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quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ainda a Índia

Bombaim por Raghu Rai, fotojornalista da Magnum. 2004.

A ideia de viajar é ainda um mito. Se o destino for uma paragem exótica, um país perigoso ou uma zona longínqua e pouco acessível ,mais aumenta a curiosidade de quem vê partir ou chegar um forasteiro.
Isto vem a propósito da minha viagem à Índia na comitiva do Presidente Cavaco onde fui como enviado do Expresso.

Fui recebido na redacção com muito afecto, o que é reconfortante e sem preço o poder-se trabalhar nos dias de hoje neste bom ambiente, mas todos os que me cumprimentavam faziam sentir curiosidade pela viagem extraordinária.

Na verdade foi uma viagem muito cansativa, com pouco tempo para ver para lá do programa oficial. A maior parte do tempo gasta-se em avião, autocarros, entradas e saídas dos hotéis, fazer e desfazer malas, pagar contas, mostrar as malas e os sacos aos polícias. Pouco resta de tempo para fotografar. Se arriscar não cumprir uma parte do programa oficial posso fazer umas fotografias. Peço a um taxistas para me levar a um sítio da cidade onde haja muita gente e que não seja para turista ver. Se tiver sorte com o taxista posso encontrar um bom ponto para fotografar durante algum tempo.

Acabei por ver a Índia através da janela do autocarro, com paragens ocasionais para fotos ocasionais e alguns olhares ao lado das cerimónias oficiais.

Vi barracas miseráveis com praias ao fundo, anarquia imobiliária num país a entrar na globalização, vi um stand da BMW a ser montado numa larga avenida em Bangalore, outro da Mercedes e outro da Audi. Serão os primeiros na Índia onde o parque automóvel tem sido sustentado pela produção nacional, baseada nos modelos Ambassador, uma réplica dos Morris ingleses dos anos cinquenta.

Vi um país em mudança, passei pela fronteira que vai separar a Índia romântica, da tradição e das castas, na Índia moderna, capitalista, global.

Para quem cá fica a Índia é ainda um lugar distante, difícil de alcançar. O mito português dos descobrimentos aí está, imaculado, persistente na História. Para quem assim pensa, e sente, visitar a velha Goa seria um baque, uma felicidade. Ali está a alma portuguesa, a dimensão universal da lusa aventura . A fé e crença, o silêncio, o sentido do espaço divino na arquitectura religiosa, harmonioso, perfeito. Um sentido da escala que é o mesmo sentido humanista da vida.

No resto a Índia é outra cultura. Goa tem identidade própria, língua, raça. Estão ali os séculos da nossa cultura.

Estive a pensar e cheguei à conclusão que eu devia ser o único nesta viagem que também tinha estado na viagem do Presidente Soares em 1992. A comparação é impossível. Os 13 dias que demorou a visita do Presidente Soares nada teve a ver com os sete da viagem do presidente Cavaco.

Soares cumpriu um roteiro e um ritual profundos. Foi uma viagem carregada de intenções e símbolos, a de Cavaco pretendeu ser pragmática, virada para os negócios e para a economia. Veremos se os resultados se vão sentir. Os tempos também são outros e seria ridículo ver o Presidente Aníbal a montar elefantes quando ali está a fina flor dos cérebros que os Estados Unidos procuraram e pagam a peso de ouro para engrossarem as melhores empresas americanas.

Ainda voltarei aqui à Índia e prometo uma grande amostragem fotográfica.

1 comentário:

  1. Por falar em Ambassador...
    https://www.phaidon.com/phaidon/showspreads.asp?ISBN=0%207148%204211%207
    Deve ter sido uma viagem fantástica!
    Cumps!

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