fotos de Luiz Carvalho feitas hoje entre as 20 e 21 horas perto de Arraiolos
Ao fim da tarde, perdido entre o Carrascal e a estação abandonada de comboios de Arraiolos, num caminho rural sem saber se seria de algum agrário que me poderia correr a tiro em qualquer momento, toca o telemóvel. Do outro lado o meu amigo João Mateus, arquitecto, companheiro dos meus tempos de adolescente no Café Biarritz, no lisboeta bairro de Alvalade, lembrou-se de mim. Estava no Ribatejo perto dos Avieiros, onde fizéramos um documentário sobre esses pescadores em 1970.
Um dos entrevistados, com voz de timbre cigano, dizia então para o gravador Uher:” Chamam-na gente os ciganos do mar porque trabalhamos de noite. Os ciganos róbam, nós trabalhamos, por isso é que somos ciganos do mar !!” – tudo em voz cantada e ainda acrescentava:” Querem então saber da vida artística dos avieiros ? Então aí vai…”- e eram mais 30 minutos de depoimentos num português incrível.
Éramos jovens e de esquerda. Eu acreditava que com a fotografia e o cinema podia mudar o Mundo, mais: gostava sinceramente daquela gente, muito semelhante aos meus familiares de uma recôndita aldeia da Beira-Alta , Sarzeda, onde adorava, e ainda gosto, de passar férias.
O Sol já desaparecia e eu ali perdido a falar com o meu amigo de imagens a preto e branco, de tempos que não voltam.
Mudámos muito e as nossas vidas também.
Mas não deixámos de nos emocionar com a luz e o tempo.
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