Dennis Stock durante a conferência e abraçando o final um admirador. Fotos Luiz Carvalho
Recordo o post que escrevi há dois anos sobre Dennis Stock:
Na vida poucas vezes nos confrontamos com os nossos mestres. Passámos anos a admirar uma obra, vi-mo-la de trás para a frente, sabemos pormenores dela, devoramos os escritos do autor, imaginá-mo-lo fisicamente e há um dia em que ele nos aparece pela frente, tocamos-lhe e na hora do aperto de mão, a voz embarga-se, baixamos os olhos e resumimos a admiração a uma frase idiota que o mestre nem ouviu. "Obrigado Dennis !"- ele ainda se virou para trás, acenou a toda a gente em volta e atirou-me um:" Adeus homem da GAP!" - referindo-se ao meu boné.Recordo o post que escrevi há dois anos sobre Dennis Stock:
Era de manhã no Palácio dos Congressos de Perpignan onde decorrem os debates do Visa Pour L`Image e era o dia de Dennis Stock, o decano da Magnum aparecer para falar. Começou por fazer uma apresentação das suas fotografias projectadas, com pequenos comentários e acrescentando histórias de vida.
Começou a ser notado como fotógrafo pelo Robert Capa, nos anos 50, depois de uma reportagem sobre as entradas nas fronteiras dos Estados Unidos. Entrou logo para a Magnum, muito jovem, a sua vida atravessou a história contemporânea dos últimos cinquenta anos.
As suas fotografias do movimento Hippye, de Miles Davis, Amstrong, de Marylin Monroe...são um trabalho dos mais profundos e testemunhais. A amizade por James Dean começou no dia em que o actor o meteu atrás na sua Harley e voaram até ao alto de Los Angeles onde durante horas o puto-
" era uma criança!"-lhe contou a sua história de vida, como se Dennis fosse um pai.
Dali nasceu uma grande amizade e uma cumplicidade que permitiu fotografias tão marcantes como aquela do actor a atravessar Times Square, uma foto feita à pressa porque começara a chover e para a qual Dennis Stock utilizou apenas 5 fotogramas para escolher 1.
Hoje o mestre fotografa flores e no saber dos seus anos gosta de olhar ainda o Mundo através da sua Leica.
Está muito empenhado na internet, onde ele acha que os fotógrafos devem fazer sites onde a fotografia se destaque pela grande qualidade. "As fotografias depois de nascerem são do público e a internet é o lugar mais democrático para isso acontecer" - diz ele. Para Dennis os fotógrafos têm de ter imaginação e procurarem quem lhes possa pagar as reportagens. " Os homens ricos estão por todo o lado, só há que procurá-los e convencê-los do valor das fotografias".
Politicamente é um artista de esquerda e, como todo o bom americano, detesta Bush e pensa que o capitalismo de hoje devorou tudo e que a vida das pessoas se tornou tão desinteressante que agora só querem saber da vida dos outros, daí o sucesso das fotografias de paparazzis.
Alguém dizia por perto que é uma dádiva podermos encontrar num só fotógrafo tantas qualidades: Personalidade, carácter, rigor de enquadramentos, visão histórica e social, cultura e uma enorme generosidade.
Não fui só eu que me emocionei com a presença do mestre, e que, sinceramente, não consigo descrever neste post. Um jovem , no final da sessão, arriscou fazer uma pergunta mas a voz tremeu, o sentido das palavras tornou-se confuso. Quando Dennis pediu para repetir a pergunta o jovem teve uma branca e criou-se um eterno silêncio na sala. " Eu só queria dizer que gosto mesmo muito do seu trabalho e é uma honra enorme poder falar consigo!"- Dennis combinou com ele um abraço no final da sessão.
O dia de hoje ficará inesquecível para mim. Tal como aqueles em que estive com André Kertesz em Paris, com Koudelka e Salgado em Fátima. Mas hoje foi mais rico: as palavras e as fotos do mestre disseram-me numa voz calma e sábia que afinal o fotojornalismo, mais do que uma profissão é um acto de fé, uma vocação. Fiquei mais crente e vou fugir um destes dias com a minha Leica.
Obrigado mestre.
Também em www.expresso.pt ( Luiz Carvalho, enviado do Expresso a Perpignan)
Ora aqui está uma entrada muito boa, como o Luís devia fazer mais.
ResponderEliminarSó um comentário, esta fixação com as marcas.......
(independentemente da qualidade das ferramentas o que prevaleçe é a qualidade do fotógrafo, não tenho fetiche por nenhuma marca, isso não me impede de saber distinguir entre uma excelente ferramente e outra apenas correcta e conseguir fazer os trabalhos adaptando-me à ferramenta).
A fixação é em conceitos e não em marcas. Por exemplo descobri há pouco que a Ricoh fez uma extraordinária câmera, a EPSON outra e a Samsung um deliciosa mini câmera de video que me acompanha no meu bolso das calças. Há uma relação com as ferramentas que é muito importante e que a escolha destas define uma filosofia de trabalho, um estilo, um objectico final
ResponderEliminarFaço minhas as suas palavras "Obrigado mestre". Vemo-nos por aí amanhã, para onde vou fugir com a minha Leica ;)
ResponderEliminarAbraço,
Catarino
o mario deve fotografar (caso o faça) de maquina descartavel, comer em restaurantes desconhecidos, usar roupa sem marca... oh meu deus.... o que é bom é bom!! e é para se usar!
ResponderEliminarCaro anónimo, nenhuma máquina é desprezível, e não desprezo restaurantes só porque são desconhecidos (a comida e o serviço é que são importantes), a roupa sem marca não significa que seja imprópria para vestir. É tudo uma questão de saber fazer o balanço entre a qualidade real das coisas e o seu preço, muitas vezes o balanço é desfavorável, embora haja muito material caro que justifique o preço se pensarmos no uso que lhe vamos dar.
ResponderEliminarFotografo há muitos anos com Hasselblad, Nikon, canon, Rolleiflex, lomos, descartáveis e cameras de telemóveis, o que me interessa é explorar as características de cada uma e não "contar vantagem" acerca de que as uso ou não.
Acho muito bem que sejam os conceitos os directores da nossa atividade. Eu deixei a picada porque muitas vezes, a forma como se fala nas marcas pode levar a que pessoas menos experientes começem a pensar que precisam de ter determinada marco ou modelo para conseguirem fazer boas fotografias. Penso que o Luís concorda que isso é pouco desejável.
ResponderEliminarBelo post.
ResponderEliminarVale sempre a pena passar por cá.
E o que o Mário escreveu tem a sua importância.
Será que o Luíz ou "o" mestre referido não teriam o seu trabalho reconhecido ou a sua intervenção fotojornalistica teria sido muito diferente se usassem outra marca de equipamento?
Mas isso por agora também não deve ser importante.
também acho, paulo sousa, tenho adorado ler o LC.
ResponderEliminarGosto de aprender sobre o mundo da fotografia/fotojornalismo e dos fotógrafos/fotojornalistas.