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sexta-feira, abril 21, 2006

Francisco Adam, uma estrela no céu

A morte surpreende sempre pelas razões mais fortes e óbvias. Mas quando à triste e cruel sentença da mais inevitável certeza de todos nós, se junta a injustiça de uma vida em flor, ceifada num corte brusco e definitivo, então percebemos como somos frágeis e impotentes perante o destino. Falo da morte do jovem Francisco Adam que deixou na juventude portuguesa, pode-se dizer assim sem exagero, um trauma profundo. A realidade tornou-se num pesadelo, transferida do enredo televisivo que faz sonhar e colorir a vida.

Tal como na tragédia de Castelo de Paiva é o sentimento colectivo da perda e da desgraça, do pessimismo adjacente, que volta. Podemos ser um povo pouco civilizado, com carências demasiadas no que toca a padrões de comportamentos sociais, mas na hora da desgraça, filhos que somos de um fado que se perpetua, assumimos demasiado bem o papel de protagonistas da tristeza.

Aqui, nesta triste história, só temos de compreender. É demasiado forte o que sucedeu.

Se havia algum fio de optimismo, de referência para uma geração jovem, era a novela dos “ Morangos”, quer se goste ou não ( eu estou à vontade porque detesto telenovelas). Pois foi no sonho colectivo, que movimentou milhões de seguidores, que caiu a maior das tristezas.

A fama traz muitas vezes esta ironia da perda, tal como aconteceu a James Dean ou a Marilyn Monroe, só para citar os clássicos.

Lá no céu tem de haver um santo lugar para estas boas estrelas.



Não dês bronca


A bronca da semana foi mesmo o zarpar quase total dos senhores deputados a uma votação na Assembleia. A coisa deu demasiado nas vistas e o resultado aí está. Mas não percebo porque só esta semana se deu conta desta balda. Todos sabemos como funcionam os plenários na Assembleia.

Os deputados chegam quando chegam, vão assinando o ponto, sentam-se dão dois dedos de conversa e passado alguns minutos, desaparecem. Como jornalista que vai frequentemente à Assembleia para mim já faz parte do comportamento normal.

Há alguns anos o semanário Tal e Qual caçou uma série de deputados que tinham assinado o ponto a apanharem o comboio em Santa Apolónia passado uma ou duas horas. Hoje teria de se ir para o aeroporto ou para as portagens da autoestrada ! Talvez as câmeras que o engenheiro Sócrates quer pôr nas estradas sirvam para controlar os seus deputados, já que ele se escusou a comentar o comportamento dos camaradas faltosos, aliás na mesma linha de toda a oposição que meteu a cabeça na areia.

E com um pouco de choque tecnológico até se conseguia pôr os deputados a votarem electrónicamente a partir do telemóvel ! Que tal ?


Academia de polícia



Um polícia descontrolado a agredir um puto que abanava um sinal de trânsito, tudo muito bem filmado por um cidadão repórter da sua janela, com os outros polícias a tentarem acalmar a fúria, parecia uma daquelas cenas americanas de polícias e gangs.

Uma oficial da PSP veio dizer à televisão, com voz celestial, que aqueles procedimentos não eram habituais na polícia. Obrigado. Devia vir dizer que eram ? E que disse depois ? Que o descontrolado polícia tinha ficado inibido de fazer serviços externos. Logo, não foi suspenso e podia continuar a usar o crachat da instituição.

Acho admirável. Vão decerteza abrir um inquérito interno. Estou ansioso por saber o resultado. Quando e e as consequências para o corajoso polícia.

Um cidadão que diga um impropério a um agente da autoridade é julgado no dia seguinte em Tribunal e pode pagar uma multa de 1000 euros. Sem dó, nem piedade, mesmo que seja um cidadão de bem, sem cadastro, só porque se indignou, um direito que lhe é negado se a autoridade se sentir ofendida. E quando o cidadão é humilhado e ofendido ?


Não senhora ministra !



Já não bastava o caos que foi lançado no Teatro Nacional, nos museus, ou a saga da colecção Berardo, agora a ministra Isabel Pires de Lima mandou dizer por interposta funcionária que João Bénard da Costa não deveria ser reconduzido na direcção da Cinemateca por técnicamente estar reformado.


A frieza, a falta de sensibilidade, a calinada da ministra é monumental. A decisão burocrática que ignora uma das personalidades mais marcantes da cultura portuguesa, que mais fez pela preservação e divulgação do cinema, pela dignificação e utilidade pública da Cinemateca, é um grande erro. É uma atitude
de arrogância que nem nos governos mais à direita alguma vez tivémos.




Até já


A internet permite uma relação única,directa com os leitores. A interactividade neste suporte multimédia é fascinante e acaba por criar um intimismo único com quem nos lê, ouve e vê.
Daí eu não poder deixar de anunciar que esta será a minha última crónica neste espaço.

Ao deixar a editoria multimédia, um projecto pelo qual me apaixonei, vou voltar ao meu amor de sempre o fotojornalismo, aqui no EXPRESSO, o melhor jornal do Mundo.

4 comentários:

  1. Anónimo5:58 p.m.

    Subscrevo os comentários que faz no subtítulo "academia de polícia" do seu artigo, porque o comportamento daquele agente policial é, de facto, censurável. Só não pecebo por que colegas seus de alguns jornais (ou diria, no caso concreto, pasquins), e quantos não haverão mais, com processos crime por artigos publicados com difamações sobre alegados comportamentos incorrectos de responsáveis policiais, entretanto absolvidos em julgamento, e nunca, desde há dois anos, foram feitas quaisquer diligências processuais e os seus colegas não foram objecto de inquéritos pelo conselho deontológico da autoridade que regula o comportamento dos jornalistas... porque "... acharia admirável... ficando ansioso por saber o resultado... quando e as consequências para os corajosos jornalistas". Pena que não possa ser mais explícito, porque os senhores jornalistas têm o direito e o dever (e ainda bem) para dizer o que bem entendem e os responsáveis policiais em causa têm apenas o "direito" de estar calados.

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  2. Anónimo10:14 p.m.

    Parabéns Luiz,
    gostei mesmo muito de trabalhar neste projecto consigo.
    um enorme beijinho

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  3. Anónimo12:55 p.m.

    Mas, afinal, quem era Francisco Adam para que justifique estes encómios?
    Um ponto de apoio fundamentalquando refere que "Se havia algum fio de optimismo, de referência para uma geração jovem, era a novela dos “ Morangos”"?
    Tenha tinho, homem, e algum senso, também, que já deve ter idade para isso.

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  4. Anónimo7:40 p.m.

    Infelizmente, a memória de uma frase batida: Cada País tem a Cultura e o Desenvolvimento que merece.
    A confirmar-se o "boato" a Senhora Ministra conseguirá convencer-nos, que a Cultura lhe passa ao lado, senão ao largo.

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