Crónica deste mês na Fotodigital:
O ano que passou foi um bom ano para a fotografia.
Tecnicamente a apresentação da tão desejada Leica M8 foi a grande novidade para os fanáticos da fotografia pura, embora a Rd1 já tivesse satisfeito os mais ansiosos por uma digital de telémetro.
Mas isto terá sido o menor.
A verdade é que uma nova geração de fotógrafos se tem vindo a afirmar em Portugal com resultados admiráveis. Este ano de 2006 foi o culminar dessa afirmação.
É uma ironia: à medida que o mercado encolhe, mais jovens fotógrafos aparecem cheios de talento e vontade de vencer. Talvez porque agora estou mais próximo da edição tenho conhecido fotógrafos que me espantam pela qualidade dos seus portfolios.
Há uma geração a apostar no fotojornalismo, sedenta de publicar histórias, competente a fotografar, desde a técnica á qualidade gráfica dos enquadramentos.
Jovens fotógrafos com cultura fotográfica e jornalística.
Por outro lado, as jovens agências de fotografia portuguesa têm ganho peso mesmo a nível internacional.
Discretamente agências como a 4see e a kamerafoto têm tido uma importância relevante na divulgação do fotojornalismo português no estrangeiro, com presença regular no Festival de Perpignam.
Alguns nomes eu gostaria de citar aqui pela surpresa que me causaram os seus trabalhos.
A Pauliana Valente tem feito um trabalho aprofundado sobre imigrantes e cultura popular. O seu ensaio sobre os travestis é soberbo e confere o talento de fotógrafa muito influenciada pela escola da Magnum. Jordi Burch é outro dos fotógrafos que muito aprecio. As suas fotografias são de uma espontaneidade sincera, técnica simples e eficaz, a luz trabalhada com alma disponível, isto é: a melhor luz é aquela que escolhemos em função da intenção, logo da hora do dia. Jordi satura na côr, entorna nos enquadramentos, as suas imagens parecem por vezes ter o balanço das môrnas que ele tanto aprecia.
Mesmo correndo o risco de poder parecer parcial não posso deixar de citar Tiago Miranda e José Ventura que trabalhando comigo no Expresso, têm demonstrado uma rara capacidade de inovar o fotojornalismo. E se Tiago Miranda surpreende muitas vezes pela sensibilidade e pelo apuro estético, José Ventura revela-se pela força das imagens afirmativas tão de acordo com a sua maneira de ser. Outros nomes poderei citar como a Susana Paiva, o Augusto Brázio, cada um no seu estilo. A Susana tem um olhar terno sobre o Mundo, o Augusto uma síntese visual admirável sobre o carácter dos retratados. Mais parcial ainda: a revelação que é para mim o André Carvalho, por coincidência meu filho, que com as suas fotografias de desportos radicais como o snowboard e o surf tem demonstrado que se pode ir mais além do que fotografar apenas e só o desporto.
A ideia de que os fotógrafos de imprensa são uma cambada de ignorantes, bate-chapas e mal formados está definitivamente a ser abolida.
A imprensa está a mudar e esta nova geração de fotojornalistas, está aí para provar que a fotografia de imprensa é muito mais do que fotografar.
Quase todos estes jovens fotógrafos estão interessados na linguagem multimédia. Filmam e editam vídeo. E são dos fotógrafos mais ortodoxos que tenho conhecido.
A pior coisa que eu poderia ouvir sobre a minha geração era que "éramos uns mafiosos e que não deixávamos ninguém mais novo trabalhar", como amargamente dizia o Gageiro( na entrevista que me deu e á Ana Soromenho para a Única) daqueles que teve de vencer para poder fotografar.
Os tempos felizmente mudaram. O futuro já começou.
Luiz Carvalho
Andei os ultimos 2 anos esquecido. Lembrei-me de tudo no Domingo passado. Não sei se foi milagre mas acreditem que me caiu uma lágrima no meio da Igreja,logo eu q n punha lá os pés desde... desde a última vez que fui obrigado a lá pôr os pés. Foi muito bom. Senti-me enferrujado mas a ser oleado com o melhor lubrificante do mercado, a adrenalina. Isto deve ser mesmo bom para um gajo ter um rush de adrenalina no meio de uma igreja branca, seca, cheia velhotas que de tão repetidos dias sem novidade já nem na cara reflectem diferença, ou pelo menos não a vi.
ResponderEliminarJá me tinha esquecido da energia que se apodera de nós quando se empunha a máquina na mão. Culpa minha por me ter deixado absorver com outras batalhas. Não tenho jeito jeito para batalhas, ou rebento com o inimigo ou sou eu que vou pelos ares, acho que gosto mesmo é da luta paralela de acompanhar vencedores, vencidos, e "viventes". Dá-me um gozo especial.
Neste momento sinto-me impotente perante tanta foto que fiz nos ultimos 10 anos e que esqueci após carregar no botão , não sei se as procuro e organizo para seguir em frente com disparos novos, ou se as deixo, como se me tratasse de um dinossauro deixando para outros a pesquisa das minhas pegadas, e continuo a acumular "quadrados e rectangulos".
Seja como fôr, a partir de Domingo passado, estou de novo num caminho que eu gosto, não pelo antes ou para proporcionar qualquer depois,mas mesmo pelo gozo do durante.
E por isso,obrigado Luiz, e obrigado de novo por escrever,aqui ,pelos outros. Nem só os carros precisam de um encosto de bateria quando estão parados à tempo demais. E acredito que lhe saiba bem saber que tem energia tanto para passar a veículos velhos e cansados como a novos e "distraídos".
a força da nova geração, vem da inspiração que a velha traz;)
ResponderEliminarbeijinhos!
Obrigado Andrini
ResponderEliminarEsta crônica na foto digital ainda não chegou por aqui no brasil. A foto digital chega com certo atraso nestas bandas mas é curioso ver que as questões levantadas nos teus textos encontram muitos ecos aqui na ex-colônia. Sobretudo em relação a total falta de poder dos editores de foto e do modo como o que é produzido é publicado. Mas em termos de mercado e produtos não acho o lançamento da m8 tão importante assim.
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