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sábado, julho 29, 2006

A pianista, o comendador e o idiota

A birra de Maria João Pires em abandonar Portugal e ir viver para o Brasil veio revelar uma realidade bem diferente daquela que a artista tinha evocado para se divorciar da pátria. Afinal, segundo o Público de hoje, a artista tinha recebido desde 2000 para a sua obra cultural na Beira Baixa 500 mil contos, em moeda antiga. Sem contabilizar outras doações vindas nomeadamente da PT a título de mecenato.
Ficámos a saber, eu não sabia, que aquela verba era basicamente para subsidiar o trabalho de um grupo de crianças, cerca de 60. Ainda fiquei a saber que a verba dada pelo Estado e autarquia nunca foi justificada nos seus gastos.
É espantoso como a cultura pode absorver verbas deste montante sem controle das entidades que entram com o dinheiro.
Maria João Pires é uma artista acima de qualquer suspeita, mas não pode ter impunidade, nem imunidade, quando estão em causa dinheiros de todos nós.
Se aquelas crianças, adoráveis como todas as crianças do Mundo, recebem verbas de tal forma extraordinárias, porque tenho eu de pagar um balúrdio, mesmo para os meus rendimentos, para que o meu filho possa ter um ensino normal, numa escola normal, mas que tem de ser privada porque não há pública na minha zona, e moro no Estoril ?
Eu também quero um subsídio e o Papião, o colégio do David, também deve ter direito porque não é uma escola pior do que a da pianista Maria João Pires. E tem mais de 60 crianças.
Haja decoro, e já agora que a artista ensaie junto de Lula e do seu ministro ambulante da cultura um subsídiozinho para a sua casa junto ao mar na Bahia.

Outro caso cultural revelado em primeira mão pelo Presidente Cavaco Silva é o do contrato leonino entre o Estado, representado pelo governo de Sócrates e o comendador Joe Berardo. Pela primeira vez estou de alma e coração com o PR. Como é possível aceitar tais condições? Quer dizer: vamos pagar uma barbaridade por uma colecção de arte contemporânea que ainda não está segura no seu valor real de mercado e nem sequer o Estado, nós pagantes, podemos ter possibilidade de gerir os monos?
Berardo sabe-a toda, não fosse madeirense e rico como é. Por mim tiro-lhe o chapéu, mas Sócrates é que fica mal, muito mal no retrato pós-moderno.

Terceiro caso cultural: a venda do Rivoli no Porto. Se Sócrates tem medo da cultura, já Rui Rio adora exorcizar os seus fantasmas de grunho e dispara sobre tudo o que lhe cheira a cultura.
A frase célebre, “ quando me falam de cultura puxo logo da pistola! ”, não pode assentar melhor ao autarca invicto e convicto da sua barbárie. É uma vergonha para o Porto o que está a ser feito à cidade que na última década soube crescer em prestígio cultural.
Rio é o género de pessoas arrogantes que quando não gosta ou não percebe uma coisa, destrói-a.
Para ele cultura é bandas em coretos,
A alarvidade destes autarcas que nos sugam os impostos ( lá vão eles mamar mais 5 por cento do nosso IRS) está bem exemplificada neste cromo da caderneta PSD ( mas podia ser PS ou CDS) que ainda por cima se gaba com aquele riso idiota das suas tropelias de cabouqueiro.

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