sábado, agosto 29, 2009
A politico-chachada dos cartazes eleitorais
O conceito do cartaz político nasceu com a primeira campanha de Francois Miterrand, em 1981, com a imaginação de François Seguéla. O desafio era publicitário: fazer passar com o peso de uma frase e a força de uma foto, uma ideia política de forma directa e inesquecível.
Seguéla falou então com o fotógrafo da Magnum Elliott Erwit para fazer a foto da campanha. A ideia era fotografar Mitterrand numa atitude de firmeza e coragem. O mítico mestre-fotógrafo terá respondido a Seguéla que só tinha dois preços para fazer essa foto: ou de borla, atendendo à simpatia pelo candidato, ou levando um preço absurdo. Seguéla aceitou o preço absurdo, umas centenas de milhares de francos, na moeda da época.
A exigência pelo rigor e pela qualidade era muito grande. Esta campanha abriu um precedente positivo e passou a ser uma referência no marketingh político, na sua importância e na capacidade extraordinária de uma boa fotografia no sucesso de uma campanha.
Portugal não fugiu a esta influência de qualidade. Mesmo antes da campanha de Miterrand, já havia em Portugal cartazes políticos que ficaram como verdadeiras obras de arte. Basta lembrar o cartaz de Vieira da Silva sobre o 25 de Abril ou a fotografia do menino a por um cravo numa G3.
Muitos fotojornalistas portugueses participaram com retratos seus em campanhas. Gageiro com Eanes, Alfredo Cunha com Mário Soares, Rui Ochoa com Cavaco e Santana Lopes, Homem Cardoso com Guterres, António Pedro Ferreira com António Costa e Sampaio, eu próprio fiz o retrato de João Soares para a sua última campanha e o cartaz de Manuel Alegre. Embora haja em Portugal uma norma de conduta estúpida patrocinada pelo Sindicato dos Jornalistas (que se comporta como uma Ordem e não como sindicato!) que considera incompatível a participação de um fotojornalista num trabalho destes, a verdade é que isto é normal na América (onde pelo visto se acha que os jornalistas são menos independentes!). Não era aqui que queria chegar.
Queria chegar à desgraça total, ao ridículo, em que se transformaram os cartazes de TODOS os partidos concorrentes às eleições.
O retrato de MFLeite parece saído de uma publicidade cínica à família Adams. O cartaz do Bloco de Esquerda é confuso, pretensioso e ineficaz. O cartaz que saiu hoje de Sócrates é difícil ser pior. A fotografia deve ter sido feita por aquele brasileiro que ele considera "o meu fotógrafo, um dos melhores!"- (só se for a empurrar os jornalistas e a evitar que se façam fotos comprometedoras para o chefe!) como confessava a semana passada a Moita Flores. É um chapão de flash, sem volume nem expressão, dentro de um grafismo que parece um destacável do Media Market. Incompreensível para quem sonha tanto com a sua imagem ao espelho!
Os cartazes para as autárquicas são um vómito. Vejam-se os borrões de António Capucho, a cara de pastel do candidato do PS a Oeiras ou os cartazes inenarráveis de Isaltino! Difícil fazer pior.
Isto demonstra que não temos cultura gráfica e de comunicação. Perdemos o pouco gosto que tínhamos e algum "savoir faire" que desprezámos em nome do baratinho, do desenrasca, do atamanca. Designer qualquer bronco o é, fotógrafo é o primeiro bate-chapas que estiver à mão.
O desgraçado disto tudo é que esta estética é ética e é moral. Temos de voltar aos clássicos para percebermos a matilha que nos quer governar.
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Tema interessante, Luiz.
ResponderEliminarA França tem grande tradição do cartaz político. Giscard d'Estaing foi fotografado por Jacques Henri Lartigue (que só aceitou com o garante de total liberdade na escolha do tema) com um resultado surpreendente e moderno. Chirac foi retratado por Bettina Reims.
A bela fotografia se Séguéla foi também inspiradora (ou copiada) para o 1º cartaz de Sarkozy.
Por cá, as fotos políticas são feitas com muita militância e aposta no futuro, a foto do miúdo, cravo e G3 é do Eduardo Gageiro e os foto-jornalistas que referes tornaram-se (ou já eram) os "homens" do presidente em caso de vitória dos candidatos. Excepção ao Cardozo que não é foto-jornalista e ao Tó-Pê que não procura tacho.
Também fico chocado com tamanha falta de qualidade gráfica do cartaz político actual, mas o mal é geral em toda a publicidade onde os valores pagos pelas imagens desceram a níveis impensáveis à 10 anos.
Quanto ao comentário sobre o "brasileiro", parece-me dispensável neste excelente artigo, mais a mais quando houve antecessores portugueses que faziam igual ou pior. E tu sabes melhor que eu.
Abraço
Rui Vasco
Este "post" é um dos melhores que tenho lido no "Instante Fatal" e por isso não deixo de me associar à má qualidade das muitas opções tomadas independentemente das minhas simpatias políticas. O que se encontra perante os olhos dosportugueses que irão optar com a sua opção aínda é pior que as propostas políticas que recebemos. A imagem fotográfica e a imagem gráfica é tão má que alguns dos trabalhos do princípio do TEMPO DEMOCRÁTICO até ganha o fulgor de grande obra. Hoje tudo está pior.
ResponderEliminarE em virtude da sua referêcia, muito oportuna, eu próprio pela minha formação francófona fui anos atrás influenciado por este trabalho de François Seguéla que motivou uma fotografia e um cartaz que numas eleições autárquicas e por um acaso, resultou no melhor resultado dessa força política. Obrigado por fazer lembrar esse momento.