosta de pensar que teve um dia de provocar um aborto, seja homem ou mulher. É das situações mais dolorosas e tristes. Ninguém duvidará.

Portanto: toda a gente está contra a prática do aborto.

Os fariseus do “não”e os facilitistas do sim. Mas os fariseus do “não” estão a condicionar a liberdade dos "sim". Os do “sim” não estão a violentar os do “não”.

A actual lei é suficientemente razoável para a prática da interrupção da gravidez. O que tem acontecido é que o Estado até agora não procurou tornar a prática da lei em coisa prática.

O que estamos a querer discutir para votar: é ou não crime provocar um aborto até às dez semanas. Só isto. Ponto.

Os reaccionários do “não”, que por acaso coincidem com algumas das figuras sinistras do regime como Bagão Félix, Paulo Portas, Alberto João Jardim e inefáveis como Zézinha Nogueira Pinto, estão a transformar o debate em campanha ideológica e partidária.

A teoria hoje lançada por Bagão Félix – o ministro que mais tirou aos pobres e à classe média e agora vem feito bom samaritano - de que o feto tem direitos de sucessão não lembraria nem ao caeca nem ao rei dos pneus.

Depois da triste manifestação com uns gatos pingados a desfilarem por Lisboa com cartazes ignóbeis a dizerem que “ abortar é como Auschwitz” e outras alarvidades ( de facto a nossa direita é burra e não aprende) e depois do auto-denominado pai do referendo, o Professor Marcelo, ter lançado aquele impagável vídeo no You Tube ( mais cómico do que a genial versão dos Fedorentos) só apetece mesmo votar no “sim”. Apesar de eu ser contra referendos e achar que põem em causa o princípio democrático da representatividade parlamentar.

Já chega de tanta palhaçada. A verdade é que numa Europa aberta, se for crime abortar em Portugal, em duas horas quem o quiser, e o puder fazer, põe-se em Badajoz e lá fá-lo-à em segurança, legalidade e decerteza mais barato.

Se não puder o ex-ministro da Segurança- Social Bagão Félix deve ter uma solução para os seus pobres e, se falhar, a teoria neo-liberal resolve tudo.

Se não o conseguir pede a Deus que este envia um milagre.

Luiz Carvalho

terça-feira, janeiro 30, 2007

segunda-feira, janeiro 29, 2007

LEICA M8 videoblog



Para fanáticos.

SHE

O que é que o You Tube não tem ? tem este "She" uma das canções da minha vida.

Marisa Monte um especial com 47 mil no You tube

Crónica fotográfica



Fotografia de Henri Cartier-Bresson


Fotografar e bater em retirada


Que faz um fotógrafo caído no meio de uma multidão, pobre e faminta, que o olha fixamente?

Sorri, enquanto calcula a profundidade de campo através da hiperfocal, procura o melhor sítio para fotografar, ou esconde a máquina atrás do ombro e tenta entender a dor dos que o rodeiam?

Woody Allen em Manhattan, um dos filmes da minha vida, num diálogo memorável reconhece que " o problema é sabermos quem tem a coragem de se atirar de uma ponte para salvar um suicida. Eu não tenho que responder porque não sei nadar!". Eu também não. Mas ao fotografar por vezes sinto-me como um estranho que violenta os outros apenas pela presença. Claro que ponho em acção a capa protectora profissional, idêntica à que os médicos usam em situações de emergência, e tento sobreviver e fazer algumas fotografias.

Em Nova Deli, numa escapadela à viagem oficial de Cavaco, uma jornalista a meu lado ficava de rastos depois de ter atravessado uma multidão de infelizes que pediam esmola num quadro desafiando a precariedade da condição humana. Eu fotografava rápido, Leica M8, preocupado com a composição, a luz, o instante. Fotografava e retirava. Confirmava o balanço dos brancos, a sensibilidade, a focal, mais uns passos, expressão, movimento, mais uma foto.

No terreno a rapidez faz parte do respeito pelos outros. Numa situação extrema quanto mais tempo se estiver a fotografar mais agressivos e indesejáveis nos tornamos.

Henri Cartier-Bresson gostava de citar De Gaulle para quem o bom artilheiro devia disparar e retirar logo em retirada. É um bom exemplo.

A ética do fotógrafo começa na postura que põe no exercício do trabalho e logo de seguida na forma eleita. Uma imagem deformada, demagógica, de certeza que não respeitará o assunto a ser fotografado.

A minha colega ficou em estado de choque. Deixou-se envolver na acção, perdeu o controle do seu ponto de vista, esqueceu-se que um jornalista não se comove, está ali para comover os outros. Não é causa, produz efeito.

Em 1977, em Fátima, ao olhar uma criança deformada desatei num pranto. Tive de abandonar o santuário, não suportei ver aquela imagem terrível. A lembrança do meu filho André que tinha 1 ano foi fatal. Esta experiência levou-me a procurar sobreviver na frente de batalha, mesmo que não se trate de uma guerra.

A Índia é hoje um país mais humanizado do que há 15 anos, mas a miséria é ainda relevante, talvez das mais chocantes do Mundo ao lado dos países mais atrasados de Àfrica como a Libéria, Guiné e zonas de Angola- falo do que conheço.

Para se fotografar estes meios é necessário pormos de lado preconceitos, medos, paternalismo. São precisos nervos de aço. O pior vem depois do trabalho feito, quando começamos a ver o que fotografámos e só encontramos infelicidade e olhares que parecem pedir ajuda eterna.
As minhas fotografias podem fazer alguma coisa pela injustiça, mas por muito que façam será nada nas vidas daquela gente. Nada.

A fotografia, o fotojornalismo, não dá para mudar o Mundo. È verdade que fotografias houve que influenciaram o rumo da História, mas não acredito em militâncias culturais e afins.
Nós fotógrafos não somos importantes, não tomamos decisões para orientarem o Mundo.

Apenas fotografamos, somos testemunhas activas, por vezes passivas daquilo que se nos dá a ver. Eternizamos instantes, tornamos a memória colectiva mais viva. Somos delatores das injustiças mas não resistimos a tentações e adoramos eternizar o belo e feminino. O nosso prazer de ver torna-nos maçadores, voyeurs, lamechas e heróis.

Ao regressar da Índia sinto que vi um país entre a janela de um autocarro e uns paços acelerados pelas ruas mais indignas da humanidade.
Vi o Sol a pôr-se, dourado, na Goa da alma portuguesa, mas ao longe já cresciam as torres do betão armado ao turista. Vi cidades com paredes espelhadas erguerem-se para os céus, à volta com indigentes a sobreviverem nas barracas de chapa.

Se não fosse fotógrafo não sei como faria esta catarse.

Luiz Carvalho


(esta é uma crónica que eu vou começar aqui no Fatal regularmente)

Pinto da Costa e Reinaldo Teles na PJ do Porto

O recente caso de violação do segredo de justiça pelo jornal desportivo online Sportugal motivou esta segunda-feira a audição do presidente do FC Porto, Pinto da Costa, na Polícia Judiciária do Porto, revelou à Agência Lusa fonte policial.

Segundo outra fonte contactada pela Lusa, Pinto da Costa foi ouvido por uma equipa de elementos da PJ, na qualidade de testemunha.

A inquirição de Pinto da Costa e do vice-presidente portista Reinaldo Teles durou cerca de três horas.

À saída, o presidente dos «dragões» declarou: «Fui convocado na semana passada, vim porque me chamaram. Estive como testemunha porque fui chamado cá».

O site Sportugal disponibilizou há mais de uma semana um ficheiro do despacho assinado pela procuradora-geral adjunta, Maria José Morgado, responsável pela investigação, que determina a reabertura do processo referente a um encontro entre o FC Porto e o Estrela da Amadora da época 2003/04, sobre o qual recaem indícios de corrupção.

Posteriormente, elementos da PJ estiveram na redacção do Sportugal para recolherem provas de alegada violação do segredo de justiça, relacionada com a divulgação do despacho da magistrada Maria José Morgado, no âmbito do processo de corrupção no futebol português «Apito Dourado».

Contudo, o jornal Público já havia noticiado que Ministério Público decidira reabrir o processo contra Pinto da Costa, relativo ao jogo FC Porto-Estrela, na sequência do depoimento de Carolina Salgado, ex-companheira do presidente do FC Porto e autora de um livro que denuncia actos ilícitos no futebol português intitulado «Eu, Carolina».

Pinto da Costa tem sido investigado no âmbito de casos associados ao processo de corrupção no futebol «Apito Dourado», mas não tem qualquer ligação com o processo principal, cujo debate instrutório começa terça-feira.

Diário Digital / Lusa

O fracasso anunciado de Sócrates na China

A viagem que José Sócrates inicia amanhã à China vai ser um fiasco total. Poucos dias depois do Presidente ter chegado da Índia com uma comitiva de pesos pesados da economia e finança, que vai agora o Primeiro fazer ? A verdade é que sem querer Cavaco conseguiu esvaziar de sentido a visita de Sócrates.

Numa verdadeira "gaffe", ao dizer que era mais fácil negociar com a Índia, porque é um país democrático, ao contrário da China, Cavaco arrumou de vez o pobre Sócrates.

Teimoso e raivoso, viu o fracasso mas decidiu mesmo assim ir à China. É de Homem.

Claro que o primeiro está preocupado com o CO2 e em arranjar novas alcavalas para quem poluir, a moda da ecologia é boa para os governos ainda sugarem mais aos contribuintes.

Sócrates vai ficar a falar sózinho na China porque nem o Presidente nem o Primeiro ministro de lá vão estar a recebê-lo. Aproveite e corra na muralha da China que lhe vai fazer bem.

O país alivia a Pátria agradece.

domingo, janeiro 28, 2007

War Photographer - James Nachtwey

Ainda a Cartuxa

Imagem do filme "O Grande silêncio"

Ainda penso no dia de ontem com os monges da Cartuxa, em Évora, em como se consegue tal equilíbrio interior, serenidade e, espante-se, sentido de humor.

os irmãos são tranquilos e sorriem com franqueza. Usam o humor e até aparecem não se levar demasiado a sério. Mas são sérios na convicção e na devoção.

Ali não há nada a mais. Preferem o branco, o despojo, o requinte da simplicidade: uma cama dura porque confortável, uma salamandra acesa para compor o ambiente. Simples.

Há por ali uma estética minimalista.
Só faltava o irmão ter um MAC e não aquele PC horrendo de desktop com o fundo de uma santa, porventura a única mulher omnipresente.

A frase do Oscar Wilde " sou uma pessoa simples, prefiro o melhor" assenta bem na filosofia de vida dos cartuxanos.

Há outra ordem que coincide muito com a postura Cartuxa: a da agância Magnum. Também são precisos sete anos de provas e práticas devotas para entrar como membro e outras práticas.

As grandes causas e ideais só se conseguem com prática devota e disciplinada. É um pouco a disciplina marxista-leninista...

Vejam o que faz o Steve Jobs. Gostava de voltar ao tema.

Luiz Carvalho

sábado, janeiro 27, 2007

O silêncio e os frades da Cartuxa

Hoje à tarde no Convento da Cartuxa, Évora, com dois irmãos.


Pensava há 30 anos entrar ali. Aconteceu hoje. O dia mal tinha nascido quando entrei no Convento da Cartuxa em Évora. Passei lá o dia, o dia mais frio do ano, entre orações, silêncio, muito silêncio, por vezes quebrado com o clike da Epson Rd1 ou da inconveniente Mark II.

Um dia inesquecível de que falarei com mais detalhe um destes dias. Hoje estou muito cansado mas não queria deixar de escrever sobre esta jornada.

"Temos uma vida simples. e quanto mais simples melhor" - uma frase, entre outras que me ficou. Ainda outra ideia: o silêncio, o tempo, dois dos bens mais preciosos nos dias de hoje. E uma convicção: ninguém suporta a solidão sem estar bem com a vida. Quem recusa a vida nunca aguenta o retiro.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

BESPHOTO é mau e continua

Dizer mal do BES PHOTO é banal.

O concurso tornou-se num “happening” para artistas - fotógrafos, uma elite irmã dos papa - bolsas, um clube de subsídio - dependentes. Sempre assim foi desde que me conheço como fotógrafo.

Acaba por haver dois tipos de fotógrafos: os que se armam em artistas, mal sabem fotografar, usam as suas limitações para se assumirem em ingénuos e mostrarem imagens impressas em papel fotográfico que depois têm a lata de chamar fotografais.

Como os júris são amigalhaços, e uns ignorantes em fotografia, encontram sempre um discurso filosófico para elegerem a maior banalidade do Mundo como obra de arte. É tudo uma questão conceptual, pode lá não estar nada, pode ser uma folha em branco ou negro, que se encontrará sempre um bom pretexto para justificar o interesse da coisa.

Os outros fotógrafos são os que estudaram fotografia, que sabem e entendem a história da fotografia, que têm talento e coisas a mostrar aos outros, mas como circulam no meio da fotografia ( fotojornalismo, publicidade etc.) acabam por ser considerados uns bate-chapas.

O que se passa com a fotografia que circula no BES PHOTO é o mesmo que se passava com o cinema português há uns anos atrás com idiotas como o João Mário Grilo, Sapinhos e outros para quem o cinema é uma chatice tão grande( eles próprios são uns maçadores monumentais) que transformam a arte em castigo e o prazer em futilidade.

Por exemplo o Augusto Alves da Silva, um fotógrafo medíocre que sabe tanto de técnica fotográfica como a minha prima que anda a guardar vacas nas beiras, tem a suprema lata de apontar a máquina para o mar, sem nada, e fazer uma ampliação gigante que os totós da Fidelidade expõem como se aquilo fosse a descoberta da roda. Aquilo pode ser um modo de vida mas não é de certeza fotografia.

Fotografia é só o processo técnico que permitiu a impressão de semelhante aberração.

Augusto Alves da Silva, Daniel Blaufuks ( que eu gostaria de retirar do contexto atrás descrito), Susanne S.D. Themlitz ( reparem no pretensiosismo do nome) e Vasco Araújo são as atracções deste ano.

Do Silva já falei, do Daniel direi que é um verdadeiro poeta multimédia e que a sua obra ultrapassa uma discussão sobre o que é ou não fotografia. Nem ele se assume como isto ou aquilo. O Daniel é um artista sério, com obra coerente.

A Susanne S.D.T. faz umas mistelas de fotografia e pintura. Como pintura é repugnante como fotografia inqualificável. O que lhe falta em talento visual sobra-lhe em prosápia:”oh, parece que já ficámos outra vez viradas com o céu para cima. Ou para o lado. Será que o verde aqui é oco?”

O Vasco Araújo é outro profundo artista. Vejam: “Vasco, diga-me quem é? - Penso que sou eu e os outros.”
O que Vasco apresenta são colagens ou montagens mas são tão fotografias como podiam ser qualquer outra coisa. Mesmo sendo qualquer coisa seriam uma coisa sem ponta de interesse.

Era bom que os magnates do BES percebessem que a fotografia não é um luxo, um diletantismo para gastar verbas.

Um critico e jornalista de arte, defensor do BESPHOTO e que acha sempre que eu sou um bocado demagogo quando falo da fotografia como instalação dizia-me: “ Não vás ver aquilo. É uma merda. Só se aproveita uma foto!”

Não vi, não vi e não gostei. Mas tenho aqui o catálogo que chega e sobra para tirar o apetite de ir ver.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Steve Jobs at Nightline

Paris Hilton, The Stars are blind

O crash de Carmona Rodrigues

O desgoverno da Câmara de Lisboa

Carmona armado ao radical. Espectáculo em vez de competência
A bagunçada em torno da Câmara de Lisboa é um bom exemplo de como os cidadãos nem sempre têm razão. A política é , por vezes, uma actividade séria paga com a ingratidão popular.

Eu sou suspeito pois tenho grande amizade pelo João Soares. Mas arrisco.

Há coisas incontornáveis: Soares foi um excelente Presidente da Câmara.

Pode não valer a pena olhar para trás mas Lisboa reencontrou então um dinamismo notável. Cresceu, desenvolveu-se, acarinhou pobres, mudou o Casal Ventoso, cresceu culturalmente.

Mas os lisboetas acharam Soares arrogante, o elevador para o castelo outra arrogância. A direita espalhou a imagem de ele só apoiar gays e marginais, enfim: o povo achou Santana mais cosmopolita, moderno, vip, set, preferiu o charme à competência. Votou no gel contra a obra feita. O resultado está aí bom povo lisboeta ! Santana e Carmona, mafarrico e Sonso, meteram Lisboa num atoleiro.

Santana enquanto presidente da câmara fez de puto a brincar com o dinheiro dos contribuintes entrando no anedotário nacional.

O túnel do Marquês é das maiores aberrações que se fizeram.

E o Casino ?E o fim da Feira Popular ? E as broncas com a Braga Parques ? Cometeram-se barbaridades pagas com o nosso dinheiro, esbanjou-se no alimentar de uma clique medíocre, numa côrte de caninos.
Até pessoas inteligentes como a Clara Ferreira Alves acabaram por cair no canto de Santana.
O tipo parece ter mel. Na verdade até é simpático.

O professor Carmona deu cambalhotas para subir ao trono municipal.
Ganhou com o erro fatal de Carrilho em lhe ter negado a bacalhauzada em directo e lá subiu ao céu da autarquia.

Lisboa parou. Está um estaleiro a céu aberto. Os habitantes sofrem, quem entra aos milhares por dia na cidade, desespera.
Mas há radares inúteis espalhados por Lisboa que custaram fortunas .

Os escândalos começaram a somar, o dinheiro a sumir. Só em juros de dividas a câmara paga por dia 100 mil euros. Carmona já disse não ser grave, apenas preocupante.

Como foi possível ter-se descido tão baixo? Uma autarquia de vergonha: despreza a honra dos funcionários, aliena o bom nome de uma capital.
O povo votou no Pai Natal, nas promessas vãs e no folclore.

Aguentem não chorem, alfacinhas.


Luiz Carvalho

Prós e contras debate aborto

terça-feira, janeiro 23, 2007

Ansumane, um blogue do Catarino

Linkem já. Este vale a pena, é o blogue do Luis Filipe Catarino.

As razões de Marcelo no You Tube

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Com Cavaco no caminho aéreo para a Índia

Foto de Luis Filipe Catarino/ Presidência da República


Fui apanhado. O Presidente Cavaco Silva apareceu de repente na cabine do Airbus em pleno caminho aéreo para a Índia. " Como está? Não me diga que voltou a perseguir-me!" - respondi-lhe:" com todo o gosto!".

Não fiz a campanha, apenas o apanhei a descer o Chiado, e a última vez que tinha fotografado Cavaco Silva foi na sua casa do Algarve para uma entrevista ao Expresso, onde estive com Fernando Madrinha.

Ultimamente até tenho alimentado aqui no blogue alguma cultura anticavaquista, que nada tem de pessoal. Pelo contrário: considero o casal Cavaco Silva de uma simpatia invulgar em políticos, tirando o casal Eanes.

Confesso que apreciava mais Cavaco Silva primeiro-ministro e fazedor de obra, rectilíneo e determinado, duro e frio, do que nesta faceta tolerante e apaziguadora.
Apesar de não ser um entusiasta do passado.
Desperdiçámos a oportunidade histórica. Não investimos na inteligência, gastámos no betão e no alcatrão, tornámos os funcionários públicos um bando de privilegiados, criámos "o" monstro. Adiante.

Nesta fotografia também aparece o meu amigo Fernando Lima, uma pessoa que muito estimo.
O facto de ter sido tirada pelo Luis Filipe Catarino é outra honra.
Não misturar discordâncias políticas com relações pessoais também me parece saudável.

PS: Amanhã ainda vou dizer bem do Besfoto!!!.

Já neva em Montalegre e Espanha está branca

foto EFE

O Elmundo já mostra as primeiras fotos do frio em Espanha. Veja aqui.

As mulheres de Kabul


A não perder este trabalho multimédia no New York Times sobre As mulheres de Kabul

Manipular sem mentir

Esta foto é a original mas com os níveis mais baixos. Limitei-me a escurecer a imagem e sem acrescentar ou tirar a informação no original acabei por ter uma foto mais densa e dramática do que aquela que foi adulterada. E agora ? onde está a verdade ?

Reuters despede fotógrafo mentiroso


A Reuters despediu o fotógrafo Adnan Hajj porque ele se atreveu a pôr

ainda mais negro o fumo que saía das casas bombardeadas no Líbano pela

aviação israelita, no passado mês de Agosto.

A manipulação começou por ser denunciada em inúmeros blogues até que a

agência decidiu investigar e chegou à conclusão que o seu fotógrafo de

há 10 anos no Médio Oriente, habituado a fotografar desporto, tinha metido a mão no "brushes" do photoshop, uma ferramenta que permite colonar pixels e fazer fotos tipo Ovelha Dolly.

O pecado do fotógrafo foi o de ter despoletado o milagre da multiplicação dos pixels dando a entender de uma forma grosseira que os efeitos dos bombardeamentos eram ainda mais devastadores.Onde de via ter posto filtro, pôs "brush", a mentira veio ao de cima.

Não é a primeira vez, nem será a última, que um fotógrafo é acusado de manipular uma fotografia.

Tem dado muitas vezes despedimento mas também dá uma discussão estimulante.

Na verdade, poucas são as vezes que um fotógrafo não manipula.

Fotografar não é um acto neutro, purificado pela santíssima ética. O acto de fotografar implica fazer escolhas, tomar partido, assumir uma

atitude estética e ética.O que não impede de se ser sério, claro.

Uma fotografia é o resultado de uma série de decisões.

O fotógrafo começa por escolher o melhor sitio para captar a acção. Esse posicionamento define logo a escolha do ponto de vista que ele acha mais adequado.

O fotógrafo vai escolher o enquadramento e com isso eliminar elementos

da acção e valorizar outros. Se o enquadramento for horizontal terá um

efeito muito diferente se for vertical. A escolha entre cor e preto e

branco também irá determinar a intenção final.

Mas o que irá influir definitivamente será o instante em que o fotógrafo decidir disparar. Aí ele irá escolher se será esta ou aquela expressão, este ou aquele movimento.

Ora é a composição que ordenando o caos da realidade irá dar um sentido ao que é mostrado. O fotógrafo organiza dentro do enquadramento os elementos gráficos que coabitarão entre si, criando uma dialéctica que estruturará um discurso.

Impossível uma fotografia ser imparcial.

Mas mesmo do ponto de vista técnico o tratamento dado na pós-produção a uma fotografia irá ter grande influência na intenção de mostrar.

Se optarmos por contrastar a imagem será um efeito, se respeitarmos as

tonalidades da realidade será outro, mas nunca em circunstância alguma

a fotografia será uma reprodução fiel e verdadeira da luz da realidade.

Vários sensores de várias máquinas reagem de diferentes formas nas mesmas circunstâncias, tal como os filmes reagem conforme a

sensibilidade, a hora do dia, a temperatura de cor, o grão, o tipo de

revelação.

Mesmo as diferentes maneiras de medir a luz pode provocar fotografias

diferentes.

Felizmente que não há duas fotografias iguais. Se assim não fosse eu

não teria sido fotógrafo. Claro que quanto mais talento um fotógrafo

tiver para poder conjugar e dominar todas estas técnicas assim poderá

melhor dar a ver a sua visão sobre o Mundo e o que o rodeia.

A discussão de que hoje o digital permite manipular facilmente uma

fotografia tornando o fotojornalismo menos credível parece-me uma afirmação gratuita.

A verdade é que no passado já havia espertos que apagavam daqui e acrescentavam ali, coisas que as fotografias originais não tinham.

A manipulação não passa só pelo truque técnico passa também pela

criação de cenas encenadas que depois passam por reais.

No fotojornalismo isso é fraude e o descrédito total de quem assim pratica.

Há fotografias que fizeram História como a do soldado republicano a ser morto em Cerro Muriano, na Guerra Civil Espanhola, feita pelo decano Robert Capa. Há quem diga que foi encenada. Já foi provado que não.

Mas a dúvida acaba sempre por persistir. Capa era demasiado corajoso

para o fazer, aliás morreu pisando uma mina por querer dar um ângulo

mais real de uma cena.

O fotógrafo do Los Angeles Times que decidiu juntar o melhor de duas

fotos para fazer uma perfeita, na Guerra do Iraque, também acabou

despedido. Mas foi a National Geographic que há uns anos teve de pedir

desculpa aos leitores porque tinha encurtado no photoshop a distância

entre as pirâmides para que elas pudessem caber na capa.

Tal como há um livro de estilo e um código de conduta para a escrita

também existe em muitos jornais de referencia, e em agências, um livro de estilo e de regras de conduta para fotografias e fotógrafos.

Uma das regras básicas é que uma fotografia não pode ser invertida,

recortada. Os elementos que compõem a imagem não podem ser retocados,

retirados ou acrescentados. As imagens não devem ser reenquadradas de

forma a alterarem o contexto em que foram tiradas.

Quando surgiu em 1947 a agência Magnum as fotografias traziam no verso um carimbo onde advertia os editores para o facto de aquelas

fotos não poderem ser reenquadradas, nem publicadas fora do contexto da legenda.

Alguém disse que a credibilidade é como a virgindade: só se perde uma vez.

No jornalismo este princípio assenta na perfeição. Não podemos usar a tecnologia para mentirmos ou manipularmos a informação. Quanto mais trabalharmos uma imagem tornando-a mais irreal, menos os leitores acreditarão em nós. " Se eles manipulam em coisas tão pequenas o que farão nas grandes!".

Nós jornalistas temos como missão contar a verdade.

Este é o bem mais precioso que teremos de assegurar perante os leitores.

Luiz Carvalho

( também em www.expresso.pt)

O futuro do fotojornalismo português

Crónica deste mês na Fotodigital:


O ano que passou foi um bom ano para a fotografia.
Tecnicamente a apresentação da tão desejada Leica M8 foi a grande novidade para os fanáticos da fotografia pura, embora a Rd1 já tivesse satisfeito os mais ansiosos por uma digital de telémetro.
Mas isto terá sido o menor.
A verdade é que uma nova geração de fotógrafos se tem vindo a afirmar em Portugal com resultados admiráveis. Este ano de 2006 foi o culminar dessa afirmação.
É uma ironia: à medida que o mercado encolhe, mais jovens fotógrafos aparecem cheios de talento e vontade de vencer. Talvez porque agora estou mais próximo da edição tenho conhecido fotógrafos que me espantam pela qualidade dos seus portfolios.
Há uma geração a apostar no fotojornalismo, sedenta de publicar histórias, competente a fotografar, desde a técnica á qualidade gráfica dos enquadramentos.
Jovens fotógrafos com cultura fotográfica e jornalística.
Por outro lado, as jovens agências de fotografia portuguesa têm ganho peso mesmo a nível internacional.
Discretamente agências como a 4see e a kamerafoto têm tido uma importância relevante na divulgação do fotojornalismo português no estrangeiro, com presença regular no Festival de Perpignam.

Alguns nomes eu gostaria de citar aqui pela surpresa que me causaram os seus trabalhos.
A Pauliana Valente tem feito um trabalho aprofundado sobre imigrantes e cultura popular. O seu ensaio sobre os travestis é soberbo e confere o talento de fotógrafa muito influenciada pela escola da Magnum. Jordi Burch é outro dos fotógrafos que muito aprecio. As suas fotografias são de uma espontaneidade sincera, técnica simples e eficaz, a luz trabalhada com alma disponível, isto é: a melhor luz é aquela que escolhemos em função da intenção, logo da hora do dia. Jordi satura na côr, entorna nos enquadramentos, as suas imagens parecem por vezes ter o balanço das môrnas que ele tanto aprecia.
Mesmo correndo o risco de poder parecer parcial não posso deixar de citar Tiago Miranda e José Ventura que trabalhando comigo no Expresso, têm demonstrado uma rara capacidade de inovar o fotojornalismo. E se Tiago Miranda surpreende muitas vezes pela sensibilidade e pelo apuro estético, José Ventura revela-se pela força das imagens afirmativas tão de acordo com a sua maneira de ser. Outros nomes poderei citar como a Susana Paiva, o Augusto Brázio, cada um no seu estilo. A Susana tem um olhar terno sobre o Mundo, o Augusto uma síntese visual admirável sobre o carácter dos retratados. Mais parcial ainda: a revelação que é para mim o André Carvalho, por coincidência meu filho, que com as suas fotografias de desportos radicais como o snowboard e o surf tem demonstrado que se pode ir mais além do que fotografar apenas e só o desporto.

A ideia de que os fotógrafos de imprensa são uma cambada de ignorantes, bate-chapas e mal formados está definitivamente a ser abolida.
A imprensa está a mudar e esta nova geração de fotojornalistas, está aí para provar que a fotografia de imprensa é muito mais do que fotografar.
Quase todos estes jovens fotógrafos estão interessados na linguagem multimédia. Filmam e editam vídeo. E são dos fotógrafos mais ortodoxos que tenho conhecido.
A pior coisa que eu poderia ouvir sobre a minha geração era que "éramos uns mafiosos e que não deixávamos ninguém mais novo trabalhar", como amargamente dizia o Gageiro( na entrevista que me deu e á Ana Soromenho para a Única) daqueles que teve de vencer para poder fotografar.

Os tempos felizmente mudaram. O futuro já começou.

Luiz Carvalho

domingo, janeiro 21, 2007

A Bronca no Big Brother da BBC

Uma foto por dia

Nova Deli. 1992. Foto de Luiz Carvalho

IPHONE. E agora Bill ? Arruma o Windows de vez

Todos dizem que te amam. Woody Allen

Sublime. Boa-noite. E vão ver Scoop.

The Camera PhoneThe gadget that perverts, vigilantes, and celebrity stalkers can all agree on.


Listen to the MP3 audio version of this story here, or sign up for Slate's free daily podcast on iTunes.

Click here to launch videoTen years ago, Philippe Kahn was walking around a hospital with a cell phone and a digital camera. His dadly mission: to share pictures of his newborn baby girl. With an assist from Radio Shack, he linked the two devices together and e-mailed photos to family and friends around the world. The day marked a twin birth of sorts: the cell phone camera and daughter Sophie.

Kahn regards his invention with paternal pride: "I built it to document the birth of my daughter. For us, it has always been a positive thing." So he was taken aback recently when, with the Saddam-hanging video circling the globe, an interviewer compared him to the inventor of the Kalashnikov. First there was Prince Harry's Nazi costume, then the shaming of Kate Moss, then the Michael Richards racist explosion, but, for some, Saddam's hanging marks the low point for Kahn's creation. A camera on a phone has only aided the perverted, the nosy, the violent, and the bored.

That's not exactly fair, but it's not exactly wrong, either. As Kahn told Wired in 2000: "With this kind of device, you're going to see the best and the worst of things." The best would include photo caller-ID, amateur sports highlights, and the quick citizen snaps taken in the wake of the London bombings. Yet, despite the fun and occasional worthiness, the cell phone camera has launched a thousand jackasses. One representative example: Sportscaster Sean Salisbury was suspended by ESPN last month, reportedly for showing female co-workers cell phone photos of his "equipment."

sábado, janeiro 20, 2007

Video de Rodrigo leão


Veja aqui o fabuloso vídeo do músico.

Hoje fui ao Circo Atlas

Circo Atlas: foto de: Joost De Raeymaeker

Hoje fui ver o Circo Atlas, instalado num terreno na Alapraia, Estoril, com o meu filho David,5 anos, um fanático por circo.

Às 16 horas a Polícia Municipal tomou posição e não queria deixar abrir o circo porque este não teria licença. Mas entretanto a Câmara de Cascais tinha dado convites para a sessão...

As crianças começavam a ficar tristes quando foi anunciado que entrariam todos à borla, seria um ensaio geral e lá dentro pagaria quem quisesse. Acabou por haver espectáculo e toda a agente a pagar na bilheteira... De facto palhaçadas dentro e fora.

Este circo é pobre e nada tem a ver com o de Vitor Hugo Cardinali que eu bem conheço e de quem sou amigo.

Estes pequenos circos devolvem-nos os anos da nossa infância. As músicas são saudosistas, os números ingénuos, os artistas dedicados e funcionais. Tanto estão a vender pipocas como a serem "partenaires", tanto limpam a pista como tocam saxofone e outros instrumentos, fazem rir com palhaçadas depois de terem cobrado bilhetes de ingresso.

O dono é uma figura de cinema, gordinho, com ar de patrão e domador de feras.
Aproveita para fazer pedagogia e explica ao vivo como se doma um animal.
Não é com violência mas sim com pedaços de carne.

A tenda encheu com publico de todas classes sociais, de ciganos a tias da linha.

Ainda vi Zizi Jeanmaire, um travesti que eu entrevistei há 20 anos e que na altura era um tratador e domador de répteis. " De Paris para a Cruz de Pau, Zizi Jeanmaire trata as bichas por tu"- era o título da entrevista. Hoje está gordinho e é o apresentador do espectáculo. Que vidas !...

Foi uma tarde feliz mesmo com o frio da noite a chegar e com ele o apagar das luzes que reduziram a tenda ao silêncio.

Amanhã é a última matiné.

Luiz Carvalho

Constantino cita Fatal desde a Índia

Constantino Xavier é o correspondente do Expresso em Nova Deli e teve a amabilidade de me citar assim no seu blogue. Um abraço para ele.

Como já escrevi no blogue dele Instante Fatal, com uma excelente cobertura não só fotográfica da viagem presidencial à Índia, foi um prazer conhecer e trabalhar com o Luiz de Carvalho em Deli e em Goa. Ele é o coordenador-geral de fotografia do Expresso e veio com a Luísa Meireles na comitiva do Cavaco Silva.

Depois de algumas experiências menos boas com fotógrafos portugueses, foi reconfortante ver o Luiz trabalhar. Às vezes, parecia um tigre enjaulado pelo programa oficial asfixiante que não lhe dava a liberdade que a Índia exige de todos os que a querem fotografar. Tenho a certeza que ele vai voltar um dia.

Foto: Luiz de Carvalho, de pinta na testa e colar de flores, e Leica M8 à chegada ao Hotel Taj Palace em Nova Deli.

Veja a reportagem na India de Luiz Carvalho

Veja aqui , Expresso online, algumas das fotografias que eu fiz na Índia.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Scarlett Johansson para os olhos


SCOOP de Woody Allen estreou

Scarlett Johansson

Eurodeputado socialista dança com terroristas





Um vídeo colocado no YouTube mostra o eurodeputado português Paulo Casaca a dançar com membros do grupo Mujahedin do Povo, uma organização classificada como terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Em declarações ao EXPRESSO, o eurodeputado socialista confirma ter participado, no início de Janeiro, em reuniões bilaterais com elementos da resistência iraniana, no Campo Ashraf, durante uma visita ao Iraque "com o objectivo de lançar a plataforma 'Irak With a Future'". Ao seu lado no vídeo surge também André Brie, um eurodeputado alemão da Esquerda Unitária europeia. Esteve no Iraque entre 4 e 8 de Janeiro como dirigente da Associação Amigos do Irão. Casaca é também membro da Associação Amigos de Israel e do Comité 1559 (que luta pelo desarmamento do Hezbollah no Líbano).

Carolina é arguida

Carolina Salgado foi constituída arguida no âmbito do caso das agressões a Ricardo Bexiga, refere o «Portugal Diário». A ex-companheira de Pinto da Costa foi também sujeita à medida de coação de termo de identidade e residência.

No livro que recentemente publicou, Carolina Salgado declarou que, a mando de Pinto da Costa, teria entregue 10 mil euros para pagar aos homens que bateram no ex-vereador da Câmara Municipal de Gondomar. Uma informação cconfirmou durante o interrogatório a que foi sujeita a ex-companheira do presidente do Futebol Clube do Porto.

A ex-mulher de Pinto da Costa esclareceu que não sabe quem bateu em Ricardo Bexiga, mas terá dito que encomendou o serviço a Fernando Madureira, líder da claque dos «super dragões».

quinta-feira, janeiro 18, 2007

India Trailer

O trânsito na Índia

Ainda a Índia

Bombaim por Raghu Rai, fotojornalista da Magnum. 2004.

A ideia de viajar é ainda um mito. Se o destino for uma paragem exótica, um país perigoso ou uma zona longínqua e pouco acessível ,mais aumenta a curiosidade de quem vê partir ou chegar um forasteiro.
Isto vem a propósito da minha viagem à Índia na comitiva do Presidente Cavaco onde fui como enviado do Expresso.

Fui recebido na redacção com muito afecto, o que é reconfortante e sem preço o poder-se trabalhar nos dias de hoje neste bom ambiente, mas todos os que me cumprimentavam faziam sentir curiosidade pela viagem extraordinária.

Na verdade foi uma viagem muito cansativa, com pouco tempo para ver para lá do programa oficial. A maior parte do tempo gasta-se em avião, autocarros, entradas e saídas dos hotéis, fazer e desfazer malas, pagar contas, mostrar as malas e os sacos aos polícias. Pouco resta de tempo para fotografar. Se arriscar não cumprir uma parte do programa oficial posso fazer umas fotografias. Peço a um taxistas para me levar a um sítio da cidade onde haja muita gente e que não seja para turista ver. Se tiver sorte com o taxista posso encontrar um bom ponto para fotografar durante algum tempo.

Acabei por ver a Índia através da janela do autocarro, com paragens ocasionais para fotos ocasionais e alguns olhares ao lado das cerimónias oficiais.

Vi barracas miseráveis com praias ao fundo, anarquia imobiliária num país a entrar na globalização, vi um stand da BMW a ser montado numa larga avenida em Bangalore, outro da Mercedes e outro da Audi. Serão os primeiros na Índia onde o parque automóvel tem sido sustentado pela produção nacional, baseada nos modelos Ambassador, uma réplica dos Morris ingleses dos anos cinquenta.

Vi um país em mudança, passei pela fronteira que vai separar a Índia romântica, da tradição e das castas, na Índia moderna, capitalista, global.

Para quem cá fica a Índia é ainda um lugar distante, difícil de alcançar. O mito português dos descobrimentos aí está, imaculado, persistente na História. Para quem assim pensa, e sente, visitar a velha Goa seria um baque, uma felicidade. Ali está a alma portuguesa, a dimensão universal da lusa aventura . A fé e crença, o silêncio, o sentido do espaço divino na arquitectura religiosa, harmonioso, perfeito. Um sentido da escala que é o mesmo sentido humanista da vida.

No resto a Índia é outra cultura. Goa tem identidade própria, língua, raça. Estão ali os séculos da nossa cultura.

Estive a pensar e cheguei à conclusão que eu devia ser o único nesta viagem que também tinha estado na viagem do Presidente Soares em 1992. A comparação é impossível. Os 13 dias que demorou a visita do Presidente Soares nada teve a ver com os sete da viagem do presidente Cavaco.

Soares cumpriu um roteiro e um ritual profundos. Foi uma viagem carregada de intenções e símbolos, a de Cavaco pretendeu ser pragmática, virada para os negócios e para a economia. Veremos se os resultados se vão sentir. Os tempos também são outros e seria ridículo ver o Presidente Aníbal a montar elefantes quando ali está a fina flor dos cérebros que os Estados Unidos procuraram e pagam a peso de ouro para engrossarem as melhores empresas americanas.

Ainda voltarei aqui à Índia e prometo uma grande amostragem fotográfica.

terça-feira, janeiro 16, 2007

O adeus à India

Foto de Henri Cartier-Bresson. India 1947.


O dia começou demasiado cedo.

Bombaim vista ao nascer do Sol através da janela do autocarro a caminho do aeroporto é uma cidade serena.

Num longo travelling ( o movimento do cinema onde a câmera anda num olhar subjectivo) vejo o acordar de uma das cidades do Mundo mais barulhentas, poluídas, engarrafadas. Pela fresca sente-se que há ali pouca gente que em poucos minutos se tornará numa agitação de seres em busca de sobreviver.

Hoje não vi as dezenas, centenas, de indigentes que há 15 anos dormiam pelos passeios, crianças miseráveis e mutiladas. E que entre esses, alguns já não acordariam sendo recolhidas pela carroça dos mortos.

Para quem conheceu agora a Índia a pobreza choca, mas quem esteve há anos reconhece que houve uma evolução social gratificante.
O crescimento económico arrasta consigo a subida dos padrões de vida, dirão os economistas.

Mas ao ver Bombaim da janela do autocarro não pude deixar de lembrar as fotografias de Raghu Rai um dos fotojornalistas mais proeminentes da Agência fotográfica Magnum. As suas fotografias da Índia são de uma dimensão transcendente.

Ele fotografa a tradição, a paisagem, as gentes e os seus credos como o faria um músico através de uma sinfonia. Ora calma, serena, doce, de largos acordes paisagísticos, ora violenta na dor, na tristeza que a pobreza comporta.

Ainda disparo pela janela, não para fazer imagens fotográficas, mas para poder ter como auxiliar da memória aquilo que os meus olhos vêem e sentem, mas que naquelas circunstâncias a máquina fotográfica não consegue captar. Falta enquadramento, apuro técnico, tempo. Tempo é, aliás, aquilo que mais falta numa viagem destas.

Para se ter uma hora disponível para fotografar são necessárias horas de espera, tralha às costas, vencer burocracias. O que resta é para seguir o programa oficial, se fugirmos um pouco ao marcado podemos sempre falhar um pormenor importante.

Quando fotografo em ambientes envolventes uso um pouco a técnica dos actores: concentro-me numa ideia, numa música, num fotógrafo de referência. Muitas vezes esta técnica permite-me seguir um guião.

Esta viagem, que amanhã chega ao fim, deixou-me uma imensa frustração, partilhada pelos outros jornalistas enviados. A pior coisa para um repórter é olhar e não ver. Aqui só tivemos tempo para olhar e para tirarmos conclusões porventura demasiado precipitadas.

Nova Deli e a velha Deli, o Lamborghini amarelo à porta do hotel, os pobres à volta da mesquita, as freiras cantando vivas a Cavaco e rindo de excitação por aquele momento, os nacionalistas hindus de Goa e o seu carácter, as praias de Goa, as igrejas e o retrato tão fundo e tão português, Bombaim e a sua extensão, a diversidade cultural, a tranquilidade indiana, a lentidão, o progresso das novas recnologias, os cérebros indianos, o futuro, o trabalho sem regras, a Índia fica como um convite a voltar e conhecer melhor o gigante que desperta.

Tudo vai mudar com a chegada aqui da globalização. Essa análise será para os jornalistas da escrita.

Por mim o que gostava era de recuperar o tempo e voltar não à Índia da miséria extrema e da vergonha, nem do progresso selvagem, basta-me a Índia mítica do Raghu Rai ou as mulheres de costas olhando o Ganges numa das fotos mais emblemáticas de Henri Cartier-Bresson.

Amanhã Lisboa.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Bombaim, quando a pobreza não é fotogénica




Fotos de Luiz Carvalho


Bombaim é como um murro no estômago. Para um fotógrafo até pode ser motivador para fazer imagens de cariz social, mas ao fim de umas horas, eu que dou tudo para andar na rua no meio da confusão a fotografar o que os sentidos me pedem, já não aguento e quero voltar ao hotel.

A pobreza em Bombaim é indigna, humilhante. A cidade é uma sinfonia desconcertante de buzinas, choques iminentes, ruas imundas, mãos estendidas e olhares doces de crianças, o que torna tudo insuportável.

A viagem do Presidente está a chegar ao fim e o cansaço atingiu todos. São muitas horas a apanhar com ares condicionados que nos querem congelar o corpo e eliminar a garganta, poucas horas de sono e algum stress com passagens constantes por check-points de segurança, raios-x, apalpadelas, sacos despejados. Uma seca no meio da calorassa.

O programa do Presidente Cavaco Silva não se pode considerar muito excitante para fotografar, bem pelo contrário. Tirando a recepção em Nova Deli e o passeio matinal pela Velha Goa, a viagem até agora tem sido institucional. E o facto da comitiva de convidados nunca se cruzar com os jornalistas, porque estão em hóteis diferentes, torna difícil uma aproximação. Lembro-me de ter conhecido muita gente que viajava com Soares, desculpem o saudosismo, precisamente pelo contacto permanente da comitiva com os jornalistas.
Por exemplo aqui em Bombaim tive a oportunidade histórica de poder fotografar Sophia de Melo Breyner Anderson, numa gruta do outro lado das portas da cidade, a preto e branco, ela que nunca o queria..

Fotografar nas ruas de Bombaim já é mais complicado do que em Nova Deli, ou Goa.
Aqui começam a colar-se pedintes que não nos largam nem nos deixam fotografar em paz. Os grupos de desgraçados a dormirem nas ruas, às dezenas, não vi ainda e espero não ver. Assim com, felizmente, ainda não vi crianças mutiladas a esmolarem. Talvez tenha havido algum pequeno progresso, se é que é palavra certa.

Chegados aqui vemos como o salto em frente da Índia ainda poderá demorar algum tempo. Esta é uma sociedade ainda demasiado miserável, decrépita, sem sentido social. É a anarquia total, onde bairros de lata unem edifícios altos, e as velhas ruas mais parecem tocas sujas e sombrias do que lugares para gente viver.

Escrever isto do sossego do hotel é fácil. Mas mesmo por aqui ia levando com uma broca infernal, mesmo ao lado do meu quarto, com poeirada pelo corredor. Só a minha reclamação repetida fez com que me extraditassem para outro piso. A esta hora já estava maluco, ainda mais, e a ter uma visão ainda mais negra da cidade.

Amanhã deixamos o inferno e entraremos em Bangalore, a Silicon Walley indiana. Uma espécie de Bollywood da informática, sem pinga amor.

domingo, janeiro 14, 2007

Fé de Goa com retrato escondido de Salazar

Freiras de Goa à espera de Cavaco ( fotos de Luiz Carvalho)
O retrato de Salazar que o Presidente Cavaco evitou

As igrejas de Goa são a marca da presença dos portugueses por aqui durante mais de 500 anos. São brancas, luminosas como a fé que mantêm e propagam. A arquitectura delas tem uma escala harmoniosa entendendo como é importante a relação da forma com a função e do sentimento com a dimensão geométrica.

Hoje o Presidente Cavaco Silva visitou essa velha Goa, católica e profunda. O lugar onde a Índia manda mas que não conseguiu unificar. Os goeses são pacíficos e calmos mas orgulhosos. Sabem que nunca serão como os indianos. Nem na cultura, nem nos genes, nem na religião.

Um grupo de freiras, noviças, vestidas com roupas coloridas, outras mesmo com o hábito, cantaram divinamente a Cavaco. Este retribuiu com simpatia, perguntou como se dizia em goês “good-by” e ao repetir as freiras não resistiram a uma risada de espanto e alegria.

O túmulo de S. Francisco Xavier é omnipresente na igreja grande e fresca que tremeu com a voz de Katia Guerreiro numa canção religiosa trocada com uma outra artista local.


O museu tem uma amostragem extensa da cultura e da História portuguesas. O cuidado com que está preservado é evidente.

Claro que a Fundação Gulbenkian tem feito por aqui um notável, e dispendioso, trabalho de restauração. Que nunca lhe falta a verba e a vontade para manter assim a nossa memória no Mundo.

Augusto Santos Silva, que tinha acabado de chegar de avião, dizia-me com entusiasmo:« como foi possível termos abandonado tudo isto daquela forma, sem salvaguardarmos esta herança. O Salazar era mesmo burro!»


O Presidente percorreu atento o museu, posou ao lado de uma gigante figura de Camões mas soube evitar a tempo a passagem pelo retrato a óleo desse mesmo Salazar, que mandou resistir até à humilhação final.
Amanhã Bombaim.

sábado, janeiro 13, 2007

Tradição de Goa é hoje betão para turismo

Foto de Luiz Carvalho

A primeira memória que tenho de Goa remonta à minha meninice, início dos anos sessenta, logo a seguir à anexação por parte da Índia.

O meu pai tinha uma tabacaria em Alvalade, Lisboa, e chegou um senhor com um ar muito solene, muito bem vestido, já de uma certa idade, que num português estranho lhe pede uma cadeira para ser atendido ao balcão.

O meu pai atrapalhado tenta descobrir uma cadeira no acanhado escritório e coloca-a frente ao balcão. O senhor senta-se numa posição majestosa e começa a pedir artigos para ver. O meu pai trá-los à sua mão, ele olha com desdém e vai dando ordens. Acabou por levar qualquer coisa que acho que só pagou mais tarde.

«É um juiz de Goa que veio agora fugido do Neru», alguém comentou.
O homem continuava a ir à tabacaria e durante algum tempo foi tratado como um nababo. Julgava que ainda estava em Goa a ser servido por lacaios e afins.

O meu pai ainda hoje detesta “ monhés” até porque os que vieram a seguir estavam-se nas tintas para os salamaleques e o que queriam era fazer concorrência no negócio mesmo que tivessem de viver como párias.
Não será uma descrição muito politicamente correcta mas é a realidade.

Há 15 anos Goa era uma terra pitoresca, de casas coloniais, letreiros ainda em português, comércio pobre e uma luz que marca o relevo com sombras violentas.
Hoje parece o Algarve no inicio dos anos setenta. O imobiliário aí está com a fúria da ganância, se quiserem do progresso e do desenvolvimento de um turismo que não me parece de grande qualidade.

A paisagem está suburbana, os outdoors são atrevidos e provocadores, quebram as tradições religiosas, incitam ao consumo desenfreado. Como vai a Índia domar este animal que cresce como uma hidra contaminadora, não sei.

Fotografei duas horas fugindo ao programa do Presidente que tem sido o mais anti-fotogénico que se possa imaginar. Andar a vaguear pelas ruas é pacifico, trazia 4 máquinas fotográficas, ninguém me incomodou. Mesmo havendo por aqui a coabitação de raças e religiões tudo aparentemente corre bem.

Também aqui se sente algum avanço muçulmano e há facções que insistem na independência numa base conservadora mas é uma ideia viva.


Pequenos pormenores que contam numa viagem: aqui os serviços são mais lentos e incompetentes, os goeses parece terem herdado algo de pior que nós temos: lentidão, incompetência e alguma falta de simpatia. Vê-se logo que os ingleses não andaram por aqui.

Amanhã o Presidente vai à missa e ser doutorado Honoris causa. Para acabar o dia Katia Guerreiro e um jantar para rebater.

Presidente Cavaco canta “parabéns” com o avião a aterrar em Goa




Fotos de Luiz Carvalho

Faltavam dois minutos para aterrar em Goa. De súbito ouve-se cantar os parabéns e do fundo da cabine do avião surge o Presidente Cavaco a cantar e a dirigir-se a uma jornalista que fazia anos. Já a cambalear, o avião estava mesmo a descer, o Presidente cumprimentou a jovem aniversariante, o segurança diz-lhe que tem mesmo de se sentar, e ele ainda diz: “ e não lhe vou perguntar a idade!”.

Ao que consta a jornalista não teria recusado um simpático beijinho do Presidente, mas todos sabemos como ele é comedido nestes gestos, ainda por cima se o tivesse feito o que não iriam dizer por ele ter dado um simples beijo de parabéns no quarto poder!

sexta-feira, janeiro 12, 2007

A angústia do fotógrafo antes de disparar sobre a Índia pobre e moderna

Foto de Luiz Carvalho

Nós fotógrafos de imprensa temos de ter a pele dura e olhar clínico. Não é fácil consegui-lo. Mas a tarimba de repórteres deu-nos essa defesa e com ela a possibilidade de podermos trabalhar com algum à vontade na rua como a terceira profissão no Mundo que o faz.

Aqui na Índia abandonarmo-nos no meio da multidão, carregados de câmeras e gestos suspeitos torna-nos alvo das atenções. Temos de contornar obstáculos físicos, ignorar os camiões que em contra-mão ficam a um passo de nos esmagar, sorrir aos mendigos e dar uma nota de 10 rupias sem despertar a mobilização geral dos pedintes unidos, saber respeitar esta cultura e gostar cá por dentro das pessoas que parecemos ignorar mas que apenas procuramos que não se metem entre o nosso olhar e a máquina fotográfica.

Uma colega da comitiva não resistiu a tanta miséria humana e entrou em choro, depois em depressão que lhe tirou o sono. Outra olhou para o lado, recusou-se a ver o olhar de amêndoa de uma criança que queria vender dvd`s através da janela do táxi eternamente parado num semáforo. Também há aqui vermelhos, amarelos e verdes, embora sejam ignorados a maioria das vezes.

Se pensasse nessa hora nos meus filhos choraria também, se não fosse a Leica M8, rápida e discreta a disparar, servindo-me de escudo, não resistiria à comoção. Embora o exteriorizar de sentimentos não seja uma prática muito aceitável nos dias de hoje.

As melhores fotografias humanistas foram feitas por fotógrafos muito discretos e aparentemente pouco envolvidos na acção. Eugene Smith, Salgado ou Nachtwey são apenas exemplos, quando as suas fotografias são marcantes, humanas e empenhadas politicamente.

Hoje a 30 quilómetros de Nova Deli descobri juntamente com a Luísa Meireles e o nosso correspondente na Índia, uma cidade em construção eruptiva, fazendo lembrar a Xangai que cresce do dia para a noite.
Os edifícios de vidro, desafiando as leis da engenharia impõem-se, enquanto os pobres, famintos e desgraçados resistem entre manilhas de esgoto para enterrar, estendidos como bacalhau seco, à espera da morte, da salvação ou do milagre do crescimento económico indiano.

Empresas de prestação de serviços e multinacionais implantam-se, chegam os primeiros tecnocratas que andam de ricochó, almoçam comida marada nos triciclos dos ambulantes e formam comunidades de estrangeiros que vêem na Índia a Katmandu dos anos sessenta para jovens rebeldes sem causa. Estes têm causa: querem trabalhar, são ambiciosos e vão abraçar o mundo do negócio.

Hoje percebi como seria caricato Cavaco Silva montar num elefante. Há 15 anos este país, quando Soares aqui passou, era rural, pobre, sem tecnologia, nem economia aberta. O elefante era o símbolo dessa sociedade tranquila, conservadora, pouca ambiciosa, sem uma classe média emergente.
Hoje a Índia disputa pib com a China, há um Lamborghini amarelo à porta do meu hotel, porque a tecnologia aí está a dar cartas e a classe média quer ser alta e viver como a europeia. Logo, Cavaco só pode querer ouvir falar em negócios e cooperação e isso é mesmo a política mais realista que se pode ter já.

Ainda procuro um camelo que vi na estrada a puxar uma carroça, mas a imagem passou-me como se o passado tivesse ali ficado naquela foto que não fiz.



Amanhã Goa.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Apanhados do dia
















Ministra da Cultura fotografa o Ministro da Economia, uma camerawoman indiana, Luiz Carvalho ( moi-même) disfarçado de Babá, Luis Filipe Catarino fotógrafo da Presidência, Fernando Lima assessor do Presidente e André Kosters a ser engravatado por Campiso Rocha





Presidente Cavaco só pensa em cooperação


Segundo dia de visita do Presidente Cavaco Silva à India.

O dia começou com a recepção no Palácio do governo com pompa e a presença do Presidente e do Primeiro-ministro indianos. Uma manhã fresca, fria mesmo, com uma luz dourada esbatida a nevoeiro.

Os jornalistas tiveram de estar duas horas antes da cerimónia por questões de segurança. Fomos todos revistados, câmeras inspecionadas, com os guaras a espreitarem pelas objectivas desmontadas. Aqui há que ter paciência e compreensão pois o terrorismo é uma ameaça real.

Por outro lado os indianos são sempre de uma grande amabilidade. Não há stress e tudo acaba por correr bem.

O Presidente chegou numa limousine Mercedes V12 e via-se que estava a assumir este acto como muito solene. Estavam ministros e deputados e muitas figuras do Estado indiano.

O que me marcou no sia de hoje foi a visita ( off-programa) à cidade antiga. Voltei e rever a Nova Deli que tinha conhecido há 15 anos. Mistura de raças e castas. Um som urbano diverso e turbulento, confusão de carros, autocarros, riquechós e animais, gente, gente num trânsito divertidamente caótico e que...funciona.

As pessoas deixam-se fotografar mesmo nas situações mais dramáticas de pobreza. Há uma grande dignidade e uma tolerância infinita para com os visitantes.

Viajei de riquechó puxado à pedalada, fotografei como há muito tempo o não fazia.

O dia acabou na Embaixada de Portugal com o presaidente a falar à imprensa e com Leonor Beleza que veio na comitiva para assinar protocolos com a Fundação Champalimaud.


O site da Presidência está mesmo a inovar. Hoje Cavaco falou para a cãmera mini do seu site e os jornalistas começam a temer que o site da Presidência dê noticias primeiro que eles.

Não há nada como a inovação e concorrência.

Está a ser uma viagem de sucesso embora muito diferente daquela que Soares fez há 15 anos. Então a India não era muito apetecível económicamente, e mesmo que fosse não erao género de Soares vir para um país destes com dossiers debaixo do braço.

Hoje a India é cobiçada graças ao seu mercado, à sua evolução tecnológica, graças à mudança de política económica iniciada em 1998.

Começa a ver-se marcas multinacionais, os carros tradicionais tipo Morris inglês, estão a dar lugar aos horrendos utilitários coreanos.

A classe média indiana desponta e o romantismo está a desaparecer da paisagem desta terra que apaixona fotógrafos furtivos.