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sexta-feira, janeiro 18, 2008

Em Paris fuma-se


Paris hoje à noite. Fotos de Luiz Carvalho com Leica M8

Em Paris fuma-se. E muito. A lei é a mesma que a portuguesa mas os parisienses contornam o acto de fumar dando aos clientes esplanadas protegidas com toldos e paredes de plástico transparentes e aquecedores a gaz. Os parisienses adoram fumar e podemos dizer que esse gesto faz parte do charme francês. A taça de vinho, o cigarro, os empregados de mesa fardados a preceito e não ajavardados com camisas de manga curta a deixarem escapar os odores indesejados ( depois vêm dizer que Lisboa está com um cheiro estranho!).

Paris é uma cidade de liberdade. Quer chova ou faça frio os parisienses andam nas ruas, respira-se segurança e a polícia está omnipresente. Magotes de turistas cruzam as ruas e os verdadeiros parisienses destacam-se pela pressa. Aqui trabalha-se.
O trânsito é intenso, aparentemente caótico, mas tudo flui. Cada um tem o direito a deslocar-se como quiser: o metro não tem aquela paneleirice das linhas azuis e rosas ( que só os que têm passe social sabem para onde vão!) e leva-nos a todo o lado. Pode-se alugar uma magnifica bicicleta disponível em slots na rua. Basta comprar um cartão e sacar uma. Uma ideia brilhante do Costa cá do sítio. Este Maire aliás tem-se afirmado pela diferença: é gay assumido e tem feito da cidade um mundo friendly para quem cá vive. Claro que não anda preocupado com burocracias e justiças de ajustes de contas políticas como o nosso presidente lisboeta. De bicla, metro, táxi, carro próprio ou até de trotinete, aqui tudo se move.
Paris não foi assassinada na alma, no âmago, no centro, como Lisboa que anda a ser esvaziada pelos sucessivos presidentes que mais parece que não querem ninguém em Lisboa.

Aqui não houve projectos Polis à Sócrates, nem se notam obras megalómanas. Os passeios são alcatroados e o grande passeio público que liga o Louvre à Étoile, é de saibro. Em Lisboa aquilo já estava tudo com chão de 500 euros o metro quadrado em pedra!

As cidades têm de ser regadas, acarinhadas. Uma cidade tem de ter néons, carros, muito tráfego, muita gente. Uma cidade só sobrevive se se souber renovar, permitir o investimento e tornar acessível à classe média alta e baixa o viver lá. Paris é cara, tem marginais a dormirem na rua em tendas, mas conseguiu resistir à fuga para os arredores.

É simples. Mas como escrevia alguém há dias num jornal português, " é impossível demonstrar a um medíocre a mediocridade". É esse o nosso drama.

10 comentários:

  1. Percebo o seu deslumbre, mas nota-se facilmente que só vêm cá passar uns dias e depois vai-se embora. Quem cá mora sabe que a poesia é outra, infelizmente.

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  2. Por mim podia ir para Paris e ficar por lá durante uns bons anos. É a eterna mania de desprezar aquilo que é nosso e estar sempre a elogiar o que vem de fora. Se não gosta do nosso país tem um bom remédio, saia! E já agora quando se fartar de Paris pode sempre ir para outras paragens, como por exemplo, o Burkina Faso............

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  3. Os nossos Maires, exceptuando alguns poucos e conheço alguns , só pensam em projectos de licenciamento de urbanizações em determinados terrenos , para sacar os respectivos favores que esses actos burocráticos merecem.
    Pensar que os Maires, em portugal, estão a pensar na sociabilidade das cidades é tão utópico como pensar que o ministro da saúde
    está muito preocupado com a saude dos portugueses.

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  4. Ó Luiz, estou com o comentário anterior, só diz mesmo isso porque não vive cá. De resto, por favor, que post provinciano.

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  5. Este post do LC foi dos mais coerentes que escreveu. Aliás o LC já vai a Paris há uns quantos anos e isso eu sei porque o conheço.
    Não se tgrata de deslumbramento nem de saber exactamente que lá tb n há paraísos. Mas sim reconhecer que os Maires e quem trata da cidade é inteligente lá e aqui burro/burros asnos jumentos idiotas senis corrupros saloios borgessos papalvos sei todos os nomes e ainda piores . A nossa cidade ^2ª mais antiga da Europa a seguir a Atenas que foi faro de diversas civilizações ( menos dos árabes que isso é uma mania...Lisboa foi mais judia ) tem sido assassinada pela vilanagem sanguessuga que se tem instalado por cá......a Lisboa já lhe bastou o azar de ter tido alguns desastres naturais graves ( 3 terramotos do piorio ) e ainda esta sacanagem que vêrm das serranias e dos lamaçais estragar a sua beleza .Portem-se...

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  6. Paris com Leica M8 ou com Polaroid é sempre PARIS

    essa de referir a máquina n é de repórter já com alguns pergaminhos

    ahahha

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  7. Só quero dizer que gostei bastante da primeira fotografia.

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  8. Basta que se fume para termos cidade. As cidades respiram vicios. Uma cidade certinha e aspirada é como um Secretário de Estado, de gravata, a dizer disparates.
    Quero bagunça Luis. Bagunça e VIDA.
    E uma jinjinha vomitada nas trombas de um ASAE qualquer.

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  9. "Em Paris fuma-se" e na minha cidade também:

    Em certa medida eu sou, ou fui, assim como que um aparentado do homem da cigarrilha, que, entre outras competências, lhe está atribuído o dever de perseguir as Bolas de Berlim. E sempre esperei que, mais tarde ou mais cedo, o primeiro a sofrer as consequências de tais deveres seria o próprio perseguidor, só estranhando que a tutela não lhe mandasse amansar os cavalos mais cedo. E com alguma razão, porque todo o espectáculo por feiras e mercados, e até em navios em alto mar, com as televisões atrás a filmarem ciganos que vendem roupa de marcas falsificadas e polícias, que o não são, encapuzados e agora com treino avançado em tácticas de segurança, me parecia um exagero à mistura com algum excesso de protagonismo.

    É um facto que vem sendo moda em tudo o que são acções policiais, onde não faltam as televisões, e onde os responsáveis têm os seus minutos de glória em frente ao microfone, falando de estatísticas de mais ou menos acidentes ou de mais ou menos vítimas e aproveitando para dar brilho aos galões. Sempre fui com esta espectacularidade e o homem da cigarrilha não percebeu um facto elementar, que é o da comunicação social não estar nada preocupada com a natureza das acções em si, mas com o espectáculo que estas proporcionam, estando garantidas as audiências. E não percebeu outro facto, que é, quando a oportunidade surgisse, ele próprio seria o artista principal, como assim foi, com o episódio da cigarrilha, porque a comunicação social é assim como um animal que não conhece o dono, sem ofensa nem para o animal nem para os seus profissionais, sobretudo para o animal.

    Fala quem já teve, também, a sua cigarrilha. Por isso, sou, ou fui, aparentado do dito, por episódios passados, em que se apreendia a roupa de cidadãos que a vendiam sem licença por cima dos passeios, tantas vezes mesmo em frente a estabelecimentos com o mesmo negócio, os quais faziam sempre o papel de vítimas e que, depois de enviados os autos para as entidades municipais, sobretudo estas, lhes devolviam a roupa e com as coimas por aplicar, porque, coitados, eram gente necessitada, apesar de alguns se calçarem em bons carros, estacionados em frente a apartamentos com rendas sociais. E aqueles cidadãos até são pessoas responsáveis, de tal modo que, há dois ou três meses, um deles, quando comigo se cruzou, até me cumprimentou de cabrão. Ora essa.

    E até me lembro de um conhecido político, agora já gozando de reforma, apesar de aparentar boa saúde, física, pelo menos, porque de outras patologias não sei, mas desconfio, e que por aqui passou. E que, sendo fundamental dar vida à cidade no verão, patrocinava espectáculos com fogo-de-artifício até altas horas da noite, em violação dos regulamentos, e se pretendia licenciar discotecas, também com violação das mais elementares regras de segurança.

    Que a coisa até deu queixas para o Terreiro do Paço, felizmente sem consequências de maior. Porque, por ali, existe gente com juízo. Ainda. E, nessas noites, também tinha o grato prazer de ter direito ás Bolas de Berlim, vendidas por tudo quanto eram tascas sobre rodas, alimentadas a geradores barulhentos, e onde também se vendiam bifanas acompanhadas de bons finos, em lugares onde se podia cuspir à vontade. E onde até se podia dar uma mija, quando a bexiga apertava.

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