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domingo, maio 28, 2006

O Carlitos e o Pirilampo Mágico

Quando o meu colega José Ventura me mostrou as fotografias feitas nos arredores de Felgueiras de uma família miserável, como já não se imaginava em Portugal, a trabalhar para a Zara usando as mãos das crianças, eu não queria acreditar.
Na minha cabeça, e na da maioria dos portugueses acho eu, já não havia trabalho infantil em Portugal.

Essa vergonha nacional que incomodava nos anos 90 os cavaquistas neoliberais e nouveaux-riches e que punha o nosso país no clube dos terceiro -mundistas, julgávamos já irradiada. O escândalo e a vergonha foi tal, a pressão internacional foi tal, que a inspecção do trabalho conseguiu fazer algum serviço útil.

Depois entrados na era sacrista de Guterres e sócrista do nosso segundo engenheiro primeiro ( isto está cheio de inginheiros!!) nunca mais se falou de escravatura infantil.
Eis que o Expresso desta semana nos devolve um pesadelo do fundo de nós, uma chaga social, uma miséria inenarrável.

As mãos do Carlitos de 11 anos, cozendo os sapatos da sobrevivência, as unhas sujas do trabalho, os olhares ainda doces e resignados, o ícone do FCP, aquele inválido sentado num sofá falido como a família que conforta, até a luz é dura e adversa como as tábuas do chão cariadas pelos anos, o granito da casa a sustentar o abrigo da mais vil pobreza, é um cenário neo-realista do nível a que Portugal chegou.

Não percebemos o que andou esta gente, os cavacos e guterres, os durões e os sócrates que nos governaram e governam a fazer todo este tempo. Acho, tenho a certeza, que esta cena não é possível de encontrar na Irlanda, em Espanha ou até mesmo na Grécia.
Andámos, e ficámos demasiado para trás. O novo riquismo deu cabo de nós, o dinheiro fresco tirou-nos a criatividade social e transformou Portugal num país aberrante, parasitário, engordado por uma máquina estatal sugadora de dinheiro, sacrificando só os que ainda conseguem trabalhar para pagarem quase 200 dias de trabalho para impostos.

A imprensa estrangeira como o El Mundo não se cala com este novo escândalo. Uma vergonha.

Mas nem tudo é mau. Cavaco inicia amanhã uma presidência aberta sobre a exclusão. Ele não lhe chama presidência aberta para não dizerem que anda a copiar Soares. Vai começar o seu périplo pelo Alentejo profundo, perto do Pulo do lobo.

E depois, se falhar, já há uma hipótese B: avança Maria Cavaco Silva recitando versos ao Pirilampo Mágico.

Só falta um chá de caridade para rebater. Mas lá iremos.

Enquanto houver pobres os políticos competentes estarão sempre salvaguardados no Céu.

4 comentários:

  1. Fotojornalismo que, além de informar... também é de causas.

    Gostei muito do trabalho.
    Paulo Sousa

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  2. Espero, caro Luiz, que amanhã, num próximo 'post', não venha a escrever que hoje se encontrava um pouco amargo... é que eu acho que não está. Acho mesmo que denúncias destas deveriam ser tratadas com muita mais violência. E perdoe-me lá a linguagem, mas bardamerda para euros e futebóis e até para causas como a de há anos com Timor (ficava bem na altura, não era? Agora vê-se...) enquanto existirem crianças a ser exploradas deste modo! Com crianças não, por favor!

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  3. Really amazing! Useful information. All the best.
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