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quinta-feira, junho 04, 2009

Morreu o fotojornalista João Bafo

Morreu o fotojornalista João Bafo, o meu amigo João Bafo.

A primeira vez que vi o João, terá sido em 1975, estava ele a fotografar uma manifestação em cima de um candeeiro na Avenida da Liberdade, com uma Leica IIIG. De blaser, sem saco, só uma Leica. Descobri mais tarde que vivia perto de mim em Alcântara, ali pelos lados da Rua dos Lusíadas e que tínhamos além da fotografia e da Leica outro objecto de culto em comum: um Citroen 2 cavalos (o dele era mais antigo ainda do que o meu e mais giro).

Só me lembro que depois nos encontrámos em 1977 para fazermos uma exposição de fotografia que viria a marcar o panorama da fotografia naquela década. "Seis fotógrafos", era uma exposição-manifesto (feita na Gradil depois Diferença) contra a fotografia de salão, concurseira, contra o estilo neo-realista. As fotografias eram impressas com o negativo integral, com margem respiratória num formato 30x40, sem manipulações de laboratório. A nossa influência passava pelo Henri Cartier-Bresson, embora cada um de nós tivesse o seu estilo. Patrick B. (que morreu muito jovem, dois anos depois), Pedro Batista, Luiz Carvalho, José Reis, Alberto Picco e o João Bafo, era a meia-dúzia de fotógrafos que tinham um sonho, uma meta, a missão da nova fotografia. Numa Lisboa sem grandes eventos fotográficos, a exposição marcou. Foi referida nos jornais e nas revistas, na rádio e penso que na RTP. Em 1978 a exposição foi ao Porto à Galeria do Jornal de Notícias e foi um sucesso.

Depois organizei na Escola Superior de Belas-Artes uma outra exposição de fotografia, onde participaram na organização a revista Arte&Opinião, o Pedro Cabrita Reis e o Alvaro Rosendo, e em que o Joãoesteve com fotografias suas.

Mais tarde, em 1985, quando fui um dos fundadores da Grande Reportagem, sendo editor fotográfico, o João trabalhou comigo. Fundámos no mesmo ano a SCOOP também com o António Pedro Ferreira, o Fernando Peres Rodrigues, e eu próprio. O João com a sua experiência de trabalho na Gamma e na Associated Press, era o verdadeiro testa de ferro da agência. Talentoso, conhecedor do mercado do fotojornalismo, com uma intuição jornalística rara, o João estava sempre com um entusiasmo contagiante. Era amigo de vários fotógrafos franceses, sabia sempre uma história de um fotógrafo qualquer numa situação curiosa. Devorava revistas, jornais, tinha a obsessão do jornalismo e da fortografia de imprensa.

Estava arredado há algum tempo do meio jornalística, passou pelo design gráfico - que sabia usar bem como suporte da edição fotográfica- e nos últimos tempos estava muito doente.

Um grande abraço amigo.

3 comentários:

  1. Foi com desalento que tomei conhecimento da morte de João Bafo.
    Imediatamente me vieram memórias do início dos anos 80, quando participei num curso "Preto e Branco" no IPF na altura a funcionar ali na Almirante Reis, Lx.
    A tradicional boa disposição e proactividade eram apanágios dele. Como nosso professor de fotografia, foram alguns bons momentos que a turma então passou com ele e também a certeza de alguém que tudo fazia para nos seduzir quanto à arte da fotografia, bem como dos ensinamentos passados com dicas valiosas que ainda hoje recordo.
    Passaram-se entretanto vinte e muitos anos e nunca mais soube dele... até hoje!
    Fica a saudade e um obrigado também ao Luís por recordá-lo.
    Descansa em paz João
    José Eduardo

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  2. Um amigo distante, um Mestre.
    Companheiro de algumas viagens de vinhos em Madrid.
    Pena saber tanto tempo depois. Rodrigo Dias

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  3. Pena saber somente hoje da morte do João Bafo e do Joaquim Lobo. Tanto tempo depois e ainda saudades de Lisboa, parece que foi ontem a minha chegada no O Jornal.
    Amigos distantes João e Lobo, Metres no que ainda sou aprendiz.

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