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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Porque estão as putas a tornarem-se escritoras ?


Porque será que agora as putas dão em escritoras? Perguntava-me esta semana uma colega jornalista em tom de desabafo, depois de eu lhe ter confessado que Paula Lee era uma mulher inteligente, culta com o seu blogue Amante Profissional.

Depois de umas frustradas quarentonas, intelectuais de noites mal dormidas, terem dado em escritoras "light" com um discurso feminista e uma postura de permanente desdém pelos homens, chegou a vez das profissionais do sexo darem a mão ao manifesto, o coração nessa linha e escreverem sobre as suas experiências avassaladoras. Contam tudo ao pormenor com respeito, carinho e o sigilo profissional que a actividade exige. E não têm Ordem nem Óscar Mascarenhas a controlarem-nas !..

A sociedade esta mais "voyeur" do que os paparazzi, e o assunto tornou- se de fácil leitura, logo rentável e popular.
Antes as confissões de directores de jornais tentaram ter sucesso, foi o fracasso que se viu. As putas ganharam em popularidade e em fino recorte literário o que faltou a candidatos ao Nobel.

Um esclarecimento: nada tenho contra a palavra puta. Para mim não tem significado pejorativo e considero-a palavra de boa sonoridade e de eficácia narrativa perfeita. Uma verdadeira puta nunca se sentirá ofendida com a designação.
Tal como um fotógrafo nunca se sentirá ofendido se o chamarem de fotógrafo. Se a coisa der para o repórter-fotográfico, repórter de imagem, aí a coisa já está a dar para o abjecto.

A vinda a Portugal da Bruna Surfistinha, e a entrevista de uma Andreia de 19 anos, também puta assumida, mais o supersite de Paula Lee, estão a revolucionar mentalidades e a provarem que a prostituição na dura pureza original é tão respeitável como qualquer outra profissão. Ou mais...

Estes romances côr de rosa-choque não são originais. Já a literatura confessional no mundo da putaria tinha dado provas de qualidade. Vejam-se alguns testemunhos de francesas depravadas como Anais Nin, amadora avançada, ou de putas que souberam rimar negócio com amor.

Claro que o encanto de uma actividade lúdica e lúbrica se perde quando começa a saír da clandestinidade e a ser escancarada nas televisões, revistas e jornais. A banalização tira a pica, normaliza, reduz o pecado a coisa adquirida.
Para já uma nova corrente literária nasceu.

Acontece! Já dizia o outro tontasso.

Luiz Carvalho

5 comentários:

  1. Anais Nin nunca foi puta. Não misture todas as mulheres na sua bitola.

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  2. Anais Nin era uma libertina. O que é muito diferente de ser uma puta...

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  3. ora, porque ha putas que sabem escrever! vc conhece maria porto? a prostituta mais famosa de portugal? tambem e legal
    http://atuaamiga.blogs.sapo.pt

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  4. Sempre que algum blogue fala em Paula Lee, logo aparece a Maria (anonimamente) a fazer publicidade ao seu blogue. É preciso muita dor de cotovelo!!!

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  5. Embora costume voar pelos espaços cibernéticos e aterrar em blogs, voyeur atenta que sou dos pensamentos e das imagens dos outros, esta é a segunda vez que intervenho com um comentário. Enquanto acompanhante, claro.

    Sou uma admiradora nem sempre silenciosa da Paula Lee. Acho-a intrínsecamente honesta. Prezo-lhe a consistência, a imensa dignificação que promove da mulher enquanto escort, e "apesar disso"...

    Venho no entanto a este comentário por razões que não se prendem com a sua defesa. A Paula é uma mulher adulta, e não precisa que a defendam. Venho, dizia, porque ao tropeçar neste blog no meio de um vôo nocturno, encontro um fotojornalista encartado pelo sindicato, com carteira e tudo, e não quero perder a oportunidade para o influenciar (sorriso)...

    Explico-me. Referiu o meu caro Luis no seu tópico sobre a Paula, e muito bem, o tal "top&qual" das melhores profissionais a "operar" em Portugal do qual ela não constou... Fiquei sinceramente contente por isso. Mais ainda porque a peça saiu no Tal&Qual, e não num jornal de tiragem visível num qualquer baréme de imprensa... Houvesse sido no Expresso, e então sim, estaria aflita.

    Meu caro Luis, lamentei, confesso, o facto de não ter havido por parte dos O.C.S. uma perspectiva integradora da responsabilidade social que escorts, e clientes de escorts têm que ganhar de uma vez por todas. Mais ainda, surpreendeu-me apesar da ligeireza habitual do jornal em questão, que se tivesse feito promoção de um forum como o gp-guia (é com base nesse que é feita a peça, e o top), que promove práticas como a felação sem preservativo, que são combatidas por exemplo, pela ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, entre outras.

    Percebo o ponto de vista. Não percebo a responsabilidade social do semanário, e nem tão pouco do jornalista em questão. A peça não era sobre "o homem que mordeu o cão", mas sobre mais um "cão que mordeu o homem", não?? Acho que a comunicação social continua a não saber tratar o tema "prostituição" com a profundidade, e seriedade que merece. Actualmente, as profissionais que temos em Portugal são, na sua maioria, apenas tontas. Cedem à pressão de "fora" de opinião de clientes, à pressão da vontade dos clientes, e entram em práticas que nos colocam a todos nós cidadãos, em risco de saúde.

    Os preços são miseráveis, o tempo de atendimento, às vezes 30 minutos, parece propôr, em alguns casos, que os clientes venham já de phalo em riste...

    Julgo que seria uma excelente ideia tratar-se na comunicação social, por uma vez, a prostituição do Súc. XXI com a profundidade, que a sua complexidade exige. Hoje as prostitutas não são apenas as brasileiras do "bumbum guloso", e do "vou levar-te à loucura" (por 20 ou 30 euros)... São as universitárias que o fzem por gozo, porque aumenta a qualidade de vida, porque sim... São os homens, cada vez mais porque o "alibi" da prostituição lhes permite manter um número interessante de relações sexuais, que de outro modo teriam dificuldade em manter. São as mulheres, na outra ponta do fio, que procuram os prostitutos porque já lá vai o tempo em que o sexo pago era propriedade da condição masculina, e se dizia que o marido "foi às espanholas"...

    É urgente, que a comunicação social viva desperta na sociedade civil pela qual pugna. Porque os cidadãos têm o direito de saber, e os jornalistas o dever de informar.

    Enfim, aqui fica apenas um desabafo. Na perspectiva de contribuinte do seu blog será apenas um pedaço de vôo de uma borboleta, que por aqui passou, num breve bater de asas que lhe tocou o phalópio...

    Beijo,
    Elisabeth Butterfly

    P.S. - Já estou a ouvir o pe. Rego na TV. Está em Roma, no Vaticano... Vai orar o Bento XVI. Sim, é agora! Tenho que ir, vou limpar-me dos meus pecados e suplicar a misericórdia ao dr. Melícias.

    P.S. - Boa Páscoa a todos. Godspeed!

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