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segunda-feira, agosto 17, 2009

A prática solitária do Facebook e Miguel S.Tavares

O Miguel Sousa Tavares acha muito bem o Magalhães. Disse-o no ano passado na TVI. Mas não gosta de internet, de Twitter, blogues e outros locais ao redor. E escreveu com violência contra aqueles milhões de tontos que fazem da internet um ponto de encontro para engates, maldicência, negócios e outros actos desprezáveis. Remata mesmo com força, declarando que quem se passeia pelas redes sociais padece de solidão. E pega nesse chavão tão eficaz na caracterização de comportamentos sociais que é a solidão, tal como as feministas usam a palavra mágica machista.

Por mim não me sinto nada afectado por estas opiniões do Miguel. Percebo que quem lida mal com computadores e com toda a linguagem multimédia, quem já foi caluniado na internet com dimensão de escândalo, quem já viu desaparecer um romance num computador roubado que não tinha backup, não pode gostar muito do meio. A minha amiga Clara Ferreira Alves também detesta internet e despreza blogues,internautas e outros peregrinos virtuais. Não é essa antipatia que fará dela uma jornalista brilhante e uma cronista ímpar.

Aliás, prefiro estas opiniões francas e desassombradas às atitudes infantis de alguns velhadas que há pouco nem sabiam mandar um e-mail, e julgavam que um podcast era uma versão melhorada do Viagra, e que agora usam o Twitter para perguntarem à mulher o que é o jantar, para mostraram aos amigos retratos dos locais pirosos onde passam fins-de-semana, ou para invadirem a homepage com vídeos do YouTube fazendo crer que gostam mais de ópera do que macaco de banana, no meio de uma fraseologia plena de termos de inglês técnico!...

Numa entrevista dada ao i, num exclusivo do NYT, o extravagante dono da Rynair também confessa detestar internet, não escreve e-mails, a empresa recusa-se a recebê-los dos clientes, embora todo o seu negócio esteja alojado na internet ! E quando alguém insiste em ele ser mais internauta ele responde com o seu bordão preferido:" Deixe-se disso!".

Claro que as redes sociais criam dependência, são por vezes indiscretas, podem invadir a privacidade, e a grande maioria do que lá se escreve são banalidades. Mas tal fenómeno acontece em todos os meios. Vinte leitores fiéis do NYT fechados uma hora numa sala a lerem o jornal, no final não se lembravam do que tinham lido de relevante! O que se lê na net é lido de cruz, e se se escreve um sound- bite é isso que fica. O resto é para picuinhas.

O que devemos valorizar é que hoje temos uma comunicação fantástica. Podemos partilhar vídeos, textos, fotos, sons, sentimentos, ideias e revoltas, causas, como nunca podemos fazer. Eu nunca pensei que um vídeo meu pudesse ser visto por 360 mil pessoas no YouTube, e este número não pára de subir. Nunca me atrevi a escrever textos de opinião e hoje são lidos por uma média de 5oo leitores, já fui citado várias vezes no Público ao lado de cronistas profissionais e alguns políticos lêem-me e dizem-mo.

Os sites ditos sociais têm hoje uma influência grande na opinião pública. Se somarmos as audiências dos blogues, são muito superiores às dos jornais diários. Não sei se é bom, até acho que não como jornalista, mas é a realidade.

A vida mudou e as redes sociais não são o "Quando o telefone toca". São pontos de encontro virtuais que agregam amigos, grupos de interesses, cidadãos que agora podem influir a sociedade. Isto enerva quem faz da escrita uma forma de vida. Tal como a mim me irritam aqueles sites de partilha de fotos para amadores, armados aos artistas, e que muitos editores (nomeadamente a Amazon) tomam como fotografia. Vivemos este terrível Mundo de contradições. Para o melhor e para o pior

2 comentários:

  1. Concordo com tudo o que diz.
    Mas acho que exagera um pouco quanto ao que o Miguel quis dizer no texto que escreveu no Expresso.
    E, apesar de "acéfalo", como um comentador aqui hoje me chamou, não estou a contradizer-me.

    Penso que o que o Miguel quis dizer é que a comunicação multimédia nos afasta da conversa "olhos nos olhos", não dá para conversar enquanto bebemos uns copos e olhamos para umas mulheres giras no café.
    Também quis dizer que muito de nós, que nos insurgimos contra a devassa da privacidade, acabamos, afinal, por pôr a nossa vida na Net sem que nos imponham mas apenas porque pensamos que passamos a ter muitos "amigos".

    Eu hoje não vivo sem o computador, onde leio, escrevo, pago as contas...
    E, de vez em quando, chateio o Luís. E o Luís me chateia a mim.

    E sinto muitas vezes a "solidão" de que o Miguel fala.
    Porque nunca "vi" o Luís nem a "querida" Pézinhos. E gostava de ter a oportunidade de estar convosco… fisicamente.
    E, já agora, de ter a oportunidade de dar uma estalo no focinho, no sentido prático da palavra, a comentadores da marca Tecelão... Acho que é assim que o gajo se identificou e que você teve a sensibilidade de apagar.

    As fotos da senhora PTC são um excelente trabalho.
    Você conseguiu pôr a sua alma a falar e não merecia aquele “Teceloso” primeiro comentário.
    Curiosamente, ainda não li a entrevista, perdi a Única ou acho que a minha filha me a abarbatou.

    Aproveito para lhe dar os parabéns pelas fotos, porque, como sabe, não percebo nada de fotografia, mas um bom profissional, como você aqui demonstrou, até põe um cego a ver, neste caso, a sentir. A sentir profundamente. Acredite. E olho que eu não sou muito do género de dar parabéns.

    JJ

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  2. Boas, pois eu não li o artigozito do Sr Miguel,
    e quanto a ele ou á Sra Clara,gostarem ou não de internete,blogues,é perfeitamente coerente com a forma de pensar de ambos.Ora, repare o Luiz,que
    ambos,adoram "Poder" telefonar, almoçar ou jantar
    com os ILUSTRES!...O resto,bem, o resto são umas caçadas no Alentejo,vazio de preferência,ou um "chá no deserto"....uf,o povo.Que chatos,olha
    agora a terem acesso á Informação.Pois é. basta ouvirem e verem os DOUTOS na TVI ou SIC-N.L.R.

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