...Faz um ano que eu fotografo com câmera digital... Até então era com negativo. Agora, minha imagem passa a ser um conceito, que está ali dentro transformado em ondas magnéticas. Eu tenho um telefone novo com internet. Eu fui mexendo, fui no Google, coloquei meu nome e cliquei em imagens. Minhas fotos entraram dentro do meu telefone. Pronto! Eu não sei fazer outra vez, mas fui brincando até chegar lá. Isso é fascinante, mas é muito difícil para uma pessoa que trabalhou sempre com um produto resultado da química, que é o filme, passar a usar um produto resultado da física.
O que fez você passar a usar tecnologia digital?
O mundo depois do 11 de Setembro virou um drama para os fotógrafos. Nós usávamos filmes e tínhamos os raios-x nos aeroportos. Eu vinha de Sumatra no ano passado, no mês de abril. Passamos por sete controles de aeroportos com 600 rolos de filme. Tive problemas em vários deles. Não adiantava mostrar para eles as cartas da Kodak, dos governos... Eu reaprendi a fotografia. A digital me facilitou a vida. Estou usando uma Canon EOS-1Ds Mark III, que é fabulosa.
É um susto para muita gente ver você falando que a digital é melhor...
É melhor mesmo. Os químicos não existem mais. Tive que fazer os bons químicos até um ano e pouco atrás. Para conseguirmos papel para as cópias de leitura, tínhamos que trazer de Tóquio! Os filmes foram caindo de qualidade. E a qualidade que eu tinha em um 35mm anos atrás eu não tenho mais no médio formato agora.
Com a popularização das digitais, mudou a relação da sociedade com a imagem?
Nada. Absolutamente nada. O número de fotógrafos não aumentou, não melhorou e não piorou. Você só mudou a base, exclusivamente a base. O problema é de sensibilidade e identificação com a profissão, de saber se é fotógrafo ou não.
A câmera digital altera a questão da memória?
Acho que não. A fotografia, na realidade, é a memória da sociedade. São cortes representativos, são momentos que você faz da sociedade. É a verdadeira linguagem universal. A maneira de escrever cada um tem a sua, com uma vantagem para a fotografia. Ela não precisa de tradução. É realmente uma linguagem fabulosa.
É Brasuca e basta
ResponderEliminarHá um pormenor em que eu discordo: a economia da fotografia mudou com o digital e desapareceu a
ResponderEliminarEm 1996 fui de férias para o Brasil durante 20 dias. Levei 60 rolos de RSX100 bobinados por mim (para economizar no filme) e gastei-os quase todos. No total foram quase 2000 fotogramas.
No mês passado visitei a Versailles e fiquei para um espectáculo nocturno de luz, música e água nos jardins. Nesse dia, fiz 1624 fotogramas.
Por muito interessante que Versailles seja, não se aproxima sequer do interesse que o Brasil tem para mim. A explicação para o número e análogo de fotografias para temas de interesse tão diferente reside na tecnologia e não no tema ou no fotógrafo.
Com filme, eu pensava duas ou três vezes antes de fotografar. Agora, disparo quase por instinto, sem reflectir muito bem no instante óptimo, e até uso bracketing para escolher a menos má das fotos, luxo inacessível a um amador no tempo do filme.
O caso limite desta preocupação é a fotografia subaquática: quando mergulhava tinha a noção de que só tinha 38 ou 39 fotogramas na melhor das hipóteses. Agora, mergulho com um cartão de 2Gb e nem páro para
Só discordo deste elogio ao digital num aspecto: o digital mudou muito a economia "mental" dos fotógrafos.
ResponderEliminarEm 1996 fui passar 20 dias de férias. Levei cerca de 60 rolos de Agfa RSX100 bobinados por mim, por mor da "economia". Gastei-os quase todos num total de cerca de 2000 fotografias. Já este ano visitei Versailles e assisti a um espectáculo nocturno nos jardins do palácio. Usei uma máquina digital e tirei 1624 fotografias num só dia.
Não acho que Versailles seja mais interessante do que o Brasil, pelo contrário. O que sinto é que desapareceu a noção de escassesz que me levava a pensar que cada fotografia tirada aumentava o risco de não ter filme quando chegasse "A" fotografia, ou como cita o Luiz, "o instante decisivo".
A novidade é ainda mais flagrante na fotografia submarina, onde era quase impossível mudar o rolo de filme. Nesse cenário, eu sabia que tinha 37 exposições para um mergulho. Só disparava quando tinha a certeza que não iria encontrar melhor. Hoje, saio da água com 200 fotos tiradas e nem me ralo muito que só se aproveitem 10.
Antes eu preocupava-me mais com o enquadramento (até porque o processamento digital era mais complicado), com a iluminação, com os filtros que ajudassem a compensar o balanço de brancos. Agora resta-me pensar no tempo de exposição e profundidade de campo. Fiquei mais preguiçoso e fotografo pior mas os resultados são melhores, porque entre tantas fotografias há uma ou outra que "diz" aquilo que eu queria.
Lamentávelmente estas palavras de Sebastião Salgado parecem-me mais um chorrilho de explicações mal atamancado para a sua mudança para o digital. Se lermos a entrevista na totalidade ( publicada no "Hors Serie nº 10" da Réponses Photo) ficamos a saber que o senhor após a captação da magem trabalha-a de modo a ficar com grão e o aspecto de película, não satisfeito com essa barbaridade (para quê comprar um Ferrari se depois lhe meto um motor de um miserável Fiat Punto?) ainda refotografa o ficheiro de modo a poder fazer uma prova no velho (e pelos vistos, segundo diz, em extinção) papel de brometo de prata.Tudo isto, por uma questão mercantil pois segundo me apercebi pelas suas próprias palavras, as provas possuem mais valor junto dos colecionadores de fotografia.
ResponderEliminarConvenhamos, a fotografia só mostra a sua fragilidade com discussões destas, algum pintor compara a qualidade da pintura a óleo com a qualidade da pintura a aguarela? O que interessa é a imagem final, só mesmo "fotógrafos" é que se preocupam se é melhor a imagem química ou digital, quando o que realmente interessa é o que fica quando terminamos o trabalho.
Quanto à qualidade própriamente dita da fotografia que se pratica agora, independentemente de ser ou não digital, parece-me ir pelo mau caminho que a humanidade trilha, é "bonitinha", enche o olho, tem montes de "truques photoshopianos" mas tem pouco "sumo"
Evidentemente isto é uma opinião pessoal e como tal discutivel.
Obrigado pelo seu blog senhor Luís Carvalho.
Carlos Silva.
"Estou usando uma Canon EOS-1Ds Mark III, que é fabulosa."
ResponderEliminarParece-me bem que o título induz em erro. É esta e não a 5D Mark II.
Isso era antes de ter a 5 D MarkII que ele considera mais leve.
ResponderEliminarPrimeiro tenho a dizer que gosto de S. Salgado.
ResponderEliminarQuanto a ele optar pelo suporte digital;bem, ele lá sabe....
O que posso afirmar, é que visitei neste mês de Setembro pela 2º vez o www.festivalphoto-lagacilly.com na Bretanha,onde partecipou S. Salgado, e as suas imagens a P/B eram uma " merda", no que à impressão diz respeito.Claro que estava lá o seu olhar e sentido estético etc, mas o seu suporte, parecia papel de jornal...só visto. L.R.
ps: visitem o site que vale uma "olhadela".