Páginas

Mostrar mensagens com a etiqueta pt-TVI. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pt-TVI. Mostrar todas as mensagens

sábado, junho 27, 2009

Afinal Sócrates não foi o último a saber

Sócrates sabia desde o início do ano do negócio entre a PT e a TVI. Grande manchete do Expresso.
E se sabia é porque concordava, logo: ia haver negócio. Uma operação muito boa para a PT, boa para a PRISA (amiga do PS) e menos boa para a TVI, péssima para a liberdade de imprensa: íamos ter o regresso daquela nuvem que se sentia na TSF e no DN e JN quando a PT era dona. Só não houve negócio porque alguém deu com a língua nos dentes, estalou a bronca, o PR interveio a tempo, e a operação teve de ser abortada por Sócrates.

O que impressiona é a capacidade de manobra de Sócrates. E de novo se volta às anteriores polémicas em torno de Sócrates, em que parece sempre haver duas verdades, como se estivéssemos na presença de alguém bipolar.

Se Sócrates sabia do negócio há 6 meses, então quando falou contra a TVI no Congresso do PS e contra o Jornal de Sexta na RTP, já sabia que o que dizia se destinava a "alguém" que tinha os dias contados, e já estava numa posição vulnerável, sem o saber. É uma táctica miserável, muito típica de certo tipo de comportamento menos ético.

Fazendo agora um rewind, percebe-se a vontade de Eduardo Moniz fazer uma fuga para a frente e avançar para uma candidatura ao Benfica, percebe-se melhor a raiva de Moura Guedes contra o governo, entende-se tudo muito melhor. O que não se entende é: porque deve o Estado, com a manipulação do governo, deter tal poder (golden share) numa empresa, uma espécie de reserva socialista, quando o Mundo é aberto sem tutelas estatais.

Bruxelas já pusera várias vezes em causa esta ideia de golden share, tem agora uma oportunidade mais que justificada para acabar de vez com esta palhaçada.

PT-TVI mercado estatalmente vigiado

Se eu fosse accionista da PT estava muito irritado e, porventura, arrependido por ter dinheiro numa empresa que tendo o Estado como golden share me não permitia rentabilizar em pleno os meus negócios. Noventa por cento do capital da PT é privado mas são os 10 que directa e indirectamente pertencem ao Estado que acabam por mandar na hora da verdade.

A Europa já contestou várias vezes a legalidade da golden share precisamente porque pode por em causa a livre concorrência.
O Estado na PT não impede que as telecomunicações sejam mais baratas, tal como não impede na GALP que a gasolina não custe o que custe. Por outro lado, já existem entidades oficiais que controlam a concorrência, as acções em bolsa, a concentração e a ética informativa. A PT para comprar a Média Capital teria de passar pelo crivo dessas quatro entidades. Mas o Estado interveio antes. Em que ficamos então ?

Claro que pode assustar a PT ter uma televisão nacional. Mas a PRISA espanhola já detém a TVI e outras plataformas de informação, e nunca demos conta que tivesse havido nisso algum mal. Até se dizia que sendo a PRISA toda socialista o governo de Sócrates seria beneficiado, e com Pina Moura mais se falou, mas afinal a TVI acabou por se revelar uma feroz oposição aos socialistas. Além disso a PT só queria 30 por cento da TVI. Não vejo qual seria o problema. Aliás vejo maior problema em a empresa de Paulo Fernandes, dono do Correio da Manhã, querer comprar toda a TVI. Nem dá para imaginar...

Há uma confusão grande entre interesses de negócio e política. A oposição tirou muito bem partido da gaffe de Sócrates quando apanhado de surpresa à entrada do Parlamento disse que não sabia e que isso seria assunto entre duas empresas. Depois a boca de Sócrates à orientação editorial da TVI, no congresso e mais tarde na RTP, foram mortais.

Mas o que se deve mesmo discutir, e eu gostava que me explicassem, porque deve o Estado ter direito de preferência através de uma coisa chamada golden share, que mais parece aquelas participações que o Conselho da Revolução gostava de manter nas empresas nacionalizadas após a chamada revolução de Abril.

Numa altura em que as empresas portuguesas podem vir a precisar de entrada de liquidez de empresas de países estrangeiros fora da Comunidade Europeia, era bom que o Estado revê-se esta presença perversa.

quinta-feira, junho 25, 2009

PT-TVI: Sócrates e Lino são os últimos a saber...

Há uma técnica dos maridos enganados: fingem que não sabiam e conseguem com essa cobardia salvar por tempo contado o casamento. Há os que sabem e preferem não saber, e há aqueles que não sabendo acham que sabem sempre.

Sócrates e Lino disseram à Nação que não sabiam do negócio PT-TVI e o Primeiro tem esta gaffe monumental (porventura a sua maior gaffe): diz à porta do Parlamento que não sabe nem tem de saber da operação porque são negócios entre privados. É como um marido enganado dizer que não tem nada a ver com uma "opa" hostil à sua esposa só porque parte do seu irmão...

Sócrates e Lino tinham de ser os primeiros a saber, pelos vistos foram os últimos. A PT devia ter logo falado com o Primeiro e se não o fez a gravidade é enorme. Portanto isto é uma grande bronca. Não sei se o PR devia ter falado no caso. Não sei, mas gostava de saber, se um PR deve pronunciar-se sobre um negócio (que é legítimo, embora pouco ético) em público com uma bateria de micros à volta. Pelo menos também me parece deitar ainda mais petróleo para a fogueira. Portanto: está tudo um pouco louco e há aqui muita inabilidade política e uma fuga (várias fugas) para a frente que estão a tornar a pré-campanha numa luta sangrenta de galos apavorados.

Ferreira leite está a tirar bom partido político da situação, mas todos sabemos como isto é apenas um jogo político puro. Sócrates pode ter neste negócio um presente envenenado, embora se possa compreender esta coisa simples: a PT precisa de conteúdos. A Prisa precisa de dinheiro. A PT não sabe o que fazer aos milhões que ganha à custa de um mercado caro para os consumidores, o negócio é bom para as duas partes. O governo por acaso não gosta da TVI, mas até poderá aceitar José Eduardo Moniz: ele é muito competente e não morde a mão que lhe dá de comer (passe a expressão).

Quando era Director-geral da RTP no tempo de Cavaco, Moniz fez uma frente terrível à SIC, ganha pela preserverança de Rangel, e agora ele saberá por no ponto certo uma informação mais consensual. E nem precisará de tirar Manuel M. Guedes da antena. Uma hora de oposição por semana até fica bem...

Se o negócio for para a frente ninguém se vai calar e esta pode ser o derradeiro escândalo do engenheiro Sócrates.