Pouco mais de um mês depois, José Eduardo Moniz sai mesmo.
Em finais de Junho, em pleno dossier Portugal Telecom/TVI, Manuela Ferreira Leite acusou: "Se a PT entrar na Media Capital e José Eduardo Moniz sair, seria escandaloso." José Sócrates respondeu com um veto ao negócio.
O primeiro-ministro quis evitar que a entrada da PT na Media Capital fosse vista "como uma tentativa do governo de influenciar uma qualquer linha editorial". Mas a cara dessa linha acabou mesmo por abandonar a TVI ontem, não por causa da PT mas para ocupar o lugar de vice-presidente num accionista da operadora: A Ongoing Investments, dona de 6,7% da PT e que fechou 2008 com um prejuízo consolidado de 65 milhões de euros (ver ao lado).
Antes de se decidir por este rumo, Moniz foi candidato a candidato do Benfica, mas Luís Filipe Vieira trocou-lhe as voltas ao antecipar as eleições previstas para Outubro.
Sobre a saída, o ex-director geral da TVI falou primeiro aos seus colaboradores. "Obviamente saio triste", diz numa carta interna enviada terça-feira à noite onde, sem apontar razões para a mudança, sublinha que sai "de consciência tranquila".
"Estou convicto de que me orientei por princípios de honestidade e isenção, não aceitando pactuar, até final, com orientações ou pressupostos susceptíveis de contaminarem o pacto de seriedade e de verdade celebrado com os espectadores", assegura. Postura que faz votos "assim continue e que se preserve o espírito livre, inconformista e batalhador desta empresa, imbuída de uma cultura de independência perante o poder".
A TVI tem estado na ribalta ao longo de 2009, posição que não deverá deixar tão cedo. Transformou-se no alvo preferido de José Sócrates - que acusa a televisão de perseguição política e o Jornal de Sexta de ser "transvestido" - e também dos grupos de comunicação.
A débil situação financeira dos espanhóis da Prisa, donos da Media Capital, abriu uma janela para quem ambiciona ser dono de uma televisão e logo a líder. Primeiro foi a PT, depois falou-se em Cofina, Controlinveste e, sempre com mais insistência, na Ongoing de Nuno Vasconcellos, precisamente a empresa para onde deverá ir agora Moniz.
O futuro do ex-director geral da TVI passa então pela vice-presidência do ramo de Media da Ongoing, grupo que ganhou nome durante a Oferta Pública de Aquisição (OPA) da Sonae sobre a PT, onde apoiou esta última com o beneplácito do BCP que lhe emprestou 375 milhões de euros para financiar a compra de acções da PT, algumas a preços superiores a 9 euros e que hoje valem 7,3 euros.
Em Junho do ano passado a Ongoing pagou 26,7 milhões pela Económica, dona do "Diário Económico", e ainda em 2008 reforçou a posição na Impresa, detendo hoje mais de 20% da dona da SIC. Em Dezembro de 2007 detinha apenas 1,3%.
A Ongoing planeia agora lançar um canal de economia na televisão por subscrição; quer avançar com um jornal no mercado brasileiro; e desde há um mês que corteja a Media Capital, apesar do casamento que mantém com a Impresa.
Um casamento onde tentou mudar a balança do poder na semana passada, para obter mais influência sobre a gestão, oferecendo em troca uma injecção de capital nas contas da SIC. O negócio foi recusado por Pinto Balsemão.
Agora as baterias estão centradas para a Media Capital. Com uma disponibilidade de caixa de 100 milhões de euros e uma situação líquida de 50 milhões de euros. Segundo avançou ao i fonte oficial da Ongoing, o grupo está convicto de que conseguirá entrar na estrutura accionista da empresa dona da TVI. A acontecer, José Eduardo Moniz, ex-director geral da TVI, voltará a cruzar-se com a estação televisiva que, em seis anos, transformou em líder incontestável de audiências desde 2005.
"Costumo dizer, sem falsa modéstia, que se conseguiu construir a mais portuguesa das estações de televisão do país, em cumplicidade plena com os espectadores, esses sim, os nossos verdadeiros parceiros estratégicos", diz José Eduardo Moniz na sua carta de despedida aos colaboradores da TVI. "A vida é feita de ciclos. Este chegou ao fim", resume antes de um: "Até sempre."/ JORNAL i
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