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A
Controlinveste despediu hoje 11 fotógrafos e anunciou que vai fazer uma agência de fotografia. Portugal nunca teve uma agência de fotografia de "
news" por duas razões: o mercado é
mínimo e os jornais sempre
quiseram a originalidade, o estilo, a caixa. Havia uma competição grande nos diários portugueses- quando havia vários diários- para ver qual deles publicaria a foto mais surpreendente. Concorrência pura.
Uma agência de fotografia é uma produtora de imagens noticiosas ou, noutra vertente, uma produtora de histórias. As agências nasceram em França no final dos anos trinta com a
Dalmas e nos anos sessenta com a
Gamma, a
Sipa e a
Sygma. A
Magnum é outro campeonato.
Essas agências competiam entre si ferozmente e permitiram a existência de um
fotojornalismo agressivo, autónomo intelectualmente,
competitivo e de grande qualidade.
Eram agências controladas pelos fotógrafos porque eram eles os sócios e fundadores.
E estas agências nasceram para combater as más condições de trabalho nos jornais: salários baixos, imagens não assinadas, perda dos direitos de autor. A
Gamma nasceu de uma dissidência em massa dos melhores
fotojornalistas dos melhores jornais franceses.
Portanto: não foram os jornais que criaram as agências, foram os fotógrafos que não quiseram trabalhar mais como assalariados dos jornais. Até há 5 anos estas agências eram a principal fonte fotográfica de jornais e revistas, sendo que todos os jornais e revistas sempre mantiveram fotógrafos nos quadros, precisamente para salvaguardarem a originalidade e a capacidade para poderem fazer reportagens próprias.
Com o digital e a nova economia na
net houve um realinhamento destas agências. A
Corbis acabou por engolir algumas, assim como a
Getty, e as agências tradicionais de informação como a
Reuters e a
Associated Press (para não citar outras) passaram a fornecer fotografias de uma qualidade que anteriormente não tinham possibilidade de vender. A transmissão de fotos pela rede tornou a fotografia em geral mais barata e acessível, como sabemos.
Ora, apesar de haver um mercado de agências de fotografia enorme em todo o Mundo (porque agora as agências são globais) não conheço um jornal de referência na América ou na Europa que não tenha um
staff de fotógrafos permanente. É verdade que os quadros do
El Pais ou do Paris-
Match não são muito extensos em fotógrafos, mas são de um nível de exigência enorme em termos de qualidade. O
Whashington Post ou o Los Angeles
Times (por ex.) têm equipas de
fotojornalistas de uma qualidade admirável, que estão ao mesmo nível do desempenho dos redactores dessas redacções.
Os jornais "lá fora" contam portanto com redacções de excelência em fotógrafos e recorrem muito a agências para a actualidade corrente e contratam
free-
lancers (a mil euros o dia!) para histórias "
en assignement", a maioria das vezes propostas de fora.
As redacções de muitos jornais transformaram-se em
newsrooms multimédia. E, partindo de um novo conceito, acharam que a fotografia deveria passar a estar enquadrada numa plataforma onde os fotógrafos pudessem produzir fotografias e vídeos, convergindo imagem fixa, vídeo,
audio. Passaram a utilizar um
equipamento mais
versátil e passaram a editar imagens e som.
Alguns fotógrafos, como no
Whashington Post passaram a ser designados por "
videógrafos" e abandonaram a fotografia.
O importante é que nestes casos nunca foi posto em causa o estatuto de jornalista dos fotógrafos e a edição de vídeos
foi sempre assegurada por fotógrafos e não por técnicos de apoio à redacção.
O que faz sentido nos dias de hoje numa redacção multimédia é a difícil
tarefa de convergir a fotografia de reportagem com a possibilidade de se produzirem outras matérias digitais para a
net. Logo: o editor de fotografia é também o editor multimédia (que não deve ser confundido com o editor ou coordenador dos conteúdos primários noticiosos do site, ou com o director
online).
A ideia de uma agência de fotografia patrocinada por uma empresa com jornais é uma ideia que já tem 15 anos em Portugal. O Alfredo Cunha,que é agora o editor fotográfico do
JN, já o tinha proposto ao José Manuel Fernandes do Público, o que levou a uma rejeição total dos fotógrafos e que abriu uma ferida que nunca mais foi sarada. A ideia é peregrina pois nasce ao contrário (não fosse ela portuguesa e das
berças!).
Isto é: não são os jornais que precisam de fazer agências, são os jornais que precisam das agências para lhes venderem mais barato pois têm um mercado vasto o que embaratece as fotos e dinamiza o trabalho dos fotógrafos "
agênciados".
Uma agência feita "à la Oliveira" é um saco cheio de fotógrafos, uma
pool de estafetas, tipo Pizza-
Hut (O Belmiro pode já dar as motas das pizzas!!) que tem um sargento que manda seguir este ou aquele para mais um "
servicinho". O fotógrafo vai na motocicleta, bate uma chapa, envia pelo computador, recebe outro recado segue para outro lado... nem uma brasileira de Bragança fará por dia tantos serviços!!!
Isto não permite criatividade, competição, isto é uma fábrica de chouriços fotográficos.
Espero que criem também uma agência de textos para redactores. Um redactor pode escrever também para vários meios. Com a mão esquerda para um jornal
dizendo bem de Sócrates, com a direita para outro
elogiando Rio, ao mesmo tempo que dá um "
sound -
bite" para a rádio e se for um funcionário aplicado ainda pisca o olho e faz uma foto.