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terça-feira, agosto 15, 2006

Patos bravos trazem gripe urbanistica ao Alentejo



Aldeia da Igrejinha, Arraiolos, junto à Barragem do Divor. Os patos bravos chegaram.

Devagar, devagarinho, a paisagem alentejana, não a do litoral, a do alto, vai-se transformando. Para pior, claro.
Há 3 anos quando comprei uma pequena casa perto de Arraiolos, numa aldeia tradicional, poucos eram os sinais de novas construções. Um fim de semana chego e reparo que uma casa de dois andares tinha sido construída na minha rua, onde só havia casas de há dezenas de anos, rasteiras, de arquitectura tradicional.
Depois a Câmara de Arraiolos disponibilizou uma zona da aldeia para novas casas e assim poder atrair gente nova. As casas até são simpáticas, rasteiras, brancas, debruadas a azul e amarelo.
Agora a minha rua já tem outra casa igual à primeira, também de dois andares, sem nenhuma ligação formal, volumétrica, com a aldeia antiga. Da estrada nacional 4 já se vislumbra um perfil diferente da aldeia.

Ontem ao passar pela Igrejinha, uma aldeia junto à barragem do Divor, lá estava à entrada este mastodonte, legal com autorização da câmara e que já anuncia a continuação de mais aberrações ao lado.

É evidente que as terras não são museus e que se devem desenvolver com equipamentos que tenham a ver com as exigências dos dias de hoje. Mas o que sucede é que estas novas casas estão mal implantadas nas aldeias, não se integram e não estão pensadas para uma vida harmoniosa num local destes. Não são projectadas para uma relação com o Sol, a rua, o campo, o ar livre. São imitações do pior que há nas cidades e seus subúrbios.
Não entender que a mais valia destas terras está no seu potencial para serem diferentes e permitirem uma vida alternativa à das cidades é uma burrice total.
A Câmara de Arraiolos preocupa-se com aquelas idiotices de ruas cortadas ao trânsito, dificultando a ida à vila, sem bom estacionamento. Depois autoriza a construção de mamarrachos condenando o futuro.
Sempre pensei que o Alentejo ainda não tinha sido condenado e mantinha a sua tradição arquitectónica por ser uma zona sem investimento.
Infelizmente tinha razão. Basta haver um bocadinho de dinheiro que logo começa a ganância e o mau gosto.
Confesso que estou traumatizado: até a minha vizinha que deve ter descoberto daquelas ares condicionados em saldo, me queria pôr as máquinas por cima do meu telhado!

Não vai ser fácil fugir ao mau gosto, mesmo com a crise (!) a refrear o consumismo bacoco.

Os patos bravos chegaram ao Alentejo.

3 comentários:

  1. Voçês aí em Olhão têm umas rotundas fantásticas !!! Quando rifam esses autarcas ?
    Abraço

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  2. A verdade é k a nossa aldeia (Igrejinha) precisa mesmo de novos bairros. A descendência dos que viveram aqui toda a vida também quer uma casa aqui.É pena que estes bairros novos não passem, na sua maioria, de dormitórios de Évora!

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  3. os proprietários dos terrenos só constroem mediante a aprovação do respectivo projecto.
    As regras que definem a tipologia das edificações por exemplo, bem como outras não estão defenidas nos projectos de loteamento.
    Não é verdade que a maioria desses projectos são elaborados pelos senhores arquitectos ?

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