Caír em desgraça é pior do que ser desgraçado. E Sócrates cai desgraçadamente sendo um homem de sorte. Parece mesmo ter sete vidas políticas, resistindo ao pior: da crise original portuguesa, à crise global que se sobrepôs à residual do país. Safa-se airosamente dos projectos de pato bravo, e apresenta uma licenciatura em engenharia, passada a um domingo, e autenticada por uma faculdade tão prestigiada que até o próprio acabou por a mandar encerrar.
Sócrates sobreviveu às primeiras investidas do Caso Freeport em plena campanha eleitoral, e às avalanches quase diárias sobre o assunto. Um tema que mete familiares, um tio a tratá-lo por Zézito e ele a chamar um primo como "o filho do meu tio".
Ontem a passagem na TVI de uma gravação aúdio, supostamente feita clandestinamente por um administrador do Freeport, em que dois protagonistas no processo fazem considerações gravíssimas, envolvendo Sócrates, voltou a trazer ao país mais uma sensação desconfortável. Quando um primeiro-ministro é assim atacado é a estabilidade que está em causa. E nesta altura é muito mau.
A confusão é total e parece que estamos no PREC. Minuto a minuto há uma actualização de acontecimentos que encadeiam: no mesmo dia aparece o Bastonário dos Advogados a dizer que o processo começou com um cambalacho entre PJ, jornalistas e oposição. É verdade, são factos assinalados pelo tribunal. Factos que toda a gente fez de conta que não eram graves,
Marinho Pinto comentava a forma como o processo arrancou, não o conteúdo.
Minutos depois passava a gravação acusadora na TVI, noutro canal de TV aparecia um sindicalista magistrado a dizer que havia pressões sobre os investigadores do caso Freeport.
À mesma hora Sócrates atrasava o início de uma ópera no CCB em meia-hora e levava uma pateada monumental da assistência, num remake da entrada de Marcelo num jogo do Sporting, dias antes de caír o regime...de pôdre.
Horas antes era a sua protegida ministra da educação atingida com uns ovos em forma de protesto.
Para um país desnorteado, fragilizado pela crise financeira e económica, um país onde um relatório oficial divulgava números assustadores sobre a criminalidade, na mesma semana em que a Quimonda fechou definitivamente e mais um batalhão de desempregados ensombra a paz social e a estabilidade familiar...não sabemos que mais acrescentar a este panorama.
Tudo o que Portugal menos precisava agora era de um primeiro-ministro fragilizado.
Portugal adiante hoje sessenta minutos, perdendo uma hora, mas os anos de atraso parecem, para já, irrecuperáveis.
(segunda versão)
Só um pormenor, hoje adianta 60min não atrasa.
ResponderEliminarTudo o que diz é a pura verdade!Só me faz confusão a atitude do P.R.
ResponderEliminarSe fosse um 1º.ministro do PSD, com estes rabos todos, onde estaria já?
Fico a aguardar o que vai fazer o Prof.Cavaco nestes dias mais chegados.