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Quando era adolescente sonhava com um país moderno, o contrário daquele em que Marcelo Caetano falava em família e colava cartazes na Avenida de Roma a dizerem "Moçambique: Praias de Sol, Praias de Sonho" ou outro:" Droga, loucura, morte!".
Para mim um país moderno era uma sociedade como aquela que era descrita no livro "O Prémio", um romance medíocre, mas que para mim me relatava um tipo de vida inatingível: democracia, liberdade de expressão, libertação dos costumes e dos comportamentos. Sonhava com uma sociedade culta e igualitária, competente, sem preconceitos, uma sociedade de amor livre sem barreiras, sem as amarras do casamento tradicional, sem a opressão da religião. Uma sociedade com regalias e trabalho, com justiça e disciplina, com respeito pelos velhos e com uma preocupação muito especial nas crianças e na educação.
Era a social-democracia. Um sistema onde havia um nivelamento por cima, não demasiadas clivagens sociais, e uma parcimónia entre ordenados mais baixos e mais altos. Uma sociedade de famílias felizes dentro de carrinhas Volvo, de solteirões felizes, com um cinema de arte, onde o Bergman era o arquétipo e Sven Nikvist o director de fotografia, que transformava a vida num preto-e-branco denso, fabricado com a luz natural, a que Deus nos dá.
Podia acrescentar a isto uma banda sonora de jazz, tão vibrante como aquela sequência matinal no filme Cenas da Vida Conjugal.
O que menos queria era um país ordinário e mesquinho, de novos-ricos e de gente trabalhadora à beira do limiar da pobreza. É o país das rotundas e da capital do móvel!!
De gestores que andaram anos a jogar em casinos da alta finança, de carreiristas, de gente sem brio nem sentido profissional. Nunca imaginei um país de políticos sem missão, nem ideologia, nem modelo. Nunca pensei que a democracia fosse apenas e só a legitimação nas urnas do oportunismo e da corrupção.
Portanto: chegado aqui, em Abril, passados não sei quantos anos sobre uma revolução que foi uma ópera bufa total, a desilusão é evidente.
Ao entrar no IKEA reencontro sempre parte desse meu sonho de adolescente. Bom gosto, racionalidade, economia de meios, sentido de serviço ao cidadão, preços decentes, serenidade, cultura de empresa. Um modo de vida.
Não é por acaso que é uma das empresas que está a passar ao lado da crise. Tem um patrão forte e que não alinhou em engenharias financeiras para crescer. Apostou no trabalho, na qualidade.
A fortuna não lhe subiu à cabeça. Anda de autocarro, dorme em residenciais, e acompanha tudo a par e passo na empresa. As empresas são como os países e vice-versa. Não acham?