




Afinal não há polícias maus na Judiciária, nem inspectores malvados. Hoje em tribunal as testemunhas de defesa correram um verdadeiro louva-minhas às qualidades profissionais, humanas e tudo, daqueles que entraram como bestas no tribunal acusados de terem espancado Leonor Cipriano e parece que vão sair como bestiais. A corporação uniu-se, não fosse ela uma corporação, e deu o melhor, dizendo do melhor, sobre essas equipa maravilha que primeiro argumentou que as murraças na cara de Leonor tinham sido devidas a uma queda escadas abaixo, depois argumentaram na base de explicações que até metia photoshop.


A vida está mal para todos e se está mal para os pobres o que fará para nós! -Esta frase cínica e divertida é uma das minhas preferidas. Não que eu me sinta do lado de quem a profere. Mas na verdade os intocáveis estão a sentir-se da crise.

Tenho de ser a "Cunha Vaz" de mim próprio! Domingo às 22H no Rádio Clube Português (FM 104,3) lá estarei à conversa com a escritora Filipa Martins, "Olhos nos olhos", sobre vida e fotografia. Uma hora de conversa já gravada e que espero que não seja uma seca para os ouvintes. Estão convidados. Até lá.
Os franceses aprenderam uma coisa: nunca mais empedrar as ruas de Paris com cubos. Os estudantes durante o Maio de 68 usaram os cubos como arma de arremesso contra os polícias. Sócrates vai ter de tomar medidas e passar a pôr o SIS a controlar o Tomate Guloso e os ovos do Aviário do Freixial. Estas substâncias alimentares viraram substâncias perigosas, piores do que aquelas que nunca saíram da co-incineração do ex-ministro do ambiente Sócrates.

Os fotógrafos portugueses estão zangados com Sócrates. Ou melhor: ficaram nervosos depois de terem sido os últimos a saber que o ministro Pinho se preparava para adjudicar mais uma vez a um fotógrafo estrangeiro uma campanha sobre Portugal que iria custar um milhão de euros. Apanhado há dias atrás pela TVI, o ministro virou costas e deixou cair um murmúrio de que "isso é com o turismo". Mais tarde negou mesmo que houvesse algum contrato com um fotógrafo estrangeiro.
A verdade é que vai haver campanha de promoção sobre Portugal para a Primavera e o ministro Pinho já mostrou que adora campanhas como a do West Coast com fotógrafos lá de fora, na moda, pagos a peso de ouro.
Ora bem: os fotógrafos portugueses, que são em geral muito ciumentos, não acreditam que Pinho não resista a contratar mais um fotógrafo de bandeirada alta e decidiram pôr a correr na internet um abaixo-assinado para entregarem a Sócrates, protestando contra a falta de protecção do governo aos fotógrafos nacionais.
Escrevi várias vezes, mesmo aqui no Flagrante deleite, sobre a campanha West Coast. Sem ter sido nada original, sempre achei que a campanha era pouco eficaz, não dava uma ideia emblemática de Portugal, um país não pode nunca ser vendido como uma marca e as fotografias eram um truque fácil de photoshop. Vindo de um fotógrafo algo irreverente como Nick Knight, aquelas fotografias eram uma pastelaria pegada, um resultado de mau gosto a roçar o academismo. Quem não conhecia os heróis de Portugal continuava a não os conhecer, e mesmo quem os conhecia não era à primeira que reconhecia o Ronaldo ou o Mourinho. Uma campanha péssima, cara e quase inútil: tirando uma ou outra página da Time a campanha só era vista nas empenas dos prédios de Lisboa. Portanto: estava-se a "vender" um produto a quem já o tinha comprado: os estrangeiros que já estavam em Portugal.
O abaixo-assinado que corre na internet traz de novo à discussão o corporativismo de classe. Acho mal que os fotógrafos portugueses se indignem porque há um fotógrafo estrangeiro a trabalhar cá. Deviam antes ficar incomodados porque as fotografias que foram apresentadas na campanha West Coast eram más, banais e caras. Se o Nick Knight fosse português a crítica deveria ser exactamente a mesma.
Se os fotógrafos portugueses vão por este caminho do proteccionismo então nunca poderão trabalhar no estrangeiro, pelas mesmas razões que agora imploram ao primeiro-ministro. A fotografia é uma profissão sem pátria, os fotógrafos são mais do que quaisquer outros profissionais, cidadãos do Mundo. Por este princípio nem o arquitecto da Pirâmide do Louvre podia ser japonês nem o Robert Capa húngaro... os exemplos nunca mais acabariam. No limite até se pode considerar uma atitude xenófoba.
Este tique de queixinhas que os portugueses gostam de cultivar acaba por reflectir depois a sua condição de inferioridade. É como os arquitectos portugueses terem feito tudo (e conseguiram) para o projecto de Ghery para o Parque Mayer não ter ido avante. Preferem sempre os caixotes à anos setenta, o Bonjour Tristesse, o cinzentismo, a panelinha.
Este abaixo-assinado faz lembrar os protestos do antigamente e não vai alterar em nada o gosto do ministro Pinho pela chamada fotografia artística que alimenta o BesPhoto e que ele gosta de pendurar nas paredes. O protesto (a que até se associaram os comerciantes de material fotográfico!) não é sequer alternativa aos Nick Nights desta vida.
Defender nos dias de hoje este tipo, ou outro, de corporativismo não é nada saudável. Isola-nos e faz-nos ainda mais pequeninos. Lamentável.
(também em www.expresso.pt)
Aquela intervenção de Sócrates na Cimeira Ibero-Americana a vender a merda do Magalhães como quem vende aspiradores vai ficar como o momento mais ridículo da política portuguesa no estrangeiro. Depois do seu amigalhaço Chavez ter dado no ano passado aquela bronca, foi agora a hora e a vez do engenhocas dar uma de vendedor de electrodomésticos.