Estes dias de política têm sido demasiado cansativos. Só fiz duas reportagens de campanha mas confesso que não fiquei frustrado, eu que adorava fazer fotografias de campanhas. Na verdade estas campanhas, arruadas como agora se diz, são de um cinismo total e de um ruído insuportável.
As campanhas são feitas para as televisões e toda a dita comunicação social (um termo que abomino) embarca neste jogo: vocês fazem de palhaços, nós montamos o circo. A falta de convicção por parte dos candidatos é total, a intervenção dos populares resume-se à gritaria habitual. Não deve haver mais país nenhum onde o Zé Povinho grite tanto e onde a opinião pública tenha um efeito tão nulo. Aliás, estas críticas à Mercado do Bulhão colam no populismo televisivo, essa forma de fascismo dos nossos dias, e aliviam os governos: vozes de burro não chegam ao Céu e enquanto o povo grita sempre fica aliviado e convencido de que vive numa democracia onde a liberdade de expressão é tolerada. Estas rábulas eleitorais são um remake moderno das piadolas de Revista, toleradas pelo Salazar e que serviam de válvula de escape de uma panela de pressão já a atingir o clímax.
Em princípio os políticos deveriam servir para nos pouparem a chatices, para nos gerirem as vidas, pagando nós para isso dos nossos impostos e justificando eles perante nós o dinheiro que ganham e gastam, e para nos apresentarem um relatório demonstrativo das suas reais competências. Ora, a política é o contrário disto. É uma forma de propaganda para perpetuar no poder, interesses de toda a espécie.
Portanto: domingo só queria votar de forma a poder tirar poder a esta gentalha, poder ferir politicamente quem me tirou a Caixa de Jornalistas, o meu poder de compra, quem não fez uma supervisão bancária competente, quem não melhorou a justiça, o ensino, a saúde. Quero penalizar quem me enganou com a reforma, mudando regras a meio do caminho, quem me põe brigadas de polícia na caça à multa, quem aumentou impostos e não preveniu o aumento da insegurança, quem se marimbou no apoio à cultura, aos artistas e intelectuais, quem transformou Portugal num território alcatroado e se prepara para engolir mais uns milhões em TGV e aeroportos sem futuro.
Algum desses especialistas, as novas vedetas da televisão e da imprensa, me pode aconselhar no meio desse turbilhão de postas de pescada ?
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