quarta-feira, maio 31, 2006
O Doce do dia
Vantagem de bloguista!...
Ao pesquisar imagens sobre cinema italiano saltou-me esta fotografia que tenho há anos na minha casa de banho em versão pintada e em cartaz do filme La Dolce Vita, uma das fitas da minha vida. Fellini é para mim uma constante inspiração.
Anita Ekberg, a sueca a quem o tempo cruelmente desfigurou, aqui está em todo o esplendor, fotogramas antes de entrar na Fontana di Trevi desafiando Mastroiani ( o mesmo que me chamou Paparazzi!! quando o fotografava à chegada ao Aeroporto da Portela para filmar em Portugal já no fim da vida).
A escolha desta fotografia é um impulso, talvez uma frustração.
É uma homenagem.
terça-feira, maio 30, 2006
A Coragem editorial de TIME
Numa altura em que as revistas de referência recuam e hesitam em publicar temas a preto e branco de cariz social a revista americana avança com uma capa desta força.
Há 1 mês num jantar do prémio Visão, onde estava Nachtwey e a editora de fotografia da TIME, ela dizia-me que o decréscimo nas vendas da revista era de tal ordem que não sabia se daqui a 5 anos ainda haveria edição de papel. Haveria decerteza edição online.
Um número a comprar, até porque está disponível em online...só para pagantes.
segunda-feira, maio 29, 2006
Tarde escaldante na Universidade do MInho
Acabei há pouco o encontro com os alunos de jornalismo online na Universidade do Minho, onde me desloquei a convite da Daniela, tal como ontem aqui escrevi.
Não resisti a tirar o portátil da mala do carro e de escrever aqui a quente, ( fazendo juz à temperatura do dia) as minhas impressões da palestra.
A sala estava cheia de um público muito jovem e atento. Colocaram-se ali questões muito interessantes como a ética e a deontologia nos jornais online, o conceito de jornalista multimédia, os novos desafios para o exercício da profissão de jornalista num tempo de novas tecnologias e de novos conceitos de trabalho nas empresas jornalísticas.
Joaquim Fidalgo, ex-jornalista do Expresso e do Público, agora director do curso, levantou-me questões como a credibilidade e a ética nos novos meios e uma jovem com curriculum no Diário de Notícias levantou a questão de estarmos muito preocupados com a tecnologia e corrermos o risco de esquecermos o fundo dos problemas e da cultura que sustenta o jornalismo.
Eu defendi uma nova linguagem para os jornais online, não refém do papel, com autonomia narrativa, muito vídeo, fotografia, infografia e uma linguagem de escrita mais sintética, criativa, por vezes irreverente e inovadora.
O online é um suporte que permite experimentalismo, laboratório, já que o público internatuta é mais aberto, mais cultura sms, mais interactivo.
No papel a publicação de uma notícia é um fim, na net é o início de uma discussão e desenvolvimento onde o usuário também participa.
Foi uma tarde escaldante.
Agora regresso a casa ao som de Miles Davis.
Eu com Daniela Bertocchi em Braga
Continuo a estar muito envolvido e empenhado na linguagem multimédia, a expressão que mais está a mudar e a encontrar novas formas todos os dias.
Contarei aqui como decorreu a sessão.
Calma, descontracção, estupidez natural !...
Delicioso ou como a realidade é por vezes mais divertida do que as piadas inventadas.
Fotojornalistas desesperados
domingo, maio 28, 2006
O Carlitos e o Pirilampo Mágico
Na minha cabeça, e na da maioria dos portugueses acho eu, já não havia trabalho infantil em Portugal.
Essa vergonha nacional que incomodava nos anos 90 os cavaquistas neoliberais e nouveaux-riches e que punha o nosso país no clube dos terceiro -mundistas, julgávamos já irradiada. O escândalo e a vergonha foi tal, a pressão internacional foi tal, que a inspecção do trabalho conseguiu fazer algum serviço útil.
Depois entrados na era sacrista de Guterres e sócrista do nosso segundo engenheiro primeiro ( isto está cheio de inginheiros!!) nunca mais se falou de escravatura infantil.
Eis que o Expresso desta semana nos devolve um pesadelo do fundo de nós, uma chaga social, uma miséria inenarrável.
As mãos do Carlitos de 11 anos, cozendo os sapatos da sobrevivência, as unhas sujas do trabalho, os olhares ainda doces e resignados, o ícone do FCP, aquele inválido sentado num sofá falido como a família que conforta, até a luz é dura e adversa como as tábuas do chão cariadas pelos anos, o granito da casa a sustentar o abrigo da mais vil pobreza, é um cenário neo-realista do nível a que Portugal chegou.
Não percebemos o que andou esta gente, os cavacos e guterres, os durões e os sócrates que nos governaram e governam a fazer todo este tempo. Acho, tenho a certeza, que esta cena não é possível de encontrar na Irlanda, em Espanha ou até mesmo na Grécia.
Andámos, e ficámos demasiado para trás. O novo riquismo deu cabo de nós, o dinheiro fresco tirou-nos a criatividade social e transformou Portugal num país aberrante, parasitário, engordado por uma máquina estatal sugadora de dinheiro, sacrificando só os que ainda conseguem trabalhar para pagarem quase 200 dias de trabalho para impostos.
A imprensa estrangeira como o El Mundo não se cala com este novo escândalo. Uma vergonha.
Mas nem tudo é mau. Cavaco inicia amanhã uma presidência aberta sobre a exclusão. Ele não lhe chama presidência aberta para não dizerem que anda a copiar Soares. Vai começar o seu périplo pelo Alentejo profundo, perto do Pulo do lobo.
E depois, se falhar, já há uma hipótese B: avança Maria Cavaco Silva recitando versos ao Pirilampo Mágico.
Só falta um chá de caridade para rebater. Mas lá iremos.
Enquanto houver pobres os políticos competentes estarão sempre salvaguardados no Céu.
sexta-feira, maio 26, 2006
Robert Capa morreu há 52 anos
Desembarque na Normandia
Robert Capa
Faz hoje, 25 de Maio, 52 anos que morreu na Indochina, ao pisar uma mina, Robert Capa. Fundador da agência Magnum, 1947, foi considerado no seu tempo " o maior e melhor fotógrafo de guerra". Disse-o revistas tão insuspeitas como LIFE, VU ou PICTURE POST.
Este húngaro chegado a Paris no final dos anos vinte, trotskista e fotógrafo com preocupações sociais, logo se destacou com as suas reportagens na guerra civil espanhola.
Inventou uma forma de fotografar a guerra: estar perto do assunto, das pessoas, estar envolvido. Dizia ele " se uma fotografia não é boa é porque não foi tirada suficientemente perto".
Uma das suas célebres fotografias foi feita em Cerro Muriano, Espanha, e retrata o momento exacto em que um soldado republicano cai atingido por uma bala franquista. Foi nesta campanha que viu desaparecer Gerda Taro a sua bela namorada, também fotógrafa.
Em Espanha acampanhou Hemingway. Ao longo da vida foi amigo de Ingrid Bergman ( com quem manteve um caso amoroso), Picasso, Steinbeck e muitos outros.
As fotografias inéditas do desembarque na Normandia ( 4 rolos de que só se aproveitaram 12 frames por causa de um acidente na revelação) foram das mais referenciais deste herói do fotojornalismo que adorava jogar póker, beber champagne e que era um verdadeiro susto a conduzir.
Alguém o viu um dia no Café Palace dos Restauradores, anos 40, de passagem por Lisboa talvez ao encontro de Ingrid Bergman em Casablanca. Mas a origem judia e o empenho na construção de Israel pode ter muito a ver com a sua passagem por cá.
Morreu na Indochina quando o editor fotográfico da LIFE o desafiou para fazer umas fotos da retirada francesa na Indochina, uma vez que ele estava no Japão na abertura de uma exposição da Magnum.
Um pelotão avançava por um campo ele correu à frente e acabou por pisar uma mina. Fatal.
quarta-feira, maio 24, 2006
Ai Timor !...
Para quem como eu acompanhou as primeiras horas em que os timorenses começaram a libertar-se da Indonésia e para quem pôde assistir ao vivo ao içar da bandeira do novo país, não pode deixar de lamentar tudo o que está a acontecer agora.
O delírio português foi demasiado ingénuo, não fosse delírio, e agora aí estamos de novo a enviar GNR para meter os rapazes na ordem e até talvez tropas para assegurarmos a ordem que as autoridades timorenses, pelos vistos, não conseguem.
Os timorenses não têm recursos, esbanjam capital político e pedem ao papá para os ajudarem quando as coisas começam a correr mal.
Timor é uma criança e devemos ser tolerantes com as reacções infantis.Mas estas cenas de violência gratuita não convencem ninguém de boa fé e que não seja ingénuo.
É o problema dos oprimidos em estado prolongado: não conseguem digerir
( e gerir) o espaço da liberdade.
Quando reprimidos berram por liberdade, quando libertados esperam pelo redentor.
Ficam aqui as minhas fotografias das horas felizes que fiz nesta terra queimada, nos dias em que a virgindade política estava incólume.
terça-feira, maio 23, 2006
Ricardo Costa leva Carrilho às tábuas
Pacheco detesta jornalistas, acha-os uma escória. Tentou mesmo açaimá-los na Assembleia quando era deputado cavaquista.
Esta oportunidade para zurzir em Carrilho e jornalistas foi dois em um.
Carrilho, para quem os jornalistas são uma matilha, não consegue contornar as profundas contradições que o seu livro contém.
Ele pode ter alguma razão mas perde-a quando a sua prática política e de promoção pessoal tem sido feita com as armas que condena.Isto é: Carrilho é dos políticos que mais se preocupa com as fotografias que lhe fazem, os textos que escrevem sobre ele. Emendas entrevistas,escolhe as fotos que lhe tiram, chega a caçar negativos.
Posa para revistas côr de rosa e a sua campanha eleitoral para Lisboa não dispensava dois jornalistas assessores que não largavam os repórteres que seguiam o candidato.
Fez uma campanha para os média e agora queixa-se deles que o levaram a uma derrota humilhante.
É muito difícil Carrilho fugir a esta realidade, que ele acabou por criar, pese embora que haja muita verdade naquilo que afirma. Mas, como diria o meu director citando alguém famoso, até um relógio parado tem pelo menos razão duas vezes ao dia.
Emídio Rangel aparece agora em defesa de um jornalismo puro e duro, competente e independente. Tem crédito mais que suficiente para tal.
Ricardo Costa falou descomplexadamente das agências de comunicação e teve a coragem de dizer que são um instrumento útil como qualquer outro. Há boas e más, tal como há jornalistas sérios e outros não. É uma palissada. Já antes de existirem estas empresas que transformaram jornalistas talentosos e pindéricos em empresários ricos e influentes isso acontecia.
Costa foi de uma violência total para com Carrilho. Não esqueceu, nem perdoou a campanha de Carrilho contra a SIC e tem razão.
O final foi um grande momento de televisão.
Costa sacou daquela infeliz frase de Carrilho a Morais Sarmento sobre o seu passado de drogas. Carrilho acusa Ricardo de polícia.Ricardo recarga, chuta, atira e... a plateia aplaude Ricardo! Pateada geral. Carrilhada total.
Mais uma vez Carrilho passou-se da carola e voltou a perder. Não aprende.
segunda-feira, maio 22, 2006
No Camarim com Barbara Guimarães
A noite dos "glóbulos" pela primeira vez no Campo Pequeno.
Tarefa para um fotógrafo do Expresso: passar a noite atrás de Barbara Guimarães, entre o camarim e a boca de cena, seguindo a azáfama de bastidores. A Barbara aceitou a proposta do meu jornal e lá fui eu, até porque comigo era possível uma relação de confiança.
Na verdade, tenho pela Barbara uma empatia muito especial. Isto será o que 90 por cento dos homens dirão e os outros 10 ( os tais que...) também subscrevem.
A sério: depois de ter sido entrevistado por ela, há 4 anos quando apresentei Lisboa e Lisboetas, percebi como aquela mulher não só é uma mulher charmosa como uma grande jornalista.
Já a tinha fotografado para o Expresso e voltei mais tarde a fotografá-la. Aliás, era eu que estava destinado a fotografar o seu casamento com Carrilho, mas por impossibilidade pessoal coube ao António Pedro Ferreira essa espinhosa ( e traumatizante) experiência.
Há pouco tempo ao falar com Sofia Pintro Coelho no seu programa da SIC acabei por ser um pouco desagradável para Carrilho a propósito do alarido dos paparazzi e as fragilidades de quem expõe a vida privada quando convém, e de atiçar a cãozoada contra quem precisa de reportar quando a coisa já não interessa nada.
Acabei por me arrepender do que disse, não por achar que não tivesse razão, mas porque uma amizade, muitas vezes, não vale um desabafo. Enfim, adiante.
Gostei de reencontrar a Barbara e ela foi, mais uma vez, de um grande profissionalismo. Aceitou-me ali, intruso a espreitar pelo visor da Epson.
As fotografias vão ser publicadas na próxima edição da ÚNICA e estou muito contente com o resultado final. Logo que possa "postarei" algumas aqui.
Estamos a fazer no Expresso um grande esforço de mudança e aos poucos as coisas boas começam a ser notadas. Oxalá os leitores nos apoiem.
Sentir o frenesim de um espectáculo de televisão nos bastidores é muito giro. As equipas esfalfam-se, fumam que nem umas bestas, alimentam o colestrol, sofrem até ao apagar das luzes. Aquilo não dá saúde a ninguém.
As vedetas sofrem horas de espera, ao frio,à fome, para brilharem uns minutos. Quando as vemos no monitor e depois ao deixarem o palco aparecem na boca de cena, ao vivo, é o virtual a transforma-se em real. Fica estranho e chega a arrepiar.
Por detrás dos panos a televisão é outra. Ou seja: quando a fama acaba é a verdadeira vida que recomeça.
domingo, maio 21, 2006
Vídeos é canja
Claro que já criei uma conta para mim e estou a tentar colocar aqui alguns dos meus vídeos.
Este blogue promete...
Eu que como editor multimédia tinha imensa dificuldade em pôr online um vídeo de meia dúzia de segundos ( os servidores não dão, não há streaming etc,) aqui parece ser canja.
sexta-feira, maio 19, 2006
Narcisismo-mirandismo ou talvez não
Sei que pode ser narcísico ( apesar de nunca se poder confundir com o Narcisismo-mirandismo!) esta minha postagem. Mas, na verdade sinto um pouco de vaidade e orgulho com o Prémio Convergência que me foi ontem entregue pela mão do Dr. Francisco Balsemão,mais aos meus dois colegas da Visão e da Sic, Manuel Barros Moura e Ricardo Rosa.
O Prémio Convergência foi criado há dois anos pela Impresa com o intuito de premiar o melhor trabalho jornalístico dentro do grupo, feito com o espírito de aproveitar sinergias. Tem tudo a ver com a nova cultura multimédia e com o caminho a desbravar no sentido de encontrarmos novos públicos ( mais jovens porventura) e de ancorarmos os leitores fíéis.
O prémio a nós três ficou-se a dever ao trabalho "Mais Autárquicas", um portal da Impresa, um agregador que contemplava o melhor dos sites do Expresso, da Sic e da Visão.
Foi a primeira experiência deste género feita em Portugal entre três jornais online, sem receio de concorrência nem de canibalização. Correu muito bem, e co muita audiência, experiência repetida com o "Mais Presidenciais" e em breve com "Futebol total".
Ganho o prémio pela segunda vez, o ano passado passei à final com uma reportagem multiplataforma (vídeo, fotografia e texto) feito para o Expresso e para a Sic, na China, então acompanhado pela Catarina Carvalho também premiada.
Gostei muito de ouvir as palavras do Dr. Balsemão quando afirmou:" a internet é uma nova linguagem, onde o vídeo e o aúdio terão de ter uma forte presença". Não posso estar mais de acordo. Quem não entender isto e achar que o jornalismo online tem de ficar refém do papel não entende nada.
terça-feira, maio 16, 2006
Multimédia e donas de casa
Hoje na tv estarão As Donas de Casa Desesperadas. Exemplo de uma série inteligente e muito bem produzida. Popularidade não tem de ser igual a pirosada.
A conferência que proferi hoje no Instituto Politécnico de Portalegre, perante cerca de 200 alunos, foi muito estimulante.
Gosto de falar para plateias jovens e interessadas. Aqueles alunos do Curso de Design de Comunicação vão saír dali com uma boa preparação, dada numa escola moderna, de arquitectura aberta ao exterior e com muita luz, de acabamentos bem esolhidos como aquela pedra negra do chão. O pior será o pobre mercado de trabalho.
Os computadores espalham-se pelo hall da escola, com ligação permanente à internet e com grupos de alunos interessados à volta. Portalegre era uma cidade devotada ao abandono mas parece começar a saír um pouco da letargia.
Claro que a Câmara já está a tratar de dar um ar novo-rico à cidade com rotundas estúpidas, pagas pelos nossos impostos, e com soluções urbanas desastrosas. As autarquias não têm emenda e nós é que pagamos.
Ninguém controla os autarcas e eles usam as cidades e vilas como se fossem as suas salas de estar, pirosas, caras e nada funcionais.
É o estilo Paços de Ferreira !!!
Voltando à palestra na escola. Falei sobre a minha experiência e sobre a convicção de que é urgente uma liguagem multimédia, sem atilhos ao papel, para se terem jornais online alternativos e geradores de novos públicos e negócios. Também insisti que ninguém hoje pode ser só fotografo, só designer, só redactor. A linguagem começa a ser total o que não impede especializações e muito profissionalismo aplicado.
Inaugura hoje o novo Campo Pequeno. Mais uma barbaridade a juntar á barbaridade das touradas, apesar de eu achar que há barbaridades que fazem parte da crueldade humana mas também de parte do seu génio. Contradições.
Há uma ideia básica na vida: cada coisa é para o que nasce.
Uma praça de touros, é uma praça de touros. Ponto final.
Portalegre 1956
Estas são algumas das fotografias da minha infância passada em Portalegre tiradas pelo meu pai com a sua Zeiss 6x9.
Cheguei a Lisboa e apeteceu-me procurar as imagens e colocá-las aqui.
São fotografias de uma simplicidade total mas de uma sinceridade de olhar notável, além de um apuro técnico também notável. Nem sempre a tecnologia é tudo, como se pode apreciar.
Portalegre, infância e multimédia
Cheguei há pouco à cidade que José Régio mais gostava. É a cidade da minha meninice. Estive aqui entre os 3 meses de idade e os 3 anos. Guardo memórias esbatidas desses anos. Ainda reconheço o velho café onde via televisão com os meus pais, ao serão. Ninguém ganhava para ter em 1954-58 televisão em casa.
Algumas das fotografias feitas pelo meu pai na sua Zeiss 6x9 de fole, e que me fizeram apaixonar pela fotografia, foram feitas aqui. Eu num piquenique ao lado do Fiat Balila, eu abraçado a um cordeiro, eu de fato e gravata numa pose de homem crescido.
Talvez por me lembrar da minha meninice me custou deixar hoje o meu filhote de 4 anos, encantado que anda com as figuras do Wallace e Gromit e com pedidos insistentes para eu lhe arranjar uma miniatura de uma Austin A35, a clássica carrinha inglesa prima do Morris Minor, um dos carros dos meus sonhos. Tenho aliás um abandonado num mecânico no Barreiro há..20 anos, o LC-90-55.
O Solar das Avencas é uma casa carregada de história. No meu quarto existem pequenas figuras religiosas de uma intensidade admirável.
Estou em Portalegre para fazer amanhã uma conferência sobre jornalismo multimédia na Politecnica a convite do Prof. Luis Frias. Vamos ver como corre. Tenho tido ultimamente vários convites para falar em faculdades sobre a minha experiência de editor multimédia.
Um período que para já passou. O meu regresso ao fotojornalismo do EXPRESSO está a ser muito estimulante: restruturar uma excelente equipa e devolver ao jornal o protagonismo no fotojornalismo. Vamos todos conseguir.
Esta semana o portfolio da Susana Paiva é para mim motivo de grande prazer. Quero abrir a possibilidade de dar a conhecer os novos talentos do fotojornalismo. Mais do que uma tarefa acho que é quase uma obrigação moral.
segunda-feira, maio 15, 2006
Dobradinhos
Pinto da Costa lá conseguiu a dobradinha.
Nós, portugueses, estamos dobradinhos de todo.
Passei, para mal dos meus pecados, o fim de semana a ler jornais de todo o tipo e tendências. Na minha cabeça fica uma mescla de tragédia, drama e horror, como diria Artur Aldrabã no tempo em que o sorriso era Pepsodent.
Ao ver na televisão Cavaco a entregar a Taça não deixei de sentir um certo calafrio. Safa ! Safa ! Ainda sou do tempo em que o Pai Américo ( o da fatiota de marujo) ali estava na tribuna a entregar a dita ao Eusébio, e temos de reconhecer que, tirando a proporção de modernidade e progresso que o tempo só por si permite, não andámos muito.
Em vez da taça talvez fosse melhor um cálice de Porto....
Depois as inefáveis reportagens das televisões com os directos do Porto e com a possiblidade de uma cambada de energúmenos poderem dizer as maiores alarvidades em directo. E queixam-se que não há audiências.
E só ainda vamos na dobradinha porque quando chegar o Mundial é melhor emigrarmos porque então é que o país vai ficar insuportável.
Ou talvez não: com os ferrenhos em casa a ver tv e a mamarem nas cervejolas, as janelas de bandeirolas, as ruas desertas vão ser de um silêncio dourado. Vamos parecer por instantes um país abandonado.
Talvez nessas horas os espanhóis nos invadam.
sábado, maio 13, 2006
Peregrino de mim
É um caminho longo o que leva a Fátima. Longo, duro, sofrido e muito cruel.
É uma atitude terminal da alma, quando o ser se dá por desesperado e a fé espera no final da estrada.
Hoje é dia da virgem, o 13 de todas as promessas.
Portugal bem precisa de promessas à Virgem.
Acordei de madrugada com uma insónia insuportável. Liguei a tv para voltar a adormecer e ao ouvir Medina Carreira a ser entrevistado por Ségio Figueiredo, ouvi duas ou três verdades de tirarem o sono de vez. Uma: esta trapalhada socrática mexe apenas em 25 port cento da Segurança Social, e devia ter sido iniciada há 10 anos. Medina não acredita em panos quentes e acha que estamos perdidos. Eu que procurava adormecer com a televisão mergulhei num pesadelo.
Vamos a Fátima para o ano. O novo santuário, uma espécie de Colombo da fé, vai já estar aberto e o novo bispo usa computador portátil, diz ao EXPRESSO esta semana que nunca fez promessas à Virgem e desabafa que preferia nunca ter saído de Viseu.
Esperemos que não seja mais uma confissão jornalística a terminar em desmentidos como a ridícula actuação de Freitas do Amaral, durante o passado fim de semana, o ministro cansado da guerra diplomática.
Amanhã há final da Taça. Que se lixe a taça !...
quinta-feira, maio 11, 2006
A Lenda de Monsanto
À frente da procissão uma noiva de pele muito branca e transparente, engalanada num traje negro com um capuz em forma de caixa, transporta um galo de prata de espigão afiado. Ao olharmos com atenção podemos ler uma frase riscada sobre o metal: “1938, Monsanto a aldeia mais portuguesa”. Vai ali a assinatura de António Ferro, o ministro da propaganda de Salazar, o jornalista que quis dar ao regime um tom cultural e patriótico. Passados 68 anos o Rancho Folclórico de Monsanto, criado então com as adufeiras e seus cantares, lá vai ainda cantando e rindo com uma vontade férrea de sobreviver.
A 3 de Maio, ou no domingo seguinte, Monsanto faz a Festa das Cruzes.
A lenda vem do fundo dos tempos: durante um dos cercos mais prolongados ao castelo, durante a Iade Média, só já restavam uma bezerra e uma quarta de trigo. Uma idosa lembrou-se de dar o trigo à bezerra e de a lançar do alto do cabeço. O inimigo ao ver a vitela rebentar lá em baixo achou que a fartura afinal era muita e que a praça ainda tinha muito para resistir. Enganado, o inimigo abalou, e o povo de Monsanto, grato, passou a celebrar a vitória desde então.
Um pote de barro com muitas flores é lançado todos os anos em lembrança da vitela sacrificada, enquanto as raparigas vestidas à moda antiga levam nas mãos bonecas de pano, as marafonas, simbolo das mulheres de Monsanto.
As vozes agudas e ritmadas, pelo batuque dos adufes, projectam-se na paisagem de granito, entre escarpas e um horizonte sem fim.
A dureza e o carácter de Monsanto e da sua gente foi também referido um dia por Saramago:” Devemos entender o que há de pedra nestas pessoas e descobrir o que delas pessoas passou à pedra”.
ver reportagem multimédia em www.expresso.pt
quarta-feira, maio 10, 2006
Dolores e Infante no jardim
Manhã de Sol em Lisboa.
Descubro o jardim do Museu do Teatro ao encontrar-me por lá com Carmen Dolores e Diogo Infante.
A missão é fotografá-los para ilustrar uma conversa entre estes actores que tão bem marcam e definem duas gerações de grandes artistas.
É a primeira vez que fotografo Diogo e a Senhora Dolores a segunda.
A sessão não durou mais de um quarto de hora.
A meu favor a luz, o sítio e sobretudo aquelas personagens de uma grande riqueza humana e profissional.
Fácil: pedi-lhes cumplicidade na pose, o que nem era preciso: a corrente passava entre os dois. Assim é fácil fazer retratos, quando os modelos se assumem, sem falsas poses. Sinceridade. Fica tudo gravado com a emoção que a câmera permite.
Na despedida uma frase linda de Carmen Dolores:" Sou mais optimista hoje do que quando era jovem".
domingo, maio 07, 2006
Monsanto e as cruzes
Fiz uma viagem rápida e noturna pelas estradas portuguesas, entre auto-estradas e scuts para derivarem para caminhos mal sinalizados, estreitos, de curvas perigosas e, sobretudo, de sinalização completamente imbecil.
Aqui na estalagem da aldeia o silêncio é total, o ambiente rural. Tudo à espera da festa anual que amanhã se cumprirá, a tradicional Festa das Cruzes, ao som de adufes, danças de saias rodadas e vozes à capela de mulheres em côro.
Depois conto e mostro fotografias, não fosse a minha estadia aqui o propósito de uma reportagem para o EXPRESSO.
sábado, maio 06, 2006
A Encosta da Bica
Na segunda, 1 de Maio, tal como aqui contei, tinha eu estado embevecido a ver o Costa do Castelo.
A encosta da Bica tem ainda muito desse cheiro alfacinha dos anos quarenta.
Dispersos os alunos, cada um com a sua digital, eu também fiz questão em me isolar e avançar para dentro da Bica.
Há 8 meses que não estava na rua numa atitude de repórter.
Afinal não perdi o treino, e a lata, tenho-o de dizer.
Primeira foto: uma ruela em escadaria. Uma jovem de mini saia e ar gótico aproxima-se. Eu disparo, disparo e quando ela está a 2 metros peço-lhe para me deixar fazer-lhe um retrato. Ela acedeu de imediato. Ser abordada àquela hora, naquele sítio, podia dar direito a levar com um spray de autodefesa, ou com uma mala nas ventas.
Talvez ainda mantenha uma postura de algum charme, um dos encantos necessários para se fotografar na rua sem se passar por tarado.
O que me comoveu foi o encanto acidental deste bairro cheio de diversidade racial, de insolência mural, de sonoridade urbana e de museu vivo de uma cidade aberta.
Percebe-se porque tanto filme por ali tem sido rodado. Lembro-me de uma longa panorâmica no filme de Fonseca e Costa “Sem Sombra de Pecado” com a então jovem Vitoria Abril, uma das minhas actrizes- fétiche.
Passei pelo clube recreativo “Vai Tu” onde há 20 anos fotografei uma sessão de fado vadio. Tomei uma bica matinal num pequeno café onde o dono e um cliente discutiam a condenação à prisão perpétua do único acusado do 11 de Setembro.
Numa das mesas dezenas de diários gratuitos estavam expostos para serem distribuídos. Aliás, não havia ninguém que passasse na rua que não trouxesse um dos exemplares.
Como está a mudar o fenómeno da imprensa diária !
Uma semana de mudança também para mim. Voltei à rua a fotografar e assumi a coordenação da fotografia do EXPRESSO.
Maio maduro Maio…
quarta-feira, maio 03, 2006
O Medo do futuro
Num encontro de quadros superiores em que hoje participei, um dos temas em debate era a comunicação, a informação e a dúvida se hoje havendo mais comunicação nos conhecemos melhor uns aos outros e se, na verdade, partilhamos um maior conhecimento entre todos.
Claro que a sala logo se dividiu em duas partes. Uma, adepta e crente nas novas tecnologias, que dizia que hoje dispomos de um manancial de comunicação e informação notáveis e que acabam por levar a uma maior partilha de conhecimento e outra parte, céptica com as reais capacidades dos novos meios, nomeadamente a net, para quem o mundo de hoje se estava a resumir a uma comunicação básica, limitada, pobre, com o risco de nos devolver aos tempos em que comunicávamos não por palavras mas por batuques ou sinais de fumo.
Alguém lembrou que todos nós temos a tendência para recordarmos o passado com romantismo e nostalgia, fazendo disso um referencial idílico, manobrado na nossa memória, muito longe do que realmente terá sido o nosso passado.
Acharmos que antigamente é que era bom com as famílias reunidas à volta da mesa do jantar, cavaqueando ( antes do cavaquismo !) num ambiente de paz e harmonia, aliás uma ideia muito vinculada pelo salazarismo, e que hoje é um horror com os miúdos a empantorrarem-se de morangos com açúcar, outros na playstation, outros no quarto a teclarem na net, outros de Ipod aos berros a curtirem música, é levar demasiado a sério o nosso passado. “ Gostamos do passado porque o conhecemos, acabamos por temer o futuro porque é uma incerteza” – rematou um dos participantes.
Para os saudosistas não havia famílias más, nem rapazes maus. Esquecem-se que também havia muitos casos em que o homem chegava a casa, bem bebido, batia na mulher e nos filhos, via a bola a preto e branco e emborcava uma Sagres, entre tremoços e uns roncos imprevisíveis.
Sou suspeito. Acredito nas virtualidades da comunicação e acho que sou um sortudo por viver numa época em que posso usufruír de uma internet de conteúdos infindáveis, que permite uma comunicação universal, fácil, ao momento.
Dizermos que a internet isola é uma falsidade. Os milhões de conhecimentos que a net permite é uma facilidade fabulosa. Tem riscos, tem perigos, desvia atenções. Mas por ventura muita gente não se lembra do que era viver sem telemóvel, sem multibanco, sem computadores, sem via verde, sem uma tecnologia que nos permite trabalhar de uma forma mais eficaz, cómoda e produtiva.
É muito bom termos tudo isto.
Nem que seja para desligarmos tudo e podermos dormir ouvindo o múrmurio do mar.
segunda-feira, maio 01, 2006
Portugal e o Costa
Ao rever hoje o Costa do Castelo na matinée da RTP1 fiquei mais uma vez surpreendido com a eficácia narrativa, a técnica escorreita e, sobretudo, o sentido de humor do argumento com António Silva a brilhar com o seu talento único.
Pergunto-me sempre se foi o filme que inspirou os portgueses, marcados pela fita ao longo de gerações, ou se se trata mesmo de uma comédia que conseguiu fazer um retrato antropológico e social do que era a Pátria nos tempos salazarentos e que, passado meio século, continua com aqueles tiques, aqueles personagens, uma cultura de vida entre o patético, o espertismo saloio, o paternalismo e o desenrrasca.
Claro, no fim é tudo boa gente, bons malandros, ricos bons, pobrezinhos trabalhadores, meninas dotadas e sérias, moralismo qb para sustentar uma sociedade atrasada, que precisa do voluntarismo e da boa vontade. É o “ temos de ser uns para os outros”.
Este filme se tivesse passado na tarde do 1º de Maio de 74 era uma provocação reacionária sem desculpa. Teria sido um escândalo nacional, quando o país sonhava com o socialismo, a sociedade sem classes, um amanhã que cantasse num pôr do Sol vermelho.
Pobres e ingénuos portugueses!…
Ao lermos as notícias de hoje vemos bem como esta sociedade mudou. E mudou para muito pior, relativamente às expectativas altíssimas que se tinham posto naquele dia em que as ruas transbordaram de gente que acreditava mais na revolução do que as crianças no Pai Natal.
Vejam:
Os trabalhadores de Leste podem trabalhar em Portugal sem visto.
Cavaco gostava de ver mais barquinhos à vela no Tejo.
Fez calor e logo um incêndio queimou largos hectares de serra.
Doze mortos na estrada devido às festas e feriados.
Um morto e vários feridos em Samora Correia por causa de uma estúpida largada de touros para entrar no Guiness.
A segurança social e o seu futuro debatida na RTP, todos agoirando um futuro negro.
E até as nossas ex-colónias, ou como lhe queiram chamar, estão em polvorosa: Em Macau manifestantes atiram-se à polícia por causa do trabalho de imigrantes e em Timor desatou tudo à pancada entre militares com feridos e estragos avultados nas ruas.
No meio desta bagunçada O Costa do Castelo é uma bolha de felicidade e ingenuidade. É o retrato de um Portugal a preto e branco, com personagens humanas, que podemos encontrar ainda hoje, sobretudo hoje, no Portugal feito por Cavaco, Guterres, Durão e Sócrates.
Sempre um país triste e patético, trágico e perdedor. Mas que consegue uma escapadela para sobreviver.
Um país que sobe a vida a pulso e que muitas vezes, demasiadas, se torna num novo rico insuportável.
1º de Maio no remanço de uma terra vermelha
O primeiro Primeiro de Maio português em Liberdade foi há 32 anos.
Lembro-me da Alameda cheia de gente, um mar de gente, uma vaga de liberdade como nunca tinha havido e nunca mais houve. No ano seguinte a festa unitária descambou em arruaça do PCP. Lembro-me do Manuel Alegre com o Mário Soares sentados na Av. dos Estados Unidos impedidos de entrarem no Estádio do Inatel.
Em 74 era sim uma festa. Eu fotografava aquele caudal de gente entre a Alameda e o Estádio já chamado de 1º de Maio. Furei e consegui colocar-me na tribuna ao lado de Soares e Cunhal, uma foto do Eduardo Gajeiro acabou por documentar ali a minha presença.
Hoje estou no Carrascal, uma aldeia perto de Arraiolos onde entro na clandestinidade sempre que posso. É uma zona tradicionalmente comunista, de gente idosa e fraterna. Há 2 anos aceitaram-me como se fosse da comunidade, sem nunca me terem visto, sem saberem quem era.
Apesar da convicção comunista os ícones do partido desapareceram das ruas.
A esta hora o silêncio só não é total porque há pássaros que chilram ao longe e nem os cães ladram. Não há vento e amanhã vai estar calor.
O horizonte estava vermelho ao caír do dia.
Viva o dia do trabalhador no doce remanço do Carrascal.