Tal como na tragédia de Castelo de Paiva é o sentimento colectivo da perda e da desgraça, do pessimismo adjacente, que volta. Podemos ser um povo pouco civilizado, com carências demasiadas no que toca a padrões de comportamentos sociais, mas na hora da desgraça, filhos que somos de um fado que se perpetua, assumimos demasiado bem o papel de protagonistas da tristeza.
Aqui, nesta triste história, só temos de compreender. É demasiado forte o que sucedeu.
Se havia algum fio de optimismo, de referência para uma geração jovem, era a novela dos “ Morangos”, quer se goste ou não ( eu estou à vontade porque detesto telenovelas). Pois foi no sonho colectivo, que movimentou milhões de seguidores, que caiu a maior das tristezas.
A fama traz muitas vezes esta ironia da perda, tal como aconteceu a James Dean ou a Marilyn Monroe, só para citar os clássicos.
Lá no céu tem de haver um santo lugar para estas boas estrelas.
Não dês bronca
A bronca da semana foi mesmo o zarpar quase total dos senhores deputados a uma votação na Assembleia. A coisa deu demasiado nas vistas e o resultado aí está. Mas não percebo porque só esta semana se deu conta desta balda. Todos sabemos como funcionam os plenários na Assembleia.
Os deputados chegam quando chegam, vão assinando o ponto, sentam-se dão dois dedos de conversa e passado alguns minutos, desaparecem. Como jornalista que vai frequentemente à Assembleia para mim já faz parte do comportamento normal.
Há alguns anos o semanário Tal e Qual caçou uma série de deputados que tinham assinado o ponto a apanharem o comboio em Santa Apolónia passado uma ou duas horas. Hoje teria de se ir para o aeroporto ou para as portagens da autoestrada ! Talvez as câmeras que o engenheiro Sócrates quer pôr nas estradas sirvam para controlar os seus deputados, já que ele se escusou a comentar o comportamento dos camaradas faltosos, aliás na mesma linha de toda a oposição que meteu a cabeça na areia.
E com um pouco de choque tecnológico até se conseguia pôr os deputados a votarem electrónicamente a partir do telemóvel ! Que tal ?
Academia de polícia
Um polícia descontrolado a agredir um puto que abanava um sinal de trânsito, tudo muito bem filmado por um cidadão repórter da sua janela, com os outros polícias a tentarem acalmar a fúria, parecia uma daquelas cenas americanas de polícias e gangs.
Uma oficial da PSP veio dizer à televisão, com voz celestial, que aqueles procedimentos não eram habituais na polícia. Obrigado. Devia vir dizer que eram ? E que disse depois ? Que o descontrolado polícia tinha ficado inibido de fazer serviços externos. Logo, não foi suspenso e podia continuar a usar o crachat da instituição.
Acho admirável. Vão decerteza abrir um inquérito interno. Estou ansioso por saber o resultado. Quando e e as consequências para o corajoso polícia.
Um cidadão que diga um impropério a um agente da autoridade é julgado no dia seguinte em Tribunal e pode pagar uma multa de 1000 euros. Sem dó, nem piedade, mesmo que seja um cidadão de bem, sem cadastro, só porque se indignou, um direito que lhe é negado se a autoridade se sentir ofendida. E quando o cidadão é humilhado e ofendido ?
Não senhora ministra !
Já não bastava o caos que foi lançado no Teatro Nacional, nos museus, ou a saga da colecção Berardo, agora a ministra Isabel Pires de Lima mandou dizer por interposta funcionária que João Bénard da Costa não deveria ser reconduzido na direcção da Cinemateca por técnicamente estar reformado.
A frieza, a falta de sensibilidade, a calinada da ministra é monumental. A decisão burocrática que ignora uma das personalidades mais marcantes da cultura portuguesa, que mais fez pela preservação e divulgação do cinema, pela dignificação e utilidade pública da Cinemateca, é um grande erro. É uma atitude
de arrogância que nem nos governos mais à direita alguma vez tivémos.
Até já
A internet permite uma relação única,directa com os leitores. A interactividade neste suporte multimédia é fascinante e acaba por criar um intimismo único com quem nos lê, ouve e vê.
Daí eu não poder deixar de anunciar que esta será a minha última crónica neste espaço.
Ao deixar a editoria multimédia, um projecto pelo qual me apaixonei, vou voltar ao meu amor de sempre o fotojornalismo, aqui no EXPRESSO, o melhor jornal do Mundo.
Subscrevo os comentários que faz no subtítulo "academia de polícia" do seu artigo, porque o comportamento daquele agente policial é, de facto, censurável. Só não pecebo por que colegas seus de alguns jornais (ou diria, no caso concreto, pasquins), e quantos não haverão mais, com processos crime por artigos publicados com difamações sobre alegados comportamentos incorrectos de responsáveis policiais, entretanto absolvidos em julgamento, e nunca, desde há dois anos, foram feitas quaisquer diligências processuais e os seus colegas não foram objecto de inquéritos pelo conselho deontológico da autoridade que regula o comportamento dos jornalistas... porque "... acharia admirável... ficando ansioso por saber o resultado... quando e as consequências para os corajosos jornalistas". Pena que não possa ser mais explícito, porque os senhores jornalistas têm o direito e o dever (e ainda bem) para dizer o que bem entendem e os responsáveis policiais em causa têm apenas o "direito" de estar calados.
ResponderEliminarParabéns Luiz,
ResponderEliminargostei mesmo muito de trabalhar neste projecto consigo.
um enorme beijinho
Mas, afinal, quem era Francisco Adam para que justifique estes encómios?
ResponderEliminarUm ponto de apoio fundamentalquando refere que "Se havia algum fio de optimismo, de referência para uma geração jovem, era a novela dos “ Morangos”"?
Tenha tinho, homem, e algum senso, também, que já deve ter idade para isso.
Infelizmente, a memória de uma frase batida: Cada País tem a Cultura e o Desenvolvimento que merece.
ResponderEliminarA confirmar-se o "boato" a Senhora Ministra conseguirá convencer-nos, que a Cultura lhe passa ao lado, senão ao largo.