António Costa, o candidato, desce a Avenida Almirante Reis. À frente vai uma fanfarra que toca brasileiradas e por vezes When de Saints Go Marching In, (como se vê tudo muito português), e é com este clássico que Helena Roseta começa a mexer e dar ao corpo, ao lado de duas negras contratadas para animar a charanga. Para quem a fotografou ao lado de Sá Carneiro num comício no Campo Pequeno em 74, e esteve com ela no Botequim ao lado de Natália Correia, custa a acreditar que seja a mesma personagem.
Costa desce a Almirante Reis também com Manuel Salgado (rendido à política activa a distribuir panfletos), mais à frente vai Sá Fernandes, discreto e a fumar muito, apareceram também Simoneta Luz Afonso (que entrou na reforma) e muitos outros apoiantes. O assessor de Costa na Câmara Duarte Moral, tenta não aparecer nas fotografias.
Foi nesta avenida que João Soares perdeu em parte a sua eleição ao ter abreviado a descida. Costa ao contrário empenha-se. Cumprimenta todos os que lhe aparecem pela frente, saúda os mirones nas janelas, onde há trolhas, cabeleireiras e até idosos a quem alguém deu cravos para saudar a sanfona socialista.
A maioria dos eventuais votantes são indianos (há um que faz questão em o acompanhar com bandeira o tempo todo), paquistaneses, brasileiros, chineses, ciganos. Há muçulmanos vestidos a rigor e também muitos sem-abrigo que param por ali à espera da hora da sopa dos pobres, e na eventualidade talvez pingue algum do candidato!
Um passante pergunta a Costa se foi ele que pagou "o almoço dado em Belém". O candidato irrita-se e passa à frente. Quando pode haver confusão ele sabe fugir, embora arrisque entrar num hotel para dar um panfleto na recepção, atravesse uma entrada de um armazém de electrodomésticos para fazer passar a sua mensagem.
A Almirante Reis é uma das zonas mais degradadas de Lisboa. Uma zona tradicional, de arquitectura notável, que foi abandonada nos últimos 20 anos por todos os presidentes de Câmara. Ficou uma área que podia ser considerada de calamidade pública, agora povoada por imigrantes, parias, velhos, drogados, e com um pequeno comércio moribundo à espera de ser substituído por mais uma loja chinesa. Uma tragédia urbana. Não pelo facto de ser habitada por gente de fora, mas porque não soube evoluir e fazer a fusão de culturas sem cair no abandono e na degradação total.
António Costa passeia-se por uma avenida que é uma das vergonhas camarárias de Lisboa.
Está tudo ou a cair, ou em liquidação, ou em trespasse. As ruas estão nojentas, há poças de água estagnada, lixo, porcaria. Luanda não fica muito longe deste descalabro sanitário. Quando há um pobre que se aproxima de Costa ele remete-o para Helena Roseta que trata logo de apontar o nome e parece querer prometer a solução para a desgraça alheia.
Quando há animação é Sá Fernandes que chama o homem das rosas e manda distribui-las.
"Rosas, rosas!"- chama ele aflito. Vá lá que não são girassóis!!!!
O cheira bem cheira a Lisboa, cai ali que nem um hino à ironia, mas mesmo assim a tropa fandanga lá vai cantando e rindo, levados, levados sim.
Luíz
ResponderEliminarMais uma vez te dou parabéns por mais este HINO À REALIDADE PORTUGUESA.
Sei que o PODER transforma as pessoas, mas não esperava isso da Helena Roseta...
Pobre Pátria que tais filhos tem.
Gaspar de Jesus
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ResponderEliminarBrilhante!
ResponderEliminarMuito obrigado por este retrato da "capital do Império".
Parabéns.
Caro Luiz,
ResponderEliminarmoro na Graça, perto da Avenida Almirante Reis que conheço palmo a palmo desde que participei num site chamado Lisboa Abandonada (hoje indisponível). E, não contestando a sua análise social, posso dizer-lhe que a Avenida tem melhorado significativamente em matéria de urbanismo desde 2001 até hoje.
Primeiro, é necessário considerar toda a extensão da Av. Almirante Reis, desde o chafariz da Rua da Palma até ao Areeiro. Se o fizer - e, estando agora em casa, estou a descer mentalmente a avenida - o Luiz encontrará:
Um prédio do lado nascente (nº pares) a terminar a recuperação logo no quarteirão entre a R. Actriz Virgínia e o Areeiro. Deve ser o nº 248 ou algo parecido. Logo ao lado, há outro recentemente renovado, que foi adaptado para ter garagem subterrânea.
Entretanto, passa pelo jardim da Praça João do Rio que foi renovado em 2003 ou 2004 e está bastante aprazível. Só não está mais agradável porque alguns utentes são incivis com o lixo e com o pouco cuidado que têm com os seus animais e porque a Câmara Municipal de Lisboa (CML) deve ter decidido que a fonte com espelho de água que lá se encontra deve ficar a seco.
Mais abaixo, do lado poente (nº ímpares), um pouco acima da entrada do metro da Alameda, está um prédio recentemente renovado com andares em venda. O prédio junto ao metro (lado ímpar) foi renovado em finais de 2006 e pareceu-me que o trabalho foi feito bastante cuidado visitei-o em busca de um escritório para alugar (sendo leigo na matéria, não posso avaliar a qualidade da obra, só as aparências).
Convido-o a atravessar a Alameda Afonso Henrique e lembro-me de ver aí dois prédios de cara lavada, um do lado ímpar, junto ao café Império onde há uma loja de roupa e outro mais a sul, do lado par, que parece ser uma construção anterior à II Guerra Mundial e que tem uns mosaicos que me lembram a arte Déco, que associo ao final da década de 20 (peço desde já desculpa pela calinada se o estilo for outro). Tive uma colega de escola que morava aí e ainda me lembro do número: é o 164.
Seguindo um pouco mais para sul chegamos à Praça do Chile. Aí, há dois exemplos contrastantes: do lado ímpar, o Hospital de Arroios que continua a sua lenta ruína. Do lado par, o edifício Praça do Chile nº 5 (como os promotores fazem questão de lhe chamar) que é também uma recuperação que preserva elementos decorativos Art Déco ou Arte Nova (o Luiz é arquitecto, dirá de sua justiça).
Pouco depois vem o quarteirão da Portugália onde começaram recentemente obras de demolição da fábrica de cerveja. Por ora, o aspecto é desolador mas as perspectivas são de melhoria. Junto ao cruzamento com a a Rua de Angola há mais dois ou três prédios recuperados (um é rosa com ferragens vermelhas? outro é cinzento claro e é da Misericórdia de Lisboa, se não me engano) e um prédio de construção nova que é um hotel anódino. Do outro lado da Avenida está o Banco de Portugal que também tem fachada para a Rua Febo Moniz e que mantém um ar cuidado. Atravessando a R. Febo Moniz, o prédio de esquina tem uma pastelaria e está envelhecido mas o prédio logo a seguir (do lado ímpar) abriu já este ano com uma estalagem ou semelhante após anos a cair aos bocados. A seguir vem o prédio que já foi da Emptel/Siemens, da Oni e que agora nem sei quem está lá. Poucos prédios abaixo estão dois prédios renovados, um amarelo limão e outro azul saturado. Sempre que olho para eles lembro-me de Olinda em Pernambuco, pelo uso forte da cor rematado com varandas, ferragens e cimalhas contrastantes.
(continua)
(continuado)
ResponderEliminarChegamos então à Igreja dos Anjos. Aí, destaca-se o edifício da Sopa dos Pobres que foi pintado de fresco e está em bom estado e alguns lotes expectantes (por exemplo o nº43 que há anos espera por construção). Um pouco mais abaixo está um prédio amarelo torrado da Rua dos Anjos nº 24 com fachada das traseiras para a Alm. Reis (e regueirão dos Anjos) que teve recentemente obras de conservação e no cruzamento com a Rua Andrade está um prédio pintado de azul-bebé e remates a branco com uma carranca no topo cujas obras acabaram há poucos meses e, tive já esta semana o prazer de descobrir, que já tem um andar habitado. Logo abaixo, na secção final da Rua dos Anjos há uns prédios reconstruídos pela EPUL mas não sei qual o seu grau de ocupação.
Voltando à Avenida, é com tristeza que constato que o edifício da Fábrica Viúva Lamego continua barricado e sem uso. Do outro lado da rua, foi recentemente recuperado (e amarelado!) o nº 11 que eu tinha fotografado para Lisboa Abandonada. Se quiser ver o "antes", está aqui:
http://lrm.isr.ist.utl.pt/jsgm/lsb_abandono/avalmirantereis11.html
Para ver o "depois" basta passear na rua ;-) com vagar e sem pré-conceitos. Um pouco mais abaixo, já na Rua da Palma, começou recentemente a renovação de um edifício rosa com um pátio à entrada. Não me lembro qual é o fim a que se destina; do lado par, a antiga sede do PSR também está em obras. E depois há o arquivo fotográfico municipal onde às vezes páro para espreitar as exposições.
Esta avenida tem qualidades imporantes: tem muitas estações de metro - demasiado próximas até! - e tem muitos transportes entre os quais o meu dilecto 28 que vem para a Graça, o que facilita o acesso das pessoas ao comércio local, especialmente às mais idosas. Tem passeios homogeneamente largos, bastante bem pavimentados e com escassos carros estacionados em transgressão. Tem parques de estacionamento e parquímetros à superfície. Tem dois jardins com parques infantis (mas são os dois no topo norte). Tem mais um jardim com um parque de terceira idade (a Igreja dos Anjos), pouco recomendável para senhoras. Tem um declive suave que convida ao passeio enquanto a luz reflectida pelo Tejo é uma promessa constante por cima dos telhados da Baixa (não foi por acaso que lhe sugeri que começasse o passeio pelo lado do Areeiro).
Tem cafés, restaurantes de vários preços e géneros, estações dos correios, bancos, talhos e floristas. Tem escolas e retroseiros, farmácias e lojas de acessórios para automóveis. Tem onde jantar tarde (a Portugália) e onde comprar pão quentinho cedo, de madrugada, (no quarteirão acima). Tem grandes empresas e serviços que atraem uma população diurna importante. Enfim, nos últimos dez anos a Avenida ganhou também uma árvores enfezadas porém animadoras; nunca pensei que se aguentassem apenas com uma nesga de terra rodeada de betume impermeável para as vias. Ganhou também hotéis e lojas grandes e luminosas; são um bocado monotemáticas, mas enfim, antes um "cluster" de lojas de móveis do que de agências funerárias...
Mantém alguns cancros urbanísticos - o Hospital de Arroios, a Fábrica Viúva Lamego - e chagas sociais: as arcadas das lojas à noite, o centro comercial Almirante Reis, as cercanias da Igreja dos Anjos, o Regueirão dos Anjos, o Largo do Intendente e a Rua do Benformoso. A Polícia Municipal mostra-se na zona do Intendente mas duvido da sua eficácia na prevenção do crime.
Também as estações do Metro parecem hoje demodés. Há cinquenta anos, a decoração (Maria Keil?) era agradável mas comparando-a com a luminosidade e amplidão das estações actuais (Alameda e Martim Moniz), as estações Intendente, Anjos, Arroios e também Areeiro fazem fraca figura.
(continua)
(conclusão)
ResponderEliminarNão me interessa atribuir méritos e culpas destas mudanças às diversas vereações. Como munícipe, interessa-me ouvir o que têm a propor, analisar a credibilidade das propostas e votar em conformidade no próximo Domingo. Mas, depois disso, e já sem a bílis criada pela campanha eleitoral, convido-o para um passeio de máquina fotográfica e - porque não? - com uns slides à "moda antiga" para puxar as cores da avenida que está bem mais formosa do que a sua crónica faz adivinhar.
Cordialmente,
João
Helena Roseta a dar ao corpo?!? Ora aí está uma imagem que eu gostava de apagar da cabeça.
ResponderEliminarQue trio: O costa é um ZERO, o sá fernandes é abaixo de zero e a roseta a abanar o corpo deve ser uma equação esquisita com um resultado imprevisível.