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sexta-feira, novembro 07, 2008

Fotógrafos queixinhas

Os fotógrafos portugueses estão zangados com Sócrates. Ou melhor: ficaram nervosos depois de terem sido os últimos a saber que o ministro Pinho se preparava para adjudicar mais uma vez a um fotógrafo estrangeiro uma campanha sobre Portugal que iria custar um milhão de euros. Apanhado há dias atrás pela TVI, o ministro virou costas e deixou cair um murmúrio de que "isso é com o turismo". Mais tarde negou mesmo que houvesse algum contrato com um fotógrafo estrangeiro.


A verdade é que vai haver campanha de promoção sobre Portugal para a Primavera e o ministro Pinho já mostrou que adora campanhas como a do West Coast com fotógrafos lá de fora, na moda, pagos a peso de ouro.


Ora bem: os fotógrafos portugueses, que são em geral muito ciumentos, não acreditam que Pinho não resista a contratar mais um fotógrafo de bandeirada alta e decidiram pôr a correr na internet um abaixo-assinado para entregarem a Sócrates, protestando contra a falta de protecção do governo aos fotógrafos nacionais.
Escrevi várias vezes, mesmo aqui no Flagrante deleite, sobre a campanha West Coast. Sem ter sido nada original, sempre achei que a campanha era pouco eficaz, não dava uma ideia emblemática de Portugal, um país não pode nunca ser vendido como uma marca e as fotografias eram um truque fácil de photoshop. Vindo de um fotógrafo algo irreverente como Nick Knight, aquelas fotografias eram uma pastelaria pegada, um resultado de mau gosto a roçar o academismo. Quem não conhecia os heróis de Portugal continuava a não os conhecer, e mesmo quem os conhecia não era à primeira que reconhecia o Ronaldo ou o Mourinho. Uma campanha péssima, cara e quase inútil: tirando uma ou outra página da Time a campanha só era vista nas empenas dos prédios de Lisboa. Portanto: estava-se a "vender" um produto a quem já o tinha comprado: os estrangeiros que já estavam em Portugal.

O abaixo-assinado que corre na internet traz de novo à discussão o corporativismo de classe. Acho mal que os fotógrafos portugueses se indignem porque há um fotógrafo estrangeiro a trabalhar cá. Deviam antes ficar incomodados porque as fotografias que foram apresentadas na campanha West Coast eram más, banais e caras. Se o Nick Knight fosse português a crítica deveria ser exactamente a mesma.
Se os fotógrafos portugueses vão por este caminho do proteccionismo então nunca poderão trabalhar no estrangeiro, pelas mesmas razões que agora imploram ao primeiro-ministro. A fotografia é uma profissão sem pátria, os fotógrafos são mais do que quaisquer outros profissionais, cidadãos do Mundo. Por este princípio nem o arquitecto da Pirâmide do Louvre podia ser japonês nem o Robert Capa húngaro... os exemplos nunca mais acabariam. No limite até se pode considerar uma atitude xenófoba.
Este tique de queixinhas que os portugueses gostam de cultivar acaba por reflectir depois a sua condição de inferioridade. É como os arquitectos portugueses terem feito tudo (e conseguiram) para o projecto de Ghery para o Parque Mayer não ter ido avante. Preferem sempre os caixotes à anos setenta, o Bonjour Tristesse, o cinzentismo, a panelinha.
Este abaixo-assinado faz lembrar os protestos do antigamente e não vai alterar em nada o gosto do ministro Pinho pela chamada fotografia artística que alimenta o BesPhoto e que ele gosta de pendurar nas paredes. O protesto (a que até se associaram os comerciantes de material fotográfico!) não é sequer alternativa aos Nick Nights desta vida.
Defender nos dias de hoje este tipo, ou outro, de corporativismo não é nada saudável. Isola-nos e faz-nos ainda mais pequeninos. Lamentável.

(também em www.expresso.pt)

9 comentários:

  1. Recebi o abaixo-assinado por mail e senti a atitude xenófoba que falas. Bravo mais uma vez LC

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  2. Fantástico! É isto mesmo!

    Beijinhos,
    Diana Quintela

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  3. Concordo contigo luís. fazia era sentido um abaixo-assinado contra as foleiradas do pinho. em qualquer idioma

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Para que se saiba, o ICEP (ou lá como raio se chama) telefonou pelo menos a um fotógrafo português a pedir fotografias "de borla". E aqui é que a questão se levanta.

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  6. Gostava de saber se os criticos, na eventualidade de serem convidados por algum governo estrangeiro para um trabalho do gênero, recusariam por solidariadade aos fotografos desse mesmo pais.

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  7. ah, muito bom.... fantástico!!!

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  8. Srs. "trabalhadores", fazem lembrar aqueles (cafés, engomadores, canalizadores...)que protestam contra á qualidade da saúde por exemplo, mas NÃO PAGAM IMPOSTOS e por isso deviam era estar calados! Gostava que estes srs. confontrassem turmas com 28 alunos, cujos interesses (como os interesses em casa) se resumem ao C-Ronaldo e aos campeonatos de futebol, para além da grande indisciplina (o caso do telemovel não é nada de nada é coisa miníma), malcriadagem e falta de empenho. Gostava que picassem "o ponto" de 45 em 45 minutos, que chegassem ao fim de um dia frustados, extremamente cansados e cada vez mais desmotivados. Os não-trabalhadores já não ensinam, não transmitem conhecimentos e cultura, limitam-se confinados a "entertainers" de teenagers, servindo assim o propósito maior dos pais: vigiar e entreter as crincinhas enquanto estes trabalham! Já para não falar de um professor hoje, ser mais um burocrata e um administrativo, carregado de uma agenda de reuniões inúteis e resmas de papel, as quais irão mais tarde ou mais para o lixo, possívelmente sem sequer terem uma leitura rápida e vertical! Eu, já trabalhei vários anos no "particular"( multinacional) e sei que, chegar às 10h, lanchar perto das 11h, continuar (por vezes encharcar) com o almoço á 13h, lanche regado de fim de tarde , por vezes, com soirée nos "elefantes brancos". Quando tiverem que pagar 500 euros/mês fora o resto por colégios e terem que pagar seguros de saúde ( com várias cotas), então espero que os "srs" trabalhadores (se é que, muitas horas de trabalho são sinais de qualidade e de produtividade), então espero que os srs. "trabalhadores" estejam nas sua 7 quintas! E, não se arrependam da lavagem ao cérebro economicista.

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  9. Assinei o dito cujo com o devido comentário. Não sou contra a contratação de um fotógrafo estranjeiro, como não me incomoda que o fotógraffo do 1ºM não seja português ou até como até fiquei contente com a contratação e desempenho de Scolari.
    Sou contra o esbanjar dos dinheiros públicos e duvido da eficácia da campanha. A campanha anterior pouco inovou e ainda falta divulgarem os resultados para saber se houve investimento ou apenas despesismo. Contratar um famoso (no meio) fotógrafo de moda para fazer retratos não foi a melhor escolha. Do mesmo modo que a escolha de Klein é duvidosa.

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