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segunda-feira, julho 20, 2009

Férias escaldantes no comboio da linha

Comecei as minhas férias apanhando o comboio de S.João do Estoril para Lisboa. É uma viagem cómoda e agradável. Única em beleza ao podermos ver as praias , o mar, ali ao lado sempre a guardar-nos. Há gente de todo o tipo, o que se torna curioso para um fotógrafo, mesmo com a G10 guardada na mochila.

Como raramente ando de transportes públicos, aquilo sabe-me a quebrar a rotina. Estou mais atento a tudo. Demorei logo mais 20 minutos porque perdi um comboio por estar avariada a máquina automática de venda de bilhetes. No atendimento pelo funcionário só uma utente demora 5 minutos a fazer perguntas inúteis e uma bicha já de 20 pessoas à espera. Afinal não se pode comprar um bilhete avulso sem ser nas máquinas! Tenho de ir até ao fundo da estação, onde já está outra bicha enorme. Sento-me, acendo uma cigarrilha, leio o i. Deu para acabar a cigarrilha, ler por alto o jornal até chegar o próximo comboio.

Já dentro do comboio só eu é que vou a ler um jornal. E um passageiro que lia um desportivo. A carruagem quase cheia leva gente que fala alto ao telemóvel, outros que ouvem música nos ipod, outros que pensam na morte da bezerra.

Era aqui que queria chegar: o povo português não lê jornais, mesmo quando tem 30 minutos entre a casa e o emprego. Não me venham com a história que os jornais são caros. Um euro não dá para nada e não é por aí que o orçamento vai para o galheiro. Nem me venham com a habitual desculpa que a malta prefere a internet para ler noticias, pois não tem nada a ver ler o Público ou o i, o DN ou o Correio da Manhã, o 24 ou o Jornal de Negócios no papel ou na net!

Há uma cultura instalada do desinteresse, uma cultura que os governos criaram ao promoverem um ensino pouco catalisador do conhecimento, uma escola que obriga a marrar mas que não estrutura as mentes para a vida.

Essa aposta na educação, e no seu reflexo no quotidiano e no trabalho, é que falhou totalmente este regime. Não acha professor Cavaco?

4 comentários:

  1. Bem para um fotógrafo profissional tem uma opinião bem vincada e críticia de tudo. Já pensou também escrever para o Expresso?
    Em parte concordo consigo, pois existe uma cultura instalada do desinteresse e o grande responsável por isso são as falhadas medidas de educação dos vários Governos e não apenas do senhor professor Cavaco. Mas tb fiquei surpreso por não ter dito que viu mts com os ditos jornais gratuitos, pois esses parecem ser a companhia ideal para os mais preguiçosos em ler um Público até ao fim. Pois com tantos jornais diário que existem- 6, o Público continua a ser melhor e o mais completo jornal diário Portugues e é uma pena que esteja numa situação tão má.

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  2. Olha o Luiz veio aqui para os meus lados em S. João... Parece que de facto tirar bilhetes em s. joão é agora coisa dificil. Que horas eram? Não era hora de ponta de certeza, porque se fosse, era metade do pessoal ler jornais gratuitos e a manusea-los como se fossem papel higienico e a outra metade a ler os desportivos que dizem todos a mesma coisa.

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  3. Olá Gonçalo. Eu moro a 2 kms de S.João. E eram 10,30 da manhã. Eu mesmo andando nos tp acabo por não os usar em pleno. E pelos vistos ainda bem::))

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  4. Caro Luiz,

    regressando ao comentário sobre "A curva do Mónaco", o comboio da linha de Cascais é uma das melhores maneiras de entrar em Lisboa.

    Já não moro na Parede mas ainda lá vou de vez em quando e quando entro na estação sinto a emoção da expectativa da viagem, como quando vou para a Régua ou para Aveiro. Esses 22 ou 23 minutos (consoante o comboio), permitiam-me ler a Scientific American que deixei de assinar desde que regressei a Lisboa. O Metro de Lisboa não tem o mesmo conforto ou encanto.

    Quanto aos jornais, vejo muita gente ler os gratuitos - que já têm o mérito de assegurar um mínimo ginástica de manutenção da literacia - mas raros são os passageiros que pagam para ler.

    Há mais de 20 anos, um familiar meu trabalhava numa revista e explicou-me que a principal fonte de receita nessa revista era a publicidade. Perguntei-lhe então porque motivo tinham tanto trabalho com as assinaturas e a venda nos quiosques que ele justificou com o controlo de custo marginal de produção (o papel e gráficas). Fiquei então à espera que o aumento da publicidade tornasse a imprensa mais barata, aumentando a circulação. Foi o que aconteceu, até ao limite do custo zero. Mas como a lógica da difusão publicitária é difícil propor custos de produção próprios quando as agências os disponibilizam por custos muito inferiores. Como sobreviverão os outros, os jornais de circulação paga? Há espaço para um nicho de qualidade?


    Actualmente, o meu Pai, consumidor "dependente" de jornais, lê quotidianamente vários jornais estrangeiros, desde o El Pais ao Financial Times, passando pelo Le Monde, Li Figaro ou Le Temps de Genebra. E ao comparar a imprensa portuguesa com a estrangeira queixa-se da falta de qualidade da primeira e, sobretudo, de profundidade de análise. Eu returco que todos os outros jornais estrangeiros que ele usa como bitola têm audiências muito maiores logo, podem investir mais em cada "peça". Os jornais portugueses têm procurado mitigar essa perda com associações a congéneres estrangeiros (o i com o NYT, o Público com o El Pais, por exemplo), mas isso só esconde parte do problema.


    Por isso eu sou muito pessimista sobre a imprensa portuguesa: enquanto se reduzir o público com vontade de pagar para receber melhores informações, a "sua" comunicação social com preocupações de qualidade passará por dificuldades crescentes. Até porque pelo preço de quatro "The Economist" somado ao de um "Le Monde Diplomatique" (o contraste entre as duas publicações forma um bom casal!) se compreende melhor o mundo do que pagando um mês de Público de DN de i (ou de Expresso); e ainda se poupa dinheiro!

    P.S.: o "seu" jornal está caro, ou melhor tem uma relação informação/preço pouco interessante. Tem custos semelhantes ao "The Economist" e eu leio-o em duas horas, enquanto o "The Economist" dura vários dias de leituras interessantes e que dão azo à reflexão.

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