Páginas

terça-feira, julho 14, 2009

A trupe subsidiodependente à volta de Costa

Carlos do Carmo é um homem íntegro. Aceitou ser mandatário de António Costa, mas atirou-lhe logo na cerimónia de apresentação da candidadtura: "não se esqueça da solidão dos velhos, da pobreza envergonhada e rodeie-se de gente que ame a cidade e não esteja consigo para ganhar dinheiro"- cito de cor. Olhei à minha volta e só via rostos conhecidos das artes, da cultura, da política, que davam para fazer uma infografia, daquelas que agora estão na moda nos jornais, e por baixo de cada rosto podia-se escrever uma frase que justificava a sua presença ali e o interesse respectivo.

Um estava ali porque a mulher era vereadora, outro porque precisaria de uma ajuda para comprar mais motores para uns robots pintores, outra porque tinha um atelier da Câmara, outro porque faz a maioria dos catálogos da edilidade, outra porque tem uma associação que nunca existiria sem o subsidio camarário, outra porque é directora nomeada, outro porque sonha filmar depois de 10 anos parado, outro porque a tia mandou-o ir, outro porque a sua arquitectura é imprescindivel à cidade, outro porque faz umas fotos boas para arquivar, outra porque está a pensar acabar na Casa do Artista, outro porque seria uma vergonha não ir...nunca mais acabaria.

A cultura em Portugal está dominada pelos interesses políticos, refém dos subsídios, das encomendas. Escritores, pintores, cineastas, actores, músicos e afins, estão todos de mão estendida à espera do miserável subsidio.

A arte que tinha como fim ser do contra, irreverente, anti-poder, libertária, está afinal dominada pela mesquinhez das ajudas do Estado e das autarquias. As rotundas deram a volta à cabeça a trolhas e escultores, o síndroma do mamanço estendeu-se a tudo o que é obra de arte. A malta já não cria, inventa e escreve longos projectos para pingarem em dinheiro.

A apresentação hoje da candidatura de António Costa não era um happening político, era uma romagem de sedentos de ajuda, uma sopa aos pobres intelectuais, que não vivem sem o poder e as suas ajudas. Estavam ali representados todos os interesses nas diferentes vertentes desta nossa intelectualidade lisboeta, o eixo Bairro-Alto/ Bica do Sapato.

Sócrates que descobriu agora que tem a paixão da cultura (e não me admiro, se ele perder as eleições que não se vá matricular no IADE para ter aulas de cultura técnica!) embora tenha dedicado à cultura uns míseros zero virgula qualquer coisa do orçamento, ele que deixou desabar património, que se marimbou na trupe de artistas de negro à sua volta, ele que preferiu o estilo "maisons com janelas estilo fenêtre", está agora comovido com centenas de iminências pardas que invadiram o Jardim de S.Pedro de Alcântara, como se António Costa fosse ali promover o milagre da multiplicação dos subsídios.

Acredito que a política possa mobilizar as almas sensíveis. Mas ao ponto de haver tanta unanimidade entre tanta gente diferente...deixa-me perplexo.

Claro que Santana tem também a sua trupe de artistas. Não fui à sua apresentação de candidatura mas não devem ter faltado a Maria José Valério e o Rui de Carvalho de braço dado com Eunice Munoz, ou o Parque Mayer a cair da tripeça a chorar os tempos áureos da revista à moda da Pátria. E se Costa tem fado, Santana manda com faduncho. E se Costa tem Salgado, Santana tem Ghery, e se Costa tem Sócrates (na vertente artística!), Santana tem a Vovó cantigas. A cada um o seu artista.

Lisboa é que aguenta tudo isto. E não chora.

8 comentários:

  1. Lá está: nem todos os mendigos vivem debaixo dum cartão.
    Esses, vamos continuar a vê-los nas ruas.


    Cumps.

    ResponderEliminar
  2. Vejam o artigo sobre a "barraca" do sindicato amarelo SINTAP na Câmara Municipal do Seixal no blogue O Flamingo.

    ResponderEliminar
  3. Deviam era fazer a "APRESENTAÇÃO", na rua do Arsenal que os comerciantes davam-lhes com as postas de bacalhau no focinho!!!Uma rua de comercio que actualmente está nas lonas devido á merda que este tipo tem feito ao transito publico e privado...L.R.

    ResponderEliminar
  4. Porque é que Carlos do Carmo é um homem íntegro e só os outros estavam lá por interesses vários?

    ResponderEliminar
  5. Infelizmente é uma situação que pode ser multiplicada por 308...

    ResponderEliminar
  6. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  7. Lamento mas não posso permitir comentários que contenham termos racistas e menos proprios para a honra das pessoas. Podemos criticar sem ofensa.

    Obrigado

    ResponderEliminar
  8. Por ter dito que CC é integro não quero dizer que os outros não o sejam e que todos que lá estavam, lá estavam só por interesses... acho que se percebe

    ResponderEliminar