A primeira memória que tenho de Goa remonta à minha meninice, início dos anos sessenta, logo a seguir à anexação por parte da Índia.
O meu pai tinha uma tabacaria em Alvalade, Lisboa, e chegou um senhor com um ar muito solene, muito bem vestido, já de uma certa idade, que num português estranho lhe pede uma cadeira para ser atendido ao balcão.
O meu pai atrapalhado tenta descobrir uma cadeira no acanhado escritório e coloca-a frente ao balcão. O senhor senta-se numa posição majestosa e começa a pedir artigos para ver. O meu pai trá-los à sua mão, ele olha com desdém e vai dando ordens. Acabou por levar qualquer coisa que acho que só pagou mais tarde.
«É um juiz de Goa que veio agora fugido do Neru», alguém comentou.
O homem continuava a ir à tabacaria e durante algum tempo foi tratado como um nababo. Julgava que ainda estava em Goa a ser servido por lacaios e afins.
O meu pai ainda hoje detesta “ monhés” até porque os que vieram a seguir estavam-se nas tintas para os salamaleques e o que queriam era fazer concorrência no negócio mesmo que tivessem de viver como párias.
Não será uma descrição muito politicamente correcta mas é a realidade.
Há 15 anos Goa era uma terra pitoresca, de casas coloniais, letreiros ainda em português, comércio pobre e uma luz que marca o relevo com sombras violentas.
Hoje parece o Algarve no inicio dos anos setenta. O imobiliário aí está com a fúria da ganância, se quiserem do progresso e do desenvolvimento de um turismo que não me parece de grande qualidade.
A paisagem está suburbana, os outdoors são atrevidos e provocadores, quebram as tradições religiosas, incitam ao consumo desenfreado. Como vai a Índia domar este animal que cresce como uma hidra contaminadora, não sei.
Fotografei duas horas fugindo ao programa do Presidente que tem sido o mais anti-fotogénico que se possa imaginar. Andar a vaguear pelas ruas é pacifico, trazia 4 máquinas fotográficas, ninguém me incomodou. Mesmo havendo por aqui a coabitação de raças e religiões tudo aparentemente corre bem.
Também aqui se sente algum avanço muçulmano e há facções que insistem na independência numa base conservadora mas é uma ideia viva.
Pequenos pormenores que contam numa viagem: aqui os serviços são mais lentos e incompetentes, os goeses parece terem herdado algo de pior que nós temos: lentidão, incompetência e alguma falta de simpatia. Vê-se logo que os ingleses não andaram por aqui.
Amanhã o Presidente vai à missa e ser doutorado Honoris causa. Para acabar o dia Katia Guerreiro e um jantar para rebater.
O meu pai tinha uma tabacaria em Alvalade, Lisboa, e chegou um senhor com um ar muito solene, muito bem vestido, já de uma certa idade, que num português estranho lhe pede uma cadeira para ser atendido ao balcão.
O meu pai atrapalhado tenta descobrir uma cadeira no acanhado escritório e coloca-a frente ao balcão. O senhor senta-se numa posição majestosa e começa a pedir artigos para ver. O meu pai trá-los à sua mão, ele olha com desdém e vai dando ordens. Acabou por levar qualquer coisa que acho que só pagou mais tarde.
«É um juiz de Goa que veio agora fugido do Neru», alguém comentou.
O homem continuava a ir à tabacaria e durante algum tempo foi tratado como um nababo. Julgava que ainda estava em Goa a ser servido por lacaios e afins.
O meu pai ainda hoje detesta “ monhés” até porque os que vieram a seguir estavam-se nas tintas para os salamaleques e o que queriam era fazer concorrência no negócio mesmo que tivessem de viver como párias.
Não será uma descrição muito politicamente correcta mas é a realidade.
Há 15 anos Goa era uma terra pitoresca, de casas coloniais, letreiros ainda em português, comércio pobre e uma luz que marca o relevo com sombras violentas.
Hoje parece o Algarve no inicio dos anos setenta. O imobiliário aí está com a fúria da ganância, se quiserem do progresso e do desenvolvimento de um turismo que não me parece de grande qualidade.
A paisagem está suburbana, os outdoors são atrevidos e provocadores, quebram as tradições religiosas, incitam ao consumo desenfreado. Como vai a Índia domar este animal que cresce como uma hidra contaminadora, não sei.
Fotografei duas horas fugindo ao programa do Presidente que tem sido o mais anti-fotogénico que se possa imaginar. Andar a vaguear pelas ruas é pacifico, trazia 4 máquinas fotográficas, ninguém me incomodou. Mesmo havendo por aqui a coabitação de raças e religiões tudo aparentemente corre bem.
Também aqui se sente algum avanço muçulmano e há facções que insistem na independência numa base conservadora mas é uma ideia viva.
Pequenos pormenores que contam numa viagem: aqui os serviços são mais lentos e incompetentes, os goeses parece terem herdado algo de pior que nós temos: lentidão, incompetência e alguma falta de simpatia. Vê-se logo que os ingleses não andaram por aqui.
Amanhã o Presidente vai à missa e ser doutorado Honoris causa. Para acabar o dia Katia Guerreiro e um jantar para rebater.
É bom saber que, mesmo à distância, continua a "alimentar" o blogue.
ResponderEliminarCumps. e continuação de boa viagem.
Papelaria em Alvalade?!!!!
ResponderEliminarTerei lá ído, certamente, quiçá em busca de uns cromos da bola, que os cadernos, borrachas, lapis e réguas se vendiam todos no PAV.
Continuo a acompanhar o que os seus olhos vêem e as lentes das suas máquinas captam.
ResponderEliminarBoa noite. :)
Muito interessante! Continue a publicar informação sobre a Índia de hoje pois tem um grande sentido objectivo e imparcial! Gostaria de saber mais informação relativa o nível de desenvolvimento.
ResponderEliminarVotos de uma boa estadia por esses lados!