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quinta-feira, abril 23, 2009

O travestismo político

Longe da terra distante, longe do meu Portugal... como diz a canção, aqui em Montréal, Canadá, onde há um quarteirão só de portugueses, uma pátria lusa dentro de um outro país, parece que o rectângulo se torna ainda mais pequeno, mesquinho e ridículo. Um país desgovernado, comandado por uma tribo de políticos travestidos de salvadores.
O meu último contacto com a realidade portuguesa foi a entrevista que deu à RTP o nosso primeiro-ministro e que eu acompanhei como jornalista, antes do início do combate, e durante numa sala que a RTP disponibilizou para a imprensa e seguranças do Primeiro. Digamos: um ambiente fraternal entre gente de ofícios bem diferentes.
Claro, que já ninguém deve falar por aí daquele triste exame de Sócrates, que mostrou um homem nervoso, inseguro e com os nervos à flor da pele. Um político acossado- uma das piores coisas que se pode pensar de alguém que toma decisões por nós e que vai mandar nos nossos bolsos e nas nossas vidas. É assustador ver alguém que não tem uma ideia estruturada para o país, uma linha, um objectivo, uma ideologia. Não há em Sócrates um modelo de sociedade, uma referência, um sentido maior da coisa pública, um espírito de missão. Há no governo dos socialistas uma ideia de Poder e depois toda uma estratégia bem delineada para se manterem à tona, entre um truque aqui, uma manobra acolá, tudo feita na base do que parece, e não do que é realmente.
Sócrates pratica a célebre frase que "tudo em política o que parece é". Sendo assim basta parecer para ser ser um governo competente.
Ficou depois da entrevista de Sócrates a pairar no ambiente, que doravante qualquer crítico, qualquer cidadão que possa dar uma opinião menos agradável para com o primeiro-ministro, possa ser vítima de uma das rajadas postas a funcionar contra a liberdade de opinião. As acusações formais a jornalistas e a cidadãos que têm dado a sua opinião na blogosfera, começam a resfriar as críticas.
O medo instalou-se na sociedade portuguesa.
Esse medo com o outro medo latente, está a deixar os portugueses num povo anémico, triste, amedrontado, domado.
Este tempo socialista é na verdade um tempo lamentável, um tempo para esquecer. Mas mais: é um tempo que todos têm de mudar e não vão faltar oportunidades este ano para o fazerem. Assim queiram.

5 comentários:

  1. Este tempo não vai esquecer e os anais da História hão-de vir a confirmá-lo. Haverá um outro Abril mas, antes dele, um novo 28 de Maio. Porque, além do medo, de que muito poucos ainda se dão conta, há o desgoverno, a corrupção, a injustiça, legal e social. As regras básicas do jogo estão absolutamente inquinadas. Umas tantas papas e bolos, para enganar os tolos, e o PS de Sócrates irá vencer mais umas eleições - porque o português se deixa iludir com pequenas benesses, porque há muitos novos votantes a agraciar quem lhes concedeu a nacionalidade, porque não há verdadeiras alternativas à vista, porque grande parte da população está desmotivada, porque outros não se recordam do que foi a ausência de liberdade, porque somos um povo de fácil adaptação.

    Portugal tem vindo em queda. Já bateu no fundo e está agora a escavar o seu próprio fosso com um homem autocrático, sedento de poder, rodeado de rapazinhos (rapariguinhas também) que acenam a cabeça ao seu dono, como os canídeos que por outros anos se usavam nas traseiras dos carros.

    Portugal não está doente, está ferido, gravemente ferido. No seu amor-próprio, na sua individualidade, na sua democracia.

    Abril não se cumpriu. Confundiu-se liberdade com libertinagem. Fez-se tábua rasa de um país, querendo direitos, sem olharmos aos deveres enquanto cidadãos e indivíduos.

    Regressou a necessidade de um jornalismo de intervenção, que os meios culturais, desde os mais básicos, acordem a população e a motivem à acção, ou um novo 28 de Maio sobrevirá, a pedido do próprio povo, que esqueceu ou desconhece a sua História e estará desesperado. Apenas tenho uma ligeira esperança que essa figura, que encabeçará a nova época, não seja como a outra rainha: "o povo não tem pão? Que coma croissants!".

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  2. Caro amigo LUÍZ CARVALHO
    Já por mais de uma vez aqui referi a tua enorme CORAGEM em publicar aquilo que outros escondem por cobardia, por servilismo, ou por outro qualquer sentimento "canídeo".
    Qualquer pessoa minimamente consciente percebe que estamos perante alguém com uma monstruosa sede de poder. Que andou quatro anos a VERGASTAR o povinho, mas que agora lhe dá um rebuçado aqui, outro ali... e assim vai manietando este país sem memória. O mais grave é que não se perfila no horizonte ninguém credível! Pois que a maioria já há muito perdeu o estado de graça! Compete-nos tudo fazer para retirar a Sócrates a maldita maioria absoluta! Será que vamos conseguir?
    Quero também dar os meus Parabéns à pessoa que comentou antes de mim pela clareza da sua opinião.
    1 Abraço
    G.J.

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  3. Parabéns, porque é dos melhores posts que escreveu.

    Só uma ressalva, quando se refere a "socialistas" devia generalizar a toda a classe política.
    Porque a lógica e a manha políticas para se manterem no poder, sejam governo sejam oposição, sim, porque oposição também é poder, foram aprendidas por todos eles na mesma escola.

    O país está, de facto, amedrontado, e mais triste que ser pobre é ser covarde à força, sentir que não se pode abrir a boca, porque nem todos podem dar-se ao luxo de escrever com o registo com o que faz neste post.

    Nem sempre concordo consigo, porque, por vezes, é um autêntico "espalha-brasas", mas percebo que, como todos nós, precisa de dizer umas merdas para desabafar.
    Aqui não disse umas merdas, antes pelo contrário, foi certeiro, embora com a ressalva que lhe fiz.

    Goze bem o tempo por aí e bom regresso, se bem que vamos ter chuva para o fim-de-semana, outra vez, tal como nos quatro ou cinco últimos.
    Até parecendo que até o sol nos querem tirar.

    Abraço
    JJ

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  4. Boas sre Luiz,bem "postado",só lhe falta,talvez, uma "imagem fotográfica".Mais dificil?Na,estou em querer,que já a tem,só não a quer é mostrar.

    L.R.

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  5. Pareceu-me também que a coisa, emtermos de imagem, estava muito bem montada com aqueles truques que também conhecemos muito bem do close-up ao rosto em determinadas questões para intensificar e salientar a importância da "mensagem" do discurso como se tratasse de "convicção".
    Muito bom post.

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