domingo, julho 30, 2006
O monte e o guardador de sonhos
fotos de Luiz Carvalho
Fim de tarde alentejano. Hoje, sábado, às 20,35 horas.
O monte parece uma imagem a côr de Ansel Adams.
Antes duas vacas e o seu dono montado numa Famel periquito caminhavam calmamente na estrada ao meu encontro. Tive ainda tempo para parar, puxar da câmara, disparar e saudar guardador de sonhos e seus animais.
Há momentos que valem eternidades.
sábado, julho 29, 2006
Mónica e o desejo
Ainda o Bilhete de Identidade da Maria Filomena Mónica.
Hoje voltei a ficar muito entusiasmado com duas das suas confissões. A cena na Universidade de Oxford quando vestia o casaco de Leopardo, “quase sem nada ou mesmo nada por baixo” para ir ter com o vizinho de cima é deslumbrante e a compra de um Porsche usado para ir de férias com os filhos para o Algarve, para se encontrar com um grupo de amigos meio hippies, não deixa de ser delicioso.
Se pensarmos que isto é no final dos anos 60, são cenas preto e branco dignas de um Antonioni. Lindo.
Hoje voltei a ficar muito entusiasmado com duas das suas confissões. A cena na Universidade de Oxford quando vestia o casaco de Leopardo, “quase sem nada ou mesmo nada por baixo” para ir ter com o vizinho de cima é deslumbrante e a compra de um Porsche usado para ir de férias com os filhos para o Algarve, para se encontrar com um grupo de amigos meio hippies, não deixa de ser delicioso.
Se pensarmos que isto é no final dos anos 60, são cenas preto e branco dignas de um Antonioni. Lindo.
A pianista, o comendador e o idiota
A birra de Maria João Pires em abandonar Portugal e ir viver para o Brasil veio revelar uma realidade bem diferente daquela que a artista tinha evocado para se divorciar da pátria. Afinal, segundo o Público de hoje, a artista tinha recebido desde 2000 para a sua obra cultural na Beira Baixa 500 mil contos, em moeda antiga. Sem contabilizar outras doações vindas nomeadamente da PT a título de mecenato.
Ficámos a saber, eu não sabia, que aquela verba era basicamente para subsidiar o trabalho de um grupo de crianças, cerca de 60. Ainda fiquei a saber que a verba dada pelo Estado e autarquia nunca foi justificada nos seus gastos.
É espantoso como a cultura pode absorver verbas deste montante sem controle das entidades que entram com o dinheiro.
Maria João Pires é uma artista acima de qualquer suspeita, mas não pode ter impunidade, nem imunidade, quando estão em causa dinheiros de todos nós.
Se aquelas crianças, adoráveis como todas as crianças do Mundo, recebem verbas de tal forma extraordinárias, porque tenho eu de pagar um balúrdio, mesmo para os meus rendimentos, para que o meu filho possa ter um ensino normal, numa escola normal, mas que tem de ser privada porque não há pública na minha zona, e moro no Estoril ?
Eu também quero um subsídio e o Papião, o colégio do David, também deve ter direito porque não é uma escola pior do que a da pianista Maria João Pires. E tem mais de 60 crianças.
Haja decoro, e já agora que a artista ensaie junto de Lula e do seu ministro ambulante da cultura um subsídiozinho para a sua casa junto ao mar na Bahia.
Outro caso cultural revelado em primeira mão pelo Presidente Cavaco Silva é o do contrato leonino entre o Estado, representado pelo governo de Sócrates e o comendador Joe Berardo. Pela primeira vez estou de alma e coração com o PR. Como é possível aceitar tais condições? Quer dizer: vamos pagar uma barbaridade por uma colecção de arte contemporânea que ainda não está segura no seu valor real de mercado e nem sequer o Estado, nós pagantes, podemos ter possibilidade de gerir os monos?
Berardo sabe-a toda, não fosse madeirense e rico como é. Por mim tiro-lhe o chapéu, mas Sócrates é que fica mal, muito mal no retrato pós-moderno.
Terceiro caso cultural: a venda do Rivoli no Porto. Se Sócrates tem medo da cultura, já Rui Rio adora exorcizar os seus fantasmas de grunho e dispara sobre tudo o que lhe cheira a cultura.
A frase célebre, “ quando me falam de cultura puxo logo da pistola! ”, não pode assentar melhor ao autarca invicto e convicto da sua barbárie. É uma vergonha para o Porto o que está a ser feito à cidade que na última década soube crescer em prestígio cultural.
Rio é o género de pessoas arrogantes que quando não gosta ou não percebe uma coisa, destrói-a.
Para ele cultura é bandas em coretos,
A alarvidade destes autarcas que nos sugam os impostos ( lá vão eles mamar mais 5 por cento do nosso IRS) está bem exemplificada neste cromo da caderneta PSD ( mas podia ser PS ou CDS) que ainda por cima se gaba com aquele riso idiota das suas tropelias de cabouqueiro.
Ficámos a saber, eu não sabia, que aquela verba era basicamente para subsidiar o trabalho de um grupo de crianças, cerca de 60. Ainda fiquei a saber que a verba dada pelo Estado e autarquia nunca foi justificada nos seus gastos.
É espantoso como a cultura pode absorver verbas deste montante sem controle das entidades que entram com o dinheiro.
Maria João Pires é uma artista acima de qualquer suspeita, mas não pode ter impunidade, nem imunidade, quando estão em causa dinheiros de todos nós.
Se aquelas crianças, adoráveis como todas as crianças do Mundo, recebem verbas de tal forma extraordinárias, porque tenho eu de pagar um balúrdio, mesmo para os meus rendimentos, para que o meu filho possa ter um ensino normal, numa escola normal, mas que tem de ser privada porque não há pública na minha zona, e moro no Estoril ?
Eu também quero um subsídio e o Papião, o colégio do David, também deve ter direito porque não é uma escola pior do que a da pianista Maria João Pires. E tem mais de 60 crianças.
Haja decoro, e já agora que a artista ensaie junto de Lula e do seu ministro ambulante da cultura um subsídiozinho para a sua casa junto ao mar na Bahia.
Outro caso cultural revelado em primeira mão pelo Presidente Cavaco Silva é o do contrato leonino entre o Estado, representado pelo governo de Sócrates e o comendador Joe Berardo. Pela primeira vez estou de alma e coração com o PR. Como é possível aceitar tais condições? Quer dizer: vamos pagar uma barbaridade por uma colecção de arte contemporânea que ainda não está segura no seu valor real de mercado e nem sequer o Estado, nós pagantes, podemos ter possibilidade de gerir os monos?
Berardo sabe-a toda, não fosse madeirense e rico como é. Por mim tiro-lhe o chapéu, mas Sócrates é que fica mal, muito mal no retrato pós-moderno.
Terceiro caso cultural: a venda do Rivoli no Porto. Se Sócrates tem medo da cultura, já Rui Rio adora exorcizar os seus fantasmas de grunho e dispara sobre tudo o que lhe cheira a cultura.
A frase célebre, “ quando me falam de cultura puxo logo da pistola! ”, não pode assentar melhor ao autarca invicto e convicto da sua barbárie. É uma vergonha para o Porto o que está a ser feito à cidade que na última década soube crescer em prestígio cultural.
Rio é o género de pessoas arrogantes que quando não gosta ou não percebe uma coisa, destrói-a.
Para ele cultura é bandas em coretos,
A alarvidade destes autarcas que nos sugam os impostos ( lá vão eles mamar mais 5 por cento do nosso IRS) está bem exemplificada neste cromo da caderneta PSD ( mas podia ser PS ou CDS) que ainda por cima se gaba com aquele riso idiota das suas tropelias de cabouqueiro.
Placa 3G é mentira
Ao contrário do Paulo Querido, que escreve hoje sobre o tema no seu blog, eu não estou nada contente com a placa 3G da Vodafone. Aqui no Alentejo não consigo ligar-me a mais de 57,6 kbps, estou um horror de tempo para actualizar o blog e não consigo meter fotografias dada a lentidão da ligação.
No telemóvel tenho 3G na placa GPRS. Isto começa a ser insuportável. É um serviço que está longe de ser barato e nunca funciona em pleno. Tive problemas de rooming em Espanha, França, Bélgica e na Rússia. E estou a trabalhar com um PC pois para o MAC a vodafone em Portugal ignora pura e simplesmente o sistema.
Este serviço parece ser encarado como um gadjet para quadros superiores que só o têm para armar e não para profissionais. Mesmo na sede do Expresso, em Paço d`Arcos não tenho acesso 3G. Não preciso mas se precisar sou despachado a GPRS.
Vou ter de esclarecer este péssimo serviço com a operadora quando chegar.
No telemóvel tenho 3G na placa GPRS. Isto começa a ser insuportável. É um serviço que está longe de ser barato e nunca funciona em pleno. Tive problemas de rooming em Espanha, França, Bélgica e na Rússia. E estou a trabalhar com um PC pois para o MAC a vodafone em Portugal ignora pura e simplesmente o sistema.
Este serviço parece ser encarado como um gadjet para quadros superiores que só o têm para armar e não para profissionais. Mesmo na sede do Expresso, em Paço d`Arcos não tenho acesso 3G. Não preciso mas se precisar sou despachado a GPRS.
Vou ter de esclarecer este péssimo serviço com a operadora quando chegar.
sexta-feira, julho 28, 2006
Políticamente Incorrecto
Há uma brisa fina, persistente, no sudoeste alentejano. A recôndita praia do Carvalhal não foge ao vento e a trazer uma certa sensação de desconforto a banhistas friorentos como eu. Abrigo-me junto às rochas e o meu pequeno David brinca com a água que corre por um fio da ribeira que vai desaguar logo ali à frente naquele mar revolto e frio que o meu filho André costuma frequentar nas suas surfadas.
Ainda não acabei o Bilhete de Identidade da Filomena Mónica. Achei ao princípio o livro um pouco maçudo mas ao saltar uns capítulos descobri-lhe interesse, talvez por falar de gente que conheço e de que sou amigo, caso da Sofia. Ri-me a valer com a descrição do António Pedro de Vasconcelos a pedir vinte paus emprestados à Filomena enquanto o táxi que o esperava na rua continuava a contar.
O debate teórico de Vasco Pulido Valente seguido de uma sessão fracassada de sexo, enquadrando intelectualmente o não feito também não deixa de ser divertido. É um livro escrito com rara coragem e com uma sensibilidade de mulher à flor da pele.
Estive só uma vez, em 1985, com a Filomena Mónica a fotografá-la para uma crónica na Grande Reportagem ( 1ª série), que aliás tinha ao lado de Vasco Pulido Valente e António Pedro de Vasconcelos.
Percebi que muitas daquelas histórias se passavam entre a Avenida do Brasil em Alvalade, Lisboa, e o café Vavá na Avenida de Roma, a minha zona de adolescente e que eu frequentava.
O Alentejo está pouco frequentado. Hoje vi o meu amigo Jorge Palma na Zambujeira entre uns caracóis e uns percebes e algumas imperiais para mal do meu colesterol. Amanhã vai ser o último dia, domingo regresso a Lisboa, segunda ao Expresso. São umas férias muito curtas, agora que estava a começar a habituar-me à ideia…
No final do noticiário da RTP (hoje liguei a tv pela primeira vez para ver notícias) fiquei parvo com o comunicado da autoridade para a comunicação social, não fixei o nome exacto. Dizia o comunicado que aquela reportagem que a RTP apresentou há tempos sobre a violência nas escolas não era eticamente aceitável por ter usado câmaras ocultas e que a raça negra era descriminada.
O politicamente correcto tem limites e a estupidez também. Primeiro: os alunos não eram nunca identificáveis, segundo: aquele trabalho mostrou mais sobre a realidade escolar do que não sei quantos relatórios, palestras ou livros brancos ou negros ( para não haver descriminações!), terceiro: se assim é porque não retira o governo as câmaras escondidas nas auto-estradas do país? Não está a violar também a intimidade dos automobilistas? Santa paciência!!!...
Ainda não acabei o Bilhete de Identidade da Filomena Mónica. Achei ao princípio o livro um pouco maçudo mas ao saltar uns capítulos descobri-lhe interesse, talvez por falar de gente que conheço e de que sou amigo, caso da Sofia. Ri-me a valer com a descrição do António Pedro de Vasconcelos a pedir vinte paus emprestados à Filomena enquanto o táxi que o esperava na rua continuava a contar.
O debate teórico de Vasco Pulido Valente seguido de uma sessão fracassada de sexo, enquadrando intelectualmente o não feito também não deixa de ser divertido. É um livro escrito com rara coragem e com uma sensibilidade de mulher à flor da pele.
Estive só uma vez, em 1985, com a Filomena Mónica a fotografá-la para uma crónica na Grande Reportagem ( 1ª série), que aliás tinha ao lado de Vasco Pulido Valente e António Pedro de Vasconcelos.
Percebi que muitas daquelas histórias se passavam entre a Avenida do Brasil em Alvalade, Lisboa, e o café Vavá na Avenida de Roma, a minha zona de adolescente e que eu frequentava.
O Alentejo está pouco frequentado. Hoje vi o meu amigo Jorge Palma na Zambujeira entre uns caracóis e uns percebes e algumas imperiais para mal do meu colesterol. Amanhã vai ser o último dia, domingo regresso a Lisboa, segunda ao Expresso. São umas férias muito curtas, agora que estava a começar a habituar-me à ideia…
No final do noticiário da RTP (hoje liguei a tv pela primeira vez para ver notícias) fiquei parvo com o comunicado da autoridade para a comunicação social, não fixei o nome exacto. Dizia o comunicado que aquela reportagem que a RTP apresentou há tempos sobre a violência nas escolas não era eticamente aceitável por ter usado câmaras ocultas e que a raça negra era descriminada.
O politicamente correcto tem limites e a estupidez também. Primeiro: os alunos não eram nunca identificáveis, segundo: aquele trabalho mostrou mais sobre a realidade escolar do que não sei quantos relatórios, palestras ou livros brancos ou negros ( para não haver descriminações!), terceiro: se assim é porque não retira o governo as câmaras escondidas nas auto-estradas do país? Não está a violar também a intimidade dos automobilistas? Santa paciência!!!...
quinta-feira, julho 27, 2006
Três notáveis: Miguel Veiga, Eduardo P. Coelho, Ruy Athouguia
Gostei muito da entrevista de vida dada à Visão por Miguel Veiga, com um belo retrato do meu amigo Pedro Letria feito com a sua mágica Hasselblad.
Miguel Veiga é uma personalidade ímpar na forma de estar na vida. Invejo a sua classe, o seu sentido de humor, a capacidade de se rir dele próprio, o amor e devoção às mulheres e até as referências passageiras a carros de sonho. Identifico-me imenso com a sua filosofia de vida mas quem sou eu para me atrever sequer a dizer isto?
Ainda nas minhas deambulações pela imprensa em férias tocou-me muito a crónica de Eduardo Prado Coelho sobre o seu bairro lisboeta do Conde Redondo. Eduardo está com um prazer de escrever exacerbado, passando do humor à mais sensível observação. Oxalá o seu estado de saúde melhore e o possamos continuar a ler por muito tempo.
Soube da morte do arquitecto Ruy Athouguia pelo meu pai há dois dias.
Este arquitecto pouco referido foi dos mais importantes da arquitectura portuguesa moderna. Projectou o Museu da Gulbenkian e o Liceu Padre António Vieira que eu vi nascer e onde fiz todo o meu curso até ao 7º ano, ao lado do António Pedro Ferreira, meu colega no Expresso, do Francisco Louça, do Pedro Santana Lopes e outros.
O arquitecto Ruy Athouguia, que nunca conheci pessoalmente, teve uma influência determinante na minha escolha académica ao ter decidido ser arquitecto. Eu tinha dez anos, o meu pai era o fiscal que controlava a obra de construção do Padre António Vieira, o arquitecto era o autor do projecto que aparecia por lá uma vez por mês num Alfa Romeu Giulieta ( igual ao de Michel Picolli em Les Choses de la Vie, onde fazia também o papel de um arquitecto). Trazia consigo uma loira, muito elegante, magra, que fumava cigarros extra-longos. Eu achava aquilo um charme, um quadro de muito bom gosto, sensual, numa altura em que o Salazarismo só dava a ver monos e tipos de chapéu preto.
O meu pai falava do arquitecto como alguém muito evoluído que estava a introduzir um tipo de arquitectura de rotura: cimento armado à vista, caixilharia de ferro preto, janelas de correr, vidros entalados nas vigas sem remate, rampas em vez de escadas, tectos baixos em que se tocava levantando um braço, superfícies lisas, chão de tábua, telhados sem telha em canaletes escondidos por muretes, um lago ao longo da fachada principal, vidros até ao chão, negação de muro exterior, arvores de modo a não ultrapassarem nunca a altura do corpo mais baixo do edifício, enfim: uma nova arquitectura que eu nos meus inocentes dez anos percebi que era uma nova ideologia, uma forma diferente de encarar a sociedade.
Fiquei sempre com a figura do arquitecto Ruy Athouguia na minha cabeça. Um dia jantei ao seu lado numa tasca do Bairro Alto e há 3 ou 4 anos conheci o seu filho por mero acaso numa festa de uma amiga comum.
Depois de escrever isto quase que me apetece voltar à arquitectura. É na verdade uma disciplina
apaixonante, um grande acto criativo.
Era justo que se fizesse uma história sobre esta figura ímpar da nossa arquitectura.
O nosso Le Corbusier.
Miguel Veiga é uma personalidade ímpar na forma de estar na vida. Invejo a sua classe, o seu sentido de humor, a capacidade de se rir dele próprio, o amor e devoção às mulheres e até as referências passageiras a carros de sonho. Identifico-me imenso com a sua filosofia de vida mas quem sou eu para me atrever sequer a dizer isto?
Ainda nas minhas deambulações pela imprensa em férias tocou-me muito a crónica de Eduardo Prado Coelho sobre o seu bairro lisboeta do Conde Redondo. Eduardo está com um prazer de escrever exacerbado, passando do humor à mais sensível observação. Oxalá o seu estado de saúde melhore e o possamos continuar a ler por muito tempo.
Soube da morte do arquitecto Ruy Athouguia pelo meu pai há dois dias.
Este arquitecto pouco referido foi dos mais importantes da arquitectura portuguesa moderna. Projectou o Museu da Gulbenkian e o Liceu Padre António Vieira que eu vi nascer e onde fiz todo o meu curso até ao 7º ano, ao lado do António Pedro Ferreira, meu colega no Expresso, do Francisco Louça, do Pedro Santana Lopes e outros.
O arquitecto Ruy Athouguia, que nunca conheci pessoalmente, teve uma influência determinante na minha escolha académica ao ter decidido ser arquitecto. Eu tinha dez anos, o meu pai era o fiscal que controlava a obra de construção do Padre António Vieira, o arquitecto era o autor do projecto que aparecia por lá uma vez por mês num Alfa Romeu Giulieta ( igual ao de Michel Picolli em Les Choses de la Vie, onde fazia também o papel de um arquitecto). Trazia consigo uma loira, muito elegante, magra, que fumava cigarros extra-longos. Eu achava aquilo um charme, um quadro de muito bom gosto, sensual, numa altura em que o Salazarismo só dava a ver monos e tipos de chapéu preto.
O meu pai falava do arquitecto como alguém muito evoluído que estava a introduzir um tipo de arquitectura de rotura: cimento armado à vista, caixilharia de ferro preto, janelas de correr, vidros entalados nas vigas sem remate, rampas em vez de escadas, tectos baixos em que se tocava levantando um braço, superfícies lisas, chão de tábua, telhados sem telha em canaletes escondidos por muretes, um lago ao longo da fachada principal, vidros até ao chão, negação de muro exterior, arvores de modo a não ultrapassarem nunca a altura do corpo mais baixo do edifício, enfim: uma nova arquitectura que eu nos meus inocentes dez anos percebi que era uma nova ideologia, uma forma diferente de encarar a sociedade.
Fiquei sempre com a figura do arquitecto Ruy Athouguia na minha cabeça. Um dia jantei ao seu lado numa tasca do Bairro Alto e há 3 ou 4 anos conheci o seu filho por mero acaso numa festa de uma amiga comum.
Depois de escrever isto quase que me apetece voltar à arquitectura. É na verdade uma disciplina
apaixonante, um grande acto criativo.
Era justo que se fizesse uma história sobre esta figura ímpar da nossa arquitectura.
O nosso Le Corbusier.
quarta-feira, julho 26, 2006
A reforma de Alegre, as pedradas de Herman
Para se estar mesmo de férias não há melhor que desligar o telemóvel, não comprar jornais e não ver televisão. Eu quase consigo este pleno mas acabo por ceder. O telemóvel fica apenas em silêncio, acabo por comprar dois diários, uma revista da treta, e vou até à televisão para ver As Donas de Casa Desesperadas, como ontem.
Claro que acabo por me arrepender. Fico incomodado com mensagens no telefone que preferia não ouvir, e os jornais por muito inócuos que eu ache que são nesta altura do ano acabam por me irritar, ou melhor, indignar com algumas notícias.
O disparate sobre a reforma de Manuel Alegre, noticiada e comentada por políticos e jornalistas, foi um dos casos. Quer dizer: um cidadão aos 70 anos já não pode ter direito a reforma? A uma miserável reforma de 3000 euros, o equivalente a um ordenado de varredor de rua no Luxemburgo? Em que país vivemos ou que país afinal queremos? A demagogia e o populismo já chegaram a este ponto? Lamentável.
Depois onde está a indignação pela lei do governo que prevê que 5 por cento das receitas do IRS vão para as autarquias? Quer dizer, Sócrates cede desta forma aos interesses de caciques encartados como Fernando Ruas? Vamos continuar a pagar dos nossos impostos as vaidades e as obras estúpidas destes autarcas que se entretêm a fazer rotundas, passeios de mármore e mijómetros modernistas?
Vamos pagar ainda mais os assessores do professor Carmona e os disparates de obras abusivas como o condomínio da Infante Santo, em Lisboa?
Não há afinal vergonha, nem rigor, nem bom senso no governo.
Este fim - de -semana lá vai o engenheiro Sócrates a Portalegre inaugurar ao lado de Mata Cáceres mais umas quantas obras que já estão a funcionar há meses. Obras lançadas quando ele era ministro do ambiente. Sócrates faz a festa, deita os foguetes e nós pagamos. Está certo, afinal o povo votou nele !!!...
Portalegre, onde estive há semanas, está cheia de obras camarárias absurdas. Passeios onde os carros batem por serem altos e mal desenhados, ruas sem sinalética, estacionamento nulo. Como cidade é um bidé, mas dinheiro dos contribuintes não falta.
Mesmo a imprensa rosa é deprimente em férias.
Numa revista de televisão as histórias canalhas sobre figuras conhecidas davam para fazer um filme de arrasar corações.
É o futebolista tal que tem de sustentar a ex-mulher que vive em Rio Tinto com a filha de seis anos que não pôde ir ao seu casamento e tem de andar 300 quilómetros todas as semanas para ver a petiz, é a vedeta da novela que tem o pai preso, o marido metido na droga e deu com os pés ao namorado, e que se marimba na filha de dois anos, é o Herman José vestido à Nelo que diz que só sai da SIC à pedrada ( todos nós já tínhamos percebido isso!), enfim: são todos famosos, vivem longe, são dos subúrbios e atrás da fama está uma infelicidade latente.
Para rematar acabei a almoçar num restaurante numa aldeia alentejana de pescadores que tinha música de elevador como ambiente. Moderníces...
Claro que acabo por me arrepender. Fico incomodado com mensagens no telefone que preferia não ouvir, e os jornais por muito inócuos que eu ache que são nesta altura do ano acabam por me irritar, ou melhor, indignar com algumas notícias.
O disparate sobre a reforma de Manuel Alegre, noticiada e comentada por políticos e jornalistas, foi um dos casos. Quer dizer: um cidadão aos 70 anos já não pode ter direito a reforma? A uma miserável reforma de 3000 euros, o equivalente a um ordenado de varredor de rua no Luxemburgo? Em que país vivemos ou que país afinal queremos? A demagogia e o populismo já chegaram a este ponto? Lamentável.
Depois onde está a indignação pela lei do governo que prevê que 5 por cento das receitas do IRS vão para as autarquias? Quer dizer, Sócrates cede desta forma aos interesses de caciques encartados como Fernando Ruas? Vamos continuar a pagar dos nossos impostos as vaidades e as obras estúpidas destes autarcas que se entretêm a fazer rotundas, passeios de mármore e mijómetros modernistas?
Vamos pagar ainda mais os assessores do professor Carmona e os disparates de obras abusivas como o condomínio da Infante Santo, em Lisboa?
Não há afinal vergonha, nem rigor, nem bom senso no governo.
Este fim - de -semana lá vai o engenheiro Sócrates a Portalegre inaugurar ao lado de Mata Cáceres mais umas quantas obras que já estão a funcionar há meses. Obras lançadas quando ele era ministro do ambiente. Sócrates faz a festa, deita os foguetes e nós pagamos. Está certo, afinal o povo votou nele !!!...
Portalegre, onde estive há semanas, está cheia de obras camarárias absurdas. Passeios onde os carros batem por serem altos e mal desenhados, ruas sem sinalética, estacionamento nulo. Como cidade é um bidé, mas dinheiro dos contribuintes não falta.
Mesmo a imprensa rosa é deprimente em férias.
Numa revista de televisão as histórias canalhas sobre figuras conhecidas davam para fazer um filme de arrasar corações.
É o futebolista tal que tem de sustentar a ex-mulher que vive em Rio Tinto com a filha de seis anos que não pôde ir ao seu casamento e tem de andar 300 quilómetros todas as semanas para ver a petiz, é a vedeta da novela que tem o pai preso, o marido metido na droga e deu com os pés ao namorado, e que se marimba na filha de dois anos, é o Herman José vestido à Nelo que diz que só sai da SIC à pedrada ( todos nós já tínhamos percebido isso!), enfim: são todos famosos, vivem longe, são dos subúrbios e atrás da fama está uma infelicidade latente.
Para rematar acabei a almoçar num restaurante numa aldeia alentejana de pescadores que tinha música de elevador como ambiente. Moderníces...
terça-feira, julho 25, 2006
Gratuitos e net, o desafio continua
Um artigo de ontem do Público referia que o Le Monde ia entrar num projecto para editar um diário gratuito em França. A iniciativa pretende responder a uma outra do Le Fígaro que vai lançar em breve também um jornal só pago pela publicidade.
O fenómeno dos gratuitos está a mexer com o conceito tradicional de jornalismo. Este dado com a outra realidade que é jornalismo online está a mudar o jogo da imprensa.
É verdade que em Portugal o fenómeno dos gratuitos ainda não está a fazer muita mossa na imprensa tradicional. Por exemplo, o Jornal da Região tem sido um fracasso comercial e os outros gratuitos, apesar de irritarem títulos como o Correio da Manhã, ainda não estão a conseguir tirar publicidade de qualidade aos jornais de referência.
O mesmo se pode aplicar à Internet. As empresas ainda vêem na net não uma alternativa, não uma nova área de negócio, mas sim um engodo em que é preciso ir apostando mas só em função do que for estritamente necessário.
Oxalá não acordemos um destes dias tarde de mais quando estes dois vectores, gratuitos e net, já estiverem com uma embalagem difícil de alcançar.
Claro que são temas pouco adequados para quem está no remanso alentejano a ouvir as cigarras, mas é nestas alturas que me apetece reflectir e pensar no futuro
O fenómeno dos gratuitos está a mexer com o conceito tradicional de jornalismo. Este dado com a outra realidade que é jornalismo online está a mudar o jogo da imprensa.
É verdade que em Portugal o fenómeno dos gratuitos ainda não está a fazer muita mossa na imprensa tradicional. Por exemplo, o Jornal da Região tem sido um fracasso comercial e os outros gratuitos, apesar de irritarem títulos como o Correio da Manhã, ainda não estão a conseguir tirar publicidade de qualidade aos jornais de referência.
O mesmo se pode aplicar à Internet. As empresas ainda vêem na net não uma alternativa, não uma nova área de negócio, mas sim um engodo em que é preciso ir apostando mas só em função do que for estritamente necessário.
Oxalá não acordemos um destes dias tarde de mais quando estes dois vectores, gratuitos e net, já estiverem com uma embalagem difícil de alcançar.
Claro que são temas pouco adequados para quem está no remanso alentejano a ouvir as cigarras, mas é nestas alturas que me apetece reflectir e pensar no futuro
Alentejo desencantado
Zanbujeira: uma espécie de feira popular à beira-mar
A costa alentejana permanece intacta quando o desenvolvimento não chegou. E aí ela está abandonada, pobre, à espera que a ganância chegue.
Em Vila Nova de Mil Fontes é o que se sabe: um subúrbio estúpido, uma Caparica repetida. Não faz sentido estragar daquela forma a natureza, condenar gerações futuras a um modo de viver aberrante, sem gosto nem qualidade.
O que está em causa é o planeamento, dar um sentido à ocupação, mais do que o bom ou mau gosto, que é no entanto uma consequência disto.
Se estacionamos mal o carro, rebocam-no e somos multados severamente. Se construirmos uma casa clandestina nada acontece. Esta é uma verdade escandalosa num pais onde há um primeiro - ministro que tem a mania de se armar em durão.
Olhar este Alentejo abandonado ou ocupado por talhões de especulação como está a acontecer na Arrifana, ou de construções abarracadas como Monte Clérigo... é triste.
Precisamos de turismo como pão para a boca mas é o modelo da Zambujeira que exibimos: um subúrbio de guardas republicanos a multarem carros parados à beira de uma estrada obsoleta para o trânsito que tem, restaurantes da treta com preços exorbitantes, famílias rurais transformadas em negociantes, uma estrada nacional que vai para o Algarve com um traçado do tempo do Duarte Pacheco.
Para um país que passa a vida a falar em turismo e em preservação do ambiente não está mal, está péssimo.
Resta, ainda restam as praias desertas de sonho.
E o mel de uma senhora de Vale d`Alhos que o vende em dois tamanhos: em boião Nescafé ou em boião Mokambo.
Por aqui fico.
A costa alentejana permanece intacta quando o desenvolvimento não chegou. E aí ela está abandonada, pobre, à espera que a ganância chegue.
Em Vila Nova de Mil Fontes é o que se sabe: um subúrbio estúpido, uma Caparica repetida. Não faz sentido estragar daquela forma a natureza, condenar gerações futuras a um modo de viver aberrante, sem gosto nem qualidade.
O que está em causa é o planeamento, dar um sentido à ocupação, mais do que o bom ou mau gosto, que é no entanto uma consequência disto.
Se estacionamos mal o carro, rebocam-no e somos multados severamente. Se construirmos uma casa clandestina nada acontece. Esta é uma verdade escandalosa num pais onde há um primeiro - ministro que tem a mania de se armar em durão.
Olhar este Alentejo abandonado ou ocupado por talhões de especulação como está a acontecer na Arrifana, ou de construções abarracadas como Monte Clérigo... é triste.
Precisamos de turismo como pão para a boca mas é o modelo da Zambujeira que exibimos: um subúrbio de guardas republicanos a multarem carros parados à beira de uma estrada obsoleta para o trânsito que tem, restaurantes da treta com preços exorbitantes, famílias rurais transformadas em negociantes, uma estrada nacional que vai para o Algarve com um traçado do tempo do Duarte Pacheco.
Para um país que passa a vida a falar em turismo e em preservação do ambiente não está mal, está péssimo.
Resta, ainda restam as praias desertas de sonho.
E o mel de uma senhora de Vale d`Alhos que o vende em dois tamanhos: em boião Nescafé ou em boião Mokambo.
Por aqui fico.
segunda-feira, julho 24, 2006
domingo, julho 23, 2006
Socialite portuguesa no seu melhor
Esta semana o Tal & Qual trazia uma peça sobre os famosos que se fazem pagar a peso de ouro, ou em géneros tipo viagens, para darem uma entrevista mais intima.
O meio da socialite portuguesa é na verdade patético, não fosse mais uma das cenas de Portugal no seu melhor.
Percebemos que quem frequenta as colunas sociais gosta de armar ao finório.
Aparecer numa festarola à borla e posar para os fotógrafos é sempre um alto momento de culto do ego, principalmente em quem vive para tentar demonstrar o que não é mas gostava de ser.
O curioso de tudo isto é que já não são só os cabeleireiros que se querem fazer passar por gente da alta, são os intelectuais que agora querem ser conotados com a gente da baixa.
E não deixou de ser divertido ver na LUX desta semana uma escritora light a armar ao sério falando e mostrando o filho, e uma decoradora qualquer a posar como se fosse uma estrela do firmamento. A minha mulher é que me chamou a atenção: " estas tipas estão todas vestidas com roupa da Zara !". Eheheheh!!!
O meio da socialite portuguesa é na verdade patético, não fosse mais uma das cenas de Portugal no seu melhor.
Percebemos que quem frequenta as colunas sociais gosta de armar ao finório.
Aparecer numa festarola à borla e posar para os fotógrafos é sempre um alto momento de culto do ego, principalmente em quem vive para tentar demonstrar o que não é mas gostava de ser.
O curioso de tudo isto é que já não são só os cabeleireiros que se querem fazer passar por gente da alta, são os intelectuais que agora querem ser conotados com a gente da baixa.
E não deixou de ser divertido ver na LUX desta semana uma escritora light a armar ao sério falando e mostrando o filho, e uma decoradora qualquer a posar como se fosse uma estrela do firmamento. A minha mulher é que me chamou a atenção: " estas tipas estão todas vestidas com roupa da Zara !". Eheheheh!!!
sábado, julho 22, 2006
30 anos de Profissão Repórter
A reposição de Profissão Repórter de Antonioni em cópia nova passados trinta anos da estreia desta fita das mais emblemáticas do cineasta italiano não pode deixar de me entusiasmar.
É um dos filmes da minha vida, sem esquecer Blow-up, O Eclipse, Deserto Vermelho, O Grito... na verdade não seria o que sou se não tivesse visto estas fitas de Antonioni.
Em Profissão Repórter está muito do que é a minha rotina, a prática da minha profissão. Jack Nicholson faz ali o papel de um repórter perdido no Sara com o seu Land Rover e que chegado a um pequeno hotel decide mudar de identidade quando descobre um homem assassinado e que podia muito bem ser ele.
Muitas vezes apetece mudar de identidade, retomar nova vida, reencontrar paixões, seguir novos rumos. Não que os actuais não sejam bons, mas porque mudar é sempre uma aventura estimulante.
O encontro com a personagem desempenhada por Maria Schneider, um ícone da preversão sexual e da ousadia moral depois do Ultimo Tango - rodado dois anos antes por Bertollucci- de Jack Nicholson numa cidade como Barcelona remete ainda mais este filme para uma atmosfera que cruza o melhor de Godard, Truffaut, se é que Antonioni alguma vez pensou nisso.
Barcelona é filmada por Antonioni de uma forma sublime ( o plano do teleférico é genial), Gaudi aparece em cenário e as sequencias finais rodadas à beira da estrada numa aldeola espanhola são de um experimentalismo notável: o longo plano sequência em que a câmera atravessa a grade de um quarto para o exterior é dos planos mais originais alguma vez rodados em cinema.
Profissão Repórter é um filme de autor de um tempo em que o cinema ainda não era só e apenas uma máquina bem oleada e eficaz de contar histórias.
É um dos filmes da minha vida, sem esquecer Blow-up, O Eclipse, Deserto Vermelho, O Grito... na verdade não seria o que sou se não tivesse visto estas fitas de Antonioni.
Em Profissão Repórter está muito do que é a minha rotina, a prática da minha profissão. Jack Nicholson faz ali o papel de um repórter perdido no Sara com o seu Land Rover e que chegado a um pequeno hotel decide mudar de identidade quando descobre um homem assassinado e que podia muito bem ser ele.
Muitas vezes apetece mudar de identidade, retomar nova vida, reencontrar paixões, seguir novos rumos. Não que os actuais não sejam bons, mas porque mudar é sempre uma aventura estimulante.
O encontro com a personagem desempenhada por Maria Schneider, um ícone da preversão sexual e da ousadia moral depois do Ultimo Tango - rodado dois anos antes por Bertollucci- de Jack Nicholson numa cidade como Barcelona remete ainda mais este filme para uma atmosfera que cruza o melhor de Godard, Truffaut, se é que Antonioni alguma vez pensou nisso.
Barcelona é filmada por Antonioni de uma forma sublime ( o plano do teleférico é genial), Gaudi aparece em cenário e as sequencias finais rodadas à beira da estrada numa aldeola espanhola são de um experimentalismo notável: o longo plano sequência em que a câmera atravessa a grade de um quarto para o exterior é dos planos mais originais alguma vez rodados em cinema.
Profissão Repórter é um filme de autor de um tempo em que o cinema ainda não era só e apenas uma máquina bem oleada e eficaz de contar histórias.
News na web, histórias no papel
Grande artigo este de Greg Bowers sobre a dicotomia web- edição impressa. Veja aqui
Básicamente o conceito é: dão-se hoje e já as notícias no online, amanhã conta-se a história na edição em papel.
Subscrevo por baixo.
Básicamente o conceito é: dão-se hoje e já as notícias no online, amanhã conta-se a história na edição em papel.
Subscrevo por baixo.
sexta-feira, julho 21, 2006
Férias simples num verão quente
O verão chega hoje para mim. Férias finalmente !...
Lavei o Range Rover, recarreguei o IPOD com algumas músicas que ainda permaneciam no Itunes, enchi dois sacos com revistas em atraso, carreguei a bateria da Ricoh GR, comprei um chapéu de sol de praia e aí vou eu com a minha mulher e o meu pequeno David rumo à costa alentejana.
Para serem umas férias anos 70 só faltava trocar o Range por uma 4L, apesar do meu forte nessa altura ser a Dyane.
Nessa altura os verdadeiros comunas preferiam o austero Renault e os esquerdalhos a Dyane, o descapotável tolerado pelo marxismo-leninismo.
Confesso que cada vez estou mais farto de férias em pacote, com destinos premeditados, turistas a esmo nos aeroportos, preços exorbitantes, novo riquismo.
É verdade que o conforto é fundamental em férias, mas já não se aguenta tanto consumismo de meia tigela.
Poder olhar o mar, cheirar as praias de iodo, encontrar paisagem selvagem, ainda é um previlégio que não vai durar muito mais tempo em Portugal.
Coisas simples como os novos tempos aconselham.
Primeira ousada em The Independent
Fatal citado por Paulo Querido
O meu querido amigo e colega Paulo Querido cita-me hoje no seu Mas Certamente Que Sim, a propósito de uma foto minha de 1978 ( salvo erro) feita em Lisboa. É defacto uma foto do meu período mais ortodoxo fotográfico, quando o mestre Henri Cartier- Bresson me guiava espiritualmente.
Confesso que me contínua a guiar. Os meus alunos que o digam com a pergunta inevitável nos exames sobre o instante decisivo.
A fotografia de HCB é o que me acalenta depois de dias e dias a ver cromos.
Abençoado seja na Terra como no Céu.
Confesso que me contínua a guiar. Os meus alunos que o digam com a pergunta inevitável nos exames sobre o instante decisivo.
A fotografia de HCB é o que me acalenta depois de dias e dias a ver cromos.
Abençoado seja na Terra como no Céu.
quinta-feira, julho 20, 2006
Rosa Casaco: o pide que gostava de cultura
Em Fevereiro de 1998 encontrei-me com Rosa Casaco em Zafra, Espanha, juntamente com José Pedro Castanheira, meu colega no Expresso.
O José Pedro tinha conseguido encontrar o ex-agente da polícia política e convenceu-o a deixar-se entrevistar.
A dúvida estava em saber se Casaco se deixaria fotografar.
Acabei por ir ter com eles a Espanha, à Pousada de Zafra onde cheguei noite dentro, depois de ter fechado o Expresso.
De manhã cedo apareço na sala dos pequenos – almoços, onde o encontro entre eles já estava a decorrer.
Sou apresentado a Casaco e disparo:” Muito gosto em conhecê-lo, aprecio muito as suas fotografias do livro Salazar na Intimidade. Você é um grande fotógrafo!”. Rosa Casaco ficou muito sensibilizado com as minhas palavras.
Eu estava ainda sem máquina, para não o assustar, mas no final do pequeno - almoço já tinha aceite ser fotografado durante a entrevista.
Disse-me que não queria que a sua cara fosse muito visível:” fotografe-me com essa luz da janela, tipo Rembrandt”. Depois olhou para a máquina e começou a perguntar coisas técnicas, a objectiva que eu usava, filmes… “Eu agora fotografo em grande formato para poder fazer ampliações grandes!”- confessou-me.
Ele era o fotógrafo oficial de Salazar mas as suas fotografias de paisagens e de gente do povo, num estilo neo-realista de direita, eram premiadas nos salões fotográficos dos anos 40-50. Eram imagens paternalistas de forte inspiração pictórica.
Agora ali em Zafra, findo o salazarismo e o 25 de Abril já a não sentir-se bem, Rosa Casaco parecia o Sherlock Holmes. Vestido à inglesa, boina axadrezada, e cachimbo sempre a fumegar. Era nitidamente um vaidoso, muito educado de gosto refinado. Um charmoso que aprendera nos salões do poder uma postura aristocrática, apesar de só ter comido o primeiro bife aos 19 anos de idade.
Antes do almoço já se deixava fotografar a passear nas estreitas ruas de Zafra. Pediu-me a Leica e começou a fotografar-me e ao José Pedro Castanheira.
Gabou o meu BMW 320i ( “ que bela máquina aqui tem!”). Era um apreciador de carros e tinha fugido do 25 de Abril num Lancia Fluvia GT.
No restaurante falou-me de vinhos, charutos e ao ver-me apagar um Partágas não deixou de me repreender:” amigo, um charuto não se apaga, deixa-se que ele se apague por si”.
No final do almoço, que acabara tarde, disse-lhe:” Rosa Casaco estas fotos são muito bonitas mas fotos boas eram consigo à entrada de Portugal”.
Para surpresa minha ele propôs irmos até à fronteira de Badajoz. O José Pedro castanheira ficou embasbacado. Ao chegarmos à fronteira, com o Sol já a pôr-se, Rosa Casaco saiu do carro do familiar que o transportava, entrou no meu, e propõs um chá na Pousada de Elvas.
Não queria acreditar: ia entrar em Portugal com Rosa Casaco, procurado pela polícia, sentado ao meu lado no meu carro!
“ Colega: sabe quantas nuances há de verde nesta paisagem ? Mais de duzentas ! Nós os fotógrafos sabemos apreciar a natureza, a luz, a cor.”- dizia-me olhando a paisagem alentejana.
Depois confidenciou-me que adorava ampliar fotografias ao som de Mozart e Beethoven. O chá na Pousada de Elvas decorreu em ambiente de grande conversa e no final diz-me: “ Luis: estas fotos aqui não dão nada, está de noite. Que tal amanhã frente à Torre de Belém ? Vai sozinho, só nós dois saberemos”.
No dia seguinte, de manhã, sábado, lá chegou. Deixou-se fotografar a comprar castanhas, a fumar cachimbo, a andar para lá e para cá. Recusou irmos à António Maria Cardoso, frente à ex-sede da PIDE. “ Isso não. Parece provocação”- justificou.
Na despedida estendeu-me a mão :” cumprimente-me à vontade pois pode ter a certeza que está a apertar a mão a um homem honrado!”.
Depois da entrevista sair, Rosa Casaco escreveu que tinha caído numa cilada e que eu o tinha enganado com falinhas mansas. Ficou-me a detestar.
Pela minha parte sempre achei a sua reacção injusta.
Nunca escondi que aquela figura me tinha fascinado.
Um pide que chefiou uma operação secreta para matar Delgado, contrariado, que achava uma estupidez o regime fazer um mártir de um oposicionista descredibilizado, para satisfazer as ideias vingativas de Silva Pais contra Salazar, e que gostava de música, charutos, carros desportivos e fotografia, era um personagem de filme.
Nesse sentido, Casaco era a personagem fascinante de um filme que falta fazer.
O José Pedro tinha conseguido encontrar o ex-agente da polícia política e convenceu-o a deixar-se entrevistar.
A dúvida estava em saber se Casaco se deixaria fotografar.
Acabei por ir ter com eles a Espanha, à Pousada de Zafra onde cheguei noite dentro, depois de ter fechado o Expresso.
De manhã cedo apareço na sala dos pequenos – almoços, onde o encontro entre eles já estava a decorrer.
Sou apresentado a Casaco e disparo:” Muito gosto em conhecê-lo, aprecio muito as suas fotografias do livro Salazar na Intimidade. Você é um grande fotógrafo!”. Rosa Casaco ficou muito sensibilizado com as minhas palavras.
Eu estava ainda sem máquina, para não o assustar, mas no final do pequeno - almoço já tinha aceite ser fotografado durante a entrevista.
Disse-me que não queria que a sua cara fosse muito visível:” fotografe-me com essa luz da janela, tipo Rembrandt”. Depois olhou para a máquina e começou a perguntar coisas técnicas, a objectiva que eu usava, filmes… “Eu agora fotografo em grande formato para poder fazer ampliações grandes!”- confessou-me.
Ele era o fotógrafo oficial de Salazar mas as suas fotografias de paisagens e de gente do povo, num estilo neo-realista de direita, eram premiadas nos salões fotográficos dos anos 40-50. Eram imagens paternalistas de forte inspiração pictórica.
Agora ali em Zafra, findo o salazarismo e o 25 de Abril já a não sentir-se bem, Rosa Casaco parecia o Sherlock Holmes. Vestido à inglesa, boina axadrezada, e cachimbo sempre a fumegar. Era nitidamente um vaidoso, muito educado de gosto refinado. Um charmoso que aprendera nos salões do poder uma postura aristocrática, apesar de só ter comido o primeiro bife aos 19 anos de idade.
Antes do almoço já se deixava fotografar a passear nas estreitas ruas de Zafra. Pediu-me a Leica e começou a fotografar-me e ao José Pedro Castanheira.
Gabou o meu BMW 320i ( “ que bela máquina aqui tem!”). Era um apreciador de carros e tinha fugido do 25 de Abril num Lancia Fluvia GT.
No restaurante falou-me de vinhos, charutos e ao ver-me apagar um Partágas não deixou de me repreender:” amigo, um charuto não se apaga, deixa-se que ele se apague por si”.
No final do almoço, que acabara tarde, disse-lhe:” Rosa Casaco estas fotos são muito bonitas mas fotos boas eram consigo à entrada de Portugal”.
Para surpresa minha ele propôs irmos até à fronteira de Badajoz. O José Pedro castanheira ficou embasbacado. Ao chegarmos à fronteira, com o Sol já a pôr-se, Rosa Casaco saiu do carro do familiar que o transportava, entrou no meu, e propõs um chá na Pousada de Elvas.
Não queria acreditar: ia entrar em Portugal com Rosa Casaco, procurado pela polícia, sentado ao meu lado no meu carro!
“ Colega: sabe quantas nuances há de verde nesta paisagem ? Mais de duzentas ! Nós os fotógrafos sabemos apreciar a natureza, a luz, a cor.”- dizia-me olhando a paisagem alentejana.
Depois confidenciou-me que adorava ampliar fotografias ao som de Mozart e Beethoven. O chá na Pousada de Elvas decorreu em ambiente de grande conversa e no final diz-me: “ Luis: estas fotos aqui não dão nada, está de noite. Que tal amanhã frente à Torre de Belém ? Vai sozinho, só nós dois saberemos”.
No dia seguinte, de manhã, sábado, lá chegou. Deixou-se fotografar a comprar castanhas, a fumar cachimbo, a andar para lá e para cá. Recusou irmos à António Maria Cardoso, frente à ex-sede da PIDE. “ Isso não. Parece provocação”- justificou.
Na despedida estendeu-me a mão :” cumprimente-me à vontade pois pode ter a certeza que está a apertar a mão a um homem honrado!”.
Depois da entrevista sair, Rosa Casaco escreveu que tinha caído numa cilada e que eu o tinha enganado com falinhas mansas. Ficou-me a detestar.
Pela minha parte sempre achei a sua reacção injusta.
Nunca escondi que aquela figura me tinha fascinado.
Um pide que chefiou uma operação secreta para matar Delgado, contrariado, que achava uma estupidez o regime fazer um mártir de um oposicionista descredibilizado, para satisfazer as ideias vingativas de Silva Pais contra Salazar, e que gostava de música, charutos, carros desportivos e fotografia, era um personagem de filme.
Nesse sentido, Casaco era a personagem fascinante de um filme que falta fazer.
Abrupto atacado com Viagra
Abruptamente neste verão não passado o blog de Pacheco Pereira, Abrupto, acaba de ser clonado e atacado com propaganda ao Viagra. Só acontece aos famosos. Por exemplo, o Fatal ser atacado por tal substância quimíca tolerada seria irrelevante, apesar da fase do autor desta crónica multi começar a estar com quilometragem suficiente para um pouco de aditivo não ser mal vindo.
Enfim: um engraçado decidiu desviar tráfego intelectual para serviço sexual o que no verão, diga-se em abono da verdade, só pode saber bem.
Enfim: um engraçado decidiu desviar tráfego intelectual para serviço sexual o que no verão, diga-se em abono da verdade, só pode saber bem.
quarta-feira, julho 19, 2006
Materazzi o vídeo do provocador
Vale a pena ver aqui no Fatal, cenas da vida de um jogador que não marca mas desmoraliza.
Instante fatal citado no Midiablog
Veja aqui a citação feita do Instante fatal.
Dá um certo orgulho e a verdade é que isto é do mais aliciante que tem a cultura internet.
Dá um certo orgulho e a verdade é que isto é do mais aliciante que tem a cultura internet.
Kofi Annan fotógrafo
terça-feira, julho 18, 2006
Morreu uma heroína do fotojornalismo
A célebre foto do soldado Wike feita no Vietnam, tinha a fotógrafa 20 anos. Há um ano Catherine descobriu Wike a viver miseravelmente numa aldeia do Arizona, pouco tempo antes de este morrer.
Morre nos EUA a fotógrafa francesa Catherine Leroy
A fotógrafa francesa Catherine Leroy, que cobriu as guerras do Vietnam e do Líbano, faleceu na última sexta-feira, em Los Angeles, nos Estados Unidos, segundo informaram amigos. Leroy morreu aos 61 anos, em conseqüência de um câncro, disseram seus amigos em Arles, sul da França, onde está sendo realizado o evento Encontros Fotográficos.
Catherine ganhou diversos prêmios, entre eles o prestigioso Robert Capa, por sua cobertura da guerra civil no Líbano em 1976. Foi a primeira mulher a receber este prêmio.
A francesa começou sua carreira muito jovem, vendendo fotos às agências AP e UPI. Aos 21 anos, em 1966, foi à Guerra do Vietnã. Em 30 de abril de 1967, Leroy foi responsável por uma das fotos mais emblemáticas da guerra: em meio a uma paisagem destroçada, o jovem militar norte-americano Vernon Wike aparece ao lado do cadáver de seu amigo que acabara de morrer. Carherine voltou a fotografar Wike quarenta anos depois. O soldado estava no fundo de um pequeno quarto de uma cidadezinha do Arizona, destruído pelas lembranças e pela doença.
Figura lendária do mundo da fotografia de guerra, Catherine foi uma das poucas mulheres a estar presente nos momentos mais delicados do conflito do Vietnam. Posteriormente, trabalhou no Líbano, onde foi seqüestrada e tratada com brutalidade, algo que a marcaria para sempre. Mais tarde, radicou-se nos Estados Unidos, onde trabalhou na área de moda e fez reportagens para revistas. Também escreveu um livro sobre os grandes fotógrafos do Vietnam, publicado pela Random House. Junto com o jornalista britânico Tony Clifton, Catherine escreveu o livro God Cried sobre a cidade de Beirute, em 1982.
Morre nos EUA a fotógrafa francesa Catherine Leroy
A fotógrafa francesa Catherine Leroy, que cobriu as guerras do Vietnam e do Líbano, faleceu na última sexta-feira, em Los Angeles, nos Estados Unidos, segundo informaram amigos. Leroy morreu aos 61 anos, em conseqüência de um câncro, disseram seus amigos em Arles, sul da França, onde está sendo realizado o evento Encontros Fotográficos.
Catherine ganhou diversos prêmios, entre eles o prestigioso Robert Capa, por sua cobertura da guerra civil no Líbano em 1976. Foi a primeira mulher a receber este prêmio.
A francesa começou sua carreira muito jovem, vendendo fotos às agências AP e UPI. Aos 21 anos, em 1966, foi à Guerra do Vietnã. Em 30 de abril de 1967, Leroy foi responsável por uma das fotos mais emblemáticas da guerra: em meio a uma paisagem destroçada, o jovem militar norte-americano Vernon Wike aparece ao lado do cadáver de seu amigo que acabara de morrer. Carherine voltou a fotografar Wike quarenta anos depois. O soldado estava no fundo de um pequeno quarto de uma cidadezinha do Arizona, destruído pelas lembranças e pela doença.
Figura lendária do mundo da fotografia de guerra, Catherine foi uma das poucas mulheres a estar presente nos momentos mais delicados do conflito do Vietnam. Posteriormente, trabalhou no Líbano, onde foi seqüestrada e tratada com brutalidade, algo que a marcaria para sempre. Mais tarde, radicou-se nos Estados Unidos, onde trabalhou na área de moda e fez reportagens para revistas. Também escreveu um livro sobre os grandes fotógrafos do Vietnam, publicado pela Random House. Junto com o jornalista britânico Tony Clifton, Catherine escreveu o livro God Cried sobre a cidade de Beirute, em 1982.
Guerra Civil Espanhola foi há 70 anos
Brilhante trabalho multimédia sobre os 70 anos da Guerra Civil Espanhola feito pelo EL Mundo. Clique aqui.
segunda-feira, julho 17, 2006
Na companhia de Durão e Kofi Anan
foto de Margarida Uva
A viagem de regresso da reunião do G8 foi inesquecivel.
Viajar no Falcon do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, na companhia deste e do Secretário Geral da ONU, Kofi Anan não é todos os dias. Viajar nestas condições no banco à frente deles, com a companhia simpática da Margarida Uva, uma fotógrafa amadora sempre curiosa, não vai ser uma viagem para esquecer.
O convite que Durão Barroso fez ao EXPRESSO permitiu que o Daniel do Rosário, o meu colega correspondente em Bruxelas, e eu pudéssemos ter tido um acesso preveligiado ao G8 e podermos dar a conhecer alguns aspectos dos bastidores de uma cimeira com esta importância ( ver na UNICA do próximo Sábado).
Claro que é sempre muito difícil furar o esquema rigido de pools e acabo por sentir uma certa frustração quando vejo as minhas fotografias, pois podia ter ido mais "inside" caso tivesse havido a possibilidade de estar tão perto de outros lideres como estivémos de Durão Barroso.
Do lado de dentro os políticos são pessoas como as outras. Divertem-se com piadas, falam de coisas triviais, manifestam receios conjunturais e até têm receio quando o avião aterra mais abruptamente.
Kofi Anan pediu-me a Canon e fez questão em me fotografar e ficou muito surpreendido com a pequena Ricoh GR digital. Durão Barroso ainda se lembrava da minha formação em arquitectura e acabei por saber que um dos seus filhos também quer ser arquitecto.
O dia cabaou com uma enervação enorme frente ao meu portátil ( um PC que tenho de gramar !)que insistia em não se conectar à rede de Bruxelas para eu poder enviar as fotos por ftp.
Agora já liga e até deu para actualizar o blog.
Amanhã a Pátria espera-me.
Até lá.
A viagem de regresso da reunião do G8 foi inesquecivel.
Viajar no Falcon do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, na companhia deste e do Secretário Geral da ONU, Kofi Anan não é todos os dias. Viajar nestas condições no banco à frente deles, com a companhia simpática da Margarida Uva, uma fotógrafa amadora sempre curiosa, não vai ser uma viagem para esquecer.
O convite que Durão Barroso fez ao EXPRESSO permitiu que o Daniel do Rosário, o meu colega correspondente em Bruxelas, e eu pudéssemos ter tido um acesso preveligiado ao G8 e podermos dar a conhecer alguns aspectos dos bastidores de uma cimeira com esta importância ( ver na UNICA do próximo Sábado).
Claro que é sempre muito difícil furar o esquema rigido de pools e acabo por sentir uma certa frustração quando vejo as minhas fotografias, pois podia ter ido mais "inside" caso tivesse havido a possibilidade de estar tão perto de outros lideres como estivémos de Durão Barroso.
Do lado de dentro os políticos são pessoas como as outras. Divertem-se com piadas, falam de coisas triviais, manifestam receios conjunturais e até têm receio quando o avião aterra mais abruptamente.
Kofi Anan pediu-me a Canon e fez questão em me fotografar e ficou muito surpreendido com a pequena Ricoh GR digital. Durão Barroso ainda se lembrava da minha formação em arquitectura e acabei por saber que um dos seus filhos também quer ser arquitecto.
O dia cabaou com uma enervação enorme frente ao meu portátil ( um PC que tenho de gramar !)que insistia em não se conectar à rede de Bruxelas para eu poder enviar as fotos por ftp.
Agora já liga e até deu para actualizar o blog.
Amanhã a Pátria espera-me.
Até lá.
domingo, julho 16, 2006
A distancia de um palmo de George Bush
A reuniao do G8 fica fora de St. Petersburg, num local maravilhoso de paisagem e arquitectura tradicional palaciana. A seguranca e rigorosa mas consegue-se trabalhar sem stress.
Cheguei aqui no Falcon de Durao Barroso, numa viagem muito simpatica.
Deu para fotografar o lado mais escondido do Presidente. O conhecimento e confianca que Durao Barroso tem em mim acabou por permitir esta minha intromissao fotografica sempre seguida por Margarida Barroso que tem um fraquinho por fotografia e gostava mesmo de aprender a fotografar.
A maior dificuldade, para nao dizer impossibilidade, em fotografar aqui e conseguir furar e fazer fotografias diferentes das agencias que aqui estao.
Fotografar ao lado e quase impossivel embora hajam aqui pormenores com muita piada.Por exemplo, ontem ao fim do dia enquanto os monitores de plasma mostravam Putin a falar com o primeiro- ministro canadiano, no restaurante para os jornalistas dancava-se uma rumba cubana de grande impacto nas hostes da comunicacao. Ao mesmo tempo dezenas de enviados jantavam alegremente entre vodka a disposicao,um buffet delicioso e alguma cultura fisica local.
Os pobres do Mundo podem estar a ser discutidos mas ha sempre alguem que aproveita estes momentospara descansar o corpo e a alma, que bem precisam.
Cobrir a cimeira cansa, acho mesmo que nem vai dar tempo para conhecer a St. Petersburgo tao gabada e tao sonhada. Trabalho oblige.
No minimo estive a um passo de Bush e Putin, levei mesmo um encontrao de um seguranca pois andando a volta da mesa da cimeira a fotografar ia tropecando no George.
A chegada dos lideres e feita com grande sentido da encenacao. Alguns sao mesmo maquilhados para melhor aparecerem na televisao, caso de Blair e Bush.
Putina a mulher de Putin
O presidente americano aparece com aquele ar de triunfo e Blair faz questao em chegar a pe durante dezenas de metros, abdicando de vir num carro de golfe, o mesmo que George Bush quis conduzir. Putin esperava-os a porta e cumprimentava com aquele seu ar frio e enigmatico.
Putina, que e a mulher de Putin, organizou um debate entre as outras sobre a educacao no Mundo.
sexta-feira, julho 14, 2006
Na Portela a caminho do G8
As salas de partida dos aeroportos sempre despertaram em mim um sentimento de aventura.
Ainda puto, com 13-14 anos, fugia do Pote d` Àgua onde morava com os meus pais e ia tomar café e fumar cigarrilhas café-creme para o bar do Aeroporto da Portela.
Achava as estrangeiras o máximo do charme e via nas hospedeiras o protótipo da mulher livre, independente e sempre produzida. O basbaque imberbe...
Ficava para ali sentado a observar, sonhava com o dia em que faria a minha primeira viagem de avião. Eram os anos setenta, um Portugal pobre e fuinha e eu que lera O Prémio de Irving Wallace imaginava o mundo moderno a partir de uma sala de embarque de um aeroporto.
Hoje aqui estou na sala de embarque a escassos metros do local onde via partir os personagens da minha imaginação.
Contínuo a ficar fascinado com este ambiente. Cada uma destas figuras leva consigo um bilhete para uma história, um destino. Vai haver alguém ansioso por uma espera, um trabalho a fazer, um projecto a concretizar.
Dentro de um avião viajam os melhores motivos do Mundo. Há saudades e paixões em espera, destinos que se cruzam, vidas em movimento.
E o som da menina nos altifalantes contínua a mesma como há 40 anos.
Ainda puto, com 13-14 anos, fugia do Pote d` Àgua onde morava com os meus pais e ia tomar café e fumar cigarrilhas café-creme para o bar do Aeroporto da Portela.
Achava as estrangeiras o máximo do charme e via nas hospedeiras o protótipo da mulher livre, independente e sempre produzida. O basbaque imberbe...
Ficava para ali sentado a observar, sonhava com o dia em que faria a minha primeira viagem de avião. Eram os anos setenta, um Portugal pobre e fuinha e eu que lera O Prémio de Irving Wallace imaginava o mundo moderno a partir de uma sala de embarque de um aeroporto.
Hoje aqui estou na sala de embarque a escassos metros do local onde via partir os personagens da minha imaginação.
Contínuo a ficar fascinado com este ambiente. Cada uma destas figuras leva consigo um bilhete para uma história, um destino. Vai haver alguém ansioso por uma espera, um trabalho a fazer, um projecto a concretizar.
Dentro de um avião viajam os melhores motivos do Mundo. Há saudades e paixões em espera, destinos que se cruzam, vidas em movimento.
E o som da menina nos altifalantes contínua a mesma como há 40 anos.
Editora de fotografia do NYT online
A editora adjunta de fotografia do New York Times Michel McNally está a responder online a questões postas pelos leitores. Muito interessante de ler. Pergunte aqui.
quinta-feira, julho 13, 2006
Angelina Jolie volta de tigreza
Está escrito no firmamento cinematográfico. Angelina Jolie vai voltar aos seus papeís de má da fita, agora vestida de tigreza e outros acessórios. Depois do período de parto aí está a grande apoiante de Guterres na luta a favor dos refugiados no Mundo, a retomar uma carreira imparável.
E nós há espera para vermos.
E nós há espera para vermos.
Presidente Cavaco Saiu mesmo no fim
Afinal o Presidente Cavaco Silva saiu depois do final do Portugal-França. Fui enganado pela notícia da SIC - que depois foi rectificada e eu já não ouvi.
Voz amiga, e próxima de Belém, fez-me chegar a advertência e eu já apaguei a piada da postagem.
Aproveito para declarar que embirro com o cavaquismo mas que nutro uma simpatia muito especial pelo casal Cavaco Silva. Sempre me trataram com muita consideração e as duas vezes que fui recebido nas suas casas de férias, primeiro na Mariani depois na actual ( que tem nome de pássaro mas agora não me lembro !), fui-o com grande deferência.
Depois o Fernando Lima, assessor do Presidente, é uma pessoa que muito admiro e por quem tenho uma amizade sincera, para não falar no Luis Filipe Catarino, actual fotógrafo da presidência, um amigo e fotógrafo excepcional.
Aliás com o casal Eanes passou-se algo idêntico. Detestava o eanismo, que quis ser um peronismo à portuguesa com aquela cegada do PRD, mas no contacto pessoal quer o general Eanes quer a Dra. Manuela Eanes são duas pessoas de uma dimensão humana notável.
No fundo a política é o que menos interessa quando o tempo nos devolve a dimensão mais verdadeira das coisas e das pessoas.
Voz amiga, e próxima de Belém, fez-me chegar a advertência e eu já apaguei a piada da postagem.
Aproveito para declarar que embirro com o cavaquismo mas que nutro uma simpatia muito especial pelo casal Cavaco Silva. Sempre me trataram com muita consideração e as duas vezes que fui recebido nas suas casas de férias, primeiro na Mariani depois na actual ( que tem nome de pássaro mas agora não me lembro !), fui-o com grande deferência.
Depois o Fernando Lima, assessor do Presidente, é uma pessoa que muito admiro e por quem tenho uma amizade sincera, para não falar no Luis Filipe Catarino, actual fotógrafo da presidência, um amigo e fotógrafo excepcional.
Aliás com o casal Eanes passou-se algo idêntico. Detestava o eanismo, que quis ser um peronismo à portuguesa com aquela cegada do PRD, mas no contacto pessoal quer o general Eanes quer a Dra. Manuela Eanes são duas pessoas de uma dimensão humana notável.
No fundo a política é o que menos interessa quando o tempo nos devolve a dimensão mais verdadeira das coisas e das pessoas.
Fotojornalismo em debate
Muito vibrante o debate de ontem no Instituto da Juventude de Leiria, organizado pelo Paulo Cunha, grande repórter da zona centro.
Entre Carriço, Alfredo Cunha e eu existem divergências óbvias no que respeita ao presente e futuro do fotojornalismo.
Carriço enquadra o fotojornalismo na perspectiva das agências, com base na LUSA e Cunha não consegue esconder uma evidente nostalgia pela fotografia em suporte tradicional, apesar de ele ser um utilizador muito advertido do digital, que tanto quanto sei o manipula de uma forma mais avançada do que eu.
A maior divergência está em que eu sou um optimista. Acho que há um fluxo de gente nova com “pica”, qualidade, talento, entusiasmo e resistência física e acredito que os jornais estão a mudar, os leitores sobretudo e que a internet veio ainda questionar mais o exercício da profissão.
Estão ai novos desafios, novas linguagens e novos suportes e o público é cada vez mais participante, parte envolvida na notícia.
A relação afectiva com os leitores será cada vez maior, logo o fotojornalismo irá reflectir estas tendências.
Continuará a haver fotojornalismo de autor mas a prática diária passará a ser mais multimédia, mais imediata, rápida.
Os leitores serão cada vez mais fornecedores de conteúdos, bracking news, o que não quer dizer que passem a fazer jornalismo ou a editar.
O debate alongou-se já passava da meia-noite. Podíamos ali ter ficado até de madrugada. A noite pedia cama.
A A8 deserta, ao som de Miles Davis, era uma fita sem fim, uma noite quente com mosquitos a desfazerem-se no pára-brisas.
Entre Carriço, Alfredo Cunha e eu existem divergências óbvias no que respeita ao presente e futuro do fotojornalismo.
Carriço enquadra o fotojornalismo na perspectiva das agências, com base na LUSA e Cunha não consegue esconder uma evidente nostalgia pela fotografia em suporte tradicional, apesar de ele ser um utilizador muito advertido do digital, que tanto quanto sei o manipula de uma forma mais avançada do que eu.
A maior divergência está em que eu sou um optimista. Acho que há um fluxo de gente nova com “pica”, qualidade, talento, entusiasmo e resistência física e acredito que os jornais estão a mudar, os leitores sobretudo e que a internet veio ainda questionar mais o exercício da profissão.
Estão ai novos desafios, novas linguagens e novos suportes e o público é cada vez mais participante, parte envolvida na notícia.
A relação afectiva com os leitores será cada vez maior, logo o fotojornalismo irá reflectir estas tendências.
Continuará a haver fotojornalismo de autor mas a prática diária passará a ser mais multimédia, mais imediata, rápida.
Os leitores serão cada vez mais fornecedores de conteúdos, bracking news, o que não quer dizer que passem a fazer jornalismo ou a editar.
O debate alongou-se já passava da meia-noite. Podíamos ali ter ficado até de madrugada. A noite pedia cama.
A A8 deserta, ao som de Miles Davis, era uma fita sem fim, uma noite quente com mosquitos a desfazerem-se no pára-brisas.
terça-feira, julho 11, 2006
Debate abrupto em Leiria
Eu com Alfredo Cunha na inauguração de uma exposição de fotografia no ano passado
Amanhã sou convidado para falar em Leiria sobre fotojornalismo no Instituto da Juventude.
É com grande prazer que vou poder estar ao lado de Alfredo Cunha e de Paulo Carriço, dois colegas fotógrafos que muito prezo. O convite é do Paulo Cunha.
O Alfredo é para mim uma referência profissional. Ainda eu era um amador " adverti" e já via fotografias dele na Cinéfilo, uma revista editada pelo Século com a direcção do Fernando Lopes, onde o Pedro Sousa Dias começava a publicar umas fotos granulosas, feitas de super angular, muito underground, muito pop.
Havia o Gageiro e alguns discípulos. O Alfredo era um deles. Sempre enquadrou bem e sempre foi muito cuidadoso com o trabalho de laboratório. Acho que ele começou no laboratório com aulas do velho mestre Paixão, o nosso Steinmetz.
As fotografias do Alfredo têm sempre aquela referência neo-realista mas confesso que admiro o seu trabalho pela coerência e qualidade profissional. Ele tinha o dom de me irritar principalmente quando me chamava de " petit Henri".
A melhor cena com o Alfredo tive-a no Alentejo há uns 7 anos.
Apanhei-o em Monsaraz a seguir um ministro qualquer como fotógrafo oficial.
Acabou por me pedir boleia no meu carro para Évora.
Eu tinha acabado de comprar um BMW 525 tds usado - como aliás sempre faço com carros: só compro usados- e durante a viagem fui gabando as qualidades da máquina, com ele a concordar. Quando me pediu para o deixar no parque de estacionamento, já em Évora, aproximou- se de um BMW 530D, novo, meteu a chave e disse-me adeus. Esta cena é um excelente retrato da personalidade do Alfredo.
Espero que amanhã ele não me apareça com uma E 320 CDI !!!...
Penso amanhã desenvolver o tema do fotojornalismo e do conceito de jornalismo multimédia. O fotojornalismo vai evoluir para novas formas de expressão e em novos suportes.
O debate vai aquecer espero bem com a zona centro ao rubro.
Até lá.
Amanhã sou convidado para falar em Leiria sobre fotojornalismo no Instituto da Juventude.
É com grande prazer que vou poder estar ao lado de Alfredo Cunha e de Paulo Carriço, dois colegas fotógrafos que muito prezo. O convite é do Paulo Cunha.
O Alfredo é para mim uma referência profissional. Ainda eu era um amador " adverti" e já via fotografias dele na Cinéfilo, uma revista editada pelo Século com a direcção do Fernando Lopes, onde o Pedro Sousa Dias começava a publicar umas fotos granulosas, feitas de super angular, muito underground, muito pop.
Havia o Gageiro e alguns discípulos. O Alfredo era um deles. Sempre enquadrou bem e sempre foi muito cuidadoso com o trabalho de laboratório. Acho que ele começou no laboratório com aulas do velho mestre Paixão, o nosso Steinmetz.
As fotografias do Alfredo têm sempre aquela referência neo-realista mas confesso que admiro o seu trabalho pela coerência e qualidade profissional. Ele tinha o dom de me irritar principalmente quando me chamava de " petit Henri".
A melhor cena com o Alfredo tive-a no Alentejo há uns 7 anos.
Apanhei-o em Monsaraz a seguir um ministro qualquer como fotógrafo oficial.
Acabou por me pedir boleia no meu carro para Évora.
Eu tinha acabado de comprar um BMW 525 tds usado - como aliás sempre faço com carros: só compro usados- e durante a viagem fui gabando as qualidades da máquina, com ele a concordar. Quando me pediu para o deixar no parque de estacionamento, já em Évora, aproximou- se de um BMW 530D, novo, meteu a chave e disse-me adeus. Esta cena é um excelente retrato da personalidade do Alfredo.
Espero que amanhã ele não me apareça com uma E 320 CDI !!!...
Penso amanhã desenvolver o tema do fotojornalismo e do conceito de jornalismo multimédia. O fotojornalismo vai evoluir para novas formas de expressão e em novos suportes.
O debate vai aquecer espero bem com a zona centro ao rubro.
Até lá.
segunda-feira, julho 10, 2006
Acabou o Mundial está aberta a época dos fogos
O título é desconfortável mas parece uma verdade. Acabado o Mundial a época dos fogos parece ter reacendido em Portugal. Ontem foi a trágica morte de 6 bombeiros,5 deles especialistas chilenos, que aliás já tinham visto há dois anos desaparecerem outros seus compatriotas num incêndio na zona centro ( que nada tem a ver com a Paula Lee!).
Não sei o que leva os chilenos a serem tão bons em apagar fogos. Podem ser bons mas têm um azar dos diabos.
Não sei o que leva os chilenos a serem tão bons em apagar fogos. Podem ser bons mas têm um azar dos diabos.
Zidane de besta a bestial de nouveau
Os jornais internacionais de hoje especulam sobre as razões de Zidane em atacar o colega italiano. Parece que a mãe de Zidane foi ofendida, a irmã caluniada ou que a sua origem argelina terá despoletado a palavra "terrorista" no provocador.
A organização SOS Racismo já está a contabilizar a seu favor.
Os jornalistas enviados ao Mundial elegeram Zidane o melhor jogador do campeonato, apesar de o terem feito antes da cabeçada, e Chirac não lhe poupou louvores e elogios.
De besta, Zidane voltou a bestial.
Grande foto de Eusébio
Itália ganha e Zidane passa-se da carola
A cabeçada do Zidane foi das atitudes mais incríveis já vistas num jogo com a dimensão de uma final mundial. O francês passou-se da carola, é caso para dizer. Impulso ou gesto medido, a verdade é que aquela cabeçada revela muito da arrogância francesa. Quando perdem ficam ainda mais arrogantes e se puderem mais chauvinistas. Portanto: a derrota da França caiu-me bem.
Quando na passada quarta-feira assistia no Arco do Triunfo à algazarra de parisienses que mais pareciam na verdade suburbanos raivosos, só porque ganharam a Portugal e achavam que os portugueses deviam desaparecer da cidade, não posso hoje de servir frio o prato da derrota gaulesa.
Ainda por cima a equipa italiana é mesmo italiana, não há um jogador da selecção que não jogue em Itália, e a atitude desportiva que soube manter dá-lhe uma vitória moral suplementar.
Veja aqui o excelente slideshow do ELMUNDO sobre a grande final.
domingo, julho 09, 2006
Última sessão de Figo salva a face da selecção
Foi bonita a festa mas acabou. As fragilidades da equipa portuguesa acabaram por vir ao de cima e o desempenho de Scolari revelou-se numa estratégia que deu os resultados que deu. É evidente, mesmo para um leigo de futebol como eu, que quando Figo não está a equipa perde muitas possibilidades de marcar. Viu-se a eficácia dele nos últimos minutos e a passagem que ele deu para Nuno Gomes poder marcar o único golo português, não falando no outro infeliz autogolo de Petit.
O engenheiro Sócrates apareceu no final a fazer um elogio politicamente correcto, outra coisa não seria de esperar. Sócrates já parece Guterres nos bons velhos tempos: fala sobre tudo na maior das descontracções, sempre deixando uma áurea de saber esclarecido.
Parece eu a falar de futebol. Eheheh!....
Não querendo ser pessimista, o quarto lugar fica-nos bem. Assim tivéssemos essa posição em pontos fulcrais da nossa vida nacional. Mas isso é conversa para depois das férias.
Eu aqui a ouvir as cigarras no Carrascal, Arraiolos, a escrever por debaixo de uma laranjeira, a esta hora desta noite de verão, também não me apetece nada escrever sobre tristezas.
Rematando: se esta foi a última vez que Figo vestiu a camisola da selecção foi um tempo de muita honra. Mesmo cansado, e com trabalhos para fazer em casa, o rapaz ainda ali está para as curvas e para o estilo.
O engenheiro Sócrates apareceu no final a fazer um elogio politicamente correcto, outra coisa não seria de esperar. Sócrates já parece Guterres nos bons velhos tempos: fala sobre tudo na maior das descontracções, sempre deixando uma áurea de saber esclarecido.
Parece eu a falar de futebol. Eheheh!....
Não querendo ser pessimista, o quarto lugar fica-nos bem. Assim tivéssemos essa posição em pontos fulcrais da nossa vida nacional. Mas isso é conversa para depois das férias.
Eu aqui a ouvir as cigarras no Carrascal, Arraiolos, a escrever por debaixo de uma laranjeira, a esta hora desta noite de verão, também não me apetece nada escrever sobre tristezas.
Rematando: se esta foi a última vez que Figo vestiu a camisola da selecção foi um tempo de muita honra. Mesmo cansado, e com trabalhos para fazer em casa, o rapaz ainda ali está para as curvas e para o estilo.
quinta-feira, julho 06, 2006
Triunfo no Arco
Estou irritado porque não consegui actualizar o blog de Paris. É ridículo: tenho internet num quarto de hotel de Monrovia e em Paris uma placa 3g vodafone não funciona, não tem rede, não tem nada. Foi com grande irritação que não consegui actualizar ontem este blog.
Depois de ter assistido ao grande derby na embaixada de Portugal em Paris, juntamente com a comitiva que representou a moda portuguesa no Portugal Fashion, com o nosso embaixador António Monteiro muito nervoso com o resultado, depois da triste derrota meti-me a pé ao caminho e cheguei ao Arco do Triunfo onde milhares de energúmenos comemoravam a vitória sobre Portugal.
Os portugueses meteram a viola no saco, calaram-se, recolheram às suas casas ( até porque os portugueses em França trabalham) e foi o ferróbodo total francês.
O ambiente era de alegria, mas o que se sentia no ar era mais agressividade e vandalismo do que própriamente regozijo e orgulho nacional. Logo começaram a estragar carros, queimar motas e a lançarem petardos e very lights por todo o lado.Aquele país é um vulcão e qualquer coisa serve para vomitar o ódio social.
No Arco do triunfo eram mais negros, árabes e de outras origens do que propriamente franceses. A polícia estava muito atenta e equipada, pronta a entrar em acção a qualquer momento.
Buzinadelas, gritos e bebedeira não faltaram.
Se tivéssemos ganho não sei sinceramente como teria tudo aquilo acabado.
Depois de ter assistido ao grande derby na embaixada de Portugal em Paris, juntamente com a comitiva que representou a moda portuguesa no Portugal Fashion, com o nosso embaixador António Monteiro muito nervoso com o resultado, depois da triste derrota meti-me a pé ao caminho e cheguei ao Arco do Triunfo onde milhares de energúmenos comemoravam a vitória sobre Portugal.
Os portugueses meteram a viola no saco, calaram-se, recolheram às suas casas ( até porque os portugueses em França trabalham) e foi o ferróbodo total francês.
O ambiente era de alegria, mas o que se sentia no ar era mais agressividade e vandalismo do que própriamente regozijo e orgulho nacional. Logo começaram a estragar carros, queimar motas e a lançarem petardos e very lights por todo o lado.Aquele país é um vulcão e qualquer coisa serve para vomitar o ódio social.
No Arco do triunfo eram mais negros, árabes e de outras origens do que propriamente franceses. A polícia estava muito atenta e equipada, pronta a entrar em acção a qualquer momento.
Buzinadelas, gritos e bebedeira não faltaram.
Se tivéssemos ganho não sei sinceramente como teria tudo aquilo acabado.
terça-feira, julho 04, 2006
Moda à hora do futebol
Foto de Bruce Gilden/Magnum
Amanhã vou até Paris fotografar a presença da moda portuguesa. Confesso que estou cheio de saudades da "minha" cidade. Vou estar em França no dia do duelo Portugal - França. Ou vamos ganhar e vou ter de falar francês ou perdemos ( o que não espero mesmo nada) e terei também de falar françês.
Vai ser irritante estar a fotografar manequins a passarem roupa portuguesa ao mesmo tempo que o Ronaldo mete um golo. Trabalho oblige.
De toda a forma aqui fica uma fotografia de um mestre da Magnum, Bruce Gilden, que eu gostaria de levar na minha cabeça.Para inspiração.
Amanhã vou até Paris fotografar a presença da moda portuguesa. Confesso que estou cheio de saudades da "minha" cidade. Vou estar em França no dia do duelo Portugal - França. Ou vamos ganhar e vou ter de falar francês ou perdemos ( o que não espero mesmo nada) e terei também de falar françês.
Vai ser irritante estar a fotografar manequins a passarem roupa portuguesa ao mesmo tempo que o Ronaldo mete um golo. Trabalho oblige.
De toda a forma aqui fica uma fotografia de um mestre da Magnum, Bruce Gilden, que eu gostaria de levar na minha cabeça.Para inspiração.
segunda-feira, julho 03, 2006
O Novo Expresso online
Aí está a nova Homepage do Expresso.Respira, é simples e de boa navegabilidade. Percebe-se que é um grafismo que remete para alguns dos conceitos gráficos da edição em papel de uma forma assumida. Acho que já tardava esta aragem gráfica que é também uma mudança nos conteúdos e na forma de os editar.
Eu que durante 9 meses fui o editor multimédia que fez a transição entre o "velho" e o agora renovado online não posso deixar de sentir esta criança também um pouco como minha. Aliás bastaria trabalhar no Expresso para o sentir, não fosse a nossa redacção convergente e solidária em torno da marca Expresso.
As breves da SIC são muito bem usadas e a zona de blogues e multimédia marcam toda a diferença para o restante dos jornais nacionais online.
Desejo que em breve possamos dizer que ultrapassámos em audiência o Público ( líder) que está a escassos pontos de avanço do Expresso. Não vai ser difícil.
domingo, julho 02, 2006
Murdoch disse
Não resisto a citar esta frase de Rupert Murdoch, descoberta por Paulo Querido e transcrita no seu blog ( ver links preferidos ao lado)
Can newspapers make money online? Sure. Can they make enough to replace what’s going out? At the moment, with the Internet so competitive, so new, and so cheap, the answer is no. But don’t look at it as a newspaper – look at it as a journalistic enterprise. If you’ve got authority and trust, if you can make the news interesting, you’ll survive” Rupert Murdoch
Can newspapers make money online? Sure. Can they make enough to replace what’s going out? At the moment, with the Internet so competitive, so new, and so cheap, the answer is no. But don’t look at it as a newspaper – look at it as a journalistic enterprise. If you’ve got authority and trust, if you can make the news interesting, you’ll survive” Rupert Murdoch
Viva Portugal !
Confesso que chorei no final do Portugal - Inglaterra. Também não é nenhuma proeza em mim: sou como o Sampaio choro por tudo e por nada. Talvez seja um tique dos nativos da Virgem. Apesar de não crer nessa espontaneidade em duas pessoas meus superiores hierárquicos, também virgens. Oxalá não o façam em privado, eu ficaria mais seguro da imparcialidade das suas decisões.(!)
A verdade é que primeiro adormeci quando o jogo estava no clímax quando era o tudo ou nada. Mas o sofá da minha casa no Alentejo, os ares do Carrascal e a inenarrável pachorra do Óscar, o meu hasset hound, são contagiantes no sono. Eu durmo sempre que posso e não devo. Uma vez não devia e estampei o BMW contra um poste.
Dormi e quando acordei, perante o ar desaprovador da minha mulher, ia começar a cegada dos penalties. Comecei por me emocionar com um plano em que se viam os jogadores abraçados, compactados, unidos. Maravilhoso.
As lágrimas vieram então com o plano forte do Ronaldo a agradecer ao céu tanta felicidade.
O orgulho encheu-me o peito, estremeceu-me a alma, devolveu-me um sentimento antigo, quando era puto e andava na Mocidade Portuguesa e achava na minha candura que ser português era ir no Dia da Raça ao Estádio Nacional cantando e rindo.
Vale a pena ter uma equipa como a nossa.Estou à vontade: não sou grande adepto da bola e foi o meu filho André, 30 anos, que me despertou há alguns anos para a causa sportinguista. Passei até a subscrever o serviço SMS de alertas para os jogos dos leões.
Hoje reconciliei-me para o futebol entre sorna e lágrimas. Não porque ganhámos: nós já ganhámos mesmo que tudo se venha a transformar numa derrota. Chorei pela alegria de neste país se ter construído uma vitória com fé, determinação, acção.
A qualidade do jogo, visível e sentida mesmo para um analfabruto da bola, o espírito de equipa, a vontade de triunfar, o desempenho afirmativo sem complexos perante uma equipa temível, tudo isto e muito mais não parecia de portugueses.
Afinal podemos vencer e ser tão bons como os melhores. No futebol e na vida.
Esta é a nossa grande lição no Mundial.
Oxalá contamine todos nós. Bem precisamos.
Viva a bola, viva Portugal !!!....
A verdade é que primeiro adormeci quando o jogo estava no clímax quando era o tudo ou nada. Mas o sofá da minha casa no Alentejo, os ares do Carrascal e a inenarrável pachorra do Óscar, o meu hasset hound, são contagiantes no sono. Eu durmo sempre que posso e não devo. Uma vez não devia e estampei o BMW contra um poste.
Dormi e quando acordei, perante o ar desaprovador da minha mulher, ia começar a cegada dos penalties. Comecei por me emocionar com um plano em que se viam os jogadores abraçados, compactados, unidos. Maravilhoso.
As lágrimas vieram então com o plano forte do Ronaldo a agradecer ao céu tanta felicidade.
O orgulho encheu-me o peito, estremeceu-me a alma, devolveu-me um sentimento antigo, quando era puto e andava na Mocidade Portuguesa e achava na minha candura que ser português era ir no Dia da Raça ao Estádio Nacional cantando e rindo.
Vale a pena ter uma equipa como a nossa.Estou à vontade: não sou grande adepto da bola e foi o meu filho André, 30 anos, que me despertou há alguns anos para a causa sportinguista. Passei até a subscrever o serviço SMS de alertas para os jogos dos leões.
Hoje reconciliei-me para o futebol entre sorna e lágrimas. Não porque ganhámos: nós já ganhámos mesmo que tudo se venha a transformar numa derrota. Chorei pela alegria de neste país se ter construído uma vitória com fé, determinação, acção.
A qualidade do jogo, visível e sentida mesmo para um analfabruto da bola, o espírito de equipa, a vontade de triunfar, o desempenho afirmativo sem complexos perante uma equipa temível, tudo isto e muito mais não parecia de portugueses.
Afinal podemos vencer e ser tão bons como os melhores. No futebol e na vida.
Esta é a nossa grande lição no Mundial.
Oxalá contamine todos nós. Bem precisamos.
Viva a bola, viva Portugal !!!....
sábado, julho 01, 2006
Freitas afinal estava cansado
A polémica sobre o título do EXPRESSO " Freitas cansado do MNE", de há semanas atrás faz agora todo o sentido.
O ministro dos negócios estrangeiros estava cansado, tinha-o dito e tinha ficado claro que era cansaço fisico. Hoje a verdade reafirmou-se.
Acompanhei os últimos minutos de Freitas do Amaral no MNE. Ele aceitou deixar-se fotografar por mim. A compreensão de Carneiro Jacinto e a confiança que o professor deposita em mim desde que fiz há anos em Nova Iorque uma reportagem para o EXPRESSO, proporcionaram a fotografia que faz hoje manchete no EXPRESSO: o ministro demissionário olha uma televisão onde Carneiro Jacinto explica em directo ao país as razões da saída.
Depois lá dentro ainda outra foto com ele sentado à secretária assinando louvores a funcionários.
Deu-me muito gôzo fazer estas fotografias. Fotojornalismo puro e duro.
O ministro dos negócios estrangeiros estava cansado, tinha-o dito e tinha ficado claro que era cansaço fisico. Hoje a verdade reafirmou-se.
Acompanhei os últimos minutos de Freitas do Amaral no MNE. Ele aceitou deixar-se fotografar por mim. A compreensão de Carneiro Jacinto e a confiança que o professor deposita em mim desde que fiz há anos em Nova Iorque uma reportagem para o EXPRESSO, proporcionaram a fotografia que faz hoje manchete no EXPRESSO: o ministro demissionário olha uma televisão onde Carneiro Jacinto explica em directo ao país as razões da saída.
Depois lá dentro ainda outra foto com ele sentado à secretária assinando louvores a funcionários.
Deu-me muito gôzo fazer estas fotografias. Fotojornalismo puro e duro.
Homem Cardoso, o fotógrafo retratado
Acabo de ler na Sábado desta semana uma magnifica entrevista do meu amigo António Homem Cardoso. Conheço-o há 30 anos e sou seu amigo há pelo menos vinte.
Com o António partilho paixões comuns: a fotografia, a Beira-Alta, as motas clássicas ( sobretudo as BMW), a luz, o sentido de humor e a alergia ao novo-riquismo. Temos muito mais coisas em comum, exceptuando o seu ódio a Mário Soares que cultiva sem grande razão, digo eu.
Também temos divergências: ele gosta de Nikon, eu prefiro Canon. Mas nos carros convergimos nos nossos 911, 525 tds, Vespa 200 GT.
O António abriu-me sempre as portas do seu estúdio na lapa, Lisboa, para trabalhos meus que muitas vezes, sem eu o saber, entravam em concorrência com ele. Ajudou-me na iluminação e a sua presença estimulante.
Ainda há pouco tempo estive por lá a fotografar Manuel Alegre. A sessão acabou com uma divertida cavaqueira anti-Cavaco.
A entrevista do António à Sábado é um testemunho vivo da sua personalidade: forte, afectiva, corrosiva e cândida.
Um grande abraço António e trata-me bem a BMW 69s que te vendi há anos. ( a minha primeira mota)
Com o António partilho paixões comuns: a fotografia, a Beira-Alta, as motas clássicas ( sobretudo as BMW), a luz, o sentido de humor e a alergia ao novo-riquismo. Temos muito mais coisas em comum, exceptuando o seu ódio a Mário Soares que cultiva sem grande razão, digo eu.
Também temos divergências: ele gosta de Nikon, eu prefiro Canon. Mas nos carros convergimos nos nossos 911, 525 tds, Vespa 200 GT.
O António abriu-me sempre as portas do seu estúdio na lapa, Lisboa, para trabalhos meus que muitas vezes, sem eu o saber, entravam em concorrência com ele. Ajudou-me na iluminação e a sua presença estimulante.
Ainda há pouco tempo estive por lá a fotografar Manuel Alegre. A sessão acabou com uma divertida cavaqueira anti-Cavaco.
A entrevista do António à Sábado é um testemunho vivo da sua personalidade: forte, afectiva, corrosiva e cândida.
Um grande abraço António e trata-me bem a BMW 69s que te vendi há anos. ( a minha primeira mota)
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