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quinta-feira, novembro 27, 2008

O Festival de Cannes dos ratatuis




O frio corta em S.Sebastian( Donostia) mas o Sol de Inverno desenha e dá relevo aos rostos dos bascos que gostam da rua para passear. Velhos e crianças, senhoras de antigamente e alguns marginais povoam esta cidade que transpira outros tempos. O mar revolto galgou a terra mas quando ontem cheguei para um Festival de Gastronomia a bonança estava instalada.
Imagine-se uma Casa da Música, à beira da praia, cheia de gulosos, de espertos em sabores de toda a ordem. Queijos e vinhaça, gelados, presunto Joselito, chouriços tão tentadores como o colesterol que contêm, licores, peixe, chocolate.... e um auditório com mestres de culinária a dissertarem sobre os seus pratos como se estivessem, e estão, a falar de filosofia.
Aliás estes festivais de gastronomia partem de uma ideia filosófica: o sabor como forma de atingir o sublime, logo ali na boca, muito mais do que na fase seguinte a da barriga cheia.
Estive dois dias a comer, petisca ali, beberica acolá, revira os olhinhos e diz "excelente!", muda de tenda e apanha o palito com mais petisco, pergunta o que será aquilo...é isto e muito mais um festival de gastronomia, uma espécie de Festival de Cannes não para os olhos ( que também comem) mas mais para a língua.
Só mestres portugueses eram sete, se não me engano, e deram um jantar hoje mesmo que foi por si um corridinho de sabores. Fechando os olhos não se diria que se estava a comer necessariamente comida portuguesa, mas vindo de um básico como eu que só aprecia comida a preto e branco, ou seja: bacalhau do bom com grão a desfazer-se, regado a azeite do melhor, ou prefere o arroz doce a gelado de queijo com molho de não sei quantos ingredientes...só poderia sair uma alarvidade destas.
A cozinha está na moda e está intelectual. Hoje os cozinheiros já falam, usam termos ingleses como se fossem quadros de uma empresa multimédia e um chegou a discursar falando de Lisboa como capital atlântica de sentido poético e de vocação marítima, como se ali estivesse um embaixador da cultura ou um cérebro da empresa que inventou o Allgarve. Claro que nós ainda não temos um Adrian e dos nossos Ratatuis ainda nenhum atingiu o estrelato internacional, nem ibérico, daí algum paternalismo sentido nesse jantar onde o organizador de há dez anos deste evento não tem papas na língua e atreve-se a dizer que a gastronomia da moda está condenada, vai haver muitos restaurantes a fechar, inclusivé o El Bulli de Adriã: esta cozinha tem muita mão de obra, chegam a ser mais os cozinheiros na cozinha do que os clientes na sala.
Por mim gostei. Embora a esta hora não passa ver mais comida mesmo quando servida em doses tipo amostra.
Quando chegar a Lisboa vou logo ao McDonald`s com o meu filho de 7 anos.

1 comentário:

  1. Tá tudo doido ! O poderoso lobby gastro-estarra semeou o terrorismo gastronómico na Europa, quiçá no Mundo, como se de uma benção celestial para gourmets se tratasse, e para os outros mortais, bombillas neles.
    Seria piadética se não fosse estuporadamente cara, a cozinha vasca, sucedânea fraca da nouvelle cuisine francesa já ela uma sarapitola mariconera para cócós Costes e Starcks Pompidous e sanscouscous.
    Ler uma lista de vinhos eleita pelos senhores de Donostia dá vontade de rir.Há lá umas zurrapadas espanholas e francesas que fazem corar de pudor o pior martelado do Olhalvo, e eleva o Cartaxão ao lugar de nectar dos deuses.Tanta maricagem na comezaina só se equipara à maricagem na arquitectura sem desprimor para a maricagem poética plástica e trapalhona.
    Se vocês se deparassem com um bacalao à Bràs assassinado por um tal Benito Gomes que por debaixo do fiel pespegou uma bosta de verde ( suponho serem ervas c iogurte) mais leonino que os alvaláxios tinham uma apoplexia tal como eu e rumavam o mais depressa possível a Paris ou Lisboa en quete de um bagaço caseiro (em Paris p.ex na Rue Daguerre no "Balcon Portugais " que blindasse a nossa alma de portugueses feridos no céu da boca.

    Mário Rabelais

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