Páginas

quarta-feira, abril 02, 2008

A desilusão António Borges

O regresso à política de António Borges não podia ser mais desastrada. Regresso é favor: não sei se ele alguma vez esteve na política. Sei, sabemos, que esteve de banqueiro com alto cargo, alto salário e lá fora. Foi um estágio dourado: vou ali já venho, vou ganhar uns cobres e regresso como professor para preparar o terreno para avançar depois do funeral de Meneses.
Só que Borges parece já padecer do síndroma dos dirigentes pêpedistas: com a pressa de ganharem o poder, tropeçam e estatelam-se. Sinceramente acho difícil Borges voltar a ter credibilidade depois desta queixinha feita do ministro Pinho ao revelat que este não esteve disposto a continuar a pagar um balúrdio à Goldmsn Sachs mesmo depois do seu estudo sobre a política de energia portuguesa ter sido chumbada pela Comissão Europeia.
Veja-se o patético da situação: um banqueiro a viver na estranja vem ao congresso do seu partido em Pombal, ameaça regressar para mostrar como se faz oposição e no dia seguinte vai a um encontro com o ministro que devia ou não assinar um contrato leonino com o seu banco. E como levou com os pés do ministro vem passados meses, já depois de sair do banco, dizer que houve chantagem.

Isto é cúmulo da promiscuidade entre empresa privada e política. E não me admira que a Goldman não tenha ficado irritada com esta duplicidade de um seu vice.
António Borges devia ter estado caladinho. Erros destes são fatais em política séria. A não ser que os portugueses continuem a ter memória curta e tudo esqueçam ao fim de dias.

Esta situação de Borges não fica aliás muito longe da de Jorge Coelho. É evidente que cada um faz o que quer da sua vida. Sair da alta política para a alta gestão de privados não é crime. Mas a ética na política, e uma certa ideia de fazer política como serviço público, vocação mesmo, desaparece com estas trocas. Não imaginamos o Duarte Pacheco a ir trabalhar para a Abrantina depois de sair do governo de Salazar ( coitado nem podia porque morreu) ou Mário Soares, ou Cavaco, a saírem da política para se dedicarem à construção civil. Já imaginamos Sócrates a ter um fim de vida consagrado ao pato bravismo a projectar casas estilo maison com janelas género fenêtre. O bom filho à casa torna e regressar às origens é sempre uma tentação que o crepúsculo do poder pode atiçar.

No PSD cada cavadela uma minhoca. É sempre para baixo. Já não bastava Meneses para desiludir os barões. Até o mito do salvador regressado deixa os barões ainda sem líder, diria mesmo: sem Norte.

2 comentários:

  1. Pior...!
    É que parece que quem o despachou com os contratos com o Banco (dele)nem foi o Pinho, mas sim o PSL quando este foi PM.
    Desta vez, quem se pode rir é o Menezes.
    E o JS (José Socatres... e não eu)

    De facto, António Borges foi "desastrado".

    João José Fernandes Simões

    ResponderEliminar
  2. Banqueiro ou bancário?
    Banqueiro é o dono/accionista do banco. O supra-sumo Borges era um director do Banco de Investimento Sachs

    ResponderEliminar