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quarta-feira, setembro 23, 2009

O sufoco da verdade


Pensava eu que o país tinha mudado. Que a maturidade política era maior, o esclarecimento mais eficaz. Bem podem os marretas que vão à TV encher tempo a custo baixo, falar dos problemas, apontar caminhos intrigalhar ou fazerem da arte da política a conversa sofisticada dos donos da bola.

A verdade é que o povo continua na mesma.

Aparece a bater palmas ao primeiro-ministro em troca de um jantar, de um passeio de autocarro, de umas esferográficas a dizer PS, de umas t-shirts manhosas, de umas bandeirolas patéticas.

O povo está feliz desde que lhe dêem qualquer brinde. Depois podem ser castigados nas pensões pelo fisco, podem ter de ir operar as cataratas a Cuba, podem morrer numa fila de espera para uma operação que virá no dia de São Nunca à tarde. Isso não conta. O que conta na hora do voto é o ambiente afectivo que foi criado, a ilusão. Todas as religiões sobrevivem assim, a política também.

O PS sabe-a toda. Andou quatro anos a governar para o próximo dia 27. Deu brindes aos pobres, pagos em impostos pela classe média, distribuiu subsídios, benesses, deu gratificações sociais como quem dá esmola. E agora tem aí os velhos, os marginalizados, os calões que vivem à pala da segurança social, uma faixa enorme da população portuguesa na mão, com o voto pronto no PS.

Marcelo Caetano fez o mesmo com as pensões. O Poder sabe que é fácil comprar votos, iludir os desiludidos, mobilizar os que não participam na política nem na vida cívica. Quem nada tem fica eternamente agradecido nas urnas com uns tostões, umas rezas e umas promessas.

Esta será a vitória política do cinismo, da mentira e da demagogia total.

Quando ouvimos Sócrates oferecer em cada comício mais um subsidio, um TGV, uma auto-estrada para nenhures, Teixeira dos Santos (o carrasco da classe média) vir acusar o Bloco de querer tirar uns tantos milhões a quem trabalha (pelos vistos ele fez as contas também e irá executá-las), percebemos a grande mentira, essa vencedora destas eleições.

Mas quando ouvimos as palavras patéticas do reformado Marques Mendes, a voz de menino Maizena de Rangel, ou as palavras sábias de Ferreira Leite em tom cinzento, engalanadas nuns "tailleurs" vitorianos, percebemos que só há duas coisas a fazer como português: ir embora para o Burkina-Fasso ou aguentar e não chorar.

4 comentários:

  1. Luiz, a tua lucidez na escrita é perfeita. És o melhor cronista. Leio o que escreves com prazer e aplauso. Jorge Barbosa

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  2. «Esta será a vitória política do cinismo, da mentira e da demagogia total.»

    Há muito tempo que não podia estar tão de acordo consigo, Luís.

    Mas só descobriu isto agora?

    A verdade é que desde o tempo da "Outra Senhora", como, mal-educamente, disse o seu amigo Joãozito, filho de um tal Mário, que sem o papá que tem nem sequer existia, que isto não mudou muito. Bem vistas as coisas, afinal.
    Tal como antes, o povo não deve ser ensinado para pensar.
    Porque quem pensa complica e passa a ser perigoso.

    E esta lógica funciona até com o ensino do programa das Novas Oportunidades. Que mais não é do que as esferográficas e frigoríficos que se oferecem ao povo.
    Toma lá o 9º e o 12º anos, mas fica burro como antes.

    É o que temos. E bem desconfio que por muitos e bons (maus...) anos.

    PS:
    Quero dizer-lhe que apreciei o facto de não ter apagado alguns dos meus comentários acima, aliás, abaixo.
    Você sabe que eu uso sempre de franqueza, e também de alguma estupidez..., mas não sou "estúpido", como já uma vez aqui comentou um estúpido comentador ao se referir à minha pessoa.

    Posso não concordar com algumas coisas que escreve mas não deixo de o considerar.
    Também se não fosse assim já o tinha mandado passear há muito tempo.
    ...

    E depois também é uma forma de "namorar" com a Pézinhos, que não faço a mínima ideia de quem seja, mas um dia destes ainda vamos tratar disso. Esperando que não seja um homem... :)

    É que no meu "jornal", que é sobretudo um diário intimista, apesar de exposto na blogosfera, não há conversa com ninguém.

    JJ

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  3. Caro Sr., e é só o PS que tem feito asneiras ao longo destes anos todos? Só como exemplo, então e os subsídios para a agricultura transformados em jipes topo de gama e em apartamentos no sul de Espanha? E não foi num governo do PS que isso se passou. Todos fazem asneira, uns mais que os outros mas, a constante é a mesma - todos, independentemente da cor política, querem o mesmo - boa vida para si,familiares e amigos

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  4. Não diga entulho. O PSD ganhou muitas eleições assim, a dar canetas e bandeiras estúpidas ao povo.

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