quinta-feira, março 27, 2008
A morte de um fotógrafo que odiava guerra
Há fotógrafos de guerra que se notabilizaram pelo trabalho debaixo de fogo. Mas os que acabaram por dar a imagem mais brutal dos horrores da guerra acabaram por ser os que optaram por mostrar os efeitos desse lado cruel da humanidade, em vez de exibirem o lado espectacular do drama.
Nachtwey está nessa curta de lista de testemunhas acusadoras da guerra e Philip Jones Griffiths, que morreu a semana passada aos 72 anos, já o tinha feito nos anos 70.
Se Robert Capa nos tinha surpreendido pela coragem física e pela empatia que pusera com os protagonistas das várias guerras por onde passou, Griffiths terá sido, juntamente com Don McCullin, Larry Burrows, Eddie Adams, dos fotojornalistas que mais contribui para a denúncia dos efeitos da guerra, nomeadamente a do Vietnam onde o fotógrafo da Magnum, antes foi do Observer, esteve mais de 3 anos para produzir um dos livro mais emblemáticos do jornalismo,“Vietnam Inc.”. Livro que depois de publicado levou à proibição de Griffiths voltar a entrar no Vietnam alertando de forma decisiva a opinião pública americana para a crueldade do conflito.
As fotografias de Griffiths dão um retrato social e humano da guerra. Demonstram mais que mostram.
Os soldados americanos que folheiam catálogos de carros de luxo num intervalo das batalhas, as prostitutas de Hanói que divertem as tropas cansadas, a impotência dos familiares das vitimas abatidas sem piedade, os feridos em combate que esperam por nada com etiquetas atadas à mão, os prisioneiros presos a cordas e guiados por soldados, são cenas que por si só caracterizaram a fundo o pior da guerra.
Raramente se encontra na obra de um fotojornalista rigor gráfico aliado a técnica ( embora simples e discreta) e a compromisso ético. As fotografias deste sociólogo visual são esse exercício levado ao extremo da perfeição.
Com a morte de Phillpp Jones Griffiths fecha-se mais um ciclo de fotojornalismo de autor, num tempo em que o jornalismo do imediato, do directo, é cada vez mais considerado, urgente e implacável.
Poder parar para pensar, foi o que Griffiths conseguiu, embora em clima de guerra. Enquanto no Vietnam as agências transmitiam as fotos do dia, ele aguardou 3 anos para poder mostrar um verdadeiro ensaio fotográfico da guerra.
O farmaceutico que um dia pegou numa câmara para fazer um faits-divers de bairro acabou numa figura mítica do jornalismo contemporâneo.
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Também em Flagrante deleite no Expresso online
Entrevista no You tube a Griffiths
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Vietnam Inc. Está na prateleira em lista de espera. Será o próximo quando acabar de ler o Unreasonable Behaviour do McCullin. Adorava que também o Nachtwey editasse um livro de memórias. Para já temos "apenas" o grande documentário War Photographer. Por outro lado, acho que a biografia do McCullin dava um excelente filme ou série.
ResponderEliminarRelativamente aos horrores da guerra, relembro o episódio do McCullin com o menino albino em Biafra, realmente tocante.
McCullin para além de grande fotojornalista, também consegue, para além das imagens, exprimir exemplarmente as suas emoções em palavras. O seu estilo de escrita é directo e certeiro no cerne das questões. Não consegue no entanto exorcizar os seus fantasmas, e mesmo depois de abandonar o fotojornalismo de guerra e dedicar-se à fotografia de paisagens, a ideia da violência continua a persegui-lo, pois as paisagens que fotografa já foram elas palco de combates sangrentos. Tem em si um grande sentimento de culpa ao achar-se ele próprio um criminoso por, como ele diz, ir de barriga cheia fotografar uma menina que dá de mamar com o seu peito seco a um bébé faminto, fazer uns disparos e ir-se embora. A arte (sim, porque embora sejam imagens chocantes e terríveis, eu considero-as arte) tem o seu peso e esse peso persegue McCullin por toda a sua vida.
Mais um grande ,que deixa isto muito mais pobre.Hoje já não existe nada deste calibre...vejam só,"parar para pensar",como escreve o Luiz,hoje nem para cagar...aliás lembrem-se que tudo acaba ,como no caso de McCULLIN,com
ResponderEliminara guerra das Malvinas,é aí o principio do fim...L.Reis
Bem escrito Luiz. Apesar das tuas "bojardas",`também sabes descrever algumas coisas com clarividência.Um abraço
ResponderEliminarPs: nem vale a pena falar sobre "gajos" que foram o "faról" da minha profissão. Que se divirta, como o fez na Terra, se ouver "vida" para além desta. Se houver, finalmente fico com a certeza que o hei-de conhecer...
Houver...
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