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segunda-feira, agosto 29, 2011

A CRISE VOLTOU DE FÉRIAS

Eu acho imensa piada à pequena burguesia e à ideologia que os telejornais alimentam. Por exemplo: as férias estão a acabar. Que tal uma peça sobre a crise? Como se faz? Fácil: apanham-se uns sortudos a meterem a bagagem na mala do Honda Civic com ar de novinho. Estica-se o microfone e a entrevistada assume desde logo o papel de vítima da crise e desabafa: sim, a crise obrigou-nos a irmos comer menos vezes fora, ficámos menos 2 dias dos 15 que tivéramos o ano passado, abdicámos dos toldos de sol pagos, e viemos pela nacional 100 quilómetros. "Isto está mau, há que economizar!".

Os portugueses acham que pelo facto de irem comer menos vezes fora, não trocarem de carro de 3 em 3 anos, ou de terem de passar menos dias de férias, isso é crise. Isto não é crise meus caros. Isto é maus hábitos e vícios que se instalaram com o novo-riquismo herdado do cavaquismo e depois alimentado por todos os governos seguintes.

Ou mesmo o facto de terem de tirar os filhos de colégios caros, onde o que se aprende é por vezes menos do que numa boa escola oficial, isso já lhes faz cair os parentes na lama.

Eu fui educado sempre em escolas públicas, trabalhei para tirar um curso à noite de arquitecto, tive de ter vários empregos para poder andar de 2 cavalos, só comprei um carro novo na vida, há 5 anos que não faço férias no estrangeiro, evito o Algarve, evito comer fora e evito as auto-estradas. E não se pode dizer que tenha tido até agora um mau vencimento. Sou poupadinho a comprar roupa, compro de boa qualidade, mas por exemplo os timberland" que trago calçados têm 6 anos e o outro par já levou meias solas. O que compro, porque gosto muito, é sempre feito de forma a não ficar endividado e compro sempre usado ou a preço bom.
A felicidade nem sempre tem a ver com abastança. As melhores viagens que fiz foi na minha velhinha BMW a deixar cair peças ao longo da estrada, e quando tive uma novinha de estrada acabei por não viajar nela. As minhas melhores fotos foram com uma Leica M6 usadissima e agora com uma M9 acabo por não a usar de forma tão intensa.
É importante darmos valor ao que temos e de sabermos preservar o que compramos com dificuldade e paixão.
As pessoas em geral confundem qualidade de vida com vida de peneirentos, e acham que viver bem é poder mostrar ao vizinho alguns sinais exteriores de pedantismo. Não têm as coisas porque gostam, têm porque dá estatuto. Um miserável estatuto.

Ora esta crise é dramática não porque temos de racionalizar os gastos. Esta crise é dramática porque a continuar não vamos ter dinheiro para pagar a casa, as compras do mês e porventura nem poderemos ir ao médico a custo zero. Não porque não temos dinheiro para o seguro de saúde, mas porque os neo-liberais vão querer que paguemos num hospital público o preço da desorganização, da espera e da nossa triste agonia. O mau não é termos de deixar de ter TVCabo mas de corrermos o risco de nem aos 4 pindericos canais termos direito de acesso e a conteúdos decentes. Crise não é deixar de comer bifes a 15 euros o quilo, mas de nem acesso termos a frango do aviário.
Esta mentalidade pequeno-burguesa é que devia desaparecer e as televisões e os jornais deixarem de falar por tudo, nada, e coisa nenhuma, de crise.

Crise é termos um governo que é uma agência governativa e um Presidente que anda há 25 anos a fazer pela sua vidinha política, em vez de pensar grande no país. Embora só pense quem pode e não pense quem quer.

Crise é este país parado, adormecido, sem vontade para nada, como eu hoje nesta tarde de fim de Agosto.



 





quarta-feira, agosto 24, 2011

A nega de Amorim

Portugal não tem ricos a mais. Tem ricos a menos. O problema é que temos maus ricos. Ou melhor: só temos novos-ricos. E essa estirpe não é boa para a economia. A maioria, cerca de 90 por cento, dos nossos empresários tem o equivalente à quarta classe, e os grandes têm mais alguma formação mas escolhem depois umas chefias intermédias medíocres. Transportam para as empresas a pior lógica da pior função pública: carreirismo, mesquinhez e falta de ambição. Lucro fácil.

Se virmos os maiores ricos portugueses ganharam esse patamar a trabalhar, sem dúvida, mas no negócio da distribuição, raramente numa vida a promover o crescimento e mais-valia para exportação. Muitos ganharam milhões entre um negócio de ocasião e um apoio bancário generoso. Daí não terem na sua prática grande cultura empresarial. Nem cultura de empresa. Claro que criam postos de trabalho, mas nunca na proporção daquilo que facturam e lucram.

Temos uma classe empresarial que ainda vê nos sindicatos e nos trabalhadores uma corja de malandros e que se justifica permanentemente com a lei do trabalho que acham incapaz de permitir o desenvolvimento. Ora, as empresas que trabalham, produzem e criam laços de fraternidade com os seus trabalhadores, acabam por ser aquelas cujos donos são pessoas que mantêm há anos uma relação de proximidade com os seus colaboradores. E não vejo estes patrões queixarem-se. Nunca vi o Comendador Nabeiro protestar com a lei laboral ou vir dizer que os seus trabalhadores não trabalham. Pelo contrário. Ele paga acima da média, dá imensas benesses sociais e tem uma vasta obra de ajuda solidária fora da empresa. E quem lá trabalha fá-lo com gosto.
O sucesso da Auto-Europa é semelhante. A empresa aumentou 40% a produição durante este ano, mas no ano passado no auge da crise automóvel houve um entendimento pacifico com o sindicato e a comissão de trabalhadores, no sentido de reduzir ordenados e estipular um banco de horas.
Podia dar muitos outros exemplos, um mesmo perto de mim, mas que não vou citar para não dar  ar de "graxa ao patrão".
Isto a propósito da recusa que ontem Américo Amorim deu em poder vir a ajudar Portugal nesta crise, ao contrário dos maiores patrões franceses. Amorim fez aliás há 2 anos uma coisa extraordinária: perante a ameaça da crise ele despediu 160 trabalhadores por razões de prudência.
O patronato não tem de ser a Santa Casa da Misericórdia, por isso vai para lá Santana Lopes, mas que tem de ter uma forte responsabilidade social, que ninguém duvide disso. As empresas só têm razão de existir se forem uma forma de a sociedade se desenvolver e se com o seu sucesso poder haver uma qualidade de vida para os seus trabalhadores que não deve ser o Estado a pagar.
Porque isto de se ser capitalista também tem duas faces. Uma a do lucro, a outra da responsabilidade social. Se assim não for passamos a viver na maior das selvejarias. O sonho destes neo-liberais que tomaram o Poder de assalto em nome de uma grande mentira.

segunda-feira, agosto 08, 2011

Passos foi de férias para o Portugal dos pequeninos.

PPCoelho também já usa o Facebook para comunicar com os cidadãos.Porventura contagiado por Cavaco. Mas a mensagem deixada por PPC antes de ir de férias não deixa de ser curiosa. E analisada à lupa por um sociólogo de bancada como eudeixa perceber o seguinte: vai de férias curtas e pede desculpa à família por não ter mais tempo para ela, mas ac rescenta que são nas coisas simples que melhor encontramos a felicidade. Depois avisa os contribuintes que vão ter que continuar a vergar a mola, mas deixa uma promessa de pagador: um dia nada será como agora,caso tenhamos pachôrra para este elenco governativo e fé numa Europa em implusão. Mas há outra nuance: afinal a conjuntura externa é madrasta e a culpa já não é daquele engenheiro de domingo. Enfim: pobres, sacrificados mas podendo ser felizes com pouco. Salazar volta, estás perdoado!.