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terça-feira, agosto 22, 2006

O stress da vida no campo

O país visto do Alentejo, aqui no Carrascal entre Arraiolos e Estremoz, é ainda mais pasmaceira que esta minha querida aldeia.
Mantenho o telemóvel em silêncio, a tv no Canal Panda, quase sem som, mas sempre lá por imposição do meu pequeno David (antes lá que nos morangos e quejandos), passo os olhos pelo Público, espreito as revistas de fofocas que a minha mulher não resiste a comprar ( e que eu não resisto a espreitar para divertimento imediato que acaba em sensação deprimente) e nada me surpreende nesta terra.

Tirando uma ou outra tragédia, ou desastre, ( que o excelente serviço 3369 de alerta SMS da SIC me vai informando) nada me excita. Ainda bem. Estou de férias, em retiro espiritual, bem preciso para os tempos de muito trabalho entusiasmante que me esperam.

A noite de hoje está quente, não há vento. Ouvem-se cigarras, e os guizos dos animais ao fundo, longe, nas pastagens. Uma noite perfeita!

Mas o dia não foi assim tão calmo. Foi mesmo um bom exemplo de stress do campo. Sim a pacatez também traz nervoseira e quem julga que as aldeias são um sossego total está muito enganado.
Como aqui a regra é a tranquilidade qualquer dissonância surge muito mais perturbadora.

Exemplo de um dia irritante no campo: (lembram-se da série Viver no Campo?)

8horas: uma carrinha de um feirante acorda-me com um som estridente anunciando a chegada. É um acordar de loucos. Antes uma bomba na pinha !!

8e meia: o meu filho abana-me: “ pai acóda vamos brincar! E traz com ele uma revista de carros clássicos que não larga há uma semana.

10horas: o vizinho começa a brocar para instalar um ar condicionado
(consegui demovê-lo a montar aquilo perto do meu telhado).

11horas: o cão acaba de me sujar o chão da sala, toca a limpar

12horas: chego a Arraiolos para comprar o jornal e não consigo estacionar, o presidente da Câmara transformou aquilo numa terra –museu. Está já um calor sufocante e não há uma livraria! Apetecia-me comprar um livro. Lembrei-me de um homem da aldeia da Beira - Alta que há 30 anos me dizia:” Oh, Jorginho (sou eu!) às vezes tenho fome de ler… o Jorginho não tem ?”- Este esfomeado acabou nas Testemunhas de Jeová.

14horas: almoço em casa, a broca do vizinho não pára

16horas: finalmente piscina. A agua está fria, o puto grita de excitação com os mergulhos, o cão come-me a relva, finalmente dentro de agua.

18horas: o vizinho parou de brocar mas decidiu por a televisão aos berros

20horas: pela enésima vez tenho de ouvir a xaropada de um clip para crianças do Panda
(se ao menos hoje fosse terça para ver “As Donas de Casa Desesperadas!)
21horas: O meu filho exige voltar para Lisboa para “ a casa dos miaus” porque se lembrou de um brinquedo que lá deixou. Negoceio: vamos a Évora amanhã, está bem?
(consigo ser mais banana que o Xanana !!)

23horas: pego na bicicleta e pedalo pela aldeia armado em velhinho biruta. As subidas são uma chatice, já devia saber. Na verdade uma moto 4 é que era fixe!

23horas e 30: toca a blogar.
O raio da Internet é lenta que se farta e nem uma miserável cigarrilha tenho para acalmar.
O que é reconfortante é que hoje tive 70 visitas o que é um número muito simpático e que me anima a continuar este diário.

Depois vou voltar ao Paul Auster.
No silêncio. Nem o meu Ipod quero ouvir.
Boa noite.

5 comentários:

  1. Sempre pode passar pelo Sardoal para beber uma imperial.

    No meu quintal, à sombra das tílias, tá-se muito bem. E não tenho vizinhos nem andam perto a por ar condicionado :-)

    Um abraço.
    Paulo Sousa

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  2. El relato es más interesante que las tribulaciones en la piscina de Pedro J.

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  3. Peor lo pasa Félix Arbolí en Vistazoalaprensa.com, Contraportada, post La Onu de mi casa es muy particular.......

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  4. Caro Luís, espero mesmo que continue o diário, já cá venho espreitar todos os dias!

    João V.

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  5. não sabia que também seguias as donas de casa desesperadas:))
    altamente!:)

    beijinhos

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