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sexta-feira, março 09, 2007

Dia da Mulher em mini-saia


Detesto " dias internacionais de..". Pertenço a uma geração que apostou na eliminação dos dogmas, do instituído, de tudo o que cheirasse a convencional.

Cresci a contestar os pais, a família, a igreja, a autoridade, o casamento. Comecei a ser contestario quando decidi faltar à comunhão solene apesar de ainda ter feito a primeira comunhão. Via na catequese um passatempo, na missa um espectáculo, no ser menino do coro uma oportunidade para ser artista.

Os tempos eram muito diferentes: mais tristes, repressivos, intolerantes, convidando à transgressão, ao pecado. Beijar uma miúda nas escadas escondidas da Igreja S. João de Brito às sete da tarde ( hora de ponta) quando quem passava não via nada, era perigoso e excitante. Mal eu sabia que do outro lado, a 30 metros, morava o escritor José Cardoso Pires!

Adiante. Hoje é dia da Mulher e, francamente, é uma solenidade que me irrita. Dia da Mulher são todos os dias. Esta festividade começou a ser feita pelos comunas através do MDP-CDE e daquelas organizações de mulheres com buço, de esquerda, e ( vejam bem !) foi reaproveitada pelo mercado capitalista e pelos politicamente correctos do reino para fazerem da ideia uma jornada de demagogia, consumismo e a oportunidade para uns patetas comprarem umas flores à pressa nos centros comerciais para bajularem as queridas ao anoitecer.

Quando me falam de "dias de..." ponho logo a mão na carteira. Vai haver gastos extra sem retorno nem sentido afectivo.

Claro que isto cai mal naqueles que hoje se transformaram nuns piegas políticos. Trocaram a ideologia pela caridade, a coragem da contestação pela lamecha.

Mas não ficaremos por aqui este mês, vem ainda aí o Dia do Pai.

Com todo o respeito pela Mulher, que eu admiro e amo, sou mesmo crente praticante, acho que Ela merecia uma melhor forma de comemoração.

Saúdo o regresso da mini-saia, uma moda que tinha caído no esquecimento. Está de volta e recomenda-se. Faz bem ao olhar, alimenta o ego das nossas queridas mulheres. Bem o merecem.

4 comentários:

  1. Luís de Carvalho, não resisto a comentar os seus posts, sobretudo, os têm esta marca do politicamente incorrecto.
    É também a minha geração.
    Com a diferença de não me ter tornado camaleão, como aconteceu a muitos MRPP, MDP, PCP e outros PPP, que hoje por aí andam de fato e gravata.
    E sem me alargar, porque o blogue é seu, embora, ás vezes, em tudo o que não tenha que ver com fotografia, o confundo comigo próprio.
    Eu fiz a comunhão com aqueles fatitos, apesar de levar porrada da professora primária e do meu Pai por faltar à missa e à catequese, levei caloirada da grossa no ciclo preparatório, mandava giz ás raparigas que não se podiam cruzar com os rapazes no secundário.
    Tive que fazer o exame nacional da quarta classe, ainda hoje me lembro do tempo, do lugar e o professor examinador.
    Levei porrada para saber a tabuada, tive explicações dadas de borla pela professora primária no quintal da sua residência até ás dez da noite e no ciclo também as tive dadas, também de borla, por um professor de desenho e matemática, depois das aulas na sua garagem.
    A matemática custava mesmo a encornar.
    Hoje, tenho uma filha que se licenciou com 21 anos a quem paguei explicações anos seguidos e um filho que acaba de entrar na universidade com 17 anos, a quem também já estou a pagar explicações de análise e de álgebra. No meu tempo, era tudo matemática. E até parece que estes gajos só aprendem com explicações, ou será o ensino que temos!
    Enfim, fico por aqui, não vá algum iluminado de novo comentar que anda por aqui bafio do Salazar.
    Mas, tenho saudades do tempo que já não volta.
    Sendo certo que hoje temos liberdade.
    Mas falta a boa irreverência, o fruto proibido, o prazer da discussão e do conflito, sem que alguém nos venha tramar por de trás das costas.
    Falta a nobreza dos valores.
    Falta o sentido solidário genuíno.
    Todos os dias e não apenas no Dia da Mulher, do Pai, ou do Pai Natal.
    E já percebi por que a minha mulher ontem amuou comigo.
    O seu poste deixou-me nostálgico.
    Bolas, isto para não dizer um palavrão.

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  2. Sou de uma geração posterior e por isso comento: a nobreza de valores transmite-se; não se inventa ou se perde de um momento para o outro...

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  3. "A nobreza dos valores transmite-se...". Não posso estar mais de acordo.
    Só que alguns, se calhar, muitos, da minha geração e da sua, "davi reis", esquecem-se com alguma facilidade.
    Já agora, deixe só que diga mais outra coisa.
    Sou também da geração do “cabulanço” e da troca dos testes para ajudar os colegas.
    Hoje, cultiva-se o individualismo e “ o de cada um por si e os outros que se lixem”.
    Mas, já chega, que tenho que trabalhar.

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  4. Então boa noite!
    Por curiosidade, normalmente venho verificar o que o Luiz insere no blog. Tanto agora como a primeira vez que o fiz que gosto. Obrigado...

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