Faz hoje 50 anos que eu entrei pela primeira vez na escola, uma pequena escola particular situada num primeiro andar antigo num prédio em Torres Novas.
A professora era tirada de um filme também antigo já na altura. Gordinha, velhota, autoritária e fiel salazarista. Esqueci-me do seu nome. Poderia ser Genoveva.
Entrei só a 11 de Novembro, com um ano menos da idade do que era norma entrar na escola de então.
Não queria deixar passar este dia sem assinalar esta data. Recordo-a todos os anos, embora seja péssimo para datas e para nomes.
Havia na sala uma telefonia que, sintonizada na Emissora Nacional, dava o seguimento do assalto ao Santa Maria. E todas as manhãs a aula era interrompida para se ouvir o relato dos locutores sobre a aventura do destemido Henrique Galvão e dos seus valentes rapazes.
Anos mais tarde vim a saber que enquanto eu aprendia as primeiras letras, um destemido fotojornalista do Paris-Match saltava de uma avioneta em pleno Atlântico para o paquete desviado e fazia uma reportagem única sobre a vida a bordo da burguesia portuguesa. Não havia reféns, mas festas, bailes, tranquilidade.
Quer o meu empenho nas primeiras letras, quer a genialidade deste fotojornalista, são hoje para mim uma grande lição de vida. Uma lição de nunca abdicarei.
Chamava-se Catarina.
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