O dia de hoje em Perpignan teve demasiada fotografia para a minha camioneta. Ontem estava um pouco desanimado e escrevi que isto estava tudo a puxar para a desgraça e para a foto do coitadinho. Hoje levei com a minha presunção toda em cima. Bem feito.
Foi um dia arrasador de fotografias. Uma overdose de imagens, fotógrafos e entusiasmo visual. Não sei por onde começar. Talvez pelo principio. E no princípio era a foto, as fotos do russo Sergey Maximishin, uma viagem profunda ao país de Putin, fotografada sem preconceitos, testemunhando, mostrando a Rússia pobre mas também rica, saudosista e marginal, luxuosa e degradante. Fixem este nome e procurem no Google ( vem lá tudo!).
As exposições sobre as crianças no Mundo ou o Suweto dos novos tempos, são fortes e as das crianças, feitas por fotógrafas, demolidoras.
Ontem mostrava-me irritado pelo facto de aqui só se dar a ver miséria e violência.
Hoje pergunto-me depois de ver estas exposições, tão fortes, dramáticas e profundamente sérias na abordagem jornalística, que outro meio que não a fotografia, seria capaz, competente, para testemunhar perante todos nós este inferno, estes infernos, da humanidade contemporânea?
Se não forem os fotógrafos a denunciar, a mostrar até à saciedade esta vergonha, quem o poderá fazer? E com que veracidade ?
É aqui que nós fotojornalistas temos esta missão, esta obrigatoriedade ética: dar a ver aos outros aquilo que não pode ser calado, escondido, disfarçado. São realidades brutais: os asilos para crianças deficientes no Brasil e na Índia, o trabalho escravo, a doença no seu estado mais desprotegido. O Bairro a 20 quilómetros da Torre Eiffel onde ali encontramos o germinar da violência urbana, da descriminação, dos excluídos.
O dia acabou com a projecção da noite. Hoje cheguei a horas e pude entrar com centenas de pessoas, a maioria nem sequer seriam fotógrafos, para uma sessão multimédia, onde as fotos contam histórias, com movimento, som, musica e edição jornalística. Confesso que esta sessão me arrebatou e reforça aquilo que defendo, mesmo correndo sempre o risco de ter razão antes de tempo: o fotojornalismo não vive só no papel, nem está condenado ao favorzinho gráfico de mais coluna menos coluna, mais página, menos texto. Há outros carris para o comboio andar.
Para terminar: visitei o stand da Apple e foi mais uma vez uma grande respiração de profissionalismo e tecnologia. Quando vemos um conceito posto amigavelmente ao serviço dos fotógrafos que mais podemos querer ? Os detractores do sistema ( porque na verdade nunca experimentaram, fazendo-me sempre lembrar aqueles tipos que só gostam de carros sul-coreanos porque nunca conduziram um alemão!) deviam passar umas horas naquele stand. Verem como funciona o Aperture e como o sistema Tiger OsX cruza as plataformas multimédia de forma a dialogarem. Depois disto ver trabalhar nos computadores para fieis de armazém só dá vontade rir. Claro que respondem que " não é compatível e é caro!"...
Vou dormir e sonhar a preto e branco.
PS: Metam-se a caminho e ainda vêm a tempo de ver muito no fim-de-semana. Cá vos espero.
Também em www.expresso.pt ( Luiz Carvalho, enviado do Expresso a Perpignan)
bom dia ! o luiz tem razão ! o fotojornalismo é essencial! sem ele tudo não passaria de mais uns romaces de ficção. sem ele a escrita jamais daria ou perpetuaria a verdadeira dimensão dos horrores e tb das belezas do mundo real. ficaria sempre a duvida! mesmo que quem assine por baixo tenha o maior dos creditos!
ResponderEliminare se ainda assim com as fotos tanta gente ignora essas realidades imagine sem elas!
a fotografia tem o poder de ser estanque não o sendo. eu explico uma foto é uma imagem um espaço um tempo que não podemos andar nem para a frente ou para trás para vermos mais um milimetro de algo. mas a sua força é capaz de nos colocar mais questões ,inquietações ou certezas que muitas palavras ou videos. uma foto começa e acaba. mas essencialmente marca definitivamente um momento! e é esse momento que pode fazer o click para o despertar ou não das nossas consciencias e actos! fique bem e beba essa perpignan até ao ultimo folego! mas volte que quero mais!
.... e tanto que me tenho lembrado do 'Pintor de Batalhas'...
ResponderEliminarMostrar o mau, a violência, as barbáries várias que por esse mundo fora se perpetuam... no fundo encontramos aqui a essência do fotojornalismo, o que reputamos de mais nobre... para muitos é sobretudo isto que os levou a gostar de fotografia....
Mas por vezes há um diabinho incidioso em cima do meu ombro a soprar dúvidas no meu ouvido...
Com uma ênfase tão forte no que é brutal, no que é violento, com a visualização sistemática de tanta violência não estaremos a fomentar criar uma certa forma de indiferença visual a tudo isto: ver a morte tão de perto e tantas vezes não a banaliza demais?
... E o que eu não daria hoje para sair de Lisboa e mergulhar nesse mundo... do stand da Apple ao da Canon e sobretudo em tantas, tantas exposições...
OH! LC, você desde que saiu do alentejo transfigurou-se ! Nem parece o mesmo!
ResponderEliminarAqueles tempos do alentejo eram simpáticos, não eram?
Agora anda muito tecno!
Eu tou aqui a saborear uma aguadente adega velha! Aquele espectaculo! E vc com os seus posts tecno e muito compridos deixa-me desanimado.No entanto fez-me lembrar os tempos em que depois de trabalhar em msdos,abordei os Apple, em 91, assim a modos a ver o que dava, por imposição profissional.
Essa experiencia que tive nos Apple durante 3 anos deixou-me convencido! Aquilo são maquinas a sério e a pensar no utilizador com uma fiabilidade extraaordinaria!
As tretas da compatibilidade é para a malta que quer fazer aquelas copias para levar para casa ,dos programas que as empresas ou estado compravam, mas isso está acabar!
Vou terminar a minha adega velha e espero novidades das fracesas tipo "Elle" .
Ó Luís, voçê é muito divertido, manda bocas num dia, logo a seguir arrepende-se, ontem era as desgraças, hoje são os Maques... É sempre garantia de fazer boa figura dizer mal dos pc's e dos seu utilizadores, tão parolos que eles são que não viram a luz do Jobes e cª.
ResponderEliminarMas pronto, o blogue quer-se levezinho e glamoroso ;)
E o Iphone, Luiz? Deixou de ter piada depois de se ter descoberto que é (era/foi...) vulnerável a hacker's?
ResponderEliminarTanto entusiasmo e depois... o silêncio.
;)