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quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Madeira, Lisboa e os riscos previstos


Há dois anos já se falava nos perigos da Madeira

Olhando a Madeira do alto do helicóptero, através da câmara da SIC, percebe-se como a tragédia fez da ilha um território à escala ínfima. E logo se vê porque houve tantos mortos e tanta destruição. Aqueles milhares de casas construídas em leitos de cheia, à beira do abismo, ou ao lado de ribeiras que alguém estreitou, só podiam um dia dar desgraça.

Claro, o que aconteceu foi excepcional, por muito excelente que fosse a ocupação do território haveria sempre uma tragédia descomunal. Mas o que valerá a pena analisar depois de tudo isto passar, é se as mortes poderiam ter sido evitadas (pelo menos em grande parte) se atempadamente tivesse havido a prevenção para não se ter permitido construir nalguns locais demasiado frágeis. Isso era coisa que tinha sido possível prever. Havia mesmo relatórios que apontavam para essa eventualidade trágica.

Caso a caso é possível verificar se aquela casa faria ali sentido mesmo numa perspectiva de uma menor enxurrada. Ou se é aceitável que num território como a Madeira nunca tenha existido um PDM embora sendo uma das zonas portuguesas onde mais se construiu nos últimos anos.

O que se deveria aprender com esta tragédia é que a Madeira precisava de um grande plano de reordenamento que passa pela requalificação da paisagem, das zonas urbanas e rurais. Por exemplo: não passa pela cabeça de ninguém de bom senso permitir a construção de um mega centro comercial na baixa do Funchal, com pisos abaixo do nível do mar, a 100 metros do porto. É um absurdo com aluvião ou com sol.

Provavelmente não se terá nunca alguma lição disto. Alguém pensou que uma povoação não pode ficar refém de uma única estrada de saída e que se esta desabar vai ficar uma população inteira isolada? Pensaram?

O que aconteceu na Madeira poderá acontecer em Lisboa. E rezemos todos para que isso não aconteça. Imagine-se a Baixa de Lisboa: os edifícios pombalinos foram construídos com uma estrutura flexível para abanarem e não caírem em caso de sismo, tornando-os mais leves, já que estão assentes numa vasta zona de estacaria conquistada ao rio. Ora bem: nas últimas décadas muitos desses edifícios foram reconstruídos por dentro, em betão armado, estrutura pesada e rígida. Outros foram atamancados com acrescentos em betão por cima de uma estrutura de gaiola. Em caso de sismo esses edifícios podem pura e simplesmente afundar.

E se pensarmos que as obras do metro no Terreiro do Paço dificultam o escoamento da água que está por debaixo de toda a estacaria da Baixa, é melhor não pensarmos no berbicacho que ali está. Mas a Câmara não se rala: acaba de pavimentar o Terreiro do Paço com pedra e com degraus transformando um terreiro numa praça pirosa de um autarca novo-rico.

Abecassis caiu com o incêndio do Chiado. Jardim está a escapar à tragédia, mas quando vierem ao de cimo a responsabilidade dele em muita obra inútil, provávelmente irá também na enxurrada.

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