Na passada semana percorri 1700 quilómetros, entre o Sul e o Norte, em trabalho. Percorri algumas das principais auto-estradas e cheguei a lugares perdidos no mapa. O que se sente ao viajar por Portugal é uma imensa solidão. Auto-estradas desertas, áreas de serviço sem clientes, onde os preços são mais devastadores do que um assalto, e a sensação de que o pais não tem negócio. Quase não nos cruzamos com carros de serviço e poucos são os camiões que circulam a fazer distribuição. Um país ao abandono servido por auto-estradas de piso liso, três faixas e portagens proibitivas.
Mas ao sairmos de qualquer auto-estrada, o que se nos depara é um outro país ainda mais deprimido. É o Portugal da 125 esburacada, sem sinalização, ladeada por prédios de construção selvagem dos anos setenta, subúrbios, lojas fechadas, restaurantes manhosos, stands de chassos a preços altos, motorizadas guiadas por velhos de penico nas cabeças. Um país a dois tempos como os motores Casal que empurram aquelas motoretas para o passado.
Uma cidade como Lagos, que devia ser um excelente lugar para vender Sol, boa comida, Mar inspirador e sossego, um mealheiro a encher por turistas, é uma cidade confusa, sem estacionamento, ruas esburacadas e um centro histórico de casas em ruínas, umas para vender, outras para alugar, mas nenhuma a render o que devia. A Câmara marimba-se nos pavimentos e no asseio das ruas, mas não poupou dinheiro a fazer um chafariz ostensivo acabado a mármore n uma rua cheia de crateras!...
Seguir para Norte pela A17 faz-nos sentir a rolar numa pista só para nós. Mas ao sairmos na zona de Vila da Feira numa terra que só o GPS conseguiu encontrar é o Portugal pobre que volta aos nossos olhos. Um país em letargia.
Na Marinha Grande percorro a zona industrial num Mercedes de um patrão local e ele vai apontando as fábricas de moldes falidas e as que estão à beira de acabar. Safa-se a dele, e de mais um ou dois, porque ele soube apostar na tecnologia e foi capaz de conquistar novos mercados, embora com muita sorte e alguma eficaz esperteza. Dá trabalho a 70 empregados mas quando as encomendas abrandam tem de garantir esses salários, embora quando haja trabalho a mais tenha de pagar horas.
Quando percorremos o país sentimos como tudo está preso por arames. Os restaurantes locais, antes cheios à hora do almoço por empresários e clientes, estão agora às moscas. A economia abrandou, a indústria tradicional não consegue competir com a dos países de Leste e fica arrumada se a China se mete na concorrência.
Em Paços de Ferreira as indústrias tradicionais acabaram e o centro da terra é um museu decrépito com pequeno comércio, tão decrépito como os simpáticos patrões que devem andar com uma média de idade de oitenta anos.
Volto a meter-me no carro e passadas três horas estou em casa, no sofá, a ouvir os espertos que desfilam noite dentro pelos telejornais do cabo a atirarem postas de pescada. Os salvadores!!!.
Um país abandonado, sem ideias, mas com uns treinadores de bancada bestiais.
Um retrato negro e infelizmente verdadeiro. Também tenho a mesma sensação. Até nas tascas onde se comiam tremoços e se bebiam uma dúzia de finos para atestar nem os velhos já jogam à sueca.
ResponderEliminarAinda este fim-de-semana, aqui pela minha terra, encontrei o presidente da câmara, um conhecido de outras guerras, desde há vinte anos atrás, um juiz desembargador que virou político nas últimas autárquicas e ironizei com ele que está mais magro e acrescentei que deve ser dos calores que lhe deixaram por pagar. E ele sorriu num sorriso meio amarelo de quem respondia que nem sonhou com a merda em que se meteu.
Sendo este tipo um magistrado, ainda por cima um homem sensato, percebeu que nem dinheiro lhe deixaram para remendar o cu das calças, leia-se os buracos em todas as ruas da cidade, já para não falar na miséria das freguesias.
Buracos que ainda são restos de um tipo que, há uns anos, quando por aqui passou, a primeira coisa que fez foi comprar um Volvo topo de gama e substituir as secretárias velhas por boazonhas à berlusconi. E que gastava fortunas na conta do telemóvel. E que deixava o Volvo à porta da Câmara e com a luz do gabinete para fingir que trabalhava, sabendo os mais bem informados que andavam lá pelas docas mais a sul.
Vá lá que o mandaram foder nas últimas eleições, e agora acho que ficou arrumado como o caldas com o gajo que você estava a fotografar este fim-de-semana, pelo menos, parecia ser você, assim tipo roda vinte e seis na página da Sapo, assim a modos que deslumbrado com o novo chefe de turma.
…
Percebeu as metáforas…?
Se não percebeu também não explico melhor, que a blogosfera anda cheia de bufos e quem ainda se fode sou eu. E fodido já eu ando há algum tempo.
Abraço… E folgo que não tenha caído da bicicleta… «por enquanto».
E vá dormir que deve estar cansado com tantos quilómetros.
JJ
Não é dos «calores...» mas sim dos calotes.
ResponderEliminarEu que devo estar com os calores!
Ou então, é o síndrome de sant'ana que me ataca a figadeira de vez em quando.
JJ