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sexta-feira, março 23, 2007

Ao que chegámos

Os nossos filhos vão ter de declarar às finanças a mesada que lhe damos. Vamos ser apontados a dedo na rua quando passarmos com os nossos carros que mais lançam CO na atmosfera. O charuto que apetece fumar na tranquilidades das quintas à noite nas Amoreiras vão ter que ser fumados talvez por ali perto na encosta abandonada do casal ventoso.
A piscina pequena que permite o Alentejo nas escaldantes tardes de verão será apontada do céu por um helicóptero das finanças e do Ministério do Ambiente, e da Câmara claro.

Quando passarmos os 120 na auto-estrada teremos, já temos, um besouro atrás disfarçado de Mr. Magoo, a lareira a fumegar será denunciada por uma vizinha invejosa e até namorar será um abuso considerando que só o faz quem tem tempo e como luxo pagará imposto…
Enfim: a vida não está fácil. Isto é: as nossas liberdades estão ameaçadas.

Hoje de manhã na rádio uma reportagem feita na Assembleia da República apontava os deputados prevaricadores que fumavam no corredor da Assembleia. Ontem Durão Barroso era citado na BBC porque o Tuareg da mulher era muito poluidor.
Aos poucos esta democracia vai tornando a vida cada vez mais controlada.
Os cidadãos sentem que são cada vez mais reprimidos. Lendo o relato da via verde, do Multibanco, do telemóvel, basta para se fazer o trajecto diário do cidadão, para saber dos seus defeitos e virtudes.
O governo, qualquer que seja, já percebeu que a ecologia dá dinheiro e que os contribuintes já estão preparados para pagarem mais e mais.
Portagens, parkings, multas, contribuições, todos pagam. Ainda ninguém provou que se paga para uma melhoria da igualdade social, da eficácia do Estado, do bem comum.
Pagamos para alimentar uma máquina estatal trituradora e um poder que assenta na força omnipresente do mesmo Estado.
O mercado acaba quando as OPV`s atacam as golden share do Estado, o mercado acaba quando a televisão privada ameaça crescer e pôr em causa a influência da televisão estatal.
O controle que o Estado quer fazer à imprensa com a nova lei e com a regulamentação das televisões é um exemplo claro e escandaloso de uma influência estatal que não abdica.
No fundo quem é que quer ceder poder ? Ninguém, só os parvos.

Sócrates sabe-o bem e os outros da oposição também. Aliás esta semana ouvindo falar no Pós e Contras o antigo ministro Morais Sarmento, para mim um dos mais detestáveis governantes de sempre ao lado de Bagão Félix, até gostei do que disse. O que é inacreditável para comigo mesmo. Mas lá está: o homem falava como contra-poder e ali ele estava na plenitude das suas capacidades de convencer o otário desprevenido.

Talvez nada disto ligue. Mas o que sentimos todos é que a ideologia que defendíamos nos anos setenta para uma sociedade mais justa, harmoniosa ( no sentido do planeamento urbano e da organização do trabalho), moderna, ousada, arrojada, irreverente e responsável, está cada vez mais longe. Pagamos mais, somos mais controlados do que com a PIDE, as nossas liberdades culturais de escolha aumentaram porque a cultura passou a ser um negócio de supermercados.

Talvez deprimente, mas amanhã é outro dia.

Luiz Carvalho

3 comentários:

  1. Eu como ainda sou novito adivinho que dentro de alguns anos vou ter que pagar o aluguer de um contador do oxigénio que vou consumir e pagar pelo co2 que libertar no caso de estar a carburar mal, da maneira que anda a saúde em portugal é bem provavel que vá andar desafinado.
    abraço

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  2. EU cá para mim, o SR Costa e SR J.Magalhaes estão no nascimento do
    cartãozinho unico!Talvez se lixem,
    como nas famosa ESCUTAS,aprovadas
    no tempo do sr Guterres e que foram bem aproveitadas pelo sr Barroso.Estranho silêncio dos ditos defensores das ditas liberdades individuais.

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  3. Finalmente ... Alguém com coragem de dizer explicita e directamente o que este país se está a tornar ... o que nós vamos deixando que se torne.

    Revejo-me a 200% nas suas sábias palavras, Salvem por favor os tão suados Direitos Liberdades e Garantias que ainda nos vão deixando ter...

    Bom Fim de Semana
    Maria do Mar

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