Hoje fui ao Ministério das Finanças em trabalho. Uma viagem longa. Duas horas dentro do carro
para fazer Estoril- Terreiro do Paço. A vida está má mas não se percebe o que estão a fazer numa bicha de 20 quilómetros, entre as 8 e as 11 da manhã, centenas de tristes.
Não trabalham? São assessores que chegam tarde? São jornalistas a caminho de Lisboa em busca de uma novidade? São mulheres infiéis que aproveitam a hora de ponta matinal para exercerem o direito à emancipação? São desempregados a queimarem os últimos litros de gasosa? Que faz esta gente com ar pouco apressado, para onde vai, e onde conseguem estacionar tanta latoaria na Lisboa de Costa?
Adiante. Fui ao Ministério das Finanças. Deixaram-me entrar com o meu Smart. Disse ao que ia, e o destinatário a quem me dirigia dava direito a uma "aberta" no parque de estacionamento, dentro de um dos claustros do Terreiro do Paço, o mesmo que eu atravessava há 20 anos quando era arquitecto ali mesmo no Terreiro do Paço.
Depois de entrar arrependi-me. E se não me deixam depois sair com o carro? Imagine-se que o simplex funciona, me fotografa a matrícula do carro e envia um SMS para a segurança duvidando de um qualquer cumprimento fiscal? Lá ia o Smart para o leilão do Estado, ou ainda o via um destes dias a ser usado ao serviço da Nação.
Claro que brinco. Mas podia acontecer. E se por ali encontrasse um fiscal que me pedisse a carteira, tipo: " Oh amigo faça favor de abrir a carteira. Vinte euros aí? para que quer dez? Tome lá cinco dos vinte a dê metade a um pedinte civil!".
A verdade é que já ninguém se sente seguro em nenhum lado. Hoje só ouvi gente a lamentar-se, com expressões angustiantes. Eu próprio tive um dia deprimente. Uma manhã para esquecer.
À tarde a fotografar uma sumidade em economia, diz-me a dada altura:" esta gente nem sabe o que há-de fazer! E se eu fosse dizer para a televisão o que penso e sei, seria trágico!"- e não era o Medina Carreira!
Mas foi à noite que senti um arrepio. Ao andar pela LxFactory com os meus alunos, um empregado de um restaurante mostra curiosidade por andarmos por ali a fotografar. "Estamos numa aula de fotografia"- digo eu. "Vejo que é o professor. Ainda bem que pode dar aulas e ter alunos"- diz-me o homem com a expressão de quem ali está mas não faz negócio.
"O senhor como fotógrafo já conseguiu transformar um sapo num príncipe?"- Ainda não cheguei a essa fase! - "Quando chegar convide-me para seu modelo!"- rematou. Chegámos ao limiar da realidade com a ficção. Só o sonho nos salvará.
Só mesmo o sonho porque a realidade dura é esta !
ResponderEliminarLi ontem no publico que querem correr com os arrendatários do Lx Factory sem qualquer indemnização pois foi aprovado em julho a construção para essa zona.
Abraço
Eu já não sei o que pensar...
ResponderEliminarReceio, muito receio!
E quanto à LxFactory, nada de novo, portanto! Devem ir falar com um arquitecto daqueles campeões para idealizar umas torres de 20 andares, e 2 silos automóveis, e mais um cinema para a malta do calvário!
Porque o sonho, Luiz, é às vezes tudo o que resta. bjs
ResponderEliminarÉ Luiz, realmente há momentos em que o sonho é a única forma de contornarmos a realidade, mas o pior é que dos sonhos sempre se desperta, tal como do sono. E aí, meu amigo, a realidade torna-se mais dura e difícil de suportar. Talvez por isso, eu já não sonhe mais. Nini
ResponderEliminarOlá
ResponderEliminarPenso ter a resposta para a quantidade de pessoas nessa bicha, pelas 11 da manhã, hora a que a maioria deveria, eventualmente, estar a trabalhar...eram todos professores, sim, porque os professores são constantemente acusados de estarem sempre de férias e de não fazerem nada,portanto é lógico, só podiam mesmo ser professores.
Quanto não vale levar a vida na brincadeira, há sempre alguém que a leva a sério por nós.
Beijins
Ivone Fazendeiro
Devem daqueles fulanos que aparecem sempre a comentar tudo e mais alguma coisa, por todo o lado, onde berram sucessivamente:
ResponderEliminar- Cambada de calões ando eu a trabalhar para esta corja toda !!!