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sexta-feira, novembro 21, 2008

O encerramento da Byblos

Quando há meia dúzia de anos ia a Madrid perguntava a mim próprio porque não havia livrarias daquelas em Portugal: espaçosas, de bom design, com livros de edições variadas sem complexos culturais. Então por cá as livrarias eram velhas, escuras, acanhadas, com edições bafientas em capas do tempo em que o design era um palavrão estranho.
Depois os livros ficaram na moda e tornaram-se em objecto de consumo. A FNAC veio dar um grande impulso mas já antes se notava uma mudança no mercado livreiro. Claro que em Portugal nunca há fome que não dê em abastança e todo o rico com pretensões a guru decidiu abrir uma livraria. Mas será injusta esta generalização. Editoras como a Bulhosa fizeram investimentos brutais pondo em risco a fortuna e o prestígio de uma vida, a Bertrand tornou-se numa editora moderna com títulos de gente nova e as livrarias transformaram-se em lojas fantásticas. O exemplo da aquisição da Guimarães é de saudar pela qualidade do projecto e pela forma como vai preservar a livraria e editora mais antigas de Portugal.
Só que passou a haver demasiadas livrarias para os ainda reduzidos portugueses que têm poder de compra para livros e até disponibilidade mental e cultural para matarem a fome de ler.
Muita gente compra e dá livros porque é um acto bonito, fica bem a quem dá e promove quem recebe. O livro que era um objecto de ratos de biblioteca passou a culto de consumo.
Com a crise dos créditos e com o apertar do cinto muitos tiraram aos livros para dar aos enchidos e como diria essa grande figura da democracia do Norte o comendador Avelino Ferreira Torres " a cultura é linda quando o estômago não está vazio!". Portanto: era inevitável o encerramento da Byblos como será inevitável o encerramento de muitas outras, algumas em cidades do interior que devem ter um cliente por dia para comprarem o Crime do Padre Amaro.
Na verdade nós crescemos mais do que a nossa sombra e como poucas coisas são sustentadas acabam por desabar ao pequeno tremor da economia.

2 comentários:

  1. Luiz, aqui não concordo nada com essa sua visão. A byblos encerrou porque estava pessimamente mal localizada, porque foi umprojecto megalomano com "mais olhos que barriga", ou seja, mais despesa que lucro (era expectavel com os provaveis custos exorbitantes que teria) e porque também teve uma publicidade quase inexistente. Finalmente, porque tinha um concorrente mais bem localizado (o que não seria dificil), com melhor ambiente e mais barato: a Fnac! Dito isto, só me admiro de não ter encerrado antes.

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  2. Sem duvida "mais olhos que barriga". O espaço, que era caro, teve-o um ano antes - a pagar renda - apenas porque quis. Havia dinheiro fresco, mas acabou.

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