11 de Setembro, foto de Thomas Hopker/Magnum
Há 9 anos estava a almoçar com o meu amigo António Pedro Ferreira no Café IN, junto ao Tejo, quando começámos a ver nas televisões da sala uma imagem, em directo, num plano que não tinha fim.
Vimos um avião embater num edifício e percebemos que algo de estranho se estava a passar. As televisões não tinham som. Quando o segundo avião embateu nas Torres Gémeas percebemos que aquilo era a transmissão em directo de uma catástrofe. A minha mulher ligou-me passados segundos (confirmou-me hoje ela) e penso que liguei de seguida ao meu filho André. Não dava para acreditar.
"Já assistimos a tragédias em directo"- terá dito o meu amigo. O som foi entretanto levantado e percebemos que era algo de grave em Nova Iorque, embora não houvesse ainda informação sobre a origem do desastre.
Passados estes 9 anos o Mundo mudou, como todos sabemos e sentimos. E a fotografia também mudou arrastada pela dinâmica da internet que entretanto medrou e se tornou na galáxia que une o Mundo em permanentes contactos digitais.
Os fotógrafos amadores tiveram no testemunho do 11 de Setembro um papel principal, ultrapassando em veracidade muitas das fotografias dos fotojornalistas, que não estavam no local do embate na hora H. A forma como as imagens foram difundidas fizeram da fotografia do cidadão um novo meio de informação em directo.
Claro que há um portfolio notável de fotógrafos notáveis e que foram essas fotografias que acabaram por ficar para a História. Porque são mais impactantes, mais intencionais, mais dramáticas. As fotografias dos amadores ficaram como provas testemunhais únicas e valem pela oportunidade.
Mas esta dinâmica fotográfica não mais parou. A evolução das câmaras digitais, o seu preço reduzido, e a possibilidade de se poder agora partilhar na internet as emoções visuais, tirou protagonismo aos fotógrafos-mestres e aos profissionais exemplares.
Esta nova janela para a fotografia encheu o Mundo artístico de contradições, desbaratou o acto fotográfico e deixou sem futuro muitos fotógrafos com curriculum afirmado.
Fotografar passou a ser mais fácil para os amadores e mais complicado para os profissionais.
Aumentaram as restrições, as reservas à captação de imagens em certos lugares. Embora o Google tenha possibilitado a total indiscrição com as suas imagens aéreas (e muito bem!) a fotografia terrena viu-se mais controlada e os fotógrafos muito mais incomodados.
Uma data que nunca esqueceremos. Nem eu nem o meu amigo imaginámos naquela hora de almoço, onde estávamos a falar das limitações criativas no exercício do fotojornalismo, imaginávamos que aquela conversa estava a passar para a História e que depois daquela imagem da televisão, o fotojornalismo, a nossa profissão, iria sofrer também ela um abanão digno de meia dúzia de terroristas suicidas.
Nesse dia Luiz, estava dentro de um avião de regresso a Lisboa,mas já em descida para aterrar. Ao chegar ao carro eu e o meu marido soubemos logo o que se estava a passar e ao chegar a casa, "colei-me" à televisão e chorei sem parar toda a tarde. Perdi a capacidade de raciocinar e só olhava ás imagens que não paravam de suceder-se. Fui tempos depois a NY e o ground zero, aquele vazio terrível, ficou com as imagens anteriores, gravado para sempre na minha memória. Aliás não quero sequer esquecer. Depois de ler o que diz, compreendo o significado do impacto que toda aquela desgraça deve ter tido em muitas profissões, sendo uma delas a sua de de muitos dos seus colegas. Quem está fora do "circuito" não abrange determinadas consequências dos problemas. Só agora me apercebi disso. Mas meu amigo, tendo sido realmente esta catástrofe provavelmente a maior dos USA e do mundo, infelizmente, elas estão a suceder diariamente e essas, apesar de captadas por foto-amadores, não serão nunca vistas com os olhos e a sensibilidade com que voçês profissionais as captam e as transmitem. Haverá sempre uma grande diferença e é nisso que está a "verdade": no vosso olhar, através da lente, seja qual for a máquina. Daí, os prémios, a públicação nas grandes revistas e jornais. Beijos. Nini
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